Espiritualidade e Sociedade





Maria Helena Villas Boas Concone; Eliane Garcia Rezende

>   A Umbanda nos romances espíritas kardecistas

Artigos, teses e publicações

Maria Helena Villas Boas Concone; Eliane Garcia Rezende
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Resumo

Para a Antropologia, a religião pode ser vista como um sistema cultural que engloba todo um conjunto de símbolos e significados, onde são contruídas relações de sentido para a vida; como afirma Geertz, a religião produz um ethos e uma visão de mundo. Este estudo teve como objetivo analisar a Umbanda tal como aparece em romances espíritas, buscando os aspectos morais e cognitivos que os informam, neste caso buscando, na visão espírita do umbandismo, a positividade ou a negatividade a ele atribuídas e os argumentos usados para justificar tais avaliações.

Os textos escolhidos permitiram o cotejamento entre as descrições e recortes feitos nesses romances e as descrições e recortes da Umbanda apresentados pela literatura acadêmica. Esta estratégia permitiu aprofundar nossa análise e, indo um pouco além dos romances, introduzir uma reflexão mais crítica.

Para a leitura e análise dos textos estabelecemos previamente alguns marcadores: nascimento da Umbanda; obsessão ou encosto; sincretismo; processo saúde-doença.

A explicabilidade oferecida pelo Espiritismo mostra toda sua força para as pessoas que vivem infortúnios (morte, perdas, doenças, entre outros) e as descrições das atuações da Umbanda e do Espiritismo são vistas nesse contexto como uma soma de ações em benefícios dos indivíduos encarnados e desencarnados.

 

 

(trecho inicial)

A Umbanda, que se desenhou no Brasil com esse nome a partir das primeiras décadas do Século XX, pode ter representado, segundo alguns estudiosos, um campo de concorrência para o Espiritismo Kardecista (LEWGOY, 2001). De outra perspectiva, contudo, pode-se dizer que estes dois campos religiosos estabeleceram um diálogo, nem sempre de dupla mão, é bem verdade. Já tivemos oportunidade de lembrar que a Umbanda foi se construindo num processo de busca de legitimação social e religiosa, busca essa sujeita a pressões internas e externas. Desde a adoção da denominação atual (que abrange um campo bastante diferenciado internamente) a Umbanda transitou entre pressões socioculturais e políticas. Nesse esforço de legitimação o Espiritismo Kardecista presente no Brasil desde meados do Século XIX, ofereceu um repertório de fácil retradução para umbandistas e outros adeptos de cultos afro-brasileiros. Um repertório e um grande guarda chuva defensivo. A Umbanda é uma religião de transe de possessão ou religião mediúnica, como frequentemente seus adeptos preferem falar. Apesar do diálogo – feito de adequações e ressignificações – entre as ideias vindas do Espiritismo e da Umbanda e da importância dada por ambas à mediunidade, pode-se dizer que desde o período de seu “nascimento” no Brasil até entrada dos anos 2000, a Umbanda tem, de modo geral, uma aceitação extremamente tímida entre os kardecistas. Como aponta Lewgoy (2001), o espiritismo no Brasil é religião letrada e racionalista, que “é adotada pelos segmentos de elite do Brasil pré-republicano”. A entrada dos cultos de origem africana entre nós, por outro lado, contou uma história exatamente oposta àquela. Mesmo que alguns dos pioneiros do Kardecismo tenham participado de causas como o abolicionismo e a república, como bem lembra Lewgoy (2001), o espiritismo se populariza “não pelo heroísmo ou pelo profetismo”, mas pela oferta de serviços de cura. Segundo esse mesmo autor, esta popularização irá levar a movimentos de fragmentação interna exercida por concorrência com outras religiões mediúnicas, como aconteceu em sua relação com a Umbanda. Em seu trabalho sobre “Chico Xavier e a cultura brasileira”, Lewgoy diz que o “espiritismo exposto na vida e obra de Chico Xavier”, resume a relação com a Umbanda e outras questões, em três pontos. Situa em primeiro lugar o sincretismo da Umbanda como primitivo; vê a mistura da religião e política, do positivismo, como promíscua; finalmente, considera a síntese espírita de “religião, filosofia e ciência como desejável, racional e espiritualmente evoluída”. Estas considerações mostram alguns aspectos pejorativos da visão Espírita brasileira sobre a Umbanda. Bairrão et al. (2003) lembram que a Umbanda habitualmente é vista como uma espécie de “subproduto ideológico”.

 

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Fonte: RECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v.4, n.3, p.51-62, Set., 2010
- DOI: 10.3395/reciis.v4i3.385pt -
- https://brapci.inf.br/index.php/article/download/43135

 

 



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