Em várias oportunidades temos
ouvido questionamentos sobre a posição do Espiritismo
a respeito da clonagem e do uso de células tronco.
Evidentemente não podemos responder pelo Espiritismo, mas como
espíritas podemos expressar nossa opinião, sem esquecer
que o conhecimento científico não pára de se
expandir e a cada dia novas descobertas podem tornar incompletas as
opiniões que hoje nos parecem corretas. Nosso entendimento
é baseado no aprendizado diário, nas orientações
dos espíritos encarnados e desencarnados e na lógica
que os princípios da Doutrina dos Espíritos nos oferece.
A pergunta mais comum, quando o tema vem à tona, tem sido:
- “É possível clonar uma pessoa, ou seja,
corpo e espírito?”.
A resposta a esta pergunta é não. A ciência já
demonstrou que é possível clonar ou reproduzir um corpo
como é o caso da famosa ovelha Dolly, porém, mesmo que
chegássemos à clonagem humana, jamais poderemos clonar
o espírito.
Não é possível assegurar que já sabemos
com profundidade o que é o espírito, mas sabemos que
não é fruto da criação humana. O corpo,
este veículo material do qual nos servimos para a experiência
terrena, se desenvolve a partir da soma do material genético
de um pai e de uma mãe e está sujeito a um período
de desenvolvimento, maturidade, decadência e decomposição.
Figurativamente, assim como o mergulhador faz uso de equipamentos
para permanecer por um tempo no ambiente submarino, o corpo físico,
desenvolvido a partir de componentes densos, permite que o espírito
encarnado se manifeste e se relacione no ambiente material enquanto
perdure seu capital de vida.
O espírito é único, existe antes da formação
do corpo com o qual irá compor o homem encarnado e continua
existindo, consciente de si após o desligamento do corpo no
processo que denominamos morte. Esta consciência é, aliás,
uma das razões porque alguns espíritos têm dificuldade
de acreditar que desencarnaram. Ainda não conhecemos a composição
do espírito, mas sabemos que é imperecível. A
Doutrina dos Espíritos nos alerta para o fato de que o espírito
é o ator e portador da cultura, ou seja, acumula memória
de vivências e convivências; de erros e acertos e de experiências
cognitivas, emocionais e psicomotoras. Como o conhecimento está
em contínua expansão e o espírito é seu
revelador e portador, podemos concluir que o espírito é
um ser em permanente evolução. Somente por estas razões
já se pode concluir que não há como copiar parte
de um processo e conseguir o todo.
No que diz respeito às células tronco, a questão
que se coloca é a seguinte: - “O descarte ou a utilização
de embriões congelados é diferente de um aborto?”.
Neste caso a resposta é sim. Os embriões desenvolvidos
em laboratório podem ficar congelados por décadas e
não haveria sentido em deter o processo evolutivo de um espírito
prendendo-o a um embrião que pode nunca chegar a desenvolver
um corpo. Assim sendo, apesar de haver espíritos, que potencialmente
poderiam assumir a encarnação em um dos embriões
no caso de implante, o descarte ou utilização de embriões
congelados não implica em violação ética
ou de transgressão das leis naturais de defesa da vida.
O interesse da ciência sobre
este tema se deve ao fato de que as células-tronco têm
uma capacidade especial, pois podem se diferenciar e constituir diferentes
tecidos no organismo. As demais células geralmente só
podem fazer parte de um tecido específico (por exemplo: células
da pele só podem constituir a pele). Além disso, as
células-tronco podem se auto-replicar, ou seja, podem gerar
cópias idênticas de si mesmas e repor tecidos lesionados.
O benefício do uso de células-tronco
de embriões não pode ser usado como justificativa para
o aborto, pois neste caso já há um espírito associado
ao feto desde o momento da concepção e sua remoção,
constitui crime moral independente de qualquer cobertura legal.
A única opção
onde a remoção do feto seria admissível é
no caso de elevado risco de morte para a mãe. A razão
para isso é o fato de que a mãe poderá criar
uma nova oportunidade de encarne ao passo que a continuidade de uma
gravidez de alto risco pode representar a interrupção
das oportunidades de aprendizado tanto para a mãe quanto para
o espírito que aguarda a oportunidade de voltar ao polisistema
material.
O estudo transdisciplinar dos princípios
da Doutrina dos Espíritos permite uma leitura nova sobre o
significado da vida como oportunidade de continuidade de aprendizado.
O debate lúcido e lógico das leis naturais pode levantar
o véu que encobre várias áreas do conhecimento
humano onde a ciência tem-se limitado a aceitar respostas balizadas
pelos cinco sentidos conhecidos e onde algumas interpretações
religiosas permanecem presas a dogmas e interesses cristalizados ao
longo dos milênios. Neste ponto é importante lembrar
a máxima de Jesus: “Conhecereis a verdade e esta
vos libertará”.