O artigo original
está disponível em:
The Journal of Nervous and Mental Disease
Vol. 183, No. 7 Printed in U.S.A.
Em várias partes do mundo, particularmente
na Ásia, podem ser encontradas crianças que alegam
se lembrar de eventos de uma vida anterior de quando nasceram. Estas
crianças costumam começar a falar sobre suas memórias
logo após iniciarem a falar sentenças curtas, ou por
volta de 2 a 3 anos de idade. Elas falam sobre e persistentemente
acerca de suas vidas prévias até em torno dos 5 anos,
quando as memórias aparentemente começam a declinar
e parecem, na maioria dos casos, serem esquecidas em seguida.
Estas memórias mostram alguns traços
recorrentes. Por exemplo, as crianças frequentemente alegam
ter sofrido uma morte violenta (tal como por acidente), ou ter morrido
subitamente; geralmente mostram fobias ou filias as quais elas relatam
modos de vida ou eventos que alegam ter feito numa vida passada
e, em alguns casos, elas têm deformações ou
marcas de nascença, as quais as crianças ou seus pais
costumeiramente relacionam à forma da morte na vida anterior.
A maioria das crianças descreve suas alegadas memórias
de maneira razoável e consistentemente e são persistentes
em suas afirmações. Elas pedem para visitar o local
ou a família onde dizem ter vivido antes e, na maioria dos
casos, mencionam o local, que frequentemente distam de poucas a
dúzias de milhas de seus lares. Em quase todos os casos,
a vida que elas descrevem parece ter terminado num período
relativamente curto de tempo antes delas nascerem, tipicamente não
mais que poucos anos.
O Dr. Ian Stevenson tem investigado meticulosamente
um grande número desses casos, que ele se refere como Casos
do tipo Reencarnação (CORTs). Suas investigações
têm se centrado na questão da veracidade das afirmações
feitas pelas crianças. As repetidas e às vezes clamorosas
afirmações que os sujeitos fazem acerca das alegadas
vidas prévias frequentemente embaraçam-lhes de formas
indesejáveis com outros membros de suas famílias.
Por exemplo, algumas crianças negam que seus pais sejam seus
pais e exigem serem levadas aos seus "verdadeiros pais",
que, elas podem dizer, amaram-lhes mais. Um pequeno número
de sujeitos realmente tenta deixar o lar para encontrar a família
prévia por si próprio. Algumas crianças podem
irritar-se com as circunstâncias humildes de suas famílias
e gabarem-se de ter tido a melhor comida, vestuário, servos,
etc. na vida anterior. Pais em culturas com crença na reencarnação
não se surpreendem frequentemente com as afirmações
das crianças, pois acham que ele ou ela está fantasiando,
mas num número substancial de casos, eles ficam aborrecidos
com as crianças em razão do conteúdo dito pela
criança e pelo comportamento incomum dela relacionado.
Nos últimos 6 anos, Haraldosson tem feito
uma detalhada investigação de 27 novos casos que encontrou
no Sri Lanka, um dos países onde alguns casos podem ser encontrados
a cada ano. Uma pequena parte dos casos tem mostrado um impacto
semelhante entre as afirmações da criança e
fatos da vida de alguma pessoa que foi identificada e que vivera
antes do nascimento da criança, às vezes numa distante
comunidade. Em outros casos - e eles são muito mais freqüentes
no Sri-Lanka - ninguém correspondendo às afirmações
da criança foi encontrado em relação à
vida prévia. A questão de se estas alegadas memórias
referem-se, de fato, a eventos reais na vida de pessoas que viveram
antes da criança nascer não será discutida
agora.
Interpretações postas em esforços
para explicar os elementos verídicos dos casos mais impressionantes
têm incluído coincidência entre as afirmações
da criança e fatos da vida de algum falecido, paramnésia,
percepção extra-sensorial pela criança de eventos
da vida de algum falecido, e a teoria da Reencarnação,
que é a interpretação mais comumente aceita
nos países onde estes casos são encontrados. Não
é fácil apresentar teorias psicológicas adequadas
para explicar o surgimento dessas alegadas memórias das que
crianças falam como tendo outra memória. Por outro
lado, os seguintes fatores psicológicos e sócio-psicológicos
podem ser esperados para dispor uma criança a alegar memórias
de uma vida anterior: uma fantasiosa vida rica, uma necessidade
de compensar o isolamento social, alta sugestibilidade (em culturas
onde a crença na reencarnação constitui um
papel maior), tendências dissociativas, busca por atenção
e relações perturbadas com os pais (causando a criança
o clamor de que pertence a qualquer outro lugar).
