Alguns só
conseguem enxergar o lado ruim do mundo. E como só notícias
ruins dão manchetes, se deleitam em ver confirmados seus piores
enredos. Enquanto não houver pílulas de otimismo, nada
a se fazer para eles. Mas no que se pode medir ou contar, a história
é outra.
O mundo está pior?
Não é verdade, comparando com um século
atrás. Nunca houve tanta liberdade e o crescimento das democracias
foi extraordinário. E entre elas, não há mais
guerras. Nos conflitos mais recentes, pelo menos um lado é
ditatorial. Na última década, reduziram-se em 40% as
guerras.
Acabaram-se as fomes causadas por calamidades naturais,
como a que matou metade da população da Irlanda no século
XIX. Houve também uma redução dramática
nas mortes violentas que ceifavam até 50% das vidas em sociedades
primitivas. No século XX, as guerras mataram 100 milhões.
Se fosse a mesma mortalidade do passado, seriam mais dois bilhões
de sepulturas.
O império da razão avança. Os
acusados de bruxaria e magia negra eram assados em fogueiras, nas
praças públicas na Inglaterra e Estados Unidos do século
XVII. E os inquisidores espanhóis também eram chegados
à pirotecnia. A ciência ajudou a lançar luzes
nessas áreas. Alem disso, hoje é capaz de captar, entender
e resolver boa parte dos problemas materiais que nos afligem –
incluindo os desastres do meio ambiente.
Antes da Revolução Industrial, um operário
só possuía a roupa do corpo. Sua maior riqueza eram
os pregos de sua casa. Nunca o bem estar material alcançou
tantas pessoas quanto hoje. Educação, cultura e lazer
chegaram também aos pobres.
Haverá algum país que estava
pior em 1900 e hoje passou à frente do Brasil? Não
encontrei nenhum. A maioria dos países latino-americanos, incluindo
o Peru, era bem mais rica do que o Brasil. A renda per capita da Argentina
era cinco vezes maior (hoje é quase igual). Em 1958, Cuba era
o segundo país mais rico da America Latina. Desde então,
não fez senão recuar. E a Coréia, comparação
favorita dos rabugentos? Na década de 50, vitima de uma medonha
guerra fratricida, até os pauzinhos de comer passaram a ser
de metal, pois não havia mais árvores. Mas a Coréia
é uma civilização milenar, com sólida
tradição de ciência e educação.
Portanto, é uma comparação problemática.
O Brasil avançou, do último
século para cá? Quem duvida do atraso
do Brasil no passado, que leia as tenebrosas narrativas das dezenas
de visitantes que por aqui passaram. O século XX foi o mais
espetacular. Entre 1870 e 19xx o PIB foi multiplicado por 150. Nenhum
outro pais conseguiu tal feito (o Japão chegou a 80 vezes).
Por volta de 1900, a esperança de vida era
inferior a 30 anos. Hoje já ultrapassou 70. A desnutrição
grave é residual. A última fome de conseqüências
dramáticas foi no Nordeste, no século XIX. Praticamente
toda a população tem hoje acesso a serviços médicos
(nem tão bons, mas antes não havia nada). Nos aspectos
materiais, houve avanços espetaculares. Mais de 90% têm
água encanada, eletricidade, televisão, transporte público
e dezenas de outros confortos. Como entendeu Schumpeter, foram os
pobres que mais ganharam qualidade de vida com o crescimento.
Em 1900, noventa por cento das crianças (entre
7 e 14 anos) não iam à escola. Hoje, só 2% ficam
de fora. E contrariando as fantasias saudosistas, os poucos que iam
encontravam uma escola medíocre. Hoje, continua medíocre,
mas é para todos e há algumas ilhas de excelência.
Crescendo junto com a educação, nossa democracia se
mostra bem mais robusta do que antes.
Nem tudo são rosas. Há áreas
em que somos péssimos, como distribuição de renda.
Em assuntos como corrupção e segurança, há
oscilações e faltam dados confiáveis. Mas em
praticamente tudo que podemos contar ou medir, pior não estamos.
Essa é a tese do ensaio. Como disse o Lord Rees de Ludlow,
“para a maior parte das pessoas, na maior parte das nações,
nunca houve um momento melhor para se viver”.
Os pessimistas que fiquem com seus resmungos. Mas
os fatos não lhes dão razão. Há que reconhecer
os avanços em praticamente todas as direções.
Porém, o assunto não acaba aqui. Não podemos
festejar a situação presente, pois o progresso futuro
depende de que sejamos