Espiritualidade e Sociedade




Nikos Kazantzaki

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"Lembro-me de uma manhã em que descobri um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair.

Esperei algum tempo, mas estava demorando muito e eu tinha pressa.

Irritado e impaciente, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito.

E o milagre começou a acontecer diante de mim num ritmo mais rápido que o natural.

O invólucro se abriu e a borboleta saiu, arrastando-se.

Nunca hei de esquecer o horror que senti: suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu corpinho tremia, no esforço para desdobrá-las.

Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito. Em vão. Era necessária uma paciente maturação e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol.

Agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar antes do tempo, toda amarrotada.

Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.

Acho que aquele pequeno cadáver É o peso maior que tenho na consciência.

Hoje, entendo bem isto: É um pecado mortal forçar as grandes leis.

Não devemos nos apressar, nem ficar impacientes, mas seguir confiantes o ritmo eterno."

 


Autor Desconhecido

 



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