Texto previamente apresentado
na 3ª Jornada do Centro de Estudos Peirceanos, do Programa de
Estudos pós-Graduados em Comunicação e Semiótica
da PUC-SP, em 2000.
Wellington Zangari
Coordenador Inter Psi
Grupo de Semiótica, Interconectividade e Consciência,
Centro de Estudos Peirceanos,
Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação
e Semiótica, PUC-SP
Resumo:
Este trabalho visa mostrar o interesse de Charles Sanders Peirce pelo
objeto de estudo da Pesquisa Psíquica, uma disciplina que surgiu
no século XIX e tinha por objetivo “o exame sem preconceito
ou pressuposição e a partir do espírito científico,
daquelas faculdades humanas, reais ou supostas, que parecem ser inexplicáveis
sob quaisquer hipóteses reconhecidas”.
Peirce manteve contato com pesquisadores psíquicos eminentes,
como W. James, E. Gurney, F. Meyers, F. Podmore, e criticou alguns dos
pontos fundamentais da teoria das alucinações verídicas,
que parecia dar sustentação ao edifício interpretativo
da Pesquisa Psíquica. Apesar de não considerar o fenômeno
da telepatia como cientificamente demonstrado, Peirce não via
impossibilidade teórica de sua existência e demonstrou
como este não seria incompatível com sua teoria da percepção.
As sugestões metodológicas e teóricas de Peirce
demonstram que ele parece ter antecipado os rumos que a Pesquisa Psíquica
tomaria durante o século XX.
________________
Charles Sanders
Peirce tem sido reconhecido como um dos mais notáveis intelectuais
americanos de todos os tempos, uma espécie de Leonardo da Vinci
dada sua versatilidade e genialidade. (Santaella, 1986:19) Max Fisch,
não sem entusiasmo, referiu-se a ele da seguinte maneira:
“Who is the most original and
the most versatile intellect that the Americas have so far produced?
The answer ‘Charles S. Peirce’ is uncontested, because
any second would be so far behind as not to be worth nominating. Mathematician,
astronomer, chemist, geodesist, surveyor, cartographer, metrologist,
spectroscopist, engineer, inventor; psychologist, philologist, lexicographer,
historian of science, mathematical economist, lifelong student of
medicine; book reviewer, dramatist, actor, short story writer; phenomenologist,
semiotician, logician, rhetorician [and] metaphysician[.] He was,
for a few examples, the first metrologist to use a wave-length of
light as a unit of measure, the inventor of the quincuncial projection
of the sphere, the first known conceiver of the design and theory
of an electric switching- circuit computer, and the founder of "the
economy of research." He is the only system-building philosopher
in the Americas who has been both competent and productive in logic,
in mathematics, and in a wide range of sciences. If he has had any
equals in that respect in the entire history of philosophy, they do
not number more than two.
(Quoted in Brent 1993: 2f.)
Este trabalho pretende trazer à
luz, resumidamente, o interesse e a contribuição de Peirce
também a um outro campo, o da Pesquisa Psíquica [1].
A Pesquisa
Psíquica
Pesquisa Psíquica não se confunde com Psicologia.
Antes, é uma disciplina interdisciplinar, em que a Psicologia,
a Física, a Biologia e a Filosofia teriam igual lugar de importância.
Aceita-se, no entanto, a Pesquisa Psíquica como ramo da Psicologia.
A organização metodológica e conceitual da Pesquisa
Psíquica se deu a partir da fundação da Society
for Psychical Research (SPR), em Londres, em 1882. Dela faziam
parte eminentes cientistas e acadêmicos dos mais diferentes campos
do saber, dentre os quais William James, amigo e interlocutor de Peirce,
que foi também presidente da SPR em 1905, e os não menos
conhecidos Sigmund Freud e Carl G. Jung.
Henry Sidgwick (1838-1900), presidente
da SPR, assim se manifestou no discurso inaugural da mesma em relação
ao objeto de estudo da Pesquisa Psíquica:
“Por que constituir uma sociedade
de pesquisas psíquicas neste momento para investigar não
apenas o fenômeno de leitura do pensamento, mas também
o de clarividência e mesmerismo, e inclusive a obscura massa
de fenômenos comumente chamados espíritas? Todos devemos
estar em acordo que o presente estado de coisas é um escândalo
para a época iluminada em que vivemos. Mantém-se a discussão
sobre a realidade destes maravilhosos fenômenos, cuja importância
científica não pode ser deixada de lado mesmo se apenas
uma décima parte do alegado por testemunhos dignos de crédito
fosse certo. Declaro que é escandaloso que subsista a discussão
sobre a realidade destes fenômenos quando tantos testemunhos
competentes afirmaram neles acreditar, quando tantos outros estão
profundamente interessados em elucidar a questão, não
obstante a atitude de incredulidade que adotou a totalidade do mundo
culto. Agora, nosso primeiro objetivo, o fim que perseguimos todos
unidos, seja como crentes ou como incrédulos, é o de
realizar uma tentativa segura e sistemática para pôr
fim, dum ou doutro modo, a este escândalo. Algumas das pessoas
às quais me dirijo, sentem sem dúvida, que esta tentativa
pode levar unicamente à demonstração destes fenômenos;
outras acreditam que o mais provável é que a maioria
deles, se não todos, sejam rejeitados; mas, como membros desta
associação, não assumimos compromisso de nenhuma
espécie e concordamos em que qualquer investigação
que façamos em particular, deve realizar-se com o único
fim de determinar os fatos e sem chegar a nenhuma conclusão
pré-concebida sobre sua natureza”.
