Espiritualidade e Sociedade



Claudio de Moura Castro

>    As coisas vão de mal a pior

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Claudio de Moura Castro
>    As coisas vão de mal a pior

 

Alguns só conseguem enxergar o lado ruim do mundo. E como só notícias ruins dão manchetes, se deleitam em ver confirmados seus piores enredos. Enquanto não houver pílulas de otimismo, nada a se fazer para eles. Mas no que se pode medir ou contar, a história é outra.

O mundo está pior? Não é verdade, comparando com um século atrás. Nunca houve tanta liberdade e o crescimento das democracias foi extraordinário. E entre elas, não há mais guerras. Nos conflitos mais recentes, pelo menos um lado é ditatorial. Na última década, reduziram-se em 40% as guerras.

Acabaram-se as fomes causadas por calamidades naturais, como a que matou metade da população da Irlanda no século XIX. Houve também uma redução dramática nas mortes violentas que ceifavam até 50% das vidas em sociedades primitivas. No século XX, as guerras mataram 100 milhões. Se fosse a mesma mortalidade do passado, seriam mais dois bilhões de sepulturas.

O império da razão avança. Os acusados de bruxaria e magia negra eram assados em fogueiras, nas praças públicas na Inglaterra e Estados Unidos do século XVII. E os inquisidores espanhóis também eram chegados à pirotecnia. A ciência ajudou a lançar luzes nessas áreas. Alem disso, hoje é capaz de captar, entender e resolver boa parte dos problemas materiais que nos afligem – incluindo os desastres do meio ambiente.

Antes da Revolução Industrial, um operário só possuía a roupa do corpo. Sua maior riqueza eram os pregos de sua casa. Nunca o bem estar material alcançou tantas pessoas quanto hoje. Educação, cultura e lazer chegaram também aos pobres.

Haverá algum país que estava pior em 1900 e hoje passou à frente do Brasil? Não encontrei nenhum. A maioria dos países latino-americanos, incluindo o Peru, era bem mais rica do que o Brasil. A renda per capita da Argentina era cinco vezes maior (hoje é quase igual). Em 1958, Cuba era o segundo país mais rico da America Latina. Desde então, não fez senão recuar. E a Coréia, comparação favorita dos rabugentos? Na década de 50, vitima de uma medonha guerra fratricida, até os pauzinhos de comer passaram a ser de metal, pois não havia mais árvores. Mas a Coréia é uma civilização milenar, com sólida tradição de ciência e educação. Portanto, é uma comparação problemática.

O Brasil avançou, do último século para cá? Quem duvida do atraso do Brasil no passado, que leia as tenebrosas narrativas das dezenas de visitantes que por aqui passaram. O século XX foi o mais espetacular. Entre 1870 e 19xx o PIB foi multiplicado por 150. Nenhum outro pais conseguiu tal feito (o Japão chegou a 80 vezes).

Por volta de 1900, a esperança de vida era inferior a 30 anos. Hoje já ultrapassou 70. A desnutrição grave é residual. A última fome de conseqüências dramáticas foi no Nordeste, no século XIX. Praticamente toda a população tem hoje acesso a serviços médicos (nem tão bons, mas antes não havia nada). Nos aspectos materiais, houve avanços espetaculares. Mais de 90% têm água encanada, eletricidade, televisão, transporte público e dezenas de outros confortos. Como entendeu Schumpeter, foram os pobres que mais ganharam qualidade de vida com o crescimento.

Em 1900, noventa por cento das crianças (entre 7 e 14 anos) não iam à escola. Hoje, só 2% ficam de fora. E contrariando as fantasias saudosistas, os poucos que iam encontravam uma escola medíocre. Hoje, continua medíocre, mas é para todos e há algumas ilhas de excelência. Crescendo junto com a educação, nossa democracia se mostra bem mais robusta do que antes.

Nem tudo são rosas. Há áreas em que somos péssimos, como distribuição de renda. Em assuntos como corrupção e segurança, há oscilações e faltam dados confiáveis. Mas em praticamente tudo que podemos contar ou medir, pior não estamos. Essa é a tese do ensaio. Como disse o Lord Rees de Ludlow, “para a maior parte das pessoas, na maior parte das nações, nunca houve um momento melhor para se viver”.

Os pessimistas que fiquem com seus resmungos. Mas os fatos não lhes dão razão. Há que reconhecer os avanços em praticamente todas as direções. Porém, o assunto não acaba aqui. Não podemos festejar a situação presente, pois o progresso futuro depende de que sejamos

 


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