Platão, O Livro dos Espíritos,
q. 1009
Bezerra de Menezes, cap. LXXXIV, Estudos
Filosóficos, Edicel, São Paulo, Brasil, 1977
É muito comum ler-se e escutar-se
manifestações de espíritos que dizem que Deus,
sendo a bondade infinita, não castiga — suas criaturas
por faltas infringidas a suas leis; que somos nós mesmos quem
nos castigamos com tais infrações. Também se
costuma dizer que são as leis que nos punem, e não Deus.
Entretanto, isto que é tão
comum tomar-se como uma verdade sobremaneira, longe está de
ter seu fundamento nas obras da Doutrina Espírita codificada
por Allan Kardec, já que inúmeras passagens delas afirmam,
categórica e claramente, o contrário, tanto manifestada
pelo Mestre de Lyon, como pelos Espíritos Superiores que ditaram
os ensinamentos básicos da Doutrina dos Espíritos.
Temos que obedecer então a
esta distorção, confusão ou desentendimento entre
a Doutrina e as expressões de tantos espíritas, adeptos
e militantes destacados? É uma razão de forma ou de
conceito?
No nosso entender, esta diferença
entre as expressões meridianas de Kardec e dos Espíritos
Superiores e das dos referidos espíritos, redunda em uma falsa
concepção do que é castigo, motivo pelo qual
trataremos de analisar o tema à luz dos textos das obras da
codificação Espírita e os esclarecimentos de
espíritas doutrinários e no espiritismo.
Primeiramente nos prenderemos às
referências que existem nas obras fundamentais do Espiritismo,
que são as autênticas revoluções copernicanas
de nossa era contemporânea, conforme o dizer de Sir Oliver Lodge,
já que devemos revalorizá-las como conhecimento doutrinário,
ainda não superado, da Terceira Revelação, a
síntese integral da ciência, filosofia e religião.
Kardec pergunta no parágrafo
737 do «O LIVRO DOS ESPÍRITOS»: Com que objetivo
Deus castiga a humanidade com destruidoras calamidades? E os Espíritos
respondem sem corrigi-lo: Para que progridam mais rápido. Já
no parágrafo 101 da mesma obra Kardec assim se manifesta: "Deus,
para castigá-los quer que assim creiam". E no parágrafo
258a , pergunta o Codificador: "Então é Deus
quem impõe as tribulações da vida como castigo?"
E no comentário ao parágrafo 962, do mesmo livro capital
do Espiritismo, diz: "A idéia de que Deus nos dá
da sua justiça e da sua bondade pela sabedoria de suas leis,
não nos permite crer que o justo e o mau estejam num mesmo
plano aos seus olhos, nem de duvidar que eles receberão um
dia, um a recompensa outro o castigo, do bem ou do mal que tenham
feito". No parágrafo 964, pergunta: "Deus
tem necessidade de ocupar-se de cada um de nossos atos, para premiar-nos
ou castigar-nos?" (o destaque é nosso).
Do mesmo modo segue manifestando-se
Kardec em «O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO», V:6, assim
como em «O CÉU E O INFERNO»..., VI-7 e 13, e em
diversos parágrafos do capítulo VII, subitem "Código
Penal da Vida Futura", primeira parte, ambas citadas, sobre o
qual temos que prestar uma especial atenção a respeito
do tema que nos ocupa.
Os espíritos utilizam em suas respostas e comunicações
esse mesmo termo castigo, como no «O LIVRO DOS ESPÍRITOS»,
parágrafos 764, 781a., 859a e muito especialmente na mensagem
mediúnica do parágrafo 1009, feita por Paulo, Apóstolo.
Os espíritos também a fazem no «O EVANGELHO SEGUNDO
O ESPIRITISMO», X:6, 17 e 18 e XII: 10 e XII; 3, e em «O
CÉU E O INFERNO»..., segunda parte, capítulo VIII,
comunicação do Espírito Erasto, "A pena
de Talião", e na nota de Kardec, a comunicação
do Espírito Claire Rivier.
Diante de todas estas citações
a que deverá prender-se o leitor estudioso, é preciso
fazer uma análise crítica e descobrir em que se fundamenta
a afirmação tão ouvida de que Deus não
castiga.
