ALTRUÍSMO
Luiz Moreau Gottschalk, um célebre pianista
e compositor, visitando certa vez a cidade de Kingston, na Jamaica,
entrou em um templo exatamente no momento em que se realizava um culto.
O pastor falava a respeito da caridade. Pintava com imagens fortes o
estado a que tinham ficado reduzidas algumas famílias de uns
pobres náufragos perdidos, naqueles dias, durante uma grande
tempestade no mar.
O ministro usava toda a sua eloqüência para comover o auditório,
pedindo contribuições para remediar tanta desgraça.
Eram crianças órfãs, sem alimento. Eram viúvas,
sem abrigo. Eram mães idosas, sem ninguém mais que olhasse
por elas.
Comovido, o compositor acercou-se de um órgão, num dos
ângulos do templo, sentou-se e deixou correr as mãos sobre
o teclado.
Uma melodia de sabor religioso, tênue, triste, apaixonada, que
parecia um coro sublime, começou a envolver a assembléia.
A suavidade da composição era tal que não impedia
que todos continuassem a ouvir a voz do pregador que, dominado pela
inspiração da música, ardorosamente foi tecendo
imagens, evocando Jesus e a necessidade de amar o próximo.
Finalmente, ele concluiu a sua fala, fascinado, como todos os circunstantes,
pelas deliciosas harmonias que saíam do órgão.
A música foi se perdendo em notas divinas e terminou. Então,
o próprio pianista, tomou seu chapéu, nele depositou algumas
moedas, percorreu todos os bancos, recebendo dos presentes valiosos
donativos.
Quando chegou ao último banco, no fundo do templo, verificou
uma senhora muito idosa, alquebrada pelos anos, que trazia o rosto sulcado
por lágrimas.
Seria mãe de um dos náufragos? Uma viúva?
Sem pestanejar, ele esvaziou o chapéu no colo da senhora e desapareceu,
porta afora.
Onde anda a miséria? Por vezes, empreendemos campanhas a favor
de necessitados a respeito dos quais ouvimos falar e que se encontram
distantes de nós.
Muito justo e meritório. No entanto é importante dar uma
olhada ao nosso redor.
Existem pessoas muito necessitadas, mas que se sentem constrangidas
pedir. Sofrem caladas. Por isso mesmo, ensina o evangelho que o verdadeiro
homem de bem é aquele que vai ao encontro da necessidade, sem
esperar que a miséria lhe bata à porta.
Para isso, é preciso ter sensibilidade e voltar os olhos para
os palcos do sofrimento.
Mesmo porque existem criaturas que, por sua própria condição,
sequer podem estender mãos para pedir, pois os braços
estão paralisados. Há os que não podem erguer a
voz para suplicar, porque a tem afogada na garganta, pelas lágrimas
da dor que nunca cessa.
Há os que desejariam alcançar alguém que os auxiliasse,
entretanto, as pernas lhes impedem andar.
* * *
A obra do bem em favor de todos precisa
de muitos braços e não exige títulos universitários
ou recursos financeiros.
Aguarda, simplesmente, a vontade em ação, um coração
que sente, uma mente que idealiza, braços fortes que ajam,
desde agora, antes que a fome se transforme em enfermidade e a carência
em miséria extrema.
* * *
Momento Espírita feito a partir
do boletim semanal "Luz do Evangelho" nº 225, de 10.3.2001,
ano V, de Curitiba-PR – mensagem intitulada O altruísmo
de um grande músico.
http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2430&let=A&stat=0