Wilson Czerski
> O Espiritismo como uma Proposta
de Vida
Ideia espírita estrutura-se
na fraternidade e visa a humanidade.
Em “A Gênese” (1),
cap. XVIII, ‘Sinais dos tempos’, somos
informados de que o progresso intelectual marca a primeira fase da
humanidade, mas só o progresso moral pode assegurar a verdadeira
felicidade humana. Já em “O Livro dos Espíritos”
(2), questão 780 consta que este
é consequência daquele pela compreensão do Bem
e do Mal, mas nem sempre o acompanha e na 791 que, em sua falta, há
somente uma civilização incompleta, com homens apenas
esclarecidos. Com o intelecto desenvolve-se a capacidade de discernimento
e a autodeterminação nas escolhas pelo livre-arbítrio
e reclama responsabilidade. Resultado: menos egoísmo e orgulho,
hábitos mais moralizados, mais liberdade para a inteligência,
mais bondade, menos preconceitos e leis sem privilégios, mais
justiça e amparo do fraco contra o forte. A vida, as crenças
e opiniões são mais respeitadas e menor o número
de infelizes.
Na ‘Conclusão’ de “O
Livro dos Espíritos”, item V, nos deparamos
com os três períodos do Espiritismo: curiosidade, raciocínio
e filosofia e aplicação de suas consequências.
A sua essência íntima toca o ponto mais sensível
do homem: sua felicidade, mesmo neste mundo... (grifo nosso). No item
seguinte, complementa que Sua força está na sua filosofia,
no apelo à razão e ao bom senso. O conhecimento espírita
bem compreendido leva à prática, diminuindo as imperfeições
de caráter e conduta cuja melhoria se fará sentir pela
diminuição das faltas morais, o que culminará
com um grau mais elevado de felicidade. No item VII, refere-se aos
três tipos de espíritas: os que conhecem os princípios
de suas manifestações (ciência); os que conhecem
os princípios filosóficos e suas consequências
morais e os que praticam ou se esforçam para praticar essa
moral. Lê-se na Q. 789 da mesma obra que a humanidade progride
pelos indivíduos que se aperfeiçoam aos poucos e se
impõem pelo número, liderando movimentos que provocam
as transformações nas leis e nos costumes, embora (“Obras
Póstumas” (3),
‘Credo Espírita’) elas sejam insuficientes
para assegurar a felicidade dos homens porque coíbem as más
paixões, sem destruí-las... são mais repressoras
do que moralizadoras... Ou seja, não são educativas,
daí que não transformam. As Q. 795 e 797 ratificam que
a lei humana é variável e progressiva e tende a refletir
as leis naturais ou divinas. A mudança daquela, para se tornar
mais justa, vem pela força das coisas e influência das
pessoas de bem e a 784 nos lembra que é preciso o excesso do
mal para se compreender a necessidade do bem e das reformas.
A Terra está em fase de transição. O Espiritismo
oferece uma PROPOSTA de vida. Mas por que uma proposta? Porque, embora
o codificador estivesse totalmente convencido das qualidades das ideias
espíritas como elemento transformador da sociedade, nem ele
muito menos os Mentores imaginaram o Espiritismo como único
a prevalecer no mundo, seja no aspecto filosófico, científico
ou religioso, mas tão somente como um código moral.
Ainda em “Obras Póstumas” (4),
‘Regeneração da humanidade’, uma comunicação
mediúnica salienta que o Espiritismo tornar-se-á a base
de todas as crenças (grifo nosso), o ponto de apoio de todas
as instituições... senda que conduz à renovação
porque destrói os seus maiores obstáculos: a incredulidade
e o fanatismo e a Q. 798 de “O Livro dos Espíritos”
reafirma que O Espiritismo se tornará uma crença popular.
Note-se que não se utiliza de adjetivos como universal, único,
etc.
A alteridade é o cultivo do respeito incondicional ao outro,
à sua pessoa, modo de pensar, sentir e agir no mundo, sem mantê-lo
à distância, na indiferença em atitude excludente.
