Deveras notável é o
aprendizado que se pode extrair do texto sobre a Lei do Trabalho,
lançado nas questões 674 a 685 de O Livro
dos Espíritos, a obra basilar do Espiritismo.
Com efeito, percebe-se desde logo
pela simples leitura, que trabalho, que pode ser material ou espiritual,
é toda ocupação útil, tratando-se de verdadeira
necessidade do ser humano, uma vez que é através dele
que em geral se obtém o alimento, a segurança, o bem-estar,
numa palavra, a conservação do próprio corpo,
assim como é pelo trabalho que se consegue o desenvolvimento
da faculdade de pensar e, por conseguinte, o aperfeiçoamento
da inteligência, o que constitui indiscutível progresso.
O texto também ensina que tudo
em a Natureza trabalha e que a civilização obriga o
homem a trabalhar mais, exatamente porque lhe aumenta as necessidades
e os gozos, mostrando, por outro lado, que o trabalho nada tem de
castigo.
De fato, se observarmos com bastante
atenção, veremos que o Universo todo se movimenta, que
nada se encontra parado. A regra para tudo, pois, é o movimento,
é a ação. E, claro, não poderia ser diferente
com o ser humano, que está inserido neste contexto.
Ademais disso, a observação
do cotidiano conduz à conclusão de que o trabalho, qualquer
que seja, do mais simples ao mais complexo, é fonte inexcedível
de satisfação pessoal, pelo sentimento do dever cumprido,
pela sensação de bem-estar que produz em quem o realiza,
não só pelo fato de ter cumprido a sua parte mas, principalmente,
pela certeza íntima de que está colaborando para a harmonia
e o equilíbrio das relações humanas, sabendo-se,
como se sabe, que em sociedade vivemos em regime de interdependência,
vale dizer, todos dependemos uns dos outros, não havendo quem
possa sequer imaginar-se auto-suficiente em todos os campos, verazmente.
Por outra parte, o texto não deixa margem à dúvida
de que o homem que possua bens suficientes para lhe assegurar a existência
pode, quando muito, estar isento do trabalho material; "não,
porém, da obrigação de tornar-se útil,
conforme aos meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua
inteligência ou a dos outros, o que também é trabalho.
Aquele a quem Deus facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem
a existência não está, é certo, constrangido
a alimentar-se com o suor do seu rosto, mas tanto maior lhe é
a obrigação de ser útil aos seus semelhantes,
quanto mais ocasiões de praticar o bem lhe proporciona o adiantamento
que lhe foi feito" (resposta à pergunta 679 de O
Livro dos Espíritos, a obra fundamental da veneranda
Doutrina Espírita).
A clareza é solar. Não obstante, e apenas para enfatizar,
o ensinamento demonstra de forma incontestável que cada um
de nós tem, no mínimo, a obrigação de
tornar-se útil ao seu semelhante e de aperfeiçoar a
sua inteligência ou a dos outros, assim como deve ter a consciência
de que esta obrigação é tanto maior quanto mais
ocasiões de praticar o Bem lhe proporcionam os bens confiados,
por adiantamento. E, neste passo, convém relembrar que "fazer
o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas
em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que
o seu concurso venha a ser necessário" (encontrável
na resposta dada à questão 643 de O Livro
dos Espíritos).
É indispensável, é fundamental, portanto, que
cada um de nós seja útil, de conformidade com as suas
condições pessoais, e sempre na medida do possível!
Por outro lado, e como é natural,
o trabalho tem um limite: o das forças de cada um, a nada sendo
obrigado o ser humano, senão de acordo com elas, assim como
o texto prevê a hipótese de quem precise trabalhar e
não possa, sobretudo na velhice, apontando que o forte deve
trabalhar para o fraco; se este não tiver família, a
sociedade deve fazer as vezes desta, tal como se pode ver pelas respostas
dadas à questão 685 de O Livro dos Espíritos,
esta extraordinária obra, que pode ser considerada uma verdadeira
síntese do conhecimento humano, além de ser um precioso
manual de bem viver.
Por fim, nestas ligeiras observações,
cumpre não perder de vista que somos todos imortais, razão
pela qual após a morte de nosso corpo físico continuaremos
a nossa jornada evolutiva pela eternidade, uma vez que o Espírito,
o ser pensante, o verdadeiro ser, sai do corpo mas não sai
da vida.
E, sendo assim, claríssimo
que continuaremos a trabalhar, a estudar, seja em outra dimensão,
na Erraticidade, seja em outras reencarnações, na Terra
ou em outros mundos habitados, porquanto o progresso também
é uma lei da Natureza, a que todos estamos subordinados, queiramos
ou não, acreditemos ou não, cumprindo-nos, pois, seguir
adiante: crescendo, evoluindo, progredindo, aperfeiçoando-nos
sempre, ainda que a pouco e pouco, no rumo da perfeição
relativa e da felicidade suprema, destino final dos seres humanos.
O continuar do trabalho, do estudo,
após a desencarnação, a rigor, não deveria
constituir nenhuma surpresa, uma vez que Jesus de Nazaré, o
Cristo, já afirmou há quase dois mil anos atrás
que o seu Pai, o nosso Pai, que é Deus, a inteligência
suprema do Universo e a causa primária de todas as coisas,
trabalha até hoje...
E, como se não bastasse, convenhamos,
a ociosidade, ao contrário do que alguns pensam, é um
suplício.
Como é bom trabalhar
e ser útil!