Introdução
Os estudos acadêmicos feitos sobre o Espiritismo
no Brasil já são apresentados desde o início
da segunda metade do Século XX, demonstrando diversas visões
e interpretações deste universo religioso (GIUMBELLI,
1997, p. 16). Esses esforços tomaram um marco inicial a partir
do século XIX, quando a religião perde sua posição
de sagrado. Neste meio, inserem-se os estudos acadêmicos desenvolvidos
acerca do Espiritismo e sua importância e influência cultural,
social e histórica, nos espaços em que homens manifestaram-no
enquanto uma das tantas formas de se organizar socialmente (OLIVEIRA,
2001, p.1).
O Espiritismo surge no Brasil a partir dos anos 1860, em meio a outros
modismos da época, visto a forte influência que sofremos
da cultura francesa, principalmente nossa elite letrada, tornando-se
uma nova opção religiosa de vanguarda. Sua prática
iniciou-se no Rio de Janeiro por grupos imigrados franceses (CAVALCANTI,1983,
p.70; LEWGOY, 2006, p.181; GIUMBELLI, 1995, p. 10). A nível
internacional, o “francesismo” estendia-se por todo Brasil
abrangendo a literatura, educação, moda e diversão,
bem como a arquitetura com art noveau e as aulas particulares de francês
(OLIVEIRA, 2001, p.6 24).
Dentro dos estudos sobre o Espiritismo em Juiz de Fora, foram feitas
algumas produções sobre o quadro histórico da
religião na cidade. Sobre os textos acadêmicos que estudaram
o Espiritismo em Juiz de Fora, há monografias e artigos a respeito
do assunto. Levantamos as monografias de Simone Geralda de Oliveira
(2001), Daniel Pavam (2003) e Alessandra Viana de Paiva(2009), todas
apresentadas ao Programa de Pós-graduação em
Ciência da Religião. Além destas monografias,
encontramos os estudos de autoria de Marcelo Ayres Camurça
(1998, 2001).
Em Juiz de fora, a Simone Geralda de Oliveira em sua
dissertação de mestrado intitulada “A ‘Fé
raciocinada’ na "Atenas de Minas": Gênese e
consolidação do Espiritismo em Juiz de Fora e algumas
repercussões para contemporaneidade.”(2001) apresenta
como a vinda de imigrantes contribuiu para uma diversificação
cultural na medida em que a mentalidade europeia se infiltra na sociedade
local, ajudando na mudança de comportamento de maneira geral.
Inicia-se neste momento o surgimento das classes médias urbanas,
que tinham apreço por ideias modernizantes, muito ligadas ao
discurso protestante, vinculadas às ideias liberais e progressistas
norte-americanas, de grande interesse desta nova classe. Em Juiz de
fora, a religião também era marcada pela diferença,
se comparada a outras cidades mineiras da época. Havia uma
autonomia do laicato juizforano, sem subordinar-se ao corpo clerical
e parte dos imigrantes tinham o Protestantismo como religião
professada (OLIVEIRA, 2001, p. 29). Neste sentido, as relações
apresentadas do caráter urbano dessa religião ajudam
a compreender como ela influencia o movimento de mudança social.(CAMARGO,
1973, p. 184).
Assim, nos estudos levantados sobre o Espiritismo, o caráter
letrado dos espíritas é uma característica que
se sobressai. Bernardo Lewgoy sustenta a tese da importância
da relação entre o espiritismo kardecista e letramento,
sendo chave para compreender as especificidades no interior das religiosidades
praticadas no Brasil (LEWGOY, 2006, p. 183).
Observando esse caráter de letrados, a imprensa como veículo
de divulgação na cidade tem seu valor de estudo. José
Luiz dos Santos em seu livro Espiritismo: Uma religião
brasileira (1997) explica que o Espiritismo não contém
uma estrutura baseada em hierarquia comum para organizar-se. Assim,
sua concordância interna dependia da divulgação
de textos básicos do espiritismo e dos registros de suas ideias
e problemas em periódicos. Neste sentido, ele destaca a relação
do espiritismo com a transmissão de ideias e informações
por meio da escrita, a partir da qual as publicações
possibilitaram eficiência à ampliação do
movimento (SANTOS, 1997, p.20).
A imprensa torna-se característica do espiritismo na cidade
e fonte para sua compreensão. A relação da imprensa
com o Espiritismo torna-se alvo de estudos para compreensão
dessa religião. Marcelo Camurça apresenta como a condição
intelectual comum entre espíritas influenciou o desenvolvimento
da religião na cidade por meio dos jornais e periódicos.
Ele também ressalta que era uma prática recorrente em
todo o país. (CAMURÇA, 1998, p.203)
Os trabalhos apontados como importantes para o estudo do Espiritismo
na cidade traçam de alguma forma a presença de personagens
centrais para seu crescimento e também sua importância
para consolidação e defesa da religião.1 Contudo,
a produção acadêmica juiz- forana pouco tematizou
ou reproduziu sobre a figura do jornalista Jesús Rodrigues
de Oliveira. Figura importante dentro do movimento espírita
local, criador e participante na organização de diversos
periódicos, de circulação até mesmo nacional,
entre eles O Lince, Jornal que circulou entre 1912 a 1979, e também
o então jornal de cunho religioso, O Médium, criado
em 1932, que circula até os dias de hoje (DADOS BIBLIOGRÁFICOS...,
1967, p. 5). No meio espírita, o desenvolvimento desse periódico,
ao nosso ver, merece um estudo que apresente sua contribuição
ao movimento.
Em prol do Espiritismo, Jesús de Oliveira executou a doação
do prédio do antigo Tiro de Guerra 17, no qual surgiu a famosa
Sopa dos Pobres na Rua Santo Antônio. Também liderou
a construção do Centro Espírita Paz e Fraternidade,
assim como esteve presente, em 1934, como ilustra uma foto em sua
biografia (OLIVEIRA, s.d.), no lançamento da pedra fundamental
da Fundação Dr. João de Freitas, criada por Eugenia
Braga. Ele buscou, além desses trabalhos, desenvolver a construção
de uma "Vila" para idosos, com o nome de "Sociedade
Amigos do Bem", mas faleceu antes de concretizar esta empreitada
(OLIVEIRA, s.d., p.156).
Em seus jornais O Lince e O Médium, observamos
que existe uma relação entre ambos de divulgação
da crença espírita, e a criação do segundo
é consequência de problemas travados entre leitores do
primeiro. Como podemos ver no apontamento biográfico de Adail
de Oliveira sobre seu pai, Jesús Rodrigues de Oliveira,...
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito para conclusão da Especialização
em Ciência da Religião
Orientador: Prof. Dr. Emerson José Senna da Silveira
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