Léon Denis já assinalava
em sua meritória obra «O PROBLEMA DO SER E DO
DESTINO», cap. XXVI, "A Dor",
pág. 356, edição Kier, Buenos Aires, 1981: "Allan
Kardec foi reprovado por haver insistido demasiado em suas obras sobre
castigo e a expiação. Isto tem levantado numerosas críticas.
Eles nos dão — nos dizem —, uma falsa noção
da ação divina; arrasta um excesso de penas incompatíveis
com a suprema bondade" (o destaque é nosso). E agrava
Denis; "Este juízo resulta de um exame demasiado superficial
da obras do grande iniciador. A ideia, a expressão de castigo,
excessiva talvez, se prenda a certas passagens isoladas, mal interpretadas
em grande número de casos, se atenua e se apaga quando se estuda
a obra inteira".
O problema, como vemos, não é novo. Ele deriva "de
um exame demasiado superficial", como diz o Maestro de Foug,
não temos dúvida.
Vemos as razões, prós e contras. Se diz a uma que Deus
não castiga, mas sim suas Leis; também se manifesta
que nos castigamos a nós mesmos — entre os quais se encontra
Manuel Gonzáles Soriano, destacado filósofo espírita
espanhol —, pois Deus não pode ocupar-se de penalizar
a cada uma de suas criaturas.
Mas, dado que Deus é o Legislador Supremo e suas leis, a expressão
de sua vontade, não podemos reconhecê-lo alheio ao que
estabelece suas leis, como diz o parágrafo 617 do «O
LIVRO DOS ESPÍRITOS»: "todas as leis são
divinas, posto que Deus é o autor de todas as coisas".
Em conseqüência, se as leis castigam, Deus castiga, como
expressam os Espíritos Superiores que ditaram a Doutrina Espírita.
E coerentemente com esta Sua Voz, na «A GRANDE SINTESE»,
obra mediúnica psicografada por Pietro Ubaldi, diz no capítulo
VIII; "A lei é Deus".
Quanto ao argumento de que "Deus não castiga, nos
castigamos a nós mesmos", isto pode ser aceito no
sentido de o fazermos por nossa própria determinação
e livre arbítrio ao infringir as leis e, consequentemente,
sofremos a reação das mesmas por nossos atos; mas não
podemos dizer por isso que nos castigamos a nós mesmos, pois
se assim for, cremos que os espíritos rebeldes e iniciados
no mal não sofreriam as penas, tão recalcitrantes e
endurecidos, como observamos nas sessões de desobssessão.
Por isto é que não podemos aceitar ao que afirma Gonzáles
Soriano em seu belo livro «O ESPIRITISMO E A FILOSOFIA»,
quarta parte, VII, Editorial Victor Hugo, Buenos Aires, 1949: "Deus
os premia. Se Deus castigar produzirá a pena, o desgosto, a
dor, a desgraça, o desespero. (...) O castigo divino seria,
por outro lado, a divina injustiça. (...) Quem erra e se castiga
é o espírito a si mesmo.
Pois bem, para o Espiritismo, atendemos à codificação
de Kardec, Deus premia e castiga, dado que existe pena, desgosto,
dor, desgraça, desespero — Quem poderá duvidar
neste mundo de expiações e provas? — e porque
tudo isto é condizente com o estabelecido no "Código
Penal da Vida Futura" — com caracteres de
certificado — (ver o capítulo VII, primeira parte, de
«O CÉU E O INFERNO»).
A este respeito os espíritos contestam no parágrafo
963 do «O LIVRO DOS ESPÍRITOS»:
"Deus se ocupa de todos os seres que criou, por mais pequenos
que eles sejam. Nada é demasiado para a sua bondade".
