O filme “Kardec” desde
meados de maio (de 2019) tem sido exibido em cinemas do país.
Trata-se de película produzida por Eliana Soárez, dirigida
por Wagner de Assis, que também atuou como um dos roteiristas,
e se fundamenta no livro Kardec, de autoria de Marcel Souto
Maior (Editora Record, 1ª edição em 2013)(1).
Em páginas preliminares, o autor já dedicava a obra:
“A Canuto Abreu, pioneiro na pesquisa e na divulgação
da obra de Kardec no Brasil; a Wagner de Assis, aliado fundamental
neste projeto, que enfrenta o desafio de transformar esta história
em filme...”
Wagner de Assis enfrentou o desafio e seis anos após o lançamento
do livro de Souto Maior, disponibiliza um filme considerado pela crítica
em geral como tecnicamente muito bem elaborado. É a oportunidade
de se levar ao público em geral as informações
sobre Kardec e suas lutas nos momentos iniciais de seu trabalho como
Codificador. Tivemos muitos contatos com Wagner em momentos da filmagem
do lançamento de “Nosso Lar”; depois em encontros
no movimento espírita e assinatura do contrato para a filmagem
de “Os Mensageiros”, quando estávamos na presidência
da FEB.
O enredo do filme não atinge todo o conteúdo do livro
de Souto Maior e isso nem seria possível. Avança-se
até o lançamento de O livro dos médiuns
e o Auto de Fé de Barcelona. Aliás, o livro de Souto
Maior, num estilo jornalístico, focaliza toda a trajetória
do Codificador e comenta detalhes interessantes sobre traições
ao Codificador e algumas deturpações doutrinárias
que ele comenta em Revista Espírita.
Para espíritas atentos, surgem algumas
dúvidas sobre até que ponto foram “licenças
poéticas”, ou melhor, “dramáticas”
ou “cinematográficas”, algumas cenas que não
condizem com o texto do livro de Souto Maior, e que não são
conhecidas, como: alguns contatos de Kardec com prelados católicos;
a prisão, como foi encenada; as manifestações
defronte à casa da família Baudin; uma impactante cena
de suicídio, e, as cenas dos “perseguidores” acompanhando
Kardec. A questão de conceito de Espiritismo como filosofia
ou religião, tratada no livro, e focalizada no filme, talvez
merecesse uma análise na linha do tempo das obras do Codificador,
até as reflexões contidas na Revista Espírita,
do mês de dezembro de 1868.
Na atualidade, muitas das tradicionais
biografias de Kardec, ficam na faixa de superficiais ou muito focalizadas
em determinados aspectos. Com a disponibilização de
documentos e obras digitalizadas nas Bibliotecas e órgãos
públicos franceses têm surgido muitas informações
e registros significativos dos tempos de ação do Codificador
e dos momentos seguintes à sua desencarnação.
Assim, face a eventuais dúvidas
que o filme possa gerar, nada melhor do que se aprofundar em pesquisas
sobre a vida e obra de Allan Kardec, a começar pelo exame das
edições da Revista Espírita do período
em que foi dirigida pelo Codificador. Muita atenção
em torno dos documentos que agora estão vindo à tona
e, sem dúvida, com o arsenal de manuscritos e cartas que estavam
em poder da família de Canuto Abreu. Estes recentemente foram
passados para a Fundação Espírita André
Luiz, de São Paulo, que já desenvolve o Projeto “Cartas
de Kardec” e deverá divulgar muitos fatos documentais
sobre a vida e obra do Codificador.
Durante a exibição do
filme foi lançado o livro Kardec. A história por trás
do filme (2), onde Wagner de Assis e
Marcel Souto Maior fazem significativos depoimentos sobre o projeto
e a execução do filme e apresentam suas visões
sobre o Codificador. Wagner relata vários momentos da filmagem,
mas não comenta as cenas que anotamos acima e que geram algumas
dúvidas no meio espírita.
O filme “Kardec” deve
provocar nos espíritas o desafio de se estudar mais o Codificador!
1) Souto Maior, Marcel. Kardec. 1.ed. Rio de Janeiro:
Record. 2013. 363p.
2) Assis, Wagner; Souto Maior, Marcel. Kardec. A história
por trás do filme. 1.ed. Rio de Janeiro: Record. 2019. 138p.