Uma pergunta recorrente nos Grupos
de Estudos de Pais trata da possível mediunidade que os filhos
destes apresentam em situações corriqueiras do dia-a-dia.
Alguns relatam visões que os filhos tiveram de supostos Espíritos,
outros falam das brincadeiras isoladas com amigos imaginários,
e ainda algumas passagens sobre contatos realizados com parentes já
desencarnados. Em meio a estes e tantos outros potenciais exemplos,
encontra-se a figura do pai e da mãe, ou do responsável,
preocupados com as ações que devem tomar diante de tais
fatos.
Não há como esgotar
em poucas linhas este assunto abrangente, cuja relevância é
fundamental para que uma família possa conduzir com primor
os primeiros anos de seus filhos. Como dizemos na Doutrina Espírita,
“cada caso é um caso” e não há como
propor soluções conclusivas que poderiam ser adotadas
por todos. No entanto, podemos resumir ao leitor alguns dos fundamentos
encontrados no Espiritismo.
Na Revista Espírita de fevereiro
de 1865, Kardec publica uma comunicação recebida de
um Espírito protetor em uma reunião realizada na Sociedade
de Paris, em 6 de janeiro de 1865. Dentre os vários pontos
interessantes do texto, destaco a ideia de que no período da
infância a ação do Espírito reencarnado
sobre a matéria ainda é “pouco sensível”.
O corpo ainda não exige do Espírito toda a sua interação
intelectual para conduzir as atividades básicas da fase pueril.
Logo, os laços que o ligam à carne ainda estão
sendo estreitados, o que permite à criança a perceber
com muito mais facilidade o plano espiritual ao qual fazia parte de
forma recente. Isto também é a oportunidade que os Espíritos
protetores têm de continuar o trabalho de preparação
e encorajamento daquela alma para a reta condução do
planejamento de vida realizado antes do berço.
Nos livros “Nos Domínios
da Mediunidade” e “Religiões dos Espíritos”,
ambos psicografados por Francisco Cândido Xavier, os Espíritos
André Luiz e Emmanuel, respectivamente, fazem uma alusão
à idade aproximada de sete anos para que se completem os mecanismos
da reencarnação. Assim, é como se a criança
até esta idade ainda estivesse aprendendo a viver em nosso
mundo, sem perder a sua percepção do plano Espiritual.
Sua visão e sua sensibilidade podem estar muito mais afloradas
para presenças e situações, por vezes, imperceptíveis
aos sentidos dos pais.
De acordo com o Livro dos Médiuns,
em seu capítulo XVIII, ainda há crianças que,
mesmo após esta fase, ainda apresentam características
de mediunidade, seja ela de escrita, visão ou de efeitos físicos.
Nestes casos, estes fenômenos demonstram que a criança
já traz em sua natureza a espontaneidade de tais faculdades.
Para estas crianças tais efeitos são encarados como
normais e, geralmente, elas dão pouca importância ao
fato, o que à leva ao esquecimento, se não for estimulada.
Um exemplo típico era o do
médium Francisco Cândido Xavier. Em sua infância
morava com a madrinha, a qual lhe imprimia maus tratos severos. O
que lhe dava conforto era o Espírito da mãe desencarnada
com a qual conversava naturalmente e lhe estimulava a não desanimar.
Em suas prosas, ela dizia para o menino que um “anjo bom”
viria confortá-lo de tais sofrimentos. Anos depois, o pai de
Francisco, após a viuvez, desposa novamente com Cidália
Batista. Esta percebe as marcas de torturas no ventre do menino e
o abraça calidamente. Neste momento, ela o pergunta se ele
sabe quem ela é. E Chico responde que ela era o “anjo
bom” prometido pela mãe desencarnada. Tudo isso na maior
naturalidade por parte dele.
Por mais bela, curiosa e instigadora
que seja a mediunidade demonstrada pela criança, cabe ressaltar
que este dom nada possui de trivial. A atividade mediúnica
plena somente deve ser exercida por pessoas experientes e que já
tenham se desenvolvido física e moralmente. Expor a criança
ao incentivo no emprego de tais talentos é uma atividade muito
perigosa, pois o organismo e a mente da criança ainda não
estão preparados para a “excessiva sobreexcitação”
de tais práticas, conforme nos alerta O Livro dos Médiuns.
Além disso, devido ao seu mundo
girar em torno de diversão, nada impede de que em algum momento
a criança sozinha possa querer brincar com tais conceitos,
o que pode expô-la a situações indesejáveis
de envolvimento com Espíritos inferiores que se comprazem em
iludir os seus comunicantes. De acordo com o item XII da Introdução
do Livro dos Espíritos, tais entidades já buscam ludibriar
adultos. Então, por que não o fariam com uma criança?
O Livro dos Médiuns orienta
que os pais ou responsáveis devem afastar as crianças
das ideias de mediunidade, procurando não tocar no referido
assunto no que tange diretamente a ela. A menos que seja para apresentar
as suas consequências morais, caso seja necessário. E
se houver uma notória mediunidade, esta não deve ser
incentivada e tratada com naturalidade.
Um leitor poderá levantar a
questão sobre a frequência de uma criança na Evangelização
Espírita e se esta não seria um incentivo ao desenvolvimento
da mediunidade. E a resposta seria negativa, pois na Evangelização
somente são trabalhados os princípios cristãos
e as noções doutrinárias compatibilizadas com
a idade da criança.
Em todos os casos, observar, se instruir
e buscar uma orientação Espírita adequada é
fundamental para melhor orientar a criança. Ainda como propostas
edificantes, reitera-se a ideia de participação da criança
na Evangelização Espírita da Infância,
no passe ministrado de forma correta e, para Espíritas ou não,
a busca sincera da aplicação contínua dos princípios
cristãos.
Mediunidade não é brinquedo.