E no parágrafo 964 do mesmo livro pergunta Kardec: "Tem
Deus necessidade de ocupar-se de cada um de nossos atos, para premiar-nos
ou castigar-nos? Acaso a maior parte de tais atos não são
insignificantes para Ele? E respondem os Espíritos: "Deus
possui leis que regem vossas ações. Se as violais, vossa
é a culpa". Portanto é evidente que não
nos castiguemos a nós mesmos, senão que isto obedece
à imanência das leis divinas que atuam em nós
mesmos, é dizer, por vontade e ditames de Deus. Por isso nos
enseja Jesus com suas manifestações imortais: "Não
se faça a minha vontade, senão a vossa" e
"nenhum cabelo se move de nossas cabeças sem a vontade
do Pai", assim como nos aconselha orar o Pai Nosso: "e
perdoa-nos nossas dívidas..." e corroborando tudo
isso, Kardec expressa no comentário ao parágrafo 962
do «O LIVRO DOS ESPÍRITOS» (livro
síntese da Doutrina Espírita): "O sentimento
inato que temos da justiça divina nos dá a intuição
das penas e as recompensas futuras".
Em conseqüência: Deus
não atua, nem pessoal nem diretamente sobre as suas criaturas,
senão através do que estabelecem suas leis sábias,
sua vontade, da mesma maneira que obra — simples analogia imperfeita
— o legislador humano quando condena ou reprime mediante o que
dispôs na lei que criou; mas tampouco é indiferente,
pois Ele está presente em tudo o que ocorre no universo infinito.
Ademais, Deus tem outro meio sobre humano que, igual às ações
que cumprem aos espíritos na execução de seus
mandamentos, nos guia e orienta em nosso íntimo, iluminando-nos
a consciência. Diz o parágrafo 621 de «O
LIVRO DOS ESPÍRITOS»: Onde está escrita
a Lei de Deus? Resp. dos Esp. "Na consciência".
Como dissemos anteriormente, cremos que este mal-entendido existente
em muitos espíritas vem do sentido ou conceito equivocado que
se dá às palavras castigo e pena.
Diz o dicionário: castigo: pena que se impõe ao que
cometeu um delito ou falta. E pena: castigo imposto por autoridade
legítima a que cometeu um delito ou falta. Dor: tormento ou
sentimento interior grande. Castigo: é um dos muitos termos
derivados de agere, em latim, que significa executar. E pena,
do latim poena em grego, de onde se origina o verbo punir,
castigar.
Castigo, dor, pena, sofrimento e tormento são condições
inerentes ao grau de inferioridade dos espíritos. A repulsa
dos espíritos ao conceito de castigo de Deus provém
de que a sanção se considera como um ato de vingança,
de represália, mas nada mais errado que isso. De Deus, bondade
infinita, não podemos provir essas atitudes para com suas criaturas.
Diz Léon Denis na obra e capítulos supracitados: "Não
é, pois, por vingança que a lei nos fere, e sim porque
é bom e proveitoso sofrer, mesmo porque o sofrimento nos libera
dando satisfação à consciência, cujo veredicto
ela cumpre".
O ponto 764 de «O LIVRO DOS ESPÍRITOS»
diz. "A lei de talião é a justiça de
Deus; e Ele quem a aplica. Todos vós sofreis a cada instante
essa lei, porque sois castigados por onde haveis pecado, nesta vida
ou em outra" (o sublinhado é nosso). Denis diz que
não é por vingança que a lei — quer dizer
Deus — nos fere, e os espíritos contestam a Kardec que
"a lei de talião é a justiça de Deus
e Ele a aplica".
E seguimos citando a Denis de sua obra e capítulo já
citados: "Sobre a Terra o sofrimento será físico
e moral e constituirá um modo de reparação. Ele
submergirá ao culpável em sua chama, para purificá-la;
ele polirá, no laminador da prova, a alma deformada pelo mal".
E Allan Kardec expressa no item 10 do "Código
Penal da vida futura", de «O CÉU
E O INFERNO», na primeira parte; "O espírito
sofre a pena das infrações, lá no mundo espiritual,
lá no mundo corporal. Todas as misérias, as vicissitudes
que se sofrem na vida corporal, são conseqüência
de nossas imperfeições ou expiações de
faltas cometidas, sejam na existência presente, sejam nas precedentes".
E o ponto 13 do mesmo código diz: O Deus exige para por
término aos sofrimentos, é uma melhoria séria,
efetiva, e uma volta sincera ao bem. Deste modo o espírito
é sempre árbitro de sua própria sorte; pode prolongar
seu sofrimento por sua persistência no mal; adoçá-lo
ou abreviá-lo pelo seu esforço em fazer o bem. (...)