O processo de alteridade prevê o estabelecimento do diálogo
e a busca de aprender com o outro. Ouvir, respeitar, entender, sem
necessariamente aceitar tudo. É saber conviver com a diversidade
sem querer impor a nossa opinião. Ainda citando a obra basilar
do Espiritismo, na Q.768, constatamos a necessidade da vida em sociedade,
quando os Espíritos dizem que o homem não progride só
porque não possui todas as faculdades e precisa do contato
dos outros homens. O economista Stephen Kanitz, colunista da
Revista Veja (5), comenta
a exortação de João quanto ao “Amai-vos
uns aos outros” e conclui que a meta está superestimada
para o atual estágio da humanidade. “Respeitai-vos”,
segundo ele, já seria um grande passo. Respeitar nossas diferenças,
culturas, religiões.
Este pensamento de alteridade está presente também em
“O Livro dos Espíritos”,
Q.628: (...) para o estudioso, não há nenhum sistema
filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma
religião a negligenciar porque todos contêm os germes
das grandes verdades. E em “Obras Póstumas”
(‘Breve resposta aos detratores’), acrescenta: (...) Não
procura demover ninguém de suas convicções religiosas.
Não se dirige àqueles que possuem uma fé que
os satisfaça, mas àqueles que não estando satisfeitos...
procuram algo melhor.
Voltando à Gênese (7),
cap. XVIII, item 25, somos esclarecidos que Não é o
Espiritismo que cria a renovação social, é a
maturidade da humanidade que faz de tal renovação uma
necessidade. O Espiritismo bem compreendido e sentido, forçosamente
resulta no homem de bem, acrescenta Kardec em outro trecho, mas não
há pretensão de ser o único a conseguir isso.
E na Q.932 “O Livro dos Espíritos”:
está dito que os maus, com frequência, sobrepujam os
bons em influência devido à fraqueza dos bons, pois enquanto
aqueles são intrigantes e audaciosos, estes são tímidos.
Consoante “Obras Póstumas”,
8, ‘Projeto 1868’), dois
elementos devem concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento
teórico e os meios de popularizá-lo. Uma teoria que
não renega seu aspecto científico, que evolui, feito
por um movimento atento às constantes mudanças da sociedade
e aberto à sua discussão. Que estuda, analisa, debate
os problemas cotidianos (a Bioética, p. ex.). Isto porque “Obras
Póstumas”, 9)
por sua própria essência que o Espiritismo toca em todos
os ramos dos conhecimentos físicos, metafísicos e da
moral.
A popularização da Doutrina de que fala Kardec é
justamente a abertura de seu movimento para o social. É o oferecimento
de sua PROPOSTA de vida, sem imposição ou pretensões
de dona da verdade, mas sem receios e preconceitos infundados no trato
de sua divulgação. Ainda no ‘Projeto 1868’,
de “Obras Póstumas”,
10, Kardec antecipa que Uma publicidade
em larga escala feita nos jornais de maior circulação,
levaria ao mundo inteiro... o conhecimento das ideias espíritas...
Hoje nós temos o rádio, a Tv e a fabulosa internet.
Temos o livro (Feiras, Clubes, Bancas, Livrarias e Bibliotecas), temos
os DVDs, as artes, os seminários e congressos e temos os jornais
e revistas que precisam ser mais apoiados. E temos nosso exemplo.
A PROPOSTA DE VIDA que o Espiritismo oferece tem por base o esclarecimento
e a lei de amor, justiça e caridade. Passa pela mídia
eletrônica, pelas atividades das instituições
espíritas, campanhas de orientação em escolas
e universidades, pela ação corajosa no meio social em
que esteja inserido e passa necessariamente pela EDUCAÇÃO
e pelo exemplo. Para atendermos a exortação do Cristo
do “Ide e pregai” e a de Erasto ("O
Evangelho segundo o Espiritismo", 11,
cap. XX) e nos tornarmos Paulos de Tarso modernos, não precisamos
ser perfeitos, mas abrir luta contra as imperfeições,
promover a constante reforma íntima, educar sentimentos e,
sem desculpismos ou esmorecimentos, contribuir com o que já
possuímos e sabemos para a sociedade. A educação
implícita na PROPOSTA DE VIDA do Espiritismo (“O
Livro dos Espíritos”, Q. 917) não
é a que faz homens instruídos, mas homens de bem; (Q.685)
é a arte de formar caracteres pelo conjunto de hábitos
adquiridos porque “Obras Póstumas”,
12, ‘Credo Espírita’)
só ela, mais que a instrução, transformará
a humanidade.