(Citado em Fantoni, 1981:250)
O objeto de estudo da Pesquisa Psíquica seria, assim, os fenômenos
produzidos por médiuns durante as sessões espíritas,
o mesmerismo [2] (ou hipnotismo) e
os fenômenos assim chamados de percepção extra-sensorial.
Com exceção do mesmerismo em sua versão mais recente,
a hipnose, os demais fenômenos não foram, até o
presente momento, incorporados por qualquer outra ciência tradicional.
A polêmica a respeito de sua existência permacene e há
uma verdadeira legião de céticos e proponentes destes
fenômenos, com as mais diferentes interpretações
dos mesmos, que se degladiam em embates intermináveis sem que
tenha havido qualquer consenso a respeito dos mesmos.
As opiniões de Peirce a respeito da
Pesquisa Psíquica
Peirce não apenas conhecia profundamente este
movimento, como foi convidado a participar da filial americana da SPR,
a American Society for Psychical Research quando de sua formação,
cerca de três anos após a fundação da SPR
de Londres. Mas Peirce não aceitou o convite. Tomar parte daquele
movimento significaria deixar de ter tempo suficiente para suas próprias
investigações.
(CP 2.111)
No entanto, Peirce reconhecia o valor da Pesquisa Psíquica e
demonstrava esperança que esta chegasse à compreensão
de seus objetivos no futuro.
“Nesse momento, aqueles que
estão engajados na Pesquisa Psíquica devem receber todo
nosso encorajamento. Eles podem ter obtido pouco ou nenhum resultado
por enquanto; talvez não o tenham até se afastem o fantasma
da telepatia de suas mentes. Mas o homem de ciência, trabalhando
de maneira científica, deve, por fim, alcançar resultados
científicos. A Psicologia está destinada a ser a pesquisa
experimental mais importante do século vinte; mais cinquenta
anos devem ser esperados até que ocupe a imaginação
popular tanto quanto as maravilhas da eletricidade fazem agora.”
(CP 2.587)
Nesse parágrafo, entre outros
elementos, Peirce demonstra sua posição de que o trabalho
científico sistemático pode oferecer resultados a respeito
da compreensão de qualquer área da realidade. Não
seria diferente com a Pesquisa Psíquica. Os pesquisadores psíquicos
haveriam de obter resultados no futuro. Além disso, preconiza
a grande importância que estaria reservada à Psicologia.
No entanto, faz uma crítica.
Peirce simplesmente jamais aceitou a teoria interpretativa proposta
pelos pesquisadores psíquicos para explicar a telepatia. Sua
posição o fez revisar e criticar um dos livros mais importantes
já escritos pelos pesquisadores psíquicos, o monumental
“Phantasms of the Living”, de 1886, escrito
por três fundadores da SPR de Londres, F.W.H. Meyers, E. Gurney
e F. Podmore.
A crítica ao “Fantasmas dos
Vivos”
O livro foi o resultado de um esforço em
organizar 702 casos de suposta telepatia espontânea recebidos
pelos autores após um apelo feito pela mídia local. Os
relatos se relacionavam a experiências alucinatórias nas
quais uma pessoa conhecida aparecia ao experienciador. Posteriormente,
este sabia da morte da pessoa que fora vista alucinatoriamente.
Os autores do Phantasms of the
Living explicavam tais experiências por meio da teoria
da telepatia, ou seja, um contato psicológico à distância,
sem o uso de qualquer sentido físico reconhecido entre agente
e percipiente.
A crítica de Peirce aos argumentos dos autores
rendeu cerca de 80 páginas, incluídas a crítica
incial, a réplica de Gurney à crítica de Peirce,
o rejoinder de Peirce, o remarks de Gurney sobre o
rejoinder de Peirce, e um postscript de Myers ao remarks
de Gurney. Talvez a discussão entre Peirce e Gurney tivesse se
prolongado não fosse a interrupção da mesma pela
abrupta morte de Gurney.
Após examinar minuciosamente
todos os 702 casos, Peirce descobriu que aqueles casos que foram considerados
coincidências reais, ou alucinações verídicas
supostamente confirmatórias da telepatia espontânea, falhavam
em se ajustar às pré-condições estabelecidas
para serem considerados “verídicos”. Peirce contesta
a teoria da telepatia oferecida como explicação para as
alucinações verídicas apelando para o que chamou
de “ações mentais inconscientes” e para a
teoria das probabilidades.
Apesar de preferir explicações
não-sobrenaturalistas para o fenômenos de “visão
de fantasmas”, Peirce não vê sustentação
científica suficiente para a teoria telepática, preferindo
valer-se de interpretações melhor conhecidas.
Então, novamente, porque devemos
propor algo de tão extrema raridade como a telepatia, uma vez
que temos elementos extraordinários da experiência humana
como a superstição, a mentira e o auto-engano (da vaidade,
da maldade, da histeria, do desarranjo mental e do amor perverso à
inverdade), o exagero, a imprecisão, os truques da memória
e da imaginação, da intoxicação (alcoólica,
opiácea, entre outras), a fraude e o erro, que podem dirigir
nossas hipóteses?