Deus, que é justo, castiga ao mal enquanto existe; cessa de
castigar quando o mal não existe ou, se quiser, sendo o mal
moral, por si mesmo, uma causa de sofrimento, este sofrimento dura
tão longo tempo como o mal subsiste; sua intensidade diminui
à medida que o mal se debilita". E segue dizendo
no item 14: "A duração do castigo, estando
subordinada à melhora, resulta disto que o espírito
que não se melhorar nunca, sofrerá sempre, e que, para
ele, a pena será eterna".
Kardec diz em «O CÉU
E O INFERNO»: V. 8, primeira parte: "O Espiritismo
não vem pregar a penalidade futura, ao contrário, vem
patenteá-la". E Dr. Fernando Ortiz, em sua obra «A
FILOSOFIA DOS ESPÍRITAS - ESTUDO DE FILOSOFIA JURÍDICA»,
cap. XVIII "fundamentos da responsabilidade", diz:
"O progresso do homem, quer dizer, o progresso do espírito,
eis aí a finalidade psicológica da pena, assim neste
mundo como no universo infinito. O progresso dos seres segundo as
leis da natureza e da sociedade; eis aí a finalidade psicológica
e subjetiva do castigo e das respectivas reações dolorosas
contra os que desconhecem e menosprezam aquelas" (o sublinhado
é nosso).
No cap. XIX, "Fundamento da Pena", da obra
citada, publicada em espanhol pela Editora Victor Hugo, Buenos Aires,
1950, assim se manifesta o Dr. Ortiz: "A expiação
que, como se diz, Allan Kardec exige em sua penalogia junto com o
arrependimento e a reparação, é mais um procedimento,
um modus corrigendi, que uma finalidade da pena, como o foi nas teorias
retribuicionistas, já desacreditadas, por mais que os menores
revivam na filosofia e sigam vivendo nas legislações".
E no parágrafo seguinte acrescenta: "A penalidade
deixa de ser um mal, para converter-se em um bem, em um tratamento
de medicina social, à qual tem direito os delinqüentes,
assim como outros enfermos têm hoje direito, nos povos civilizados,
à assistência médica. A medicina social poderá
inferir males ou penas, os quais sem embargo, como as amputações
efetuadas pelos cirurgiões, levam em si mesmas uma finalidade
de bem, de cura, de readaptação, de correção"
(o sublinhado é nosso).
E prossegue manifestando-se o Dr. Ortiz: "O Espiritismo codificado
por Allan Kardec está, pois, nessa grande corrente de opinião
científica criminológica, e de acordo com ela explica
a penalogia de seu Deus. E como bom correcionalista, esse
Deus estabeleceu em além túmulo e também nesta
encarnação terrena, um sistema de penalidade, de tratamento
penal, de acordo com as idéias de correcionalismo contemporâneo,
livre de certos lirismos de genial penalista alemão (se
refere a Carlos David Augusto Roeder, 1806 - 1879), mas robustecida
pelas considerações de positivismo evolucionista.
E revelando haver estudado profundamente a doutrina penal do Espiritismo,
acrescenta o Dr. Ortiz: "Como se pode ver, o Espiritismo,
sem deixar de ser correcionalista estima que, ao malvado tem que causar-lhe,
a sua vez, como na antiga justiça simplesmente retribuitiva,
um mal, ou melhor dito, (porque mal não é a palavra
apropriada, dado o valor ético que dificilmente podemos separar
dessa palavra) uma dor, um sofrimento, uma pena. Pena ou dor que eticamente
não é um mal, senão um bem, porquanto só
pode significar o meio psicológico necessário para produzir
o arrependimento, ou seja a correção moral, o progresso
ético do espírito. (...) É fé, que nessas
teorias o Espiritismo está, como temos dado a entender, onde
está, a ciência contemporânea" ( obra
citada, cap. XXIV, "A Pena de Talião").