A PROPOSTA DE VIDA do Espiritismo, se aceita, atacará as causas
dos males, no seu nascedouro e não apenas os efeitos. Violência,
falência familiar, enfermidades, injustiças sociais,
corrupção, drogas, para serem combatidos precisam mais
do que bons governos, investimentos em segurança pública,
novas tecnologias e medicamentos ou esforços isolados para
atenuar a miséria e a exclusão social. Há que
se desmontar o império do egoísmo, do orgulho e da ignorância,
as grandes chagas morais da humanidade. O trabalho de formiguinha
é válido, mas insuficiente num mundo de rápidas
e estonteantes transformações. Para se erguer o grande
edifício da felicidade já não basta somar o grão
de areia individual, mas unir nosso tijolo pela argamassa da fraternidade.
É preciso que a vida futura... “Obras Póstumas”,
(13) seja tão positiva quanto
a vida presente da qual é continuação... que
a percebam e compreendam que, por assim dizer, a toquem com as mãos.
Estamos convictos de que se nossos políticos, empresários,
administradores públicos, educadores e todos os indivíduos
com forte poder de influência e ação social, tomassem
contato pleno com certos princípios espíritas, muita
coisa poderia mudar a curto e médio prazos. Informações
claras e objetivas sobre Deus, imortalidade da alma, reencarnação
e lei de causa e efeito orientariam suas condutas pela ética
e sentimento de respeito aos semelhantes. Mais que reconhecer o Criador
em seus atributos e antever de modo concreto o seu futuro eterno de
vida plena, saberiam que, pelas vidas sucessivas, na dimensão
espiritual ou aqui, inexoravelmente, são e serão os
únicos herdeiros de si mesmos.
Nossa PROPOSTA DE VIDA precisa de formulação de estratégias
como um produto, embalado na ética de alteridade de respeito
a tudo e a todos. Precisa ser “palatável”, na dose
e linguagem certas. Tem que estar acessível, bem distribuída,
sem banalização que corrompa sua essência. Precisa
do apoio de marketing, usar das novas tecnologias e canais, segmentar
o mercado e públicos-alvo. Por exemplo: Qual o tipo de informação
é requerida ali? Em que profundidade? Quais os melhores momentos?
Qual o custo/benefício de se divulgar assim e ali e não
de outra forma e em outro lugar? Tudo isso vai muito além do
improviso e da boa vontade.
Inseridos no contexto cristão, somos o sal da terra, o levedo
das massas, os bons semeadores da paz, do amor e da fraternidade.
A PROPOSTA DE VIDA do Espiritismo flui para a sociedade através
daqueles que já o conhecem e adotam. Estendem a PROPOSTA que
já aceitaram para si mesmos. Cumprem sua missão de espíritas
que é, portanto, tornarem-se... espíritas, verdadeiros,
cristãos, capazes de serem reconhecidos por muito se amarem
como afirmou Jesus ou pelo combate determinado, permanente às
suas más tendências e busca da sua reforma moral como
disse Kardec, o que dá no mesmo. Homens fraternos, homens de
bem, capazes de exemplificar a valorização superior
do ser moral, espiritual, divino do homem renovado, ao ter material,
iludido e egoísta do homem velho. Homens capazes de vencerem
a si mesmos para vencerem no mundo e melhorar o mundo.
Referências Bibliográficas:
(1) A Gênese,
Allan Kardec, 1868, trad. Victor Tollendal Pacheco – Edit. Lake,
1981, pg. 354.
(2) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec,
1857, trad. Herculano Pires – Edit. Lake, 1975.
(3) Obras Póstumas, Allan Kardec, 1890,
trad. Sylvia Mele Pereira da Silva – Edit. Lake, 1979, pg. 320.
(4) Idem, ibdem, pg. 273.
(5) Veja (Revista), nº 1784, 08/01/03
– Edit. Abril – SP.
(6) Obras Póstumas, pg. 213.
(7) A Gênese, pg. 357.
(8) Obras Póstumas, pg. 284.
(9) Idem, pg. 325.
(10) Idem, pg. 287.
(11) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan
Kardec, 1863, trad. Salvador Gentile. Edit. Ide – Araras –
SP.
(12) Obras Póstumas, pg. 321.
(13) Idem, pg. 324.
Wilson Czerski é militar
aposentado. Escritor, articulista, apresenta programas espíritas
no rádio e na TV. Membro-fundador e ex-presidente da Associação
de Divulgadores do Espiritismo do Paraná. Atualmente é
o editor do “ADE-PR Informativo” e diretor de Parcerias
entre as ADEs da Abrade.
* * *
Fonte: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo1943.html
topo
|