A Dra. Antonia Mills tem, juntamente com Patrick
Fowler, exposto a teoria de identidades alternadas (AIs) em crianças.
Esta assume que crianças, em todas as culturas, atravessam
um período sensitivo dos 30 aos 90 meses para o desenvolvimento
de identidades alternativas. Durante este período sensitivo,
AIs devem ter um lugar vívido na vida da criança.
Em torno do fim desse período e após, AIs declinam
da consciência da criança. Em países onde a
crença na reencarnação não é
parte da religião dominante, a AI pode tomar forma de amigos
imaginários, ao passo que em países com uma forte
crença na reencarnação, crianças criam
imagens e memórias de uma personalidade prévia. Nos
últimos, AIs não são consideradas fantasias,
mas memórias. Identidades alternadas são mais comumente
associadas em crianças com características de personalidade
que dispõem a criança desfrutar fantasia. Além
disso, a ocorrência de uma AI pode depender da necessidade
de escapar para a fantasia de circunstâncias abusivas ou assustadoras.
O principal interesse desse estudo é o desenvolvimento
cognitivo e peculiaridades dessas crianças e o que pode dispô-las
a fazer alegações sobre vidas anteriores. As habilidades
e personalidades das crianças que reportam memórias
de vidas anteriores diferem em algum modo importante daquelas de
crianças em geral? Elas mostram uma maior tendência
a confabular que outras crianças? São mais sugestíveis?
São indicações de uma maior tendência
para processos dissociativos do que em outras crianças? Estas
são algumas questões que alguém gostaria de
ver respondidas, algumas das quais de fato têm sido perguntadas
em um review de um dos livros de Setevenson.
Crianças com memórias ativas do tipo
vida anterior têm, na maioria dos casos, de 3 a 5 anos de
idade. E poucos testes psicológicos objetivos existem para
avaliar os fatores acima mencionados em crianças jovens.
Uma complicação adicional é que estas crianças
são em pequeno número e difíceis de encontrar,
sendo que uma comparação significativa com outras
crianças necessita de uma amostragem de tamanho adequado.
No intuito de conseguir uma amostra suficientemente grande para
este estudo (o qual continua relativamente pequena), todos os sujeitos
disponíveis acima dos 13 anos tiveram que ser incluídos.
Desde que alguns dos testes não poderiam ser usados em crianças
abaixo dos 7 anos, as crianças de nossa amostragem variaram
dos 7 aos 13 anos, Nesta idade, a maioria das crianças tem
parado de falar a respeito das memórias de suas vidas prévias,
mas todas haviam falado antes muito consistentemente durante um
período de tempo.
Sujeitos
Os sujeitos foram 23 crianças do Sri Lanka
que haviam relatado memórias de uma vida prévia (8
garotos e 15 garotas variando de 7 anos e um mês até
13 anos e um mês). Um grupo de comparação consistiu
de um número igual de crianças da mesma idade, do
mesmo sexo e da mesma vizinhança, mas que não havia
falado de uma vida passada. A idade média por crianças
com memórias foi de 9 anos e 9,5 meses e para o grupo de
controle 9 anos e 8,7 meses. As crianças estavam espalhadas
numa grande área do sul e do centro do Sri Lanka e igualmente
moravam em cidades e zonas rurais. Dos 23 casos envolvendo alegadas
memórias de vida prévia, 15 haviam sido investigados
previamente pelo autor e relatos detalhados têm sido publicados
sobre 5 deles Oito casos haviam sido investigados por Stevenson
e seus associados, mas nenhum relato havia ainda sido publicado
sobre estes.
Testes Psicológicos
As Matrizes Coloridas Progressivas, forma das Matrizes
Progessivas de Raven, foram escolhidas para este estudo porque foram
projetadas para uso com crianças jovens, pessoas idosas e
estudos antropológicos com pessoas que não entendem
a língua inglesa. A escala foi descrita como "um teste
de pensamento claro e observação" e testa a capacidade
para a razão por analogia. O Teste de Quadro Vocabulário
de Peabody consiste numa lista de 175 palavras arranjadas em ordem
de dificuldade crescente. Como cada item é lido para a criança,
à mesma é mostrada quatro ilustrações
preto-e-brancas numa página e pede-se para escolher o quadro
que melhor ilustra o significado da palavra-estímulo oralmente
apresentada. O teste foi traduzido para o Sinhalês por P.
Vimala e foi administrado sem ser padronizado para crianças
Sinhalesas. Em vez disso, um grupo de controle foi usado para comparação.
