Franklin Santana Santos

>   Cientista na Universidade e Fiel no Centro Espírita?

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Franklin Santana Santos
>   Cientista na Universidade e Fiel no Centro Espírita?

 

 


Allan Kardec, ao fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, não pretendia criar um templo onde as pessoas iriam para fazer orações, assistir a uma preleção, tomar água fluidificada e passes, aprender e praticar reforma íntima, como se isso pudesse ser aprendido em centro espírita, (essa práticas não existiam no tempo de Kardec).

É uma catolicização e ritualização da doutrina espírita tremenda. Substituíram a missa pela palestra, a óstia pela água fluidificada, a benção do padre pelo passe.

Seu objetivo principal era organizar uma sociedade em que os membros estivessem estimulados a se instruir, dentro de princípios éticos universais e para que isso se fizesse de maneira metódica era preciso criar um sistema de estudos e pesquisas ligado naturalmente à espiritualidade.

Era necessário adotar o método cientifico, agora direcionado com metodologia própria às pesquisas espíritas.

Kardec, na época, já afastado da vida de ensino, mas ainda pertencente a um sem número de academias de ciência, nem por isso se descuidava de dialogar com o meio acadêmico. Ao criar a Revista Espírita- Jornal de Estudos Psicológicos primava por estabelecer um canal de comunicação com os maiores cientistas e Universidades da época e de todas as áreas, não só da França como de toda a Europa, Ásia, Oriente Médio e Américas.

Mas, concomitantemente às pesquisas que realizava, como as descobertas da mediunidade, dos fenômenos psíquicos e da vida Além-Túmulo, avançava no seu próprio processo de auto-educação espiritual e moral, tirando dessas pesquisas conseqüências filosóficas e éticas.

Hoje, no movimento espírita brasileiro, observamos uma discussão sem sentido se é válido ou não levar o Espiritismo para a Universidade. Para que discutir o óbvio? Kardec já não nos deu o exemplo no que diz respeito a isso? Havia dubiedade de conduta no seu comportamento com relação a esse tema?

Observamos muitos cientistas espíritas brasileiros escreverem artigos de uma qualidade ímpar, mas para serem publicados em jornais e revistas de profitentes, onde certamente não serão lidos por professores e pesquisadores acadêmicos.

Querem convencer ou mostrar a racionalidade e a validade dos postulados espíritas para os espíritas? Por que não os publicam em revistas nacionais e internacionais indexadas e para a comunidade acadêmica?

Revistas de Antropologia, Sociologia, Filosofia, Física entre outras poderiam receber a contribuição dessa visão nova e única que só a Doutrina Espírita tem.

Porque é isso que está faltando: Mentes brilhantes que dialoguem com ardor suas convicções íntimas, fruto do resultado de pesquisas e raciocínios lógicos, à maneira como fizeram William Crookes, Charles Richet, Alfred R. Wallace, Schrenk-Notzing, Friedrich Zöllner, para citar apenas alguns.

Cada um dentro da sua área pode e deve dar sua contribuição para essa inserção.

Por outro lado perguntamos, por que não levarmos esse arsenal de conhecimento para dentro do Centro Espírita, fazendo dele o que deveria ser, um centro de estudos, ensinos e pesquisas e não só um templo para oração, assistir palestra, tomar passe e dar sopas aos “assistidos”?

Por que os cientistas espíritas brasileiros, na sua maioria, insistem em ser simples fiéis nos centros espíritas? É possível haver uma dissociação do saber? Na universidade são cientistas e no Centro Espírita deixam de ser cientistas e passam a ser fiéis que vão para assistir palestras e tomar água fluidificada e passe?

Com isso não queremos dizer que devemos descuidar da caridade material, mas como diz o Espírito Emmanuel a maior caridade que podemos fazer pelo Espiritismo é divulgá-lo, mas de uma maneira racional, equilibrada, sem misticismo e sentimentalismo piegas.

E como não divulgá-lo (discuti-lo, ensiná-lo, debatê-lo e pesquisá-lo) dentro do maior centro do saber da atualidade, que é a Universidade?

Será que somos daqueles que nos achamos auto-suficientes e acreditamos que a Doutrina Espírita só nos basta e poderá responder todas as nossas dúvidas e anseios? Estará o Espiritismo isolado ou inserido no mundo?

Infelizmente o que ouvimos e lemos na internet e na mídia impressa são discursos de bravata de que devemos vivenciar a doutrina, sobretudo, no campo moral, mas em nossa relação com aqueles com que compartilhamos em nosso ambiente de trabalho, ou seja, na Universidade, observamos uma recusa ou medo (consciente ou inconsciente) de também vivenciarmos o Espiritismo no seu aspecto científico de pesquisa e ensino. Porque isso implica em nos expormos, em colocar o nosso cavalo na chuva, o que necessariamente necessita coragem moral, moral essa que esses mesmos cientistas advogam.

Kardec fazia pesquisas sem nenhum recurso tecnológico, mas apenas com ajuda de uma meia dúzia de médiuns adolescentes. Imagine-se o que poderemos fazer com todos os recursos que a Ciência desenvolveu nesses últimos dois séculos e quando dizemos recursos não falamos somente de tecnologias complexas, mas também das descobertas das ciências humanas, psicológicas e educacionais.

A cobrança que devemos fazer no campo da moralidade é de foro íntimo. Não tem o Cristo nos ensinado tudo o que nos diz respeito à prática da caridade ¬– escreve São Vicente de Paulo em O Evangelho Segundo o Espiritismo – e acaso estamos cumprindo 100% desses ensinamentos? Não o fazemos por quê? Preguiça, comodismo, desleixo, incapacidade de compreensão ou porque a natureza não dá saltos e estamos em processo educativo e progressivo. Podemos passar do jardim de infância à universidade?

Façamos o nosso melhor na certeza de que Deus, nosso Pai e Professor, sabe com que pode contar da nossa participação, o que não nos cabe é nos escusarmos daquilo que nos compete, pois Cristo adverte que aquele que se envergonhar dele, ele também se envergonhará do mesmo diante do Pai.

 

Fonte:
http://pedagogiaespirita.org.br/tiki-read_article.php?articleId=65

 


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