Temos uma herança bastante
significativa dentro da Umbanda, que vem dos nossos irmãos
do culto de nação. Porque herdamos tanto do culto de
nação, do Candomblé? Simples: uma das origens
inegáveis dos ritos dentro da Umbanda vem desse culto. O próprio
nome dos Orixás, até mesmo por falta de melhores definições,
o uso de elementos ritualísticos como atabaques, adjás
(um tipo de chocalho de metal), e muito, mas muito mesmo do uso das
ervas.
Profundos conhecedores dos mistérios vegetais, nossos irmãos
trouxeram da África, nos navios negreiros, seu conhecimento
sobre as ervas. Essas ervas conhecidas pelos seus nomes em iorubá,
são usadas até hoje no culto.
Preso por dogmas e preceitos, somente os iniciados podiam ter acesso
a esse conhecimento, então, quando do surgimento da Umbanda,
aqueles que vinham para a religião nascente, traziam fragmentos
desse saber.
O fato desse conhecimento ser guardado é pura necessidade de
sobrevivência. A tentativa de manter o rito imaculado.
Mas os seus fragmentos foram chegando à Umbanda, foram sendo
modificados e adaptados à realidade regional. Não são
em todos os lugares que podemos encontrar todas as ervas.
A facilidade que temos na região norte de encontrar, por exemplo,
casca de andiroba, não é a mesma de um morador do sul
do país. Com o Candomblé acontece a mesma coisa.. Não
são em todos os lugares que encontramos as ervas usadas pelo
praticante do culto, da forma que chegaram aqui no Brasil.
Então, a necessidade fala mais alto e a criatividade responde.
Muitas ervas são adaptadas nos rituais Umbandistas e os nomes
em iorubá, vão sendo substituídos pelos nomes
populares brasileiros. A presença do Preto Velho na Umbanda,
é uma justa homenagem do astral superior, responsável
por essa religião, à enorme corrente africana que nos
legou muito do que praticamos.
Vemos muitas pessoas interpretar a linha dos nossos amados Pretos
Velhos de formas diversas. Como corrente das almas, linha de pais
velhos, yorimá... Também temos lido e ouvido atribuições
de Orixás que comandam essa linha de trabalho,
como Obaluaiyê, Xangô, entre outros.
Mas vemos muitos pretos e pretas velhas manifestados dentro dos terreiros,
sempre trazendo suas palavras de conforto, orientação,
sabedoria. E muito conhecimento das ervas, dos elementos da natureza,
dos benzimentos, das rezas, etc... E cada manifestação
traz em si uma mesma linha de conduta, uma espinha dorsal em comum,
e nuances de especificação. Então, podemos afirmar
que há nessa linha, espíritos amparados e manifestados
nas irradiações de Oxalá, Ogum, Oxóssi,
enfim, de todos os Orixás? Isso mesmo! Muitos Pretos Velhos
trazem a irradiação específica que ampara sua
falange, mas a linha como um todo é amparada pelos Orixás
Anciãos, os Orixás portadores e manifestadores da Sabedoria
Divina: Oxalá, Obaluaiyê, Nanã.
Vemos o Preto Velho incorporando em seu médium, sentado em
seu banquinho, com seu galhinho de arruda ou outra erva, um copo d'água
do lado... Muitas ervas fazem parte de seu campo de trabalho, muitas
receitas de banhos e defumações, o próprio fumo
usado em seu cachimbo é erva em uso prático.
Peço permissão a esses amados pais da Umbanda, para
dar aqui, uma receita de fumo para cachimbo, banho e benzimento.
Fumo para cachimbo:
tabaco (fumo de tabacaria com o aroma de sua preferência), sálvia
e hortelã. Tudo pilado para dar consistência, para uso
no cachimbo ou enrolado na palha de milho (encontrada também
em tabacaria).
Banho de Preto Velho:
Casca de alho, folhas de café, guiné, arruda, alecrim,
sálvia e folhas de chorão.
Benzimento:
Pegue um galho de arruda ou um ramo de guiné, segure em sua
mão direita e eleve acima de sua cabeça, fazendo a seguinte
reza:
"-Amado Pai Criador, Forças da Natureza, Sagrada corrente
dos Pretos Velhos, peço que abençoem essas folhas em
nome das três pessoas da santíssima trindade - Pai, Filho
e Espírito Santo. Amém."
Com essas folhas da mão, pode-se benzer uma pessoa (criança
ou adulto), fazendo sinais da cruz em sua fronte, seu peito e suas
costas, palmas da mãos e pés. Sempre agradecendo a Providência
Divina pela benção.