Introdução
Chama-se emancipação
da alma o desprendimento do Espírito encarnado, possibilitando-lhe
afastar-se momentaneamente do corpo físico que anima. Esta
emancipação da alma é fenômeno que pode
ocorrer em várias situações ou circunstâncias
da vida humana, entre elas o sono.
Que é sono? É o estado
em que cessam as atividades motoras e sensoriais e o corpo repousa.
Há o refazimento das forças físicas.
Mas o sono tem uma significação
muito mais profunda e conseqüências muito mais amplas no
conjunto integral da vida humana. Enquanto o corpo repousa, mantendo-se
adormecido, não necessitando da presença do Espírito
para comunicar-lhe atividades físicas ou mentais, este se liberta,
afasta-se do corpo, reintegra-se em suas faculdades perceptivas e
ativas, passando a agir à distância do instrumento físico.
Graças ao sono, os Espíritos
encarnados estão sempre em relação com o mundo
dos Espíritos.
Quando o corpo se entorpece, seja qual for a causa, sono natural ou
artificialmente provocado pela hipnose, sonambulismo, drogas, narcose,
etc., a alma se emancipa, desprende-se parcialmente e pode entrar
em relação com o plano espiritual.
Allan Kardec formulou aos Espíritos,
dentro deste assunto, perguntas muito interessantes, obtendo respostas,
por sua vez, sumamente instrutivas.
"Durante o sono, a alma
repousa como o corpo?
R. Não, o Espírito jamais está
inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem
ao corpo e, não precisando este então da sua presença,
ele se lança pelo espaço e entra em relação
mais direta com os outros Espíritos. "
[LE-qst 401]
"Como podemos julgar a liberdade do Espírito
durante o sono?
R. Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, tem
o Espírito mais liberdade do que no estado de vigília."
[LE-qst 402]
Sonho é, portanto, a lembrança do que
o Espírito viu durante o sono.
Essas lembranças são, geralmente, fragmentárias
e tê-las mais nitidamente depende do grau de desenvolvimento
das nossas percepções psíquicas. Às vezes,
fica só a lembrança da perturbação que
antecede o desprendimento do Espírito ou que se segue a ele,
no momento de despertar. Essa perturbação resulta em
imagens confusas. Misturamos cenas vistas durante a vigília
às preocupações de nossa vida diária.
Mesmo as imagens que resultam da nossa vivência real no mundo
dos Espíritos não são lembranças fiéis,
já que mesmo dormindo, não nos libertamos totalmente
das nossas idéias e preocupações do período
de vigília, o que pode dar ao que vemos a aparência do
que desejamos ou do que tememos.
Classificação dos Sonhos
Martins Peralva [Estudando a Mediunidade] propõe
a classificação dos sonhos em:
- Comuns
- Reflexivos
- Espíritas
Sonhos Comuns
Seriam as lembranças dos quadros
que permanecem impressos em nossas própria mente. São
imagens, às vezes, confusas e caóticas.
Estão relacionados com o nosso
cotidiano. Muitas vezes, ficamos presos ao corpo pelas preocupações
materiais, idéias fixas, aspirações comuns e
nos ligamos ao que mais nos preocupa ou fascina. São muito
freqüentes, dada à nossa condição espiritual.
Sonhos Reflexivos
São aqueles em que o desprendimento
ou emancipação da alma permite um mergulho mais profundo
em nossos registros perispirituais, recuperando imagens, cenas de
vidas passadas. Estas imagens são coerentes e se apresentam
mais nítidas, como cenas de um filme. Os sonhos reflexivos
podem ser conseqüentes, algumas vezes, a determinado fato de
nossa vida real que nos leva a vivenciar cenas do pretérito,
ou ainda, poderão ser induzidos por Espíritos desencarnados
superiores ou inferiores.
Sonhos Espíritas
São lembranças de nossa
vivência real no mundo dos Espíritos. São recordações
de encontros, estudos que participamos, conversas, tarefas que desenvolvemos,
etc. Podem ocorrer também, perseguições e acontecimentos
desagradáveis, sempre em função de nossa sintonia
espiritual.
Yvonne A. Pereira relata-nos em suas
obras inúmeros sonhos espíritas, vivências de
sua tarefas assistenciais no plano espiritual. Ela os chama de sonhos
magnéticos, por serem aqueles que registram tarefas mediúnicas,
e suas cenas são precisas e inteligentes. Alguns revelam acontecimentos
futuros, outros são revelações dos amigos espirituais,
instruções ou aulas, avisos de fatos ligados ao trabalho
mediúnico. Aos que revelam acontecimentos futuros, Allan Kardec
os chama de proféticos e temos vários exemplos na Bíblia.
A leitura das obras de André
Luiz poderá nos fornecer muito material na elucidação
dos sonhos. Encontramos nestes livros relatos de sonhos vistos da
perspectiva dos Espíritos e, através desta leitura,
poderemos compreender melhor o desprendimento natural do sono físico,
nossas experiências durante a emancipação da alma.
