ANA CATARINA ARAÚJO ELIAS

Elementos da Espiritualidade que compõem a intervenção Relaxamento, Imagens mentais e Espiritualidade (RIME)

5.º ENLIHPE - Trabalhos apresentados



ANA CATARINA ARAÚJO ELIAS
->   Elementos da Espiritualidade que compõem a intervenção Relaxamento, Imagens mentais e Espiritualidade (RIME)


5.º ENLIHPE - Trabalhos apresentados


Ana Catarina Araújo Elias - apresentação



- veja aqui o video com uma entrevista e trechos da palestra -

 


RESUMO

Nosso estudo parte da visão biopsicossocial e espiritual do ser humano. Em dissertação de mestrado desenvolvemos o estudo da intervenção terapêutica “Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade (RIME)” para pacientes terminais e em nossa tese de doutorado operacionalizamos um Programa de Treinamento sobre esta intervenção para profissionais da saúde. A Intervenção RIME é composta pela integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com os elementos que compõem a questão da Espiritualidade. Neste artigo apresentamos as bases teóricas que compõem a questão da Espiritualidade, na construção da Intervenção Terapêutica RIME. Desde os primórdios da humanidade o homem sempre se indagou sobre a questão da Espiritualidade. Muitos pensadores abordaram esta questão sob os mais diversos prismas e, por esta razão, é praticamente impossível abordarmos este tema na sua totalidade. O critério de escolha das nossas bases teóricas foi o significado da espiritualidade, necessidade espirituais de doentes terminais, o mundo espiritual, a morte e o pós-morte, dentro de uma perspectiva acadêmica e não religiosa, a partir das afinidades conceituais e filosóficas da autora. Embora tenhamos composto nossas bases teóricas sobre a questão da Espiritualidade para o trabalho específico com pacientes terminais, esta questão, na abordagem médica e psicológica, não se limita ao trabalho com doentes fora de possibilidade de cura.

 

I - INTRODUÇÃO

Em Dissertação de Mestrado (ELIAS, 2001; ELIAS, 2002; ELIAS, 2003; ELIAS, 2006; ELIAS e GIGLIO, 2001a; ELIAS e GIGLIO, 2001b; ELIAS e GIGLIO, 2002a; ELIAS e GIGLIO, 2002b) estudamos, qualitativamente, a eficácia de intervenção psicoterapêutica para pacientes terminais, por nós desenvolvida, através da integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com os elementos que compõem a natureza da Espiritualidade, colhidos dos dados empíricos sobre os relatos dos pacientes que passaram por uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver normalmente.

Nesta dissertação, observamos que foi possível re–significar a Dor Simbólica da Morte, representada pela Dor Psíquica e pela Dor Espiritual, durante o processo de morrer, ou seja, proporcionar melhor Qualidade de Vida no processo de morrer e morte mais serena aos pacientes terminais (ELIAS, 2001; ELIAS, 2002; ELIAS, 2003; ELIAS, 2006; ELIAS e GIGLIO, 2001a; ELIAS e GIGLIO, 2001b; ELIAS e GIGLIO, 2002a; ELIAS e GIGLIO, 2002b). A Dor Psíquica foi entendida, naquele estudo, como medo do sofrimento e humor depressivo representado pelas tristezas, angústias e culpas. A Dor Espiritual foi compreendida como medo da morte, medo do pós-morte, idéias e concepções negativas em relação ao sentido da vida e à espiritualidade e culpas perante Deus.

Observamos que, no período final da fase ‘Fora de Possibilidade de Cura’ até o óbito, a Dor Espiritual foi prevalente e mais relevante que a Dor Psíquica, principalmente no que se refere ao medo da morte e ao medo do pós-morte (ELIAS, 2001; ELIAS, 2002; ELIAS, 2003; ELIAS, 2006; ELIAS e GIGLIO, 2001a; ELIAS e GIGLIO, 2001b; ELIAS e GIGLIO, 2002a; ELIAS e GIGLIO, 2002b).