(Peirce, 1887b:189)
Em relação à aplicação da teoria
das probabilidades, Peirce sustenta que o número de casos encontrados
de coincidências entre as alucinações e as mortes
de pessoas conhecidas, poderia perfeitamente ser explicado pelo acaso,
não sendo necessário apelar para a hipótese da
telepatia.
“I should reckon the matter,
for my part, in this way: Every case of an apparition simultaneous
with the death of the person represented, or nearly so, becomes known
to a cicle of two hundred persons, on the average. If any one of this
circle of persons, some of whom have na interest in apparitons excited
by the story, learn and are interested in the advertisement. Now I
suppose that the advertisiment, being of a very peculiar and sensational
character, interests one person for hundred copies of the newspaper
printed. On this assumption, since a million and a half is given as
the circulation of the newspaper, the instances obteined would really
have been drawn form a population of three to four millions. As opting
theses figures, they ought to have heard, on the doctrine of chances,
of three or four purely fourtuitous cases of visual hallucinations
with coincidence of death. In view of utter uncertainty of all the
data, it would be very rash to draw any conclusion at all. But the
evidence so far it goes, seems to be rather unfavorable to the telepathic
character of this phenomena.”
(Peirce, 1887a: 156)
Ao criticar a teoria telepática de explicação das
“alucinações verídicas”, Peirce atinge
o ponto nevrálgico de sustentação de toda a Pesquisa
Psíquica. Tal teoria havia sido desenvolvida como uma contrapartida
naturalista à teoria sobrenaturalista de cunho espírita
tão em voga naquele tempo quanto o são atualmente em nosso
país. Mas Peirce não apenas criticou a teoria telepática.
Na verdade, sua crítica havia retirado daquelas alucinações
o caráter da excepcionalidade. Após sua crítica,
os casos do Phantasms não passavam de meros caros comuns, explicáveis
por fenômenos bem conhecidos pela ciência. Portanto, para
quê utilizar de uma teoria cuja agência é desconhecida
– a telepatia – para casos que podem ser muito bem explicados
por fenômenos conhecidos?
Mas, isso significa que Peirce não
aceitasse a possibilidade da telepatia? De maneira alguma. O que Peirce
fizera em sua crítica ao Phantasms of the Living foi
demonstrar que não seria necessária qualquer teoria nova
– como a da telepatia – já que o fenômeno observado
– as alucinações verídicas - não demandaria
mais do que explicações baseadas em fenômenos já
tradicionalmente tratados pela ciência. Mas, como veremos a seguir,
há muitas passagens em que Peirce afirma que o fenômeno
da telepatia, apesar de não demonstrado cientificamente, deve
existir.
Telepatia e Percepção
Em 1903, Peirce escreve Telepathy
and Perception. A intenção de Peirce parece
ter sido, de certa forma, continuar a discussão iniciada com
a críticia que fez ao Phantasms, mas sob nova roupagem, a da
sua teoria da percepção.
Novamente, Peirce não poupa
de críticas os pesquisadores psíquicos e volta a atacar
a teoria da telepatia por eles sustentada. Um fenômeno tão
infreqüente, irreprodutível à vontade, e imprevisível
não teria a menor possibilidade de ser conhecido pela ciência.
A ciência tem a esperança de conhecer fenômenos inteligíveis,
o que a telepatia não parece ser, a menos como é apresentada
pelos pesquisadores psíquicos.
“A teoria de telepatia
sustenta que, em alguns casos, uma mente age sobre uma outra, direta
ou indiretamente, através de meios fundamentalmente diferentes
daqueles das experiências familiares do dia-a-dia. Como uma
teoria científica, ela quase se condena. Dizer que um fenômeno
é fundamentalmente diferente de qualquer experiência
ordinária é quase dizer que é de uma natureza
tal que seja impossível sua dedução por meio
de predições múltiplas, exatas e verificáveis
pela percepção ordinária. Quase exclusivamente,
em apoio desta teoria, estão certas experiências extraordinárias,
que alegadamente acontecem com uma fração mínima
do gênero humano. Se estes são os únicos
fatos para sua alegação, eles são fatos com os
quais ciência nada pode fazer, desde que ciência é
um empreendimento de descobrir a Lei, isto é, o que sempre
acontece.” (7.600)
Mas, Peirce segue sua argumentação apresentando sua teoria
da percepção que, em última instância, é
uma teoria de como se dá a apreensão (ou construção)
humana da realidade. A relação ser humano/realidade se
dá mediada por signos. Mas, o ser humano é dotado de uma
capacidade especial para a adivinhação, não nomeada
nesse texto, mas que recebe a denominação de abdução.
Ocorre que da mesma forma que a natureza é regida pela razoabilidade,
também o é a mente humana, e pela mesma razoabilidade.
A mente, pode, assim, acertar o que se passa na natureza, uma vez que
pode conjecturar, ainda que inconscientemente, a respeito de seu funcionamento.