Ante essas opiniões de um especialista em matéria penal
e criminológica — o que não se manifesta espírita
—, perguntamos: "Como os espíritas, que temos
na Doutrina dos Espíritos até um código penal
de vida futura muito pouco estudado e conhecido, podemos ter tão
mal conceito do castigo, da dor, do sofrimento e das penas, quando
eles são as mesmas essências de dito código que
expressa os meios de que se vale a justiça Divina e em razão
do que existe, como diz o Dr. Ortiz, um espiritismo criminológico
e penal?
Vemos como confluem e se harmonizam os conceitos penalistas do
Dr. Ortiz, de Kardec e de Denis, já que este diz na obra e
capítulo já citados, que o Espiritismo "constitui
o remédio moral mais potente contra a dor. (...) Melhor que
todas as outras doutrinas filosóficas, nos revela o grande
papel do sofrimento e nos ensina aceitá-lo. Fazendo da dor
um meio educativo ou reparador, nos mostra a justiça e o amor
divino interferindo até em nossas provas e em nossos males.
(...) O sofrimento não é mais que um corretivo de nossos
abusos, de nossos erros, um estimulante para nossa evolução.
Deste modo, as leis soberanas se mostram perfeitamente justas e boas,
visto que não infringem a ninguém penas inúteis
e imerecidas. "O estudo do universo moral nos enche de admiração
feita da potência que, por meio da dor, transforma pouco a pouco
as forças do mal em forças do bem, faz sair do vício
a virtude, do egoísmo o amor!" (o sublinhado é
nosso).
Em «O LIVRO DOS ESPÍRITOS», de
Kardec, parágrafo 1009, diz a comunicação de
Paulo, o apóstolo: "Quem é, com efeito o culpado?
Aquele que por uma desatenção, por um falso impulso
da alma se aleija do objetivo da Criação, que consiste
no harmonioso culto do belo e do bem, idealizados pelo arquétipo
humano, pelo Enviado de Deus, por Jesus Cristo. E qual é o
castigo? A natural conseqüência derivada desse falso impulso:
uma soma de dores necessárias para que se canse de suas deformidades
mediante a experimentação do sofrimento. O castigo é
o aguilhão que excita a alma por meio da amargura, para que
se reforme a si mesmo e retorne ao caminho da salvação.
O objeto a que se propõe o castigo não é outro
que a reabilitação, a liberação do escravo"
(o sublinhado é nosso).
Depois de todas essas expressões, com que razão podemos
dizer que Deus não castiga, quando a punição
tem, como vemos, um sentido tão renovador e misericordioso!
Observemos que na Terra, a dor impera sobre todos os seres viventes,
desde que ele adote os caracteres de dor-mal, dor-renúncia,
dor-arrependimento, dor-expiação, dor-reparação,
dor-trabalho, dor-prova, dor-criação, dor-amor, pois
eles constituem a dinâmica que impulsiona o processo evolutivo
do Ser Imortal.
E Kardec, na "Observação"
do "Código Penal da vida futura",
item 20 de «O CÉU E O INFERNO»...,
expressa: "Deus, ao criar uma alma sabe, com efeito, se em
virtude de seu livre-arbítrio tomará o bom ou o mal
caminho; sabe que será castigado, se fizer o mal; mas sabe
também que este castigo temporário é um meio
de fazê-la entrar em bom caminho, onde chegará cedo ou
tarde". E no item 29 assim se manifesta: "A misericórdia
de Deus é infinita, sem dúvida, mas ela não é
cega. O culpado, a quem perdoa, não fica exonerado, e até
que não haja satisfeito à justiça, sofre as conseqüências
de suas faltas". E no item 30 prossegue; "As penas,
sendo temporárias e subordinadas ao arrependimento e à
reparação, que dependem da livre vontade do homem, são
às vezes castigos e remédios que devem cicatrizar as
feridas que ocasionam o mal. Os espíritos em castigo são,
pois, não como condenados a presídio por um tempo, mas
sim como enfermos em um hospital, que sofrem pela enfermidade que
é a menor conseqüência de sua falta e dos remédios
curativos dolorosos que necessitam" (o sublinhado é
nosso).
