Um dos mais graves problemas do cristianismo é a confusão
que os teólogos primitivos fizeram com os espíritos,
anjos, diabos, demônios, satã, satanás, Espírito
Santo, lúcifer etc., cuja existência nós não
negamos, mas apenas discordamos das interpretações erradas
que lhes foram atribuídas, pois os teólogos fizeram
uma confusão dos diabos com eles, misturando-os com questões
mitológicas, das quais, inclusive, os autores sagrados receberam
influência, colocando-as na própria Bíblia. Veja-se,
por exemplo, o capítulo 12 do Apocalipse.
Essa salada teológica enfraquece a crença nas verdades
cristãs, e é um prato cheio para os materialistas fazerem
suas chacotas contra o espiritualismo, com o objetivo de desacreditá-lo
e reforçar suas ideias ateias. Por isso, a exemplo da doutrina
espírita, os demais seguidores do Mestre dos mestres deveriam
estudar e esclarecer esses assuntos em defesa do cristianismo. Os
padres e pastores formados em curso superior de teologia e Bíblia
sabem o significado verdadeiro dos termos que estamos abordando, mas
agem como se nada soubessem sobre essas questões!
Lúcifer (eosforo em grego) passou para o latim como o substantivo
"luce" (luz) e o verbo "ferre" (transportar),
que, literalmente, significam porta-luz, aurora, estrela da manhã.
Não se trata bem de um espírito, mas de uma metáfora
da inteligência. Também Paris é chamada de Cidade
Luz, ou seja, cidade da inteligência, da cultura. Lúcifer
é símbolo da inteligência de anjos (espíritos),
a qual comandou a rebelião deles contra Deus. Lúcifer
simboliza também a nossa inteligência voltada para o
mal, contra o amor, contra Deus, isto é, a favor do chamado
pecado. Mas disso podemos concluir que no céu nem tudo é
um mar de rosas, nem tudo é paz, o que reforça a idéia
atual entre os teólogos de que o céu não é
um lugar geográfico como se pensava antigamente. E, na verdade,
essa palavra céu na Bíblia é no plural: céus,
que quer dizer Universo, cosmos. E Jesus disse que o reino dos céus
está dentro de nós mesmos, isto é, onde estiver
o espírito, encarnado ou desencarnado e em qualquer parte do
Universo, daí céus. Assim é que o Pai Nosso em
latim da Vulgata Latina (primeira tradução da Bíblia
para o latim, por são jerônimo, lá pelo ano de
400) diz "Pater noster qui es in coelis" (céus).
E diabo (opositor) e satã ou satanás (adversário),
na prática, substituíram a palavra lúcifer. São
opositores ou adversários de Deus, do bem, do Eu Superior (espírito)
que nós somos, opositor e adversário que são
o nosso ego ou eu menor, corporal, que se opõe ao espírito.
Indevidamente, diabo e satanás passaram a significar também
espíritos maus.
Assim também aconteceu com a palavra demônio ("daimon"
em grego, plural "dimones"), que, originariamente, na Bíblia
e outras obras gregas antigas, significa alma ou espírito humano
desencarnado e não necessariamente um espírito mau.
De fato, se demônio é alma, há almas boas também
e até santas. Por que Jesus só tirava demônios
maus das pessoas, pois, demônios bons não atormentam
ninguém, então as pessoas passaram a entender que todo
demônio é mau.
Esse erro é um dos mais graves do cristianismo, pois devemos
entender as palavras bíblicas de acordo com o significado delas
na época em que os textos bíblicos foram escritos!

Jesus curando o endemoniado de Gerasa em uma
ilustração medieval.
Fonte: http://it.wikipedia.org/wiki/Legione_(demone)#mediaviewer/File:Healing_of_the_demon-possessed.jpg