A abdução surge como uma possibilidade interpretativa
preferível à da telepatia para Peirce, mas não
menos maravilhosa. Peirce, nesse ponto, abre a possibilidade de pesquisa
de que a abdução não se restrinja ao conteúdo
da mente do próprio pensador, mas que talvez pudesse atingir
a mente de outra pessoa, situada à distância. Assim, teoricamente,
a capacidade de conhecer o conteúdo da mente de outra pessoa,
à distância, deixaria de ser um fenômeno infreqüente
e incomum, passando a ser parte do funcionamento mental inconsciente
comum. Evidentemente, tal possibilidade teórica abre oportunidades
investigativas as mais interessantes que mereceram de Peirce, inclusive,
estímulo.
“De minha parte, não
posso aceitar tal uma teoria (da telepatia). Esta atribui ao homem
poderes que ele sabe muito bem que não possui. Parece-me que
a única abordagem admissível é que a racionalidade/razoabilidade,
ou idéia de lei, na mente de um homem, que é uma idéia
pela qual são efetuadas predições objetivas –
uma vez que todas as teorias físicas se originam de conjecturas
humanas – e o experimento apenas poda o que é errôneo
e determina valores exatos -- deve estar na na mente como conseqüência
de seu ser/existir no real mundo. Então, uma vez que
a racionalidade/razoabilidade da mente e a da natureza, são
essencialmente a mesma, não é surpreendente que a mente,
depois de um número limitado de suposições, consiga
conjecturar o que a lei de qualquer fenômeno natural é.
Quão distante este poder de conjeturar pode ir é
o que nós não sabemos certamente. Nós sabemos
que vai distante o bastante para ter permitido aos homens já
ter feito progresso considerável em ciência.
Se este se estende ou não tão longe a ponto de que,
muito raramente, uma mente pode saber o que se passa em outra, à
distância, pareceria ser uma pergunta a ser investigada assim
que nós possamos ver um modo de fazer isso inteligentemente.
Eu não acredito que questões como essa possam ser resolvidas
permanentemente através do desdém ou de outras alternativas.”
(CP 7.687)
A possibilidade teórica da ação de uma mente sobre
outra foi expressa por Peirce também em outros textos. Tomemos
dois exemplos. Ao discutir a teoria da continuidade, ele oferece como
uma das razões positivas para se admiti-la, exatamente esta ação,
considerando-a, inclusive, de peso:
“[...] Há várias
outras razões positivas, cuja consideração de
maior peso parece-me ser: Uma mente pode agir sobre outra mente? Uma
partícula de matéria pode agir sobre outra à
distância? [...] Mas se nós adotamos a teoria de continuidade
nós escapamos desta situação ilógica.
Podemos dizer, então, que uma parte da mente age sobre
uma outra porque está, em certa medida, imediatamente presente
a uma outra; da mesma forma como supomos que o passado infinitesimalmente
é/está, em certa medida, presente. E de certa
forma podemos supor que uma porção de matéria
atue sobre outra porque está, em certa medida, no mesmo lugar.”
(CP 7. 170)
“Equally conclusive and direct reason for
thinking that space and degrees of quality and other things are continuous
is to be found as for believing time to be so. Yet, the reality of
continuity once admitted, reasons are there, divers reasons, some
positive, others only formal, yet not contemptible, for admitting
the continuity of all things. I am making a bore of myself and won't
bother you with any full statement of these reasons, but will just
indicate the nature of a few of them. Among formal reasons, there
are such as these, that it is easier to reason about continuity than
about discontinuity, so that it is a convenient assumption. Also,
in case of ignorance it is best to adopt the hypothesis which leaves
open the greatest field of possibility; now a continuum is merely
a discontinuous series with additional possibilities. Among positive
reasons, we have that apparent analogy between time and space, between
time and degree, and so on.
There are various other positive reasons,
but the weightiest consideration appears to me to be this: How can
one mind act upon another mind? How can one particle of matter act
upon another at a distance from it? The nominalists tell us this is
an ultimate fact -- it cannot be explained. Now, if this were meant
in [a] merely practical sense, if it were only meant that we know
that one thing does act on another but that how it takes place we
cannot very well tell, up to date, I should have nothing to say, except
to applaud the moderation and good logic of the statement. But this
is not what is meant; what is meant is that we come up, bump against
actions absolutely unintelligible and inexplicable, where human inquiries
have to stop. Now that is a mere theory, and nothing can justify a
theory except its explaining observed facts. It is a poor kind of
theory which in place of performing this, the sole legitimate function
of a theory, merely supposes the facts to be inexplicable. It is one
of the peculiarities of nominalism that it is continually supposing
things to be absolutely inexplicable. That blocks the road of inquiry.
But if we adopt the theory of continuity we escape this illogical
situation. We may then say that one portion of mind acts upon another,
because it is in a measure immediately present to that other; just
as we suppose that the infinitesimally past is in a measure present.
And in like manner we may suppose that one portion of matter acts
upon another because it is in a measure in the same place.”
(CP 7. 170)
Neste outro exemplo, Peirce novamente afirma o fato, mas nega suas interpretações:
“Primeiro, eu declaro, claramente
o que eu questiono. O hipnotismo eu não questiono, nem a dupla
ou tripla personalidade. Que estas coisas ainda permanecem imperfeitamente
classificadas é admitido também; não só
estes fenômenos, mas muitos da vida cotidiana, como a
comunicação de idéias durante a conversação
ordinária. Só explicações vagas,
duvidosas são fornecidas para fenômenos que se assemelham
a clarividência. Não completamente improváveis,
avenidas não reconhecidas dos sentidos podem existir. Possivelmente
assim os cegos evitam as árvores e as paredes. Fenômenos
em abundância esperam explicação da ciência
futura [...]; quanto mais sobre mente?”
