Resumo:
A ideia ou crença na imortalidade
do espírito individual é causa de grande constrangimento
e controvérsia no meio acadêmico. Enquanto muitos entendem
que o tema mereceria um veto da comunidade científica, por
constituir matéria de fé religiosa, outros propõem
pesquisas empíricas ou argumentos filosóficos a seu
respeito. Entendendo que parte considerável da dificuldade
do campo reside na incompreensão a respeito de seu verdadeiro
lugar conceitual, apontamos para o fato de que a discussão
centrada nos modelos mais epistemológicos baseados em evidências
tem uma desvantagem intrínseca em relação a
modelos mais metafísicos e metafilosóficos, os quais
estabelecem as condições de possibilidade de perspectivas
espiritualistas ou materialistas.
Enfatizando o balizamento lançado
por Kant e pelos trabalhos iniciais de Fichte e Schelling, defendemos
a necessidade de recondução de todo e qualquer problema
filosófico ao problema das definições fundamentais,
e que esse modo de proceder é decisivamente contrário
ao materialismo.
Com isto se pretende evidenciar
que o projeto filosófico é sempre essencialmente um
projeto transcendental, que pergunta sobre a pertinência e
condição de possibilidade das premissas iniciais,
e que a discussão sobre a independência ontológica
da consciência não apenas tem a ganhar, como depende
dessa fundamentação.
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Introdução
TIPOS DE ABORDAGEM AO PROBLEMA DA IMORTALIDADE
OU SOBREVIVÊNCIA
De acordo com o filósofo Robert Almeder,
é irrelevante se alguém acredita em imortalidade da
alma, reencarnação ou termos similares. A única
questão relevante do ponto de vista de uma investigação
filosófica é “se uma pessoa acredita [...] em
qualquer forma de sobrevivência post-mortem, essa crença
é uma crença racional?” Ao afirmar em seu livro
sobre evidências e argumentos a respeito da sobrevivência
após a morte que apenas crenças racionais deveriam
entrar em jogo, Almeder traz à consciência o problema
cultural envolvido na temática.
Frequentemente, tanto religiosos quanto materialistas
rejeitam a mera possibilidade de tratamento da ideia de imortalidade
a partir de análise argumentativa ou análise de evidências.
Para os primeiros, a independência da alma, consciência,
mente ou espírito é matéria de fé, para
os segundos, uma impossibilidade conceitual, dada a incompatibilidade
entre esse tipo de estudo e a estrutura de funcionamento do mundo
segundo a cosmovisão materialista. Contudo, mesmo com sua
validade questionada por grupos tão opostos, o tema chega
a gerar interesse significativo por parte da comunidade acadêmica.
O avanço recente das críticas sociológicas,
culturais e linguísticas do conhecimento também abriu
campo para considerações menos assertivas ou de implicações
metafísicas sobre este, como outros estudos. Com isso, é
possível e relativamente comum abordar conceitos dualistas
ou ideias de imortalidade da alma como dado histórico ou
crença culturalmente bem sucedida. A mais marcante dessas
preocupações diz respeito à discussão
sobre os termos apropriados de tratamento do fenômeno,...
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