Negar o castigo, a pena, o sofrimento, é como negar o mal,
o que também se afirma erradamente, pois se eles são
estados temporários que afetam o Ser imperfeito, nem por isso
deixam de ser reais, positivos e necessários para servir à
evolução deles, já que "precisa que
o espírito consiga experiência, e para isto faz falta
que conheça o bem e o mal. Por isso existe a união do
espírito com o corpo", como diz «O
LIVRO DOS ESPÍRITOS» no parágrafo 634.
Como se conheceria o mal, perguntamos, se não existisse?
E sua voz, Ubaldi, em «A Grande Síntese»,
cap. LXXXI, afirma: "A dor não pode desaparecer sem
a condição de que se pague a dívida à
justiça que, no âmbito moral e social histórico
e econômico, físico e químico, é sempre
idêntica à lei, igual vontade, o mesmo Deus"
(o sublinhado é nosso).
Com as próprias palavras com que finaliza o Mestre Kardec esse
capítulo VII, primeira parte, de «O CÉU
E O INFERNO»..., encerramos esta reflexão sumária
nossa, sobre este aspecto tão controvertido; "Tal
é a lei da Justiça Divina: a cada um segundo suas obras,
assim no céu como na terra".
O castigo temporário é
um meio de fazer compreender os erros e fazer entrar em bom caminho.
* * *
PESQUISA:
Deus é a inteligência suprema causa primária
de todas as coisas.
Questão no 1 do «O LIVRO DOS ESPÍRITOS»
obra codificada por Allan Kardec.
"Que é o castigo? A conseqüência
natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores necessária
a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação
do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a
alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto
de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação,
a redenção. Querê-lo eterno, por uma falta não
eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.
"Oh! Em verdade vos digo, cessai, cessai de pôr
em paralelo, na sua eternidade, o Bem, essência do Criador,
com o Mal, essência da criatura. Fora criar uma penalidade injustificável.
Afirmai, ao contrário, o abrandamento gradual dos castigos
e das penas pelas transgressões e consagrareis a unidade divina,
tendo unidos o sentimento e a razão."
PAULO, apóstolo. in O Livro dos Espíritos,
q. 1009, obra codificada por Allan Kardec
Vocabulário Espírita
Expiação, pena que
sofrem os Espíritos como punição das faltas cometidas
durante a vida corporal. A expiação, sofrimento moral,
ocorre no estado de erraticidade, como o sofrimento físico
ocorre no estado corporal. As vicissitudes e os tormentos da vida
corporal são ao mesmo tempo, provas para o futuro e expiação
do passado.
Penas eternas. Os Espíritos
superiores nos ensinam que só o bem é eterno, porque
é a essência de Deus, e que o mal terá um fim.
Por conseqüência deste princípio, combatem a doutrina
da eternidade da penas como contrária à idéia
que Deus nos dá de sua justiça e de sua bondade. Mas
a luz não se faz para os Espíritos senão proporcionalmente
à sua elevação: nas classes inferiores suas idéias
são ainda obscurecidas pela matéria; o futuro para eles
está coberto por um véu. Não vêem senão
o presente. Estão na posição de um homem que
sobe uma montanha: no fundo do vale a neblina e as voltas do caminho
limitam-lhe a vista; é-lhe preciso chegar ao cimo para descortinar
todo o horizonte, avaliar o caminho que fez e o que lhe resta fazer.
Os Espíritos imperfeitos, não divisando o termo de seus
sofrimentos, julgam sofrer sempre, e este pensamento mesmo é
um castigo para eles. Se, pois, certos Espíritos nos falam
de penas eternas, é porque eles próprios crêem
nelas em conseqüência de sua inferioridade.
Provas, vicissitudes da vida corporal
pelas quais os Espíritos se purificam segundo a maneira pela
qual as suportam. Segundo a doutrina espírita, o Espírito
desprendido do corpo, reconhecendo sua imperfeição,
escolhe ele próprio, por ato de seu livre arbítrio,
o gênero de provas que julga mais próprio ao seu adiantamento
e que sofrerá em sua nova existência. Se ele escolhe
uma prova acima de suas forças, sucumbe, e seu adiantamento
e retardado.