(CP 7.559)
Amor Evolutivo: A Simpatia como Instrumento
de Crescimento
Uma da mais importantes contribuições
de Peirce para a compreensão da mente humana, uma verdadeira
revolução científica, é justamente aquela
que submete a mente cartesiana, individual, separada de seu entorno,
a uma profunda crítica e revisão.
Peirce considerou o fenômeno do “eu pessoal” como
um “fenômeno ilusório”. Opondo-se à
finitude do eu, teoriza a existência de uma profunda interconexão
entre os “eus”, fazendo emergir o conceito do eu em comunhão
com outros eus. A ilusão de isolamento pode levar à crença
da real separação, da existência independente dos
outros. Mas ainda que o eu assim pense, ser um eu significa ser membro
de uma comunidade em que as experiências são sempre compartilhadas
entre os vários eus existentes.
“When we come to study the
great principle of continuity [see vol. 6, Bk. I, B.] and see how
all is fluid and every point directly partakes the being of every
other, it will appear that individualism and falsity are one and the
same. Meantime, we know that man is not whole as long as he is single,
that he is essentially a possible member of society. Especially, one
man's experience is nothing, if it stands alone. If he sees what others
cannot, we call it hallucination. It is not "my" experience,
but ‘our’ experience that has to be thought of; and this
‘us’ has indefinite possibilities.”
(5.402, n.2)
Na concepção peirceana,
a individualidade do corpo não deve ser confundida com separabilidade
do eu. A consciência necessita do corpo para seu pleno desenvolvimento,
já que a consciência se encarna nele, como o faz o signo.
Ao mesmo tempo Peirce ressalta, assim, a idéia de ser humano
como signo e da materialidade necessária para a existência
dos signos. Nosso corpo, assim, é uma condição
para a vida dos signos, mas não é garantia de nossa exclusividade
ou separação com os demais.
Peirce vai além, e teoriza que seria por meio da “simpatia”
que nos manteríamos interconectados. A simpatia seria uma espécie
de capacidade de sentir pelo outro, de conhecer seu íntimo, de
estar em comunhão com os demais “eus”. É fundamental
lembrarmos que a noção da não separabilidade do
eu é resultante da aplicação da doutrina da continuidade,
ou sinequismo, adotada por Peirce.
A teoria agapástica da evolução, uma das três
formas pelas quais a evolução ocorreria no cosmos segundo
Peirce, prevê que as experiências vividas por um único
indivíduo, passariam a compor a experiência de toda a comunidade,
tornando mais econômico nosso trabalho rumo à evolução.
A “evolução pelo amor criativo”, como a define,
tem na “simpatia positiva” seu instrumento de realização
evolutiva:
“(...) No agapasma genuíno,
por outro lado, o avanço tem lugar em virtude de uma simpatia
positiva daquilo que é originado da continuidade de mente.”
(CP 6.304)
Assim, a semiose se processaria em todo o universo, aproveitando cada
experiência evolutiva aparentemente individual. O pensamento,
como uma importante ferramenta evolutiva, também deve ser compartilhado
uma vez que também sobre ele recai o princípio da continuidade.
A esse respeito, Peirce nos oferece um alguns exemplos de como a simpatia
torna nossas aquisições pessoais em aquisições
coletivas:
“[...] Se se pudesse
mostrar diretamente que existe uma uma entidade como o "espírito
de um tempo" ou de um povo, e que a mera inteligência
individual não responderá por todos os fenômenos,
isto seria a prova suficiente do agapasticismo e do sinequismo.
Tenho que reconhecer que eu não posso produzir uma demonstração
irrefutável disso; mas sou, acredito, capaz de aduzir alguns
argumentos que servirão para confirmar que foram retirados
de outros fatos. Acredito que as maiores realizações/conquistas
da mente foram realizadas para além dos poderes de indivíduos
que trabalhavam sem ajuda; e eu acho - aparte do apoio que
esta opinião receba de considerações sinequísticas,
e do caráter propositivo de muitos grandes movimentos - razão
direta para pensar na sublimidade das idéias e em sua ocorrência
simultânea e independente a vários indivíduos
distituídos de qualquer poder geral extraordinário.
[...] ”
(CP 6.315)
“The agapastic development of thought should, if it exists,
be distinguished by its purposive character, this purpose being the
development of an idea. We should have a direct agapic or sympathetic
comprehension and recognition of it by virtue of the continuity of
thought. I here take it for granted that such continuity of thought
has been sufficiently proved by the arguments used in my paper on
the "Law of Mind" in The Monist of last July [Chapter 5].
Even if those arguments are not quite convincing in themselves, yet
if they are reënforced by an apparent agapasm in the history
of thought, the two propositions will lend one another mutual aid.