Observamos também que a re-significação apenas da Dor Espiritual foi aspecto suficiente para que o paciente pudesse morrer de forma mais serena, sem medo e sem desespero, vivenciando desta maneira uma boa Qualidade de Morte (ELIAS, 2001; ELIAS, 2002; ELIAS, 2003; ELIAS, 2006; ELIAS e GIGLIO, 2001a; ELIAS e GIGLIO, 2001b; ELIAS e GIGLIO, 2002a; ELIAS e GIGLIO, 2002b). Frente às conclusões acima citadas decidimos aprofundar nossos estudos sobre a aplicação desta forma de abordagem ao paciente terminal e viabilizar sua utilização por outros profissionais da área de saúde. Para alcançar estes objetivos operacionalizamos, na Tese de Doutorado, um Programa de Treinamento para a Intervenção que desenvolvemos no Mestrado: “Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade” e que abreviamos como RIME. Convidamos para participar da pesquisa, profissionais experientes e/ou estudiosos na área de Cuidados Paliativos, como enfermeiros, médicos, psicólogos e terapeutas que prestam serviços espiritualistas (ELIAS, 2005, ARAÚJO ELIAS et al 2006, ELIAS et al, 2007, ELIAS, GIGLIO, PIMENTA, 2008).

Também, frente às conclusões que obtivemos em nossa dissertação de mestrado sobre a prevalência e a relevância da Dor Espiritual em relação à Dor Psíquica, na Tese de Doutorado passamos a trabalhar apenas com a Dor Espiritual e, por esta razão, não denominamos mais a Intervenção de Psicoterapêutica, mas sim de Terapêutica. A Dor Espiritual, no presente estudo, foi compreendida do modo acima citado.

O método RIME, ao integrar as técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com os elementos que compõem a questão da Espiritualidade, com o objetivo de re-significar a Dor Espiritual de pacientes terminais, parte de uma visão biopsicossocial e espiritual do ser humano.


II – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA ESPIRITUALIDADE PARA A CONSTRUÇÃO DA INTERVENÇÃO RIME

Desde os primórdios da humanidade o homem sempre se indagou sobre a questão da espiritualidade. Muitos pensadores abordaram esta questão sob os mais diversos prismas e, por esta razão, é praticamente impossível abordarmos este tema na sua totalidade. O critério para escolha das bases teóricas adotadas foi o significado da espiritualidade, as necessidades espirituais de doentes terminais, o mundo espiritual, a morte e o pós-morte, dentro de uma perspectiva acadêmica e não religiosa, a partir das afinidades conceituais e filosóficas da pesquisadora e de seu estudo anterior no mestrado.

A seguir relacionamos os estudos dos autores que compõem nossas bases teóricas, com breve biografia destes autores, pesquisada nos livros publicados e no “site” de busca da Internet “www.google.com.br”.


- Carl Gustav Jung.


Nossa primeira base teórica é Carl Gustav Jung, médico psiquiatra suíço, fundador da Psicologia Analítica, falecido em 1961. JUNG (2001) afirmou que sua vida é a história de um inconsciente que cumpriu a própria missão.

As vivências espirituais são muitas vezes entendidas como vivências religiosas, mas, dentro de uma visão científica faz–se necessária uma diferenciação entre ambas. Para JUNG (1986a) a espiritualidade não se refere a uma determinada profissão de fé religiosa, e sim à relação transcendental da alma com a divindade e à mudança que daí resulta; ou seja, espiritualidade está relacionada a uma atitude, a uma ação interna, a uma ampliação da consciência, a um contato do indivíduo com sentimentos e pensamentos superiores e no fortalecimento, amadurecimento, que este contato pode resultar para a personalidade. Um dos caminhos possíveis para processar–se esta relação transcendental da alma com a divindade, segundo JUNG (1986c), é a meditação.

Desta forma, para este autor, a espiritualidade não está relacionada a crenças e dogmas, os quais pertencem ao campo das religiões institucionalizadas. Estas sim são confissões de fé, isto é, são formas codificadas e dogmatizadas de experiências espirituais originárias. (JUNG, 1986a).

JUNG (1986b), em 1951, trabalhou com o conceito do Arquétipo do Si Mesmo definindo-o como a sede da identidade subjetiva, o centro ordenador e unificador da psique, simbolizado por Cristo, e como sede da identidade objetiva, consciente, o ego. Pontuou que quanto maior fosse o número de conteúdos coletivos inconscientes assimilados ao ego consciente, (processo possível através da meditação) e quanto mais significativos fossem, tanto mais esta instância psíquica se aproximaria do Si Mesmo ou “Self”, muito embora esta aproximação possa nunca chegar ao fim.

