Espiritualidade e Sociedade




Maria do Carmo Eulálio; Ellis Regina Ferreira dos Santos; Tiago Paz e Albuquerque

>    Representações sociais da relação auxiliar de enfermagem-usuário no contexto do Programa Saúde da Família

Artigos, teses e publicações

Maria do Carmo Eulálio; Ellis Regina Ferreira dos Santos; Tiago Paz e Albuquerque
> Representações sociais da relação auxiliar de enfermagem-usuário no contexto do Programa Saúde da Família

 

Maria do Carmo EULÁLIO

Doutora em Psicopatologia Clínica, Professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação: Mestrado em Saúde Coletiva da UEPB, Campina Grande, Paraíba, Brasil

Ellis Regina Ferreira dos SANTOS

Psicóloga, Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, Brasil

Tiago Paz e ALBUQUERQUE

Psicólogo, Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Cidade, Rio de Janeiro, Brasil

 

Rev. Gaúcha Enferm. (Online) vol.30 no.4 Porto Alegre Oct./Dec. 2009

 

RESUMO

Os profissionais da enfermagem têm se responsabilizado pela "arte" de cuidar, sendo eles os que dedicam a maior parte do seu tempo ao usuário. Neste estudo, objetivou-se compreender a relação entre auxiliar de enfermagem e usuário através das representações sociais do ato de tocar, construídas por esses profissionais no contexto do Programa Saúde da Família (PSF). Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa com 25 profissionais. Os instrumentos utilizados foram: associação livre de palavras, entrevista e questionário. Evidenciou-se que o toque representa possibilidades de aproximação entre profissional-usuário, expressando-se na prática cotidiana, pois auxilia na cura do usuário e humaniza a relação.

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INTRODUÇÃO

A relação que o auxiliar de enfermagem estabelece com o usuário, seja ele hospitalar ou de programas sociais, como o Programa Saúde da Família (PSF), perpassa pela compreensão da necessidade de auxiliá-lo, visto que, ao longo dos anos, a Enfermagem tem se responsabilizado pela "arte" de cuidar, principalmente por serem esses profissionais os que dedicam a maior parte do seu tempo ao usuário. A "arte" de cuidar, nesse sentido, está associada ao tocar o corpo com afeto, para despertar no indivíduo as suas pulsões de vida, além da sensação de segurança, conforto e afetividade (1).

No contexto institucional da prática desses profissionais, destacamos o PSF, pois tem entre seus objetivos, possibilitar um novo tipo de relação entre os profissionais da equipe multidisciplinar e o usuário; proporcionando um atendimento de qualidade ao usuário, que não seja restrita ao tratamento de doenças, mas que, sobretudo, se baseie na promoção da saúde e na percepção desse indivíduo como um ser biopsicossocial – que necessita ser escutado e compreendido em suas necessidades físicas, emocionais e sociais.

Na dinâmica do PSF, destacamos ainda o trabalho do auxiliar de enfermagem, uma vez que é ele quem primeiro atende o usuário. O fato de o atendimento poder ser realizado não só na unidade de saúde, mas também em seu domicílio, já revela uma característica peculiar desse programa. Essa prática permite com que esse profissional conheça e acompanhe, não só a vida do indivíduo assistido, mas a de toda sua família. Além disso, o trabalho preventivo também exige do auxiliar de enfermagem uma relação mais ampla e profunda com os usuários, sendo necessário o conhecimento dos hábitos e costumes da vida dos mesmos, para intervir no sentido de melhorar a qualidade de saúde desses indivíduos.

Assim, destaca-se o fazer desse profissional de saúde, pois se baseia na ação de prestar assistência e participação ativa na vida do usuário, desde prepará-lo para a consulta, acompanhá-lo no tratamento, até visitá-lo em seu domicílio.

Diante dos aspectos levantados, este trabalho objetiva compreender a relação entre auxiliar de enfermagem-usuário através das representações sociais do ato de tocar construídas por esses profissionais no contexto do PSF.

