13/11/2008
Em 4 anos, venda de antidepressivos cresce mais
de 40%
Prescrição do remédio por
médicos de outras áreas e uso em casos em que não
há diagnóstico de depressão ajudam a explicar aumento
ANGELA PINHO
LARISSA GUIMARÃES
Folha de São Paulo
A venda de antidepressivos em farmácias e drogarias
do Brasil cresceu 42% de 2003 a 2007, mostra levantamento da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com base
em dados do IMS Health, instituto que faz auditoria do mercado farmacêutico.
Há cinco anos, chegavam a ser comercializados 17 milhões
de unidades -gotas, cartela de comprimidos, cápsulas etc. Em
2007, foram 24 milhões. E o número de 2008 tende a ser
maior - os registros de janeiro a julho somam 15 milhões.
O "boom" nas vendas pode ser explicado principalmente por
dois fatores, dizem especialistas. Um deles é que médicos
de outras áreas têm ampliado a prescrição
dos medicamentos.
Além disso, cresceu o uso de antidepressivos por pessoas sem
diagnóstico de depressão -em casos em que o paciente passa
por uma fase difícil, como a perda de um parente ou a separação
do cônjuge.
O psiquiatra Raphael Boechat, doutor pela UnB (Universidade de Brasília),
diz que urologistas e ginecologistas, entre outros especialistas, vêm
prescrevendo antidepressivos para jovens com ejaculação
precoce ou mulheres na menopausa, por exemplo.
Ele avalia que há também prescrição "exagerada",
em casos em que os antidepressivos não são necessários.
"Na ciência, só são publicados
resultados positivos sobre eles. Isso traz a falsa impressão
de que eles seriam muito eficazes."
O psiquiatra Marco Antonio Brasil, chefe do serviço
de psiquiatria e psicologia médica da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), reforça as críticas.
"As pessoas acham que o remédio resolverá
seus infortúnios. E os médicos cedem."
Andrea Feijó de Mello, da Associação
Brasileira de Psiquiatria, concorda com a crítica, mas diz que,
em casos de depressão, os remédios são, muitas
vezes, essenciais.
"Depressão não passa sozinha. Tem
que medicar quando necessário."
A depressão atinge de 10% a 12% dos brasileiros.
A incidência em mulheres é duas vezes maior do que em homens.
Segundo a Anvisa, há 130 tipos de antidepressivo, que só
podem ser vendidos com receita médica. O princípio ativo
mais vendido é a fluoxetina - como o Prozac -, que
representa 13% do mercado desses remédios. A substância
altera os níveis de serotonina, influenciando o humor.
Luciano Finardi, diretor de marketing da Lilly, laboratório que
lançou o Prozac, diz não ver um aumento expressivo das
vendas. Ele concorda que, hoje, outros especialistas receitam o remédio,
mas diz que o maior uso é ainda para a depressão.
Sobem casos de depressão decorrentes do
trabalho
Auxílios-doença desse tipo subiram de 0,4% para 3%
MARTA SALOMON
Folha de São Paulo
Levantamento feito pela Previdência Social entre
2006 e 2008 aponta um aumento nos casos de depressão decorrentes
das condições de trabalho. O crescimento foi superior
ao registrado de doenças na coluna e articulações.
No mesmo período, caiu o número de acidentes de trabalho
envolvendo lesões e traumatismos em geral.
Os casos de depressão e demais transtornos mentais e de comportamento
aumentaram de 0,4% para 3% sua participação no volume
total de auxílios-doença pagos na categoria de "acidentes
de trabalho". Esse aumento só não superou o registrado
no grupo dos tumores.
A classificação de uma doença como acidente de
trabalho cabe ao médico perito e impõe ônus aos
empregadores, como a garantia de estabilidade por 12 meses, depois de
o trabalhador se recuperar. A Previdência paga aos afastados por
mais de 15 dias benefício mensal entre um salário mínimo
(R$ 415) e o teto de R$ 3.038,49.
Remigio Todeschini, diretor do departamento de saúde e segurança
ocupacional da Previdência, avalia que havia subnotificação
dos casos de depressão classificados como acidentes de trabalho.
Projeção feita em 2000 pela Organização
Mundial da Saúde indica que casos de transtornos depressivos
vão mais do que dobrar no período de 20 anos.
Regras
No início de 2007, um decreto do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva mudou a metodologia adotada pelo INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social) para classificar doenças do trabalho e instituiu
o NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário),
que cruza a classificação internacional de doenças
com a incidência delas.
Os peritos usam a listagem para apontar relações entre
a doença e a atividade. Desde a mudança, mais do que dobrou
o número de casos classificados como acidentes de trabalho.
Entre os fatores de risco de transtornos mentais, o decreto lista a
exposição a substâncias tóxicas e situações
como ameaça de perda de emprego e ritmo de trabalho penoso.
O decreto permite às empresas contestar o vínculo entre
a doença e o trabalho - por ora, não há recursos.
O decreto também lista 78 atividades que imporiam mais risco.
Segundo o professor da UnB e consultor do Ministério da Previdência,
Wanderley Codo, os mais suscetíveis são bancários,
professores e policiais.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd1211200802.htm
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