"por Marcio Antonio Campos"

"Everthon Oliveira (em pé) fala
aos membros da diretoria e do comitê teológico-pastoral
da SBCC, incluindo dom João Justino (de óculos,
no centro da foto).| Foto: Arquivo pessoal"
"Em novembro passado, durante a conferência nacional
da Associação
Brasileira de Cristãos na Ciência, o Guilherme
de Carvalho veio até mim e disse que deveria haver uma
"ABC2 católica", para que as duas entidades pudessem
fazer parcerias e ter iniciativas conjuntas. Eu respondi que os
cristãos já estávamos divididos em tanta
coisa, que não precisávamos de mais separação.
Mas, ao mesmo tempo, sei bem que o foco da ABC2 é realmente
o público evangélico (tanto que, se não me
engano, os únicos católicos no evento do Recife
éramos eu e o Ignacio Silva, um dos palestrantes). Por
isso, foi com muita alegria que soube, durante a Assembleia Geral
da CNBB, ocorrida no início de maio, da criação
da Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos (SBCC),
que vai ajudar a fomentar o diálogo entre ciência
e religião."
"O presidente da SBCC é Everthon de Souza Oliveira,
professor do Departamento de Engenharia Elétrica do Cefet-MG.
Ele me explicou que a entidade já estava meio que estruturada
desde outubro do ano passado, quando ocorreu o primeiro Congresso
Científico de Humanismo Solidário na Ciência,
por iniciativa do Ministério Universidades Renovadas (MUR),
da Renovação Carismática – Oliveira
participa do MUR desde seus tempos de estudante de graduação,
na Universidade Federal de São João Del Rei. "O
diálogo entre fé e razão sempre foi uma constante
nas nossas atividades; ao mesmo tempo, pude testemunhar o preconceito
religioso, a ideologia materialista e a carência de sentido
que existem nas nossas universidades", conta Oliveira sobre
sua experiência de aluno universitário."
"A SBCC precisa aproveitar
as boas experiências brasileiras, como da ABC2,
e de institutos e sociedades em todo o mundo que exploram
o diálogo entre ciência e fé"
"A nova entidade nasce em parceria com o episcopado brasileiro.
A CNBB tem uma Comissão Episcopal de Educação
e Cultura e um Setor Universidades, que já tinham endossado
a ideia do congresso de 2018. O presidente da comissão,
dom João Justino de Medeiros Silva, arcebispo de Montes
Claros (MG), chefiará um Comitê Teológico-Pastoral
que tem o objetivo de "garantir a fidelidade das ações
da SBCC ao Magistério da Igreja e auxiliar no pastoreio
espiritual dos pesquisadores", segundo Oliveira. Ou seja,
a condução do dia a dia da entidade e as iniciativas
estabelecidas serão de competência dos cientistas
leigos à frente da SBCC, sem interferências ou protagonismo
episcopal em algo que cabe ao laicato."
"Que iniciativas serão essas, ainda não está
muito definido. Certo é que haverá um segundo Congresso
de Humanismo Solidário na Ciência ano que vem, em
Salvador. Da troca de mensagens com Oliveira, percebi que a SBCC
sabe o que ela pretende. O presidente da entidade falou em "auxiliar
espiritualmente os pesquisadores católicos e engajá-los
de modo coordenado em trabalhos que promovam o diálogo
entre fé e razão, testemunhando a harmonia entre
o pensamento cristão e o pensamento científico";
em "contribuir com a missão da Igreja, seja interpretando
os significados das descobertas científicas para a fé
cristã, seja propagando, à luz da Doutrina Social
da Igreja, a responsabilidade moral e social das ciências";
e em "incentivar práticas de pesquisa, ensino e extensão
que considerem o valor da dignidade humana e o bem comum".
Só não sabe ainda como vai conseguir tudo isso,
o que é natural para uma entidade recém-criada.
Mas também me parece que a SBCC está olhando para
alguns bons exemplos, como a própria ABC2 e as academias
pontifícias de Ciência e Para a Vida. "Queremos
dialogar com essas instituições para compreender
melhor nossa própria identidade, formalizar algumas parcerias
e propor a realização de atividades conjuntas",
diz Oliveira."
"Eu gostaria de ver a SBCC caminhando na trilha que a ABC2
abriu no Brasil. Temos de aproveitar que há gente boa disposta
a financiar programas na América Latina – a região
é prioridade da John Templeton Foundation – e organizar
mais eventos, estruturar uma presença forte em mídias
sociais, produzindo podcasts e séries em vídeo,
traduzindo livros de bons autores católicos. A ABC2, por
exemplo, tem parcerias com editoras fortes no mundo evangélico
(inclusive lançou uma coleção própria
pela Ultimato) e com gigantes do naipe da Thomas Nelson Brasil.
Não vejo motivo para a SBCC não fazer o mesmo com
grandes editoras católicas e traduzir o trabalho de gente
como Mariano Artigas, Stephen Barr, Stacy Trasancos, Stanley Jaki,
Dominique Lambert ou Ken Miller, além de publicar autores
católicos brasileiros que escrevam sobre ciência
e fé. Que a entidade estabeleça contato com os institutos
de ciência e fé das universidades de Cambridge e
Oxford, com a Society of Catholic Scientists americana, com a
BioLogos, a DeCyR, a Sociedade Internacional para Ciência
e Religião, com outras entidades de ciência e fé,
mande gente para seus eventos e cursos e convide os especialistas
de lá para virem aqui. Outras entidades, institutos e sociedades
que vieram antes aplainaram o caminho e mostraram o que funciona;
se a SBCC aproveitar essa experiência, adaptando-a à
sua realidade e dando seu toque pessoal, tem tudo para ser um
ator relevante no debate sobre ciência e fé no Brasil."
"Atualização: como ser membro
da SBCC? Após a publicação do post, já
apareceram muitos interessados nas mídias sociais perguntando
como se tornar membro da entidade. Oliveira disse que a SBCC está
trabalhando em um sistema formal para membros, e que deve ser
lançado no fim de julho. Enquanto isso, interessados podem
escrever para sociedade@humanismonaciencia.com.br e manifestar
sua intenção de entrar para a SBCC."