Vianna
de Carvalho; Divaldo Pereira Franco
> Campeonato da Insensatez
(...) Um século e meio
quase transcorrido, após o surgimento de O Livro dos Espíritos,
em Paris, a 18 de abril de 1857, a Doutrina resistiu a todas as investidas
da cultura científica, tecnológica, filosófica,
permanecendo vigorosa e insuperável como no instante da sua
consolidação.
O Movimento Espírita espraiou-se por diversas nações
terrestres, apresentou escritores, médiuns, oradores e conferencistas,
pedagogos, psicólogos, médicos e advogados, juízes
e desembargadores, entre muitos outros profissionais, todos incorruptíveis,
que deixaram um legado honorável, mas que, infelizmente, em
alguns dos seus bolsões, não está sendo dignamente
preservado. Os atavismos ancestrais, em diversos espíritas,
que se elegeram ou foram eleitos líderes por si mesmos, no
entanto, não têm suportado o peso da responsabilidade
pela execução do trabalho que lhes diz respeito, e,
preocupados injustamente com o labor organizacional, vêm-se
desviando dos conteúdos insofismáveis da Doutrina, qual
fizeram ontem em relação à Mensagem cristã,
que transformaram em romanismo...
Às preocupações em torno da caridade fraternal
em referência aos infelizes de todo porte, entregam-se à
conquista de patrimônio material e de projeção
social, vinculando-se a políticos de realce, nem sempre portadores
de conduta louvável, para partilharem das migalhas do mundo
em detrimento das alegrias do reino dos céus.
Substituem a simplicidade e a espontaneidade dos fenômenos mediúnicos
por constrições e diretrizes escolares que culminam,
lamentavelmente, com a diplomação de médiuns
e de doutrinadores, que também alcançam os patamares
teológicos da autofascinação. Exigências
descabidas e vaidosas agridem a simplicidade que deve viger nas Sociedades
espíritas, antes desvestidas de atavios ditos tecnológicos
e atuais, que eram vivenciados pela tolerância e bondade entre
os seus membros.
Ao estudo sério dos postulados doutrinários, sucede-se
a chocarrice e o divertimento em relação ao público
que busca as reuniões, em atitudes mais compatíveis
com os espetáculos burlescos do que com a gravidade de que
o Espiritismo se reveste. O excesso de discussões em torno
de questões secundárias toma o tempo para análise
e reflexão em relação aos momentosos desafios
sociais e humanos aos quais o Espiritismo tem muito a oferecer.
A presunção e a soberba elegem delineamentos e condutas
que recordam aqueles formulados pelos antigos sacerdotes, e que ora
pretendem se encarreguem de definir os rumos que devem ser tomados
pelo Movimento, após reuniões tumultuadas com resíduos
de mágoas e animosidades mal disfarçadas. Ouvem-se as
mensagens dos Benfeitores espirituais, comovendo-se com as suas dissertações,
e logo abandonando-as dominados pela alucinação da frivolidade.
Apegam-se ao poder, como se fossem insubstituíveis, esquecidos
de que as enfermidades e a desencarnação os desalojam
das funções que pretendem preservar a qualquer preço.
O tecnicismo complicado vem transformando as Instituições
em Empresas dirigidas por executivos brilhantes, mas sem qualquer
vínculo com os postulados doutrinários...
Divisões que se vão multiplicando por setores, por especializações,
ameaçam a unidade do corpo doutrinário, olvidando-se
daqueles que não possuem títulos terrestres, mas que
são pobres de espírito, simples e puros de coração,
em elitismo injustificável. Escasseiam o amor, a compaixão
e a caridade...
Críticas sórdidas, perseguições públicas,
malquerenças grassam, onde deveriam vicejar o perdão,
o bem-querer, a compreensão fraternal, a caridade sem jaça.
Não se dispõe de tempo, consumido pelo vazio exterior,
para a assistência aos sofredores e necessitados que aportam
às casas espíritas, relegados a segundo plano, nem para
a convivência com os pobres e desconhecedores da Doutrina, que
são encaminhados a cursos, quando necessitam de uma palavra
de conforto moral urgente... Os corações enregelam-se
e a fraternidade desaparece.
O Cristianismo resistiu bravamente a trezentos anos enquanto perseguido
e odiado, até o momento em que o imperador Constantino o vilipendiou,
no dia 13 de junho de 313, mediante o Edito de Milão, que o
tornou tolerado em todo o Império romano, descambando posteriormente
para religião do Estado, em olvido total às lições
de Jesus Cristo, passando, depois, de perseguido a perseguidor...
O Espiritismo ainda não completou o seu sesquicentenário
de surgimento na Terra e as mesmas nuvens borrascosas ameaçam-no
de extermínio, por invigilância de alguns dos seus profitentes...
É hora de estancar-se o passo na correria desenfreada em busca
das ilusões, a fim de fazer-se uma análise mais profunda
em torno da Doutrina Espírita e dos seus objetivos, saindo-se
das brilhantes teorias para a prática, a vivência dos
ensinamentos libertadores.
Não é momento para escamotear-se a realidade, em face
do anseio para conseguir-se, embora rapidamente, o brilho momentâneo
dos holofotes, como se blasona com certa mofa, em relação
aos que disputam as glórias terrestres.Menos competição
e mais cooperação, deve ser a preocupação
de todos espíritas sinceros, a fim de transferir a Doutrina
para as futuras gerações, conforme a receberam do Codificador
e dos seus iluminados trabalhadores das primeiras horas.
Bons espíritas, meus bem-amados, sois todos obreiros da última
hora, conforme proclamou o Espírito protetor Constantino, em
O Evangelho segundo o Espiritismo.*
Não vos esqueçais!
Estais comprometidos, desde antes da reencarnação, com
o Espiritismo que agora conheceis e vos fascina a mente e o coração.
Tende cuidado!
Evitai conspurcá-la com atitudes antagônicas aos seus
ensinamentos e imposições não compatíveis
com o seu corpo doutrinário.
Retornar às bases e vivê-las qual o fizeram Allan Kardec
e todos aqueles que o seguiram desde o primeiro momento, é
dever de todo espírita que travou contato com a Terceira Revelação
judaico-cristã porque o tempo urge e a hora é esta,
sem lugar para o campeonato da insensatez.
Vianna de Carvalho e outros Espíritos-espíritas
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco,
na reunião mediúnica da noite de 17 de julho de 2006,
no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,
Bahia.
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