Como se relacionam religião,
política e cidadania no contexto da separação
entre Igreja e Estado?
Que valores e estratégias levaram um protestantismo internalizado
a ocupar espaços públicos, com destaque na esfera política?
Qual o papel e as aspirações das igrejas pentecostais
no cenário eleitoral? Como se conjuga linguagem religiosa com
discurso político?
Eis algumas das questões que permeiam o oportuno
volume Os votos de Deus: evangélicos, política
e eleições no Brasil, contribuição
valiosa para pesquisas e estudos no terreno cada vez mais intrincado
do avanço das religiões no cenário nacional e
mundial. Embora o livro se dedique às eleições
de 2002, sua atualidade se evidencia na análise sobre as estratégias
que as mais influentes igrejas evangélicas têm adotado
para expandir sua atuação.
O primeiro capítulo, da professora de teoria
política na Universidade de Westminster, Chantal Mouffe,
analisa a relação entre religião, democracia
liberal e cidadania. Critica as perspectivas que defendem a exclusão
de todas as formas religiosas na esfera pública. As demais
seis contribuições partem de situações
concretas, históricas e contemporâneas, e analisam o
jogo político, a competição ou os eventuais acordos
entre correntes evangélicas.
São textos apresentados em diversas instâncias,
cuja seleção ressalta o recorrente assombro diante do
crescimento evangélico no contexto de suas grandes contradições,
pluralidade e novidade histórica e geográfica na qual
se move. Muitos dados são conhecidos e por vezes se repetem
entre os autores, com o mérito de fortalecer os diferentes
enfoques e interpretações. E não faltam os escândalos
mais recentes, mencionados na apresentação, que não
têm poupado nem mesmo paladinos de uma nova ética.
O período abordado pelos ensaios oferece outro
fator determinante na escolha dos trabalhos reunidos: o fato de que
em outubro e novembro de 2002 o Brasil realizou as maiores eleições
gerais de sua história, como destaca a professora titular da
Universidade Federal do Ceará Júlia Miranda.
Entre os objetivos do livro acentua-se a busca de
maior rigor conceitual das relações entre religião,
política, partidos e voto, presentes de muitas formas em Os
votos de Deus. As tensões e os desafios dos temas analisados
oferecem especial implicância neste outro ano de grande movimentação
eleitoral, certamente mais problemática do que em 2002.
A rica diversidade sociológica e cultural enfatiza
as relações com a prática política e o
sentido dessa busca das igrejas evangélicas (e das religiões
em geral) por novos espaços sociais.
Do refúgio das massas nos anos 60 e 70, temos
hoje a sua expansão - a expansão das massas e tudo quanto
possa significar para o futuro da sociedade brasileira e suas expressões
culturais.