Textos extraídos do livro "Instruções
práticas sobre as Manifestações Espíritas",
obra de Allan Kardec
Outras obras
Qual a diferença entre provação
e expiação?
A provação é a luta que ensina ao discípulo
rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação
espiritual. A expiação é a pena imposta ao malfeitor
que comete um crime.
Emmanuel, no livro «O CONSOLADOR»
2a parte - cap. V - Provação - q. 246
Textos extraídos do livro "Nos Domínios
da Mediunidade" — FEB — 14a edição
— 1985
F. C. Xavier > Médium psicógrafo - André Luiz
> Autor Espiritual - Cap. XV — Forças viciadas —
pág. 139
... o que a vida começou, a morte continua...
Esses nossos companheiros situaram a mente nos apetites mais baixos
do mundo, alimentando-se com um tipo de emoções que
os localiza na vizinhança da animalidade. Não obstante
haverem freqüentado santuários religiosos, não
se preocuparam em atender aos princípios da fé que abraçaram,
acreditando que a existência devia ser para eles o culto de
satisfações menos dignas, com a exaltação
dos mais astuciosos e dos mais fortes. O chamamento da morte encontrou-os
na esfera das impressões delituosas e escuras e, como é
da Lei que cada alma receba da vida de conformidade com aquilo que
dá, não encontram interesse senão nos lugares
onde podem nutrir as ilusões que lhes são peculiares,
porquanto, na posição em que se vêem, temem a
verdade e abominam-na, procedendo como a coruja que foge à
luz.
Meu colega (Hilário) fez um gesto de piedade e indagou:
— Entretanto, como se transformarão?
— Chegara o dia em que a própria Natureza lhes esvaziará
o cálice — respondeu Aulus, convicto.
— Há mil processos de reajuste, no Universo Infinito
em que se cumprem os Desígnios do Senhor, chamam-se eles aflição,
desencanto, cansaço, tédio, sofrimento, cárcere...
— Contudo — ponderei —, tudo indica que esses Espíritos
infortunados não se enfastiarão tão cedo da loucura
em que se comprazem...
— Concordo plenamente — redargüiu o instrutor —,
todavia, quando não se fatiguem, a Lei poderá conduzi-los
a prisão regeneradora.
— Como?
A pergunta de Hilário ecoou, cristalina, e o Assistente deu-se
pressa em explicar:
— Há dolorosas reencarnações
que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas
no vício. Temos, por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia,
a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo,
o aleijão de nascença e muitos outros recursos angustiosos,
embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício
da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil.
Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons
resultados pelas provações obrigatórias que oferece...
— No entanto — comentei —, e se nossos irmãos
encarnados visivelmente confiados à devassidão, resolvessem
reconsiderar o próprio caminho?!... se voltassem à regularidade,
através da renovação (transformação)
mental com alicerces no bem?!...
— Ah! Isso seria ganhar tempo, recuperando a si mesmos e amparando
com segurança os amigos desencarnados... Usando a alavanca
da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres...
Entretanto, para isso, precisariam despender esforço heróico.
Cap. XXVII — Mediunidade transviada — pág.
254/5
— André, sua dúvida é fora
de propósito. Você possui bastante experiência
para saber que a dor é o grande ministro da Justiça
Divina. Vivemos a nossa grande batalha de evolução.
Quem foge ao trabalho sacrificial da frente, encontra a dor pela retaguarda.
O Espírito pode confiar-se à inação, mobilizando
delituosamente a vontade, contudo, lá vem um dia a tormenta,
compelindo-o a agitar-se e a mover-se para entender os impositivos
do progresso com mais segurança. Não adianta fugir da
eternidade, porque o tempo, benfeitor do trabalho, é também
o verdugo da inércia.
Cap. XXVII — Mediunidade transviada — pág.
256
— E esse delito ficará impune?
Aulus fixou a expressão de bom humor e respondeu:
— Não se preocupem demasiado. Quando o erro procede da
ignorância bem-intencionada, a Lei prevê recursos indispensáveis
ao esclarecimento justo no espaço e no tempo, porquanto a genuína
caridade, sob qualquer título, é sempre venerável.
Entretanto, se o abuso é deliberado, não faltará
corrigenda.