Certas pessoas, muitas vezes
bem-intencionadas, buscam provas científicas referentes à
imortalidade do Espírito, à comunicabilidade deste conosco,
à reencarnação e sobre outros pontos fundamentais
da Doutrina Espírita. Isso é muito salutar, mas o problema
é que, entre essas pessoas, algumas passam toda a existência
terrena procurando essas provas, ou melhor, atrás "da
prova", e nunca a encontram apesar de terem tido contato com
inúmeros fatos que a confirmam. Algumas assim agem por um ceticismo
crônico, crentes de bem procederem cientificamente, pois acreditam
(aqui elas não são céticas) que um "verdadeiro
cientista não tem idéias preconcebidas". Acho que
essas pessoas que passam o tempo todo atrás das provas e continuam
insatisfeitas precisam ser informadas do que vem a ser uma
"prova científica". É o
que pretendemos mostrar.
Vamos utilizar-nos de um exemplo para
ilustrar nossos pontos de vista. E o que escolhemos é a "teoria
atômico-molecular", devido à nossa experiência
como pesquisador no campo da Química. O que se segue é
um diálogo imaginário (ou não tão imaginário
assim) que tivemos com uma pessoa a princípio cética.
Inicialmente ela nos perguntou:
-- "Você acredita na existência
de átomos e moléculas?"
-- "Não só acredito,
mas sei que eles existem", respondi.
-- "Como você pode provar
isso?"
-- "Não lhe posso oferecer
nenhuma prova como aquelas apresentadas nos tribunais; inclusive nunca
os vi, toquei ou mesmo os senti de alguma maneira, nas formas que
penso que sejam. O que me faz saber que os átomos e as moléculas
existem é um conjunto de evidências experimentais, um
conjunto de provas. Nenhuma delas por si é suficiente par provar
a existência dos átomos ou das moléculas. Vendo
a coisa de outra maneira, todo esse conjunto de evidências experimentais
ou de experimentos só pode ser explicado, entendido, racionalizado,
por meio da admissão da existência dos átomos
e moléculas, e essa miríade de experimentos é
que constitui "a prova". Cada um dos experimentos, considerados
separadamente, pode até ser explicado por outras hipóteses
ou teorias, mas até hoje ninguém encontrou nenhuma outra
alternativa que desse conta de todo o conjunto de experimentos considerados,
a não ser a "teoria atômico-molecular". Um
dado experimento pode ser explicado pela hipótese de que a
matéria é contínua, alguns outros também,
mas há muitos outros que não. Podemos até inventar
hipóteses as mais estapafúrdias, mas com lógica
e bom senso perceberemos que poderão dar conta apenas de alguns
poucos fatos. Não vou citar aqui os experimentos; nas bibliotecas
encontramos centenas e centenas de descrições deles.
"Ainda mais: como já sei
que os átomos e as moléculas existem, como cientista
não vou mais procurar provas de sua existência. Vou daí
para a frente. Vou realizar experimentos nos quais a priori já
considero existentes os átomos e moléculas, e os resultados
têm sido até agora coerentes com isso. Assim procedem
também os meus colegas cientistas do mundo todo."
Da mesma maneira que se faz a pergunta
sobre os átomos e as moléculas, faz-se também
com relação à existência dos Espíritos
e a outros pontos que mencionamos no início deste artigo. A
resposta que daríamos a essa pergunta seria a mesma dada sobre
os átomos e as moléculas: "Não só
acredito, mas sei que eles existem." -- "Como você
pode provar isso?" -- "Não posso lhe oferecer nenhuma
prova, como aquelas apresentadas num tribunal; inclusive nunca os
vi, toquei ou mesmo os senti de alguma maneira, na forma que penso
que tenham. O que me faz saber que os Espíritos existem é
um conjunto de provas (...)." O leitor poderá continuar
o diálogo, é só trocar 'átomos e moléculas'
por 'Espíritos'. Alternativa para 'Espíritos' (como
a hipótese da matéria contínua no lugar dos átomos)?
É só procurar uma dessas muitas explicações
"parapsicológicas" que há por aí (o
inconsciente etc.).
Quanto aos novos experimentos, já
há uma diferença: são poucos os que vão
à frente, a maioria ainda está querendo "provar"
que o Espírito existe.
Se as pessoas que buscam provas
sobre esses pontos básicos da Doutrina Espírita, após
examinarem todo esse conjunto de evidências que a própria
Doutrina oferece, além de outras procedentes de fontes não
espíritas, ainda quiserem "a prova", é porque
continuam desinformadas sobre a atividade científica (ou não
a aceitam) ou realmente não querem aceitar nada. Mas isso não
acontece apenas com o Espiritismo. Com átomos e moléculas
hoje em dia não se pode ser cético, mas com outras coisas...
Há pouco ouvi: "(...) afinal de contas, a teoria da Evolução
ainda não está cientificamente provada"...
Aécio Pereira Chagas - Professor aposentado
do Instituto de Química da UNICAMP
Em 1964, tornou-se bacharel e licenciado em química
pela Universidade de São Paulo (USP). Nesse mesmo ano, recebeu
o Prêmio do Conselho Regional de Química – 4°
Região. Em 1972, concluiu seu doutorado nas mesmas área
e universidade, com orientação pelo então Professor
Dr. Ernesto Giesbrecht. Logo após o doutorado, foi pioneiro
na pesquisa em termodinâmica, área que, na época,
era inexistente em nosso país. Sua experiência em química
é com ênfase em físico-química, principalmente
nos seguintes temas: termoquímica, adutos e a família
do elemento zinco. Além da ABC - Academia Brasileira de Ciências,
possui associações com a Academia de Ciências
do Estado de São Paulo (Aciesp), a Sociedade Brasileira de
Química (SBQ), a Sociedade Brasileira de História da
Ciência (SBHC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), a Sociedade Portuguesa de Química (SPQ) e com a Sociedade
Real de Química de Londres (RSC, na sigla em inglês).