Em textos mediúnicos que Chico Xavier atribuiu ao escritor Humberto
de Campos, encontram-se centenas de citações, explícitas
ou não, da obra do escritor maranhense e de autores que ele costumava
ler.
Esse procedimento sugere que o autor das psicografias teve o objetivo
de demonstrar conhecimentos que conferissem verossimilhança à
alegada autoria.
Este artigo fornece alguns exemplos dessas citações.
Em psicografias atribuídas a
escritores conhecidos, é possível depreender que, algumas
vezes, o autor do escrito investe na construção de uma
imagem autoral que remete à obra do escritor a quem o texto é
creditado. Esse ponto de partida – o empenho de quem concebeu
o texto para tentar justificar uma autoria – não faz parte
dos textos não mediúnicos, salvo o caso dos pastiches
literários e congêneres.
Em muitos textos da extensa série mediúnica de Chico Xavier
(1910-2002) atribuída ao escritor – e grande leitor –
Humberto de Campos (1886-1934) e a Irmão X, nota-se um interessante
procedimento do autor das psicografias para caracterizar-se como Humberto
de Campos após sua morte. Como foi registrado em pesquisa que
serve de base para este artigo , o autor da série demonstra possuir
uma ampla cultura livresca relacionada com o escritor a quem os textos
são atribuídos, visto que cita, explícita ou implicitamente,
muitos pontos da obra de Humberto de Campos e de autores de quem ele
era leitor. Além disso, parece ter tido acesso a textos que não
eram de domínio público à época em que as
psicografias foram produzidas.
Com os exemplos de citações abaixo – todos da série
mediúnica em questão –, pretendo dar uma idéia
de como o autor procurou construir uma imagem autoral com base na demonstração
de conhecimentos livrescos.
Bibliografia
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