The reader will, I trust, be too well grounded in logic to mistake
such mutual support for a vicious circle in reasoning. If it could
be shown directly that there is such an entity as the "spirit
of an age" or of a people, and that mere individual intelligence
will not account for all the phenomena, this would be proof enough
at once of agapasticism and of synechism. I must acknowledge that
I am unable to produce a cogent demonstration of this; but I am, I
believe, able to adduce such arguments as will serve to confirm those
which have been drawn from other facts. I believe that all the greatest
achievements of mind have been beyond the powers of unaided individuals;
and I find, apart from the support this opinion receives from synechistic
considerations, and from the purposive character of many great movements,
direct reason for so thinking in the sublimity of the ideas and in
their occurring simultaneously and independently to a number of individuals
of no extraordinary general powers. The pointed Gothic architecture
in several of its developments appears to me to be of such a character.
All attempts to imitate it by modern architects of the greatest learning
and genius appear flat and tame, and are felt by their authors to
be so. Yet at the time the style was living, there was quite an abundance
of men capable of producing works of this kind of gigantic sublimity
and power. In more than one case, extant documents show that the cathedral
chapters, in the selection of architects, treated high artistic genius
as a secondary consideration, as if there were no lack of persons
able to supply that; and the results justify their confidence. Were
individuals in general, then, in those ages possessed of such lofty
natures and high intellect? Such an opinion would break down under
the first examination.”
(CP 6.315)
Poder-se-ia, no entanto, argumentar que Peirce teria usado de uma figura
de linguagem, uma analogia, para querer se referir ao “espírito
dos tempos” não propriamente como uma certa “transmissão
de pensamento”. Contra este argumento, os dois parágrafos
seguintes parecem ser bastante esclarecedores. No primeiro, Peirce enumera
uma série de exemplos de descobertas científicas, invenções,
e conceitos obtidos por duas ou mais pessoas, independentemente e, praticamente,
ao mesmo tempo. No segundo, Peirce afirma, com uma exclamação,
que tais exemplos serviriam como um “argumento para a continuidade
da mente” e convida os pensadores a desvestirem-se de seus preconceitos
e investigarem, por si mesmos, as evidências em favor da doutrina
da continuidade.
“Quantas vezes homens
agora de meia idade vislumbraram grandes descobertas feitas independentemente
e quase simultaneamente! O primeiro exemplo de que me lembro
é a predição de um planeta exterior a Urano por
Leverrier e Adams. Dificilmente saber-se-ia dizer a quem se deve atribuir
a descoberta do princípio da conservação de energia,
embora pode ser considerado razoavelmente como a maior descoberta
da ciência já feita. A teoria mecânica do calor
foi fixada por Rankine e por Clausius durante o mesmo mês de
fevereiro, 1850; e há homens eminentes que atribuem este grande
passo a Thomson. [...] É bem conhecido que a doutrina de seleção
natural foi apresentada por Wallace e por Darwin na mesma reunião
da Associação britânica; [...] A autoria da Lei
Periódica dos Elementos Químicos é disputada
por um russo, um alemão, e um inglês, embora não
há duvida que o mérito principal pertença ao
primeiro. Estas são quase todas as maiores descobertas de nosso
tempo. É o mesmo com as invenções. Pode não
ser surpreendente que o telégrafo deveria ter sido feito independentemente
por vários inventores, porque era bem um corolário fácil
de fatos científicos feitos antes. Mas não era assim
com o telefone e outras invenções. O éter, o
primeiro anestésico, foi apresentado independentemente por
três diferente médicos da Nova Inglaterra. [...]”
(CP 6.317)
“Duvido que quaisquer
das grandes descobertas devem ser corretamente consideradas como realizações
completamente individuais; e penso que muitos compartilharão
desta dúvida. Mesmo que não, um argumento para a continuidade
de mente e para o agapasticismo está aqui! Eu não
desejo ser muito estrênuo. Se os pensadores só serão
persuadidos se colocarem seus preconceitos de lado e se se aplicarem
a estudar as evidências desta doutrina, eu devo ficar totalmente
satisfeito em esperar sua decisão final.”
(CP 6.318)
No parágrafo abaixo, retirado de Man’s Glassy
Essency, Peirce parece ter resumido o essencial de sua
idéia a respeito deste tema, mostrando as relações
entre o pensamento, a evolução, a continuidade da mente
pela adoção da doutrina do sinequismo e a instrumentalização
da simpatia para a finalidade de comunhão proposta pela evolução
agapástica:
“Proponho-me dedicar alguns
páginas ao exame muito sumário destas perguntas em sua
relação ao desenvolvimento histórico do pensamento
humano. Formulo primeiro, para a conveniência do leitor, as
possíveis definições mais breves dos três
modos concebíveis de desenvolvimento do pensamento, enquanto
também distinguo duas variedades de anancasmo e três
de agapasmo. [...] O desenvolvimento agapástico de
pensamento é a adoção de certas tendências
mentais, de maneira não completamente descuidada,
como no ticasmo, nem o bastante cega pela mera força de circunstâncias
ou de lógica, como no caso do anancasmo, mas por uma
atração imediata da idéia em si mesma, cuja natureza
é antecipada antes de a mente possui-la, pelo
poder da simpatia, ou seja, em virtude da continuidade da mente;
e esta tendência mental pode ser de três modalidades,
como se segue. Primeira, pode afetar todo um povo ou comunidade em
sua personalidade coletiva, e ser, então, comunicada aos indivíduos
uma vez que estes estão em conexão simpática
poderosa com o coletivo, embora possam ser intelectualmente incapazes
de atingir a idéia por meio de suas compreensões privadas
ou mesmo, talvez, de apreendê-la conscientemente. Segunda, pode
afetar uma pessoa em particular, diretamente, ainda que seja incapaz
de apreender a idéia ou apreciar sua atratividade em virtude
de sua simpatia com seus vizinhos, sob a influência de uma experiência
de forte impacto ou o desenvolvimento do pensamento. A conversão
de São Paulo pode ser tomada como um exemplo do que esta sendo
indicado. Terceiro, pode afetar um indivíduo, independentemente
de seus afetos humanos, em virtude de uma atração exercida
sobre sua mente, mesmo antes dele a compreender. Este é o fenômeno
que foi propriamente denominado de adivinhação do gênio;
isto ocorre devido a continuidade entre a mente do homem e o Mais
Alto.”
