"Counseling Today" (o aconselhamento
hoje) é a revista da American Counseling Association, que é
a associação dos psicoterapeutas dos Estados Unidos.
A cada mês, a matéria
de capa trata de uma inquietude que, em tese, está na ordem
do dia para pacientes e profissionais. Na edição de
janeiro de 2015, foi "Confronting Client Loneliness" (enfrentando
a solidão do paciente) – a imagem de capa era um idoso
sozinho, de costas, num parque outonal deserto.
O ponto de partida
do texto é que cada vez mais pessoas vivem sozinhas: acabou
(ou quase) a família extensa e se tornou banal mudar de cidade
ou de país etc.
Enfim, é normal que a gente
esteja e se sinta sozinho, mas resta saber se essa sensação
é ruim para a saúde. Uma leitura sistemática
de 148 pesquisas publicadas mostra que a falta de relações
sociais fortes é um fator de mortalidade parecido com o fumo
ou o álcool e maior que a inatividade física e a obesidade.
Claro, os pesquisadores sabem que
não é simples definir a solidão. Também
sabem que muitos fumam, bebem, comem e ficam deitados vendo TV justamente
porque estão sozinhos – o que faz que seja complicado
descobrir qual é o verdadeiro fator de risco. De qualquer forma,
para os autores, fica estabelecido que a solidão encurta a
vida.
Nos últimos 15 anos, apareceu
uma nova questão: será que o uso da internet é
uma causa ou um efeito da solidão que ameaçaria nossas
vidas? (Veja, por exemplo, http://migre.me/pExmw.)
Ao longo dessas décadas tão
propensas a idealizar a convivência social, houve a voz discordante
de Anthony Storr, outro psicanalista, que, em 1988, publicou "Solidão,
a Conexão com o Eu" (ed. Benvira, R$ 39,90, 384 págs.),
lembrando que, para alguns, ficar sozinho pode ser um jeito de se
curar – não adoecer.
Enfim, entre Fromm-Reichmann e Storr,
uma pergunta: a solidão é um transtorno de nossa sociabilidade
supostamente "natural" (como pensavam os gregos)? Ou, então,
nossa sociabilidade apenas manifestaria outro transtorno, que é
o medo de ficarmos sozinhos conosco?
É nesse contexto que chega
o novo livro de Sara Maitland, "Como Ficar Sozinho" (ed.
Objetiva, R$ 26,90, 132 págs.). É um dos textos de "The
School of Life", a série dirigida por Alain de Botton,
que tenta renovar a autoajuda.
Maitland, além de dar conselhos
para tentar viver sozinho (que é a preferência dela),
mostra que a sociabilidade e a solidão são ideais que
coexistem em nossa cultura.
A ideia de que a vida plena tenha
que ser social é antiga, clássica, greco-romana. A ideia
de que a vida plena seja a vida interior é cristã e
moderna: a religião para nós é diálogo
com Deus antes de ser celebração pública, a justiça
e a moral são questões que resolvemos no foro intimo,
e não no fórum.
Nosso lazer é com amigos ou
sozinhos? Muitos diriam que viajar ou sair à noite seria muito
mais interessante se eles estivessem completamente sozinhos, mas a
amizade, o amor ou o medo são mais fortes do que o desejo de
aventura.
O que é mais "moral",
deixar os outros entrarem na nossa vida ou cultivar apenas nosso jardim,
sem sermos distraídos por eles?
Quem está mais perto da verdade
(seja lá o que ela for), o monge ou o militante político?