A Escala de Sugestibilidade de Gudjonsson foi desenvolvida "para
avaliar as respostas individuais a questões dirigidas e instruções
retorno (feedback) negativo quando solicitadas para relatar um evento
factual de uma recordação". No início
do teste, uma pequena história fictícia é lida
ao sujeito, após a qual é pedido ao sujeito que relate
o que é lembrado da história. Então 20 questões
são perguntadas sobre o conteúdo da história,
15 das quais são sugestivas de alguma forma. Finalmente o
sujeito é firmemente dito que ele ou ela havia feito um número
de erros e que é, consequentemente, necessário passar
pelas questões mais uma vez.
A GSS mede (1) a livre recordação (número de
itens lembrados da história); (2) confabulações
(número de itens oferecidos sobre a livre memória
que não são achados na história); (3) sugestibilidade
cedida sob pressão (números de itens dados antes do
feedback negativo ser fornecido); (4) mudança de sugestibilidade
(uma mudança distinta na natureza da réplica às
15 sugestíveis e 5 não-sugestíveis questões)
e (5) sugestibilidade total ( a soma dos dados e das mudanças).
Há duas formas de GSS; a história da forma 2 é
mais apropriada para crianças. O teste foi traduzido pra
o Sinhalês por Shanez Fernando e adaptado para crianças
do Sri Lanka.
O questionário Checklist de Comportamento Infantil - Modelo
do Professor - foi administrado para um dos professores da criança.
O Modelo do Professor é desenhado para obter relatos dos
professores sobre os problemas de seus pupilos, funcionamento adaptativo
e performance escolar. A maioria dos itens no Modelo do Professor
do Checklist de Comportamento Infantil são idênticos
aos do Modelo dos Pais.
Método Estatístico
Os dados para esta amostra combinada de sujeitos
e crianças-controle foram analisados pelo teste Wilcoxon
de nível de assinatura par-combinado para análise
de uma variável. A análise multivariada da variação
foi conduzida nas maiores variáveis, das quais o coeficiente
de correlação canônica é usado como um
indicador do tamanho do efeito total (Johnson e Wichern, 1992).
O programa SYSTAT foi usado para conduzir os cálculos (SYSTAT,
1992).
Procedimento
O autor, um intérprete, um psicólogo nativo e o motorista
de uma van alugada visitaram cada sujeito sem aviso prévio
na casa ou escola dele. Na maioria dos casos, alguns membros da
nossa equipe já haviam entrevistado a criança e seus
pais sobre o caso. Nas escolas, professores ajudaram-nos a encontrar
uma criança-controle na mesma classe do sujeito a qual a
data de nascimento estivesse mais próxima da do sujeito.
Se o sujeito estivesse em casa, nós procuraríamos
uma criança controle na mesma vizinhança que fosse
a mais próxima em idade possível. Nós expressamos
nossa gratidão com presentes de doces e canetas esferográficas
a essas crianças e a outras da casa, geralmente quando a
sessão terminava. Todas as famílias foram cooperativas
e prestativas. O Modelo do Professor do CCI foi administrado quase
um ano e meio depois dos outros testes/questionários.
Resultados
A inspeção dos principais resultados
(veja tabela 1) revela que as crianças que alegam memórias
de uma vida prévia parecem, geralmente, mais maduras que
as outras crianças. Seus conhecimentos sobre palavras e o
entendimento da linguagem (PPVT) é muito maior (z = 3.50,
p < .001) e elas têm uma memória melhor para eventos
recentes (GSS; z= 2.56, p < . 05). Os resultados das Matrizes
Progressivas de Raven não são significativamente maiores
para crianças com alegadas memórias de vida prévia
(z = 1.85, NS), um resultado sugestivo de que as diferenças
vistas não são devidas as a diferenças na capacidade
de raciocinar por analogia. Crianças alegando vidas prévias
não são mais sugestivas do que outras crianças
(z = -1.43, N = 46, NS). Não há indicações
de que CORTs confabulam mais do que seus pares (z= -.67, NS). A
performance escolar das crianças alegando vidas prévias
é muito melhor que as do grupo de controle de acordo com
a avaliação de seus pais, como indicado pelo Checklist
de Comportamento Infantil (Wilcoxon z= 3.14, N=44, p< .02, todos
os testes foram bi-caudais). Mais importante, os professores relataram
um desempenho escolar muito maior (graus) para CORTs do que para
seus pares (z = 3.02, N= 38, p< .01). De acordo com seus parentes,
CORTs são maiores não escala de Atividade Social do
CCBL do que outras crianças (z = 2.64, N = 38, p< .01);
elas aprendem mais, comportam-se melhor na escola e trabalham mais
duro. Análises multivariadas das maiores variáveis,
a saber, memória, confabulações, sugestibilidade
total, PPVT, Raven, performance escolar e escore de problemas do
CBCL- Modelo dos Pais - resultam em uma diferença total significativa
entre controles e sujeitos (F7, 10 = 5.60, p< .01) com um tamanho
de efeito, ou correlação canônica, de r*=.89.
