A ciência tomou corpo quando
se descobriu ser mais fácil entender o mundo classificando
o que vai aparecendo pela frente. Aristóteles deu a partida.
Muito mais adiante, Lineu deu ordem à biologia, separando os
bichos e plantas: “Esse de seis perninhas vai com o outro, também
com seis. Ou, os que põe ovos vão juntos.” Assim
separados, fica mais fácil estudar e encontrar outros traços
comuns. Para E. Junger, a classificação das espécies
da flora é uma metáfora suprema da razão.
Classificamos até em um campo inconsútil
como a educação. Cada maneira de classificar chama a
atenção para aspectos diferentes. Para entender os avanços
e atoleiros do nosso ensino, proponho que pensemos nas escolas como
pertencendo a três categorias. Há as escolas dos grotões,
há as escolas das cidades médias e pequenas e, finalmente,
há as escolas conflagradas das periferias urbanas.
Os grotões vivem o círculo vicioso da
pobreza. A seu favor, são mundos fechados, onde cada um é
cada um. Mas lá não se reconhecem as vantagens da educação,
a tem pouca e não sentem falta de mais. A depender da sua própria
dinâmica, nada vai mudar. Mas com um bom empurrão de
fora, transformações são possíveis.
As cidades pequenas e médias vivem em um equilíbrio
instável, do ponto de vista da educação. Se são
minimamente dinâmicas e se têm um prefeito que acredita
em escola – ou pelo menos, atrapalha pouco – têm
tudo que precisam para avançar céleres, praticamente,
por conta própria. Com o IDEB, sabem onde estão. Aos
poucos, vão aprendendo os caminhos. Em um bom número
delas, os avanços são admiráveis. Passaram na
frente das capitais, com mais riquezas e mais tradições.
E isso, em todos os níveis. Em São Paulo, até
a pesquisa já é mais numerosa no interior do que na
capital. Dentre elas estão os caso de sucesso na educação
brasileira. Nem todas, mas muitas tomaram as rédeas nos dentes
e dispararam.
Finalmente, temos as periferias das grandes capitais.
Esse é o enguiço mais sério. Não faltam
recursos, não faltam atenções. Contudo, estão
travadas e perdendo espaço para as cidades menores.
O nó da questão é que são
regiões conflagradas. A sociedade local ou teve seu tecido
social dilacerado pelo crescimento rápido demais ou foi invadida
por vagas de imigrantes desenraizados das suas comunidades e que não
conseguiram se integrar na grande confusão das periferias.
Algumas são como praças de guerra, por
seus problemas de insegurança, criminalidade, desemprego, pobreza
e desintegração familiar. Nesses casos, faz sentido
lembrar a hierarquia do psicólogo Maslow. Para ele, as pessoas
só se fixam em certos objetivos de vida depois de que outros
mais importantes já foram resolvidos. Insegurança física,
desemprego e condições precárias de vida vêm
antes de educação. Sem serem minimamente atendidos,
pouquíssimos irão dar atenção ao ensino.
Portanto, a não ser que se pacifiquem essas
periferias, estão fadadas ao insucesso as tentativas heróicas
dos secretários de educação de agir nessas regiões.
Simplesmente, são outras as prioridades, tais como sobreviver
às guerras de gangues do narcotráfico.
Isso tudo nos leva à necessidade de políticas
educativas diferentes para essas regiões. É preciso
cuidar, simultaneamente, de uma boa coleção de problemas
no entorno da escola. A tarefa ultrapassa o alcance das secretarias
de educação. Porém, requer uma ação
minimamente coordenada com elas. Polícia, assistência
social, saúde e políticas de emprego têm que entrar
em cena e agir de forma articulada.
Há boas experiências no Brasil e devemos
aprender com elas. Mas citemos outro caso com grande visibilidade:
Medellín. Chama atenção tanto pela virulência
das guerras do narcotráfico que havia antes quanto pela pacificação
conquistada por um bom prefeito.
Esta taxonomia simples nos permite orientações
valiosas. Os grotões, quem sabe, podem esperar. Mas dá
para ir lá e consertar. Nas cidades pequenas e medias, é
cutucar os prefeitos lentos e recalcitrantes com respeito à
educação. As outras vão quase sozinhas. Nas praças
de guerra das periferias, só educação não
resolve. Ou entramos com programas mais abrangentes, ou nada vai acontecer
- além da repetição das conflagrações
costumeiras.