(CP 6.307)
Possibilidades Investigativas
Se estamos todos interconectados tão
profundamente, se nossas conquistas científicas mais caras foram
desenvolvidas de maneira coletiva e não individual por meio de
um processo simpático, se somos habitados por signos gerados
por outros à distância, e se o que chamamos de “eu”
deve incluir os “eus” dos “outros”, então
o processo de comunicação entre as mentes individuais
não pode ser tão infreqüente como supunham os pesquisadoes
psíquicos no final do século passado. Talvez agora possamos
compreender com maior precisão as críticas de Peirce à
noção de telepatia, valendo-se das leis de probabilidade.
Um fenômeno tão infreqüente quanto a telepatia era
suposto não poder existir em um universo organizado. Mas, se
por outro lado, considerarmos a comunicação entre mentes
como um processo natural, presente em todos nós, subordinado
às leis de evolução do pensamento humano, e de
todo o cosmos, então, torna-se tão freqüente como
qualquer outro fenômeno humano reconhecido. Ao aproximar a comunicação
entre mentes do fenômeno da abdução, Peirce situa-a
como um processo ao qual não temos controle por ser da ordem
do insconsciente, mas que age a qualquer momento em que estamos frente
a um fenômeno desconhecido ou uma situação para
a qual temos que empenharmo-nos para resolver algo. Assim, todo o processo
criativo, seja ele artístico ou científico poderia, ou
deveria, implicar na utilização dos recursos de conhecimento
que formam uma espécie de manancial da humanidade e que estariam
disponíveis nessa “personalidade coletiva” da qual
nos fala Peirce.
Essa abordagem do fenômeno abre possibilidades de investigação
empírica radicais, já previstas pelo próprio Peirce
como já mencionado. Algumas dessas idéias, é interessante
notar, já têm sido alvo de pesquisa, modernamente, por
parte dos sucessores dos pesquisadore psíquicos. As técnicas
empregadas atualmente, principalmente as experimentais, são muito
próximas às que Peirce sugeriu que fossem utilizadas em
sua crítica ao Phantasms of the Living. Além
disso, as teorias e os modelos desenvolvidos, apesar de estarem longe
de obterem consenso entre os investigadores, parecem ajustar-se perfeitamente
à estrutura proposta por Peirce, quase cem anos antes daquelas
serem formuladas.
Apenas para dar um exemplo, um dos modelos testáveis desenvolvidos
mais importante é chamado de Psi Mediated Instrumental Response
(PMIR Model), do psicólogo americano Dr. Rex Stanford (1974),
da St. John’s University, de Nova Iorque. Segundo este modelo,
“psi”, um termo neutro, é compreendido como o processo
ainda desconhecido pelo qual uma informação poderia chegar
de uma mente a outra. Conceitualmente assemelha-se muito ao termo “empatia”,
utilizado por Peirce. O modelo de Stanford propõe que psi estaria
em funcionamento, mesmo sem que o sujeito tivesse consciência,
disso com a finalidade de rastrear o meio (o que inclui outros seres
humanos) e retirar dele informações relevantes para suas
necessidades psicológicas e biológicas. Em última
instância, psi agiria como um instrumento para a adaptação
ao meio e, portanto, estaria à serviço da sobrevivência
da espécie. O processo tem, portanto, um propósito, uma
finalidade. Vê-se que não há incompatibilidade entre
o modelo de Stanford e o de Peirce, apesar de o desse último
ser muito mais abrangente.
O modelo de Stanford é testável experimentalmente e vários
de seus postulados já têm sido confirmados empiricamente.
Apenas como exemplo, apresentamos uma de uma série de dezenas
de experimentos realizados por Stanford e colegas:
“Seventy-two male college students
took a coverty word-association “psi” test in wich they
had to respond to each of tem stimulus words with the first word that
came to mind. Unknown to the subjects, those who responded more rapidly
to a rondomly would get engage in a presumably pleasant task, rating
photographs of nude or semi-nude womem. The other subjects got to
engage in a boring task: tracking with a stylus a point on a rotating
metal disk for 25 minutes.
Two experimental manipulations were
incorporated in the experimental design, each representing one of
the two hypothesis. Need strenght was manipulated by having half of
the subjects tested by one of three attractive female experimenters.
The idea was that subjects tested by the female experimenters would
be higher state of arousal and thus more motivated to engaged in the
picture-rating task than would the other subjects.