JUNG (2001), embora não tenha considerado a realidade espiritual apenas uma representação simbólica do mundo físico, interpretou o mito e as imagens simbólicas como mediadores entre o inconsciente e o consciente e entre o mundo espiritual e o mundo físico porque observou que não conseguimos com os elementos tridimensionais do mundo material, compreender a realidade espiritual em sua forma pura. Em outra obra, este autor, JUNG (1993) afirmou que quando a mente explora um símbolo, ela é conduzida a idéias que estão fora do alcance da nossa razão.


- Celso Charuri


Nossa segunda base teórica é Celso Charuri, médico, cirurgião, psicanalista e filósofo brasileiro, falecido na década de 1980. CHARURI (2001) afirmou que a Amizade deu razão à sua vida.

CHARURI (2001), à semelhança de Jung, referiu–se ao mundo espiritual também de forma simbólica. Ensinou que a dimensão espiritual é composta por elementos relacionados aos sentimentos e que, por esta razão, não pode ser racionalizada.

Segundo CHARURI (2001) a Espiritualidade está relacionada à vivência do "Amor Maior", que é um sentimento absoluto para o qual não há doses, é um estado de plenitude que se manifesta independente das circunstâncias. O “Amor Maior” se expressa como “Luz” porque não está vinculado aos aspectos materiais da existência e sim às virtudes universais, que se manifestam na personalidade através da ampliação da consciência sobre o sentido e a razão da vida.

Entre as virtudes universais que permitem a integração com a Espiritualidade, CHARURI (2001) destacou o Respeito. Segundo este médico e filósofo, o Respeito deve estar relacionado a todos os acontecimentos, porque há um significado e uma possibilidade de crescimento em todas as expressões da vida de um ser humano. O Respeito, quando vivenciado, resulta em atitudes de docilidade, meiguice e pureza, que em ultima instância, sempre estarão a serviço do desenvolvimento positivo da personalidade, da re-significação do sofrimento e da conexão com a sabedoria interna.


- Experiências de Quase Morte (E.Q.M.).

Como terceira base teórica desenvolvemos os elementos que compõem a questão da Espiritualidade a partir dos estudos de autores médicos sobre as E.Q.M., relacionados a seguir: Raymond Moody Jr, Elisabeth Kübler-Ross, Melvin Morse, Pin Van Lommel, Bruce Greyson, Peter Fenwick, Sam Parnia, Brian
Weiss.

E.Q.M. é uma expressão cunhada por MOODY JR (1989, 1992) para conceituar a vivência de indivíduos que foram dados como clinicamente mortos, voltaram a viver normalmente e lembram-se de terem experimentado todos ou alguns dos eventos abaixo descritos.

Segundo os autores médicos que estão estudando a E.Q.M. (GREYSON, 2000, 2003; KÜBLER–ROSS, 1998, 2003; MOODY JR, 1989, 1992; MORSE e PERRY, 1997; PARNIA e FENWICK, 2001; VAN LOMMEL, 2004; VAN LOMMEL et al, 2001; WEISS, 1998, 1999), os principais eventos descritos por estes pacientes são:

  • Sensação de estar morto.
  • Sensação de flutuar para fora do corpo.
  • Paz e ausência de dor.
  • Emoções positivas.
  • Capacidade de se deslocarem na velocidade do pensamento, para o local que desejassem.
  • Capacidade de ouvir o que os médicos e os familiares estavam falando de uma perspectiva que não teriam, se estivessem em seus corpos, deitados.
  • Mover-se em um túnel e ser atraído por uma luz brilhante branca, dourada, azul ou visualização de bonitas pontes ou portas ornamentadas e belas, por onde atravessavam para uma outra dimensão, para o mundo espiritual.
  • Encontro com parentes ou amigos já falecidos.
  • Contato com Seres Espirituais, denominados por estes pacientes como Seres de Luz (Comunicação com a Luz) que irradiam amor incondicional, amparo, conforto, proteção.
  • Entrada em lugares muito bonitos, como jardins floridos, bosques, lagos e envolvidos por uma luz muito brilhante.
  • Recapitulação da própria vida não como julgamento, mas sim como forma de compreensão do que cada um verdadeiramente é, e compreensão do verdadeiro sentido da vida, que é o aprendizado do amor incondicional e a aquisição de conhecimento, principalmente auto–conhecimento.
  • Reestruturação positiva da personalidade através do contato com a “Luz” (Comunicação com a Luz).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


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