Um livro sobre o luto e suas consequências,
que navega com maestria entre a ficção e a memória.
Quando Rosa Montero leu o impressionante diário (incluído
como apêndice neste livro) que Marie Curie escreveu após
a morte de seu marido, ela sentiu que a história dessa mulher
fascinante guardava uma triste sintonia com a sua própria:
Pablo Lizcano, seu companheiro durante 21 anos, morrera havia pouco
depois de enfrentar um câncer. As consequências dessa
perda geraram este livro vertiginoso e tocante a respeito da morte,
mas sobretudo dos laços que nos unem ao extremo da vida.
por Cynthia de Almeida
Um livro fascinante sobre a história pessoal
da cientista Marie Curie entrelaça o seu luto pela perda
do marido com o da própria autora, a espanhola Rosa Montero
O titulo já dá uma boa pista sobre
o tema do livro. A Ridícula Ideia de Nunca Mais te Ver, da
autora espanhola Rosa Montero, trata de vidas e mortes. As vidas
da própria autora e da cientista Marie Curie. E o pano de
fundo do luto de ambas: o de Rosa, pela perda do marido Pablo Lizcano
e o de Madame Curie, única mulher até hoje a ganhar
2 prêmios Nobel, cujo marido, Pierre Curie também morre
precocemente.

“Como não tive filhos, a coisa
mais importante que me aconteceu na vida foram meus mortos, e com
isso me refiro à morte dos meus entes queridos”.
Esta é a primeira frase do livro, que traça o paralelo
entre o nascimento e a morte, os dois únicos acontecimentos
certos e naturais da vida.
O livro é daqueles que a gente lê numa
sentada e revela um lado humano de Marie Curie, que todos conhecemos
na escola pela descoberta revolucionária dos elementos polônio
e rádio, mas cuja história pessoal, com suas paixões,
depressões, família e a dor dilacerante da perda do
grande amor da vida e parceiro do trabalho é bem menos contada.
Impossível não se encantar com a história
eletrizante dessa mulher nascida no final do século 19 ,
tão à frente do seu tempo, que viveu e morreu por
seu trabalho (a radioatividade a que se expôs em seu laboratório
a matou, assim como a sua filha mais velha, Irene, esta também
ganhadora de um Nobel de química), em uma época em
que mulheres não eram sequer autorizadas a estudar.
Ao se reconhecer no luto da cientista , Rosa Montero
se autoriza pela primeira vez a falar do seu e do sofrimento que
define de uma forma contundente:
“A verdadeira dor é indizível.
Se você consegue falar a respeito das suas angustias, está
com sorte: significa que não é nada tão importante.
Porque quando a dor cai sobre você sem paliativos, a primeira
coisa que ela lhe arranca é a #palavra. É provável
que você reconheça o que estou dizendo; talvez já
o tenha experimentado, pois o sofrimento é algo muito comum
em todas as vidas (assim como a alegria). Falo daquela dor que
é tão grande que nem parece nascer de dentro, como
se você tivesse sido soterrada por uma avalanche. E está
tão enterrada debaixo dessas toneladas de dor pedregosas
que não consegue nem falar. Você tem certeza de que
ninguém vai ouvi-la.“
É muito bom ouvir a voz dessas duas mulheres
maravilhosas.