For ethical reasons, Stanford did
not wish to induce a negative self-concept in his subjects, so the
self-concept variable was manipulated indirectly. Half of the subjects
in each of the previously defined groups were given a preliminary
word-association test in wich the experimenter praised the creatividty
of the subject’s response and never corrected inappropriate
reasons (positive self-concept). The other subjects did receive corretion
and were given no praise (neutral self-correction)
The results confirmed the first hypothesis
in that subjects tested by the female experimenters had significantly
shorter response latencies to the key stimulus words than did subjects
tested by male experimenters.” (Edge at al, 1996:190)
Comentários Finais
Peirce lamentou o fato de fenômenos como os aqui
tratados serem tão pouco estudados:
161. Os fenômenos psicológicos
da intercomunicação entre duas mentes têm sido,
infelizmente, pouco estudado. Assim, é impossível dizer,
com certeza, se eles são favoráveis a esta teoria ou
não. Mas o insight extraordinário que algumas pessoas
são capazes de ter de outras a partir de indicações
tão mínimas que é difícil compreender
o que elas sejam, se faz mais compreensível por meio da visão
aqui apresentada.
(CP 6.161)
Um dos objetivos deste texto é o de estimular pesquisadores que
não estejam embebidos pelo preconceito contrário à
pesquisa de fenômenos como a interconectividade entre mentes.
Estamos longe, não muito diferente do tempo de Peirce, de termos
consenso entre os cientistas em relação à existência
ou não da telepatia ou, mais genericamente, de “psi”.
No entanto, há sinais de que a atitude de preconceito contra
o estudo de tais fenômenos tem diminuído desde os tempos
de Peirce. Alguns sinais dessa mudança podem ser vistos por exemplo,
pela aceitação da Parapsychological Association
como membro da American Association for Advancement of Science,
em 1969. Além disso, há vários centros de pesquisa
universitários na Europa [3] e nos
Estados Unidos [4] com o objetivo de averiguar
imparcialmente as alegações de psi. Vários estudos,
pró e contra psi têm sido publicados em revistas científicas
de peso [5]. E mesmo no Brasil, há
crescente interesse pelo tema, sobretudo por parte de psicanalistas
que defrontam-se com experiências supostamente psi de seus pacientes
ou mesmo resultantes da relação analista/analisando
(por ex., Cassorla, 1991; Piccini, 1985).
De qualquer forma, a questão
da existência ou não de psi só pode ser resolvida
por meio da pesquisa empírica, aliada a uma forte estrutura teórica
que, cremos, pode ser encontrada na obra de Charles S. Peirce.
________________
Notas:
[1] Agradecemos
ao Prof. Winfried Nöth e à Profa. Lúcia Santaella
a indicação do texto de Braude (1998) que revisou o interesse
e as opiniões de Peirce relativamente ao paranormal. Recomendamos
tal texto aos interessados.
[2] O termo mesmerismo refere-se às técnicas empregadas
pelo médico austríaco Franz Anton Mesmer, tido como um
dos precursores da utilização da hipnose como método
terapêutico na Europa, no final do século XVIII. Mesmer
sustentava que o “magnetismo animal”, uma substância
física presente em tudo o que existe, seria a causadora, se em
falta, de toda a sorte de moléstias existentes. Seu tratamento
visava repor o “magnetismo animal” faltante no doente por
meio de imposições de mãos e de outros expedientes
que acreditava-se serem transmissores do mesmo, restabelecendo a cura.
[3] Por exemplo: Universidade de Gothenburgh, Universidade de Edinburgh,
Universidade de Coventry, Universidade de Amsterdan, Universidade de
Utrecht, Universidade de Frieburgh, Universidade de Hertfordshire.
[4] Por exemplo, a Universidade de Princeton.
[5] Science, Nature, Psychological Bulletin, American Scientist, Physics
World, Foundations of Physics, entre outras.
Referências Bibliográficas
Braude, S. E. (1998) Peirce on the
Paranormal.Transactions of the Clarles S. Peirce Society. Vol 34, 1:
203-224
Brent, J. (1993) Charles Sanders Peirce:
A Life. Indiana University Press.
Cassorla, R.M.S. (1991). Considerações
sobre um tipo de comunicação intuitiva. Revista Brasileira
de Psicanálise, 25:515-530.
Edge, H.L., Morris, R.L., Palmer, J.,
e Rush, J.H. (1986). Foundations of Parapsychology: Exploring the Boundaries
of Human Capability. London: Routledge & Kegan Paul.
Fantoni, B. (1981). Magia e Parapsicologia.
São Paulo: Loyola.
Peirce, C.S (1938-1956) The Collected
Papers., 8 vols. Charles Hartshorne, Paul Weiss, and Arthur W. Burks
(eds.). Cambridge: Harvard University Press.
__________ (1887a) Criticism of ‘Phantasms
of the Living’. Proceedinsgs of the American Society for Psychical
Research. 1: 150-157.
__________ (1887b) Mr. Peirce’s
Rejoinder. Proceedinsgs of the American Society for Psychical Research.
1: 180-215.
Piccini, A.M. (1985). Intuição:
lacuna técnica na psicanálise. Revista Brasileira de Psicanálise.
19:33.
Santaella, L. (1986) O que é
Semiótica? São Paulo: Brasiliense.
Stanford, R. G. (1974) An experimentally
testable model for spontaneous psi events. I. Extrasensory events. Journal
of American Society for Psychical Research, 68
Fonte: http://www4.pucsp.br/pos/cos/cepe/intercon/revista/artigos/peirce.htm