De acordo com os parentes, CORTs aparentam consideráveis
problemas comportamentais. O CBCL - Modelo dos Pais - revela um
maior escore de problema (z = 3.48, p < .001) para o grupo alvo.
É interessante notar que o número de problemas relatados
varia particular e amplamente entre os CORTs (veja tabela 1). Na
visão dos professores que observam as crianças apenas
na escola, os CORTs não tem mais problemas comportamentais
do que outras crianças (z=-.10, NS). Itens individuais da
CBCL nos quais os CORTs são significativamente maiores ou
menores que as crianças-controles são listados na
tabela 2. De acordo com seus parentes, CORTs são mais argumentativos,
gostam mais de estar a sós, são teimosas, faladoras,
tendem a se machucar, são muito preocupadas com meticulosidades
ou limpeza, exibem-se ou são menos "palhaças"
e se envolvem menos com outras crianças. Mais ainda, elas
são nervosas, tensas e sentem-se que têm de serem perfeitas
e, às vezes, são confusas. Algumas dessas crianças
se excitam, tendem a chorar mais e têm alguns medos, os quais
parecem ser relacionados, em muitos casos, às suas alegadas
memórias de vidas prévias. Os CORTs femininos diferiram
significativamente em três itens que não foram relatados
por nenhum CORT masculino. Muitas das garotas CORT estavam expressando
um desejo de ser um membro do sexo oposto e foram relatadas se comportar
como o sexo oposto e guardando coisas desnecessárias. De
acordo com os professores, CORTs diferem significativamente de outras
crianças em sete itens na CBCL: mais significativamente,
elas "sentem que têm que ser perfeitas". Outros
itens que os pais indicaram significativamente altos não
são significativos no Modelo do Professor. É interessante
notar que os professores relataram que CORTs se dão melhor
com outras crianças, faltam à escola bem menos frequentemente,
são menos desobedientes, são mais altamente motivadas
e são menos explosivas e imprevisíveis em comportamento
do que seus pares.
Discussão
Os dados mostram que crianças que alegam memórias
de vidas prévias, quando comparadas com a amostra de controle,
têm maiores habilidades verbais, melhor memória e estão
indo muito melhor na escola que seus pares. Elas exigem mais de
si, da mesma forma que sentem que têm de serem perfeitas,
um sentimento que também deve contribuir para sua melhor
performance escolar. Elas são mais sérias como indicando
por "brincar" menos do que o grupo de controle. Neste
estudo, não há medida satisfatoriamente completa da
inclinação para fantasia, mas o número de itens
adicionados na memória livre à GSS foi usada como
um indicador de confabulação. Crianças alegando
memórias de vidas passadas obtiveram menor escore nesta medida,
mas não significativamente menor. Isso não dá
suporta a hipótese de que tal inclinação faz
com que as crianças mais comumente aleguem memórias
de vidas passadas, embora crianças com uma rica vida de fantasia
não necessariamente acrescentem "fatos" ao teste
de memória verbal. As crianças que alegam memórias
de vida passada são socialmente isoladas? Elas obtêm
um maior escore para atividade social e são relatadas pelos
professores como se entrosando bem com as outras crianças,
o que deve argumentar contra qualquer alegação de
isolamento. Elas são, entretanto, argumentativas, são
consideradas teimosas e falam demais. Essas características,
em balanço, não indicam isolamento social. Por outro
lado, elas também são frequentemente reservadas e
gostam de ficar sozinhas. Na época da primeira investigação
destas crianças, apenas três estavam sem um irmão
ou irmã e em média elas têm de dois a três
irmãos. Assim, não há sinal claro de isolamento
social nos dados e não é suportada a hipótese
de isolamento social dispondo as crianças a alegarem memórias
de vida prévia. Os resultados da GSS mostram que o grupo
alvo não tem maior sugestibilidade que seus pares. A hipótese
de que alta sugestibilidade predispõe as crianças
a memórias de vida prévia em culturas onde a crença
na reencarnação desempenha um papel maior não
é suportada. Seus escores modestos a normais de sugestibilidade,
aliados a baixos escores para confabulações, parecem
indicar que memórias de vida prévia podem ser internamente
geradas, pelo menos inicialmente, e não podem ser influenciadas
por outras pessoas. Esta é a linha de observação
do autor sobre essas crianças, as quais às vezes veementemente
resistem aos esforços de seus pais em suprimir que falem
de suas memórias, como no caso de Dilupa Nanayakkara, a qual
a família Católica Romana tentou suprimir seus discursos
sobre uma vida prévia. Também têm sido observado
que estas crianças resistem à considerável
pressão de seus pais para pararem de falar sobre as memórias.