 

O toque na relação auxiliar de enfermagem-usuário

Por ser o auxiliar de enfermagem o profissional que, no dia-a-dia, primeiro atende o usuário em suas necessidades, tanto na Unidade de Saúde da Família quanto no domicílio, é ele quem, portanto, geralmente estabelece um maior envolvimento com o indivíduo assistido. Nessa relação, que passa pelo examinar e o atender, o tocar termina por se expressar de alguma maneira.

Em termos gerais, os cuidados prestados pela enfermagem podem acontecer de duas formas, através do toque instrumental (cuidado objetivo) – aquele que requer contato físico deliberado para que o profissional execute algum procedimento – e do toque afetivo (cuidado subjetivo) – que é espontâneo e demonstra apoio, conforto e proximidade com o usuário (2). Em outras palavras, "o toque na enfermagem dá-se através do cuidado e pode ser uma ação terapêutica que envolve não apenas um, mas vários aspectos do ser que estão no corpo que precisa de cuidados [...]. De acordo com o que pensamos, o toque deve estimular todo o ser que está recebendo, proporcionando-lhe oportunidade para reagir e recuperar as pulsões de vida e transcender a tênue distância entre o equilíbrio e o desequilíbrio de seus corpos (físico, emocional, mental pensante e espiritual)" (1).

Diante dessa compreensão, o auxiliar de enfermagem pode investir tanto no toque apenas instrumental quanto pode optar pelo toque afetivo, o que não inviabiliza a técnica, mas sim, soma-se às demonstrações de afeto e atenção para com o usuário, sendo fundamentais na recuperação do mesmo.


Teoria das representações sociais

A partir das contribuições da Psicologia Social e, fundamentalmente, das investigações de Moscovici (3), a representação social passa a constituir uma noção que, antes de tudo, concerne à maneira como nós, sujeitos sociais, apreendemos ou "teorizamos" sobre os acontecimentos da vida diária, as características de nosso ambiente, as informações que nele circulam e como identificamos as pessoas que nos cercam.

Uma representação não existe sem objeto, visto que toda representação é construída na relação do sujeito com o objeto representado (4). Logo, representação social não pode ser compreendida enquanto processo cognitivo individual, já que é produzida no intercâmbio das relações e comunicações sociais.

As representações sociais têm a finalidade de construir e interpretar o real, levando os indivíduos a se adaptarem e encontrarem um lugar nesse real, como também a darem um sentido às suas condutas. Elas, "[...] por serem dinâmicas, levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio, ações que sem dúvida, modificam os dois"(5).

Essas representações são características de nossa época principalmente pela abundância das informações circulantes, por sua vigência relativamente breve e, conseqüentemente, pela improbabilidade de estruturar tantas idéias em um esquema teórico permanente. Nesse sentido, o senso comum se impõe como a explicação mais ampla e condicionante das relações de intercâmbio social.

A formação ou transformação de uma representação social acontece através de dois processos fundamentais: o processo de ancoragem e o processo de objetivação (6,7). O primeiro, em termos gerais, consiste em nomear e classificar, encontrar um lugar para "ancorar" o não-familiar. O segundo consiste em tornar concreto, visível uma "nova" realidade. Mas "o que confere sentido à representação não é tanto o seu conteúdo, os elementos que a formam, mas as relações entre esses elementos"(8).

Esses processos são mobilizados a partir de um pressuposto básico desta teoria, que é o conceito de familiarização, caracterizado como um processo psicossociológico (individual e social) cujo fim se destina a repelir a ausência de sentido e manter a estabilidade social.


METODOLOGIA

Na Teoria das Representações Sociais não existe um único método ou técnica que logre de especial privilégio ou uso, mas sim uma diversidade metodológica; o que não implica em caoticidade (9). Os fenômenos sociais, por serem diversos, exigem, igualmente, metodologias diversificadas para apreendê-los. Dessa forma, nosso estudo se apoiou de uma abordagem quali-quantitativa.

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Fonte:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1983-14472009000400018&script=sci_arttext

 


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