Resumo
A umbanda tem sido entendida como uma religião
afro-brasileira caracterizada por uma interpretação
bastante flexível em relação ao que se considera
sagrado e cotidiano, espíritos e pessoas. O limite flexível
entre o sagrado e o profano na umbanda não se restringe,
porém, ao aspecto estritamente religioso do culto, até
porque essa divisão entre religioso e social não é
usualmente observada na vida de seus praticantes. Dá-se ênfase,
então, para a vivência religiosa que está presente
no todo da vida de seus fiéis e se mostra na forma como se
lida com os mais diversos assuntos do cotidiano inclusive, com a
educação e socialização das crianças
da comunidade.
Este estudo foi realizado na Tenda Espírita
de Umbanda fé pela Razão Pai Candinho Sebastião
e Ogum Rompe Mato, na cidade de Pontal no interior de São
Paulo, com o objetivo de contribuir para a compreensão dos
processos de construção e transmissão de saber
em espaços de religião de matriz africana e as relações
construídas com o universo escolar. A coleta de dados foi
feita nas reuniões semanais do grupo de crianças,
pensadas para discutir aspectos da religião umbandista e
da religiosidade em geral, e também em outros momentos e
espaços dentro da comunidade, como nas giras e em conversas
individuais, por exemplo. A coleta de dados foi realizada através
de técnicas etnográficas como a participação
em atividades do campo e o diário de campo. A análise
dos dados foi realizada através do método desenvolvido
pelo Laboratório de Etnopsicologia, a escuta participante.
Conclui-se que as crianças são uma
categoria muito importante dentro da cultura dessa comunidade umbandista,
sendo consideradas no mais alto grau de respeito e afeto e cuidadas
por todos os filhos do terreiro, independentemente de laços
de consanguinidade, pois o que os une é a vivência
dos preceitos religiosos. As crianças possuem uma relação
diferenciada com a produção e transmissão de
conhecimentos, que não é aquela tradicionalmente encontrada
na escola formal, e sim uma que considera as experiências
da vida cotidiana e a relação com o outro (em especial
os seus pares) como essencial para o processo de aprender. Para
aquela comunidade, além do tratamento respeitoso em relação
às ideias, gostos e liberdade da criança, as coisas
de criança, como a brincadeira, por exemplo, parecem ser
essenciais na forma como se aprende. Conhecer, passa, dessa forma,
pelo aprendizado prático ligado ao corpo, pelo sentir, diferente
da pedagogia hegemônica que geralmente preza por abstrações
distante do cotidiano das crianças.
Mariângela Santos de
Jesus
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FFCLRP - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, como parte
das exigências para a obtenção do título
de Mestre em Ciências, Área: Psicologia: Processos
Culturais e Subjetivação.
>>> texto
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