Deve, entretanto, ser acrescentado que a maioria dos casos de alegações
dessas crianças aparenta encontrar suporte dos pais, especialmente
se e após alguma pessoa ter sido identificada com a vida,
que os pais vêm a acreditar, encaixar com as afirmações
feitas pela sua criança. O alto escore de problemas do nosso
grupo alvo, como demonstrado pelo Checklist de Comportamento Infantil,
traz questionamentos sobre as causas para seus problemas comportamentais,
particularmente desde que elas parecem mais maduras que as outras
crianças. Mais que qualquer coisa, elas são argumentativas,
apreciam estar a sós, falam demais, são teimosas e
se ferem com facilidade. Nesses aspectos, então, elas têm
algumas características "oposicionais" claramente
definidas. Alguém pode especular se estas características
são causadas por sua persistência na alegação
em suas alegadas memórias e, assim, causando dificuldades
a parentes e outros, para os quais tais clamores são embaraçosos.
Também, seus desejos por solidão poderiam inicialmente
se ajustar a um desejo de estarem apenas com suas memórias
ou seria porque elas sentem-se diferentes de outras crianças
e pessoas como um resultado de suas alegações singulares?
Tais questões permanecem para serem respondidas em estudos
posteriores. A Cautela deve ser observada na interpretação
destas diferenças, porque não está claro se
elas são a causa ou o resultado das alegadas memórias,
especialmente visto que a maioria das crianças foi testada
após terem parado de falar de suas vidas prévias.
Várias diferentes abordagens podem ser feitas para a questão
da realidade destas alegadas memórias. São elas confabulações,
memórias reais ou subjetivamente genuínas, mas falsas
impressões de fatos da memória ou reconhecimentos?
Elas são, talvez, relacionadas à experiências
de déjà vu, que têm sido definidas como "ilusões
de percepção falsa de uma nova cena ou experiência
familiar" (Wilkening, 1973, p. 56) e são relatadas por
uma larga parcela da população geral (59% nos EUA,
veja Greeley, 1975). Subjetivamente, experiências de déjà
vu envolvem memórias e reconhecimentos, como fazem alegações
de memórias de uma vida prévia. O autor não
encontrou estudos da estrutura da personalidade de pessoas que relatam
experiências de déjà vu. Tais dados poderiam
servir para uma interessante comparação com os dados
obtidos aqui, embora experiências de déjà vu
não sejam específicas para um grupo etário
particular, tal como as memórias de vida prévia são,
as quais são predominantemente alegadas por crianças
dos 3 aos 5 anos. Nós não temos um meio objetivo ainda
para averiguar o que realmente se passa nas mentes dessas jovens
crianças, mas é a impressão do autor de que
elas estão sinceramente convencidas, pelo menos na maioria
dos casos, da realidade de suas alegadas memórias, tão
certamente do que a maioria das pessoas alegando déjà
vu. Esta pesquisa mostrou que CORTs se distinguem claramente de
outras crianças em vários aspectos; seus vocabulários
e suas performance escolar são apreciavelmente maiores. De
qualquer forma, as hipóteses apresentadas no início
deste artigo não foram confirmadas, assim como confabulação,
isolamento social e sugestibilidade foram consideradas. O alto escore
de problemas no Modelo dos Pais do CBCL poderia indicar um relacionamento
perturbado com os pais. Crianças argumentadoras, faladoras
e perfeccionistas são certamente mais exigentes para seus
pais que outras crianças. Contudo, isso não necessariamente
leva a um relacionamento perturbador entre filhos e pais e alguns
dos problemas experimentados pelos CORTs devem emergir devido à
suas alegações de lembrar de uma vida prévia.
Estes pontos precisam ser explorados posteriormente.
É necessário lembrar que, em seu estudo, Haraldsson
não levou em conta fatores que aumentam a força e
a solidez dos casos, como a precisão das informações
fornecidas pelas crianças e marcas de nascimento. O autor
se limitou apenas à investigação de aspectos
psicológicos, cognitivos e comportamentais das crianças.