Os sonhos são tão diversos
e infinitas as suas modalidade que estudos profundos têm sido
realizados à respeito pela Ciência oficial, sem contudo,
encontrar explicações convincentes. Isto porque as análises
e interpretações se prendem à parte física
apenas. Somente o conhecimento das leis que regem os fenômenos
espíritas, principalmente, o estudo do perispírito e
suas propriedades, irão aclarar estas informações.
Nem todos os sonhos dão idéia
de libertação da alma.
André Luiz [Mecanismos
da Mediunidade] diz que quanto mais inferiorizado o homem,
mais dificuldade terá na emancipação espiritual
durante o sono físico.
Para o homem primitivo, o sono nada
mais é que puro e absoluto refazimento físico. Nos primeiros
estágios da evolução, o sonho seria invariável
ação reflexa de nosso próprio mundo consciencial
e afetivo.
Da mesma forma que o sensitivo vai
até ao local sugerido pelo hipnotizador, a criatura sob hipnose
natural que é o sono, fora do corpo físico, vai também
até ao local sugerido ou será atraída através
do próprio desejo que é o reflexo condicionado, até
ao local que se lhe vincula o pensamento.
Pelas informações deste
autor espiritual, nossos sonhos são agradáveis ações
construtivas que nos ligam a Espíritos afins, propensos ao
bem, ou a ações negativas, deprimentes se nossa sintonia
for inferior.
A maior ou menor emancipação
da alma durante o sono está relacionada, segundo os ensinamentos
dos Espíritos, com o nosso grau de evolução.
Em [LE-qst 403] Allan Kardec indaga:
"Por que não nos
lembramos sempre dos sonhos?
R. Em o que chamas sono, só
há repouso do corpo, visto que o Espírito está
sempre em atividade. Recobra, durante o sono, um pouco de sua liberdade
e se corresponde com os que lhe são caros, quer deste mundo
quer em outros. Mas, como é pesada e grosseira a matéria
que compõe o corpo, dificilmente este conserva as impressões
que o Espírito receber, porque a este não chegaram
por intermédio dos órgãos corporais."
Poderíamos explicar mais detalhadamente assim:
No estado de vigília as percepções
se fazem com o concurso dos órgão físicos - os
estímulos são selecionados pelos sentidos, transmitidos
pelas vias nervosas ao cérebro; aí são gravadas
para serem reproduzidas a cada evocação pela memória
biológica. No sono cessam as atividades motoras e sensoriais.
O Espírito liberto age no plano espiritual e sua memória
perispiritual registra os fatos que vivencia, sem chegar, contudo,
ao cérebro físico. Tudo é percebido diretamente
pelo Espírito, mas nada impede que, excepcionalmente, por via
retrógrada, as percepções da alma repercutam
no cérebro físico. Então, ocasionalmente, o homem
se lembra do que sonhou.
É sempre oportuno lembrar que ao nos desprendermos no sono
físico penetramos no mundo espiritual, onde não prevalecem
as leis físicas e estaremos sujeitos às leis do mundo
espiritual, em que o grau de densidade perispiritual e a lei de atração
dos semelhantes determinarão outras limitações,
fixando os parâmetros de nossa vivência.
Allan Kardec nos chama atenção para a diferença
entre sonho comum e sonho com desdobramento da alma. Ele diz:
"O sonho é a lembrança
do que o vosso Espírito viu durante o sono; mas observai
que nem sempre sonhais porque nem sempre vos lembrais daquilo que
vistes ou que ouvistes. Isto porque não tendes a vossa alma
em todo o seu desenvolvimento; freqüentemente não vos
resta mais que a lembrança da perturbação da
vossa partida e da vossa volta (...). Sem isto como explicaríeis
estes sonhos absurdos a que estão sujeitos tanto os sábios
como os ignorantes?
Os maus Espíritos também
se servem dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.
(...) Procurai distinguir bem estas duas espécies de sonhos
entre aqueles do que vos lembrardes, sem isto cairíeis em
contradição e em erros que seriam funestos para vossa
fé."
A análise dos sonhos pode nos
trazer informações valiosas para nosso auto-conhecimento.
Contudo, devemos nos precaver contra as interpretações
pelas imagens ou lembranças esparsas. Há sempre um forte
conteúdo simbólico em nossa percepções
psíquicas que, normalmente nos chegam acompanhadas de emoções
e sentimentos.
Se ao despertarmos, nos sentimos envolvidos
por emoções boas, agradáveis, vivenciamos uma
experiência positiva durante o sono físico. Ao contrário,
se as emoções são negativas, nos vinculamos,
certamente, a situações e Espíritos inferiores
de acordo com nossos hábitos, vícios morais, pensamentos
negativos.
Daí a necessidade de adequarmos
nossas vidas aos ensinamentos cristãos, vivenciando o amor,
o perdão e altruísmo habituando-nos à oração
antes de dormir, para nos ligarmos a valores positivos e sintonias
superiores.
Teremos, então, sonhos mais
agradáveis, construtivos e iremos perceber melhor a nossa participação
real durante o sono, separando-a das imagens que estão fixadas
em nossa aura ou daquelas arquivadas em nossa memória perispiritual.