26/06/2008
Evangélicos invadem Congresso contra projeto
que criminaliza homofobia
GABRIELA GUERREIRO
RENATA GIRALDI
da Folha Online, em Brasília
Um grupo de evangélicos tentou invadir o Congresso
Nacional nesta quarta-feira em protesto contra a aprovação
do projeto que criminaliza a homofobia (discriminação
contra homossexuais) no país. Cerca de mil evangélicos
fizeram uma manifestação em frente à sede do Legislativo
para evitar a votação do projeto. Os manifestantes querem
ter o direito de criticar a homossexualidade, sem punições
estabelecidas na legislação.
O projeto está em discussão na CAS (Comissão
de Assuntos Sociais) do Senado, sem previsão de entrar na pauta
de votações do plenário.
"Achamos que o problema da discriminação
não atinge só os homossexuais, mas também os
negros, as mulheres, até mesmo nós evangélicos.
O projeto de lei dá poderes ditatoriais a uma minoria. Se um
funcionário for dispensado de uma empresa, por exemplo, pode
alegar homofobia e o dono da empresa vai ser preso por crime hediondo,
inafiançável. Queremos trazer um projeto para proteger
todas as minorias", disse o deputado Rodovalho (DEM-DF), da Igreja
Sara Nossa Terra.
Parte dos manifestantes pressionou seguranças
do Senado para ingressarem na Casa. Houve empurra-empurra e princípio
de tumulto em frente à entrada principal do Legislativo. O grupo
fez orações contra a aprovação do projeto,
conduzidos pelo pastor Jabes de Alencar, da Assembléia de Deus.
"Senhor, sabemos que há uma maquinação
para que esse país seja transformado numa Sodoma e Gomorra
[cidades bíblicas que teriam sido destruídas pelos excessos
cometidos por seus moradores]. Um projeto desses vai abrir as portas
do inferno", disse o pastor.
Alguns dos manifestantes conseguiram ingressar no Senado
e foram recebidos na presidência pelo senador Magno Malta (PR-ES).
Evangélico, Malta ocupa interinamente a presidência uma
vez que o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) está fora de Brasília.
O pastor Silas Malafaia, da Assembléia de Deus, entregou um documento
para Malta contra a aprovação do projeto. "Esse projeto
de livre expressão sexual abre as portas para a pedofilia. É
uma afronta à Constituição e à família",
disse o pastor.
O deputado Miguel Martini (PHS-MG), que integra a frente
parlamentar em defesa da família e da vida, disse que o projeto
quer "calar a boca" dos cristãos contrários
à homossexualidade.
"Nós amamos os homossexuais, porque são
nossos irmãos, mas não amamos o "homossexualismo'.
É um grande combate que estamos enfrentando entre luz e trevas.
Não aceitamos discriminação de ninguém,
mas não aceitamos sermos discriminados em nossas convicções
religiosas."
Críticas
Relatora do projeto no Senado, a senadora Fátima
Cleide (PT-RO) criticou a mobilização dos evangélicos
contrário à criminalização da homofobia.
"Infelizmente alguns religiosos utilizam discurso
político para tentar ludibriar as pessoas crentes e tementes
a Deus. Há que se observar aí mais uma postura de intolerância,
pois em qualquer religião há diversidade dos seres humanos",
afirmou.
O projeto, de autoria da ex-deputada Iara Bernardi (PT-SP),
considera crime o preconceito de gênero, sexo, orientação
sexual e identidade de gênero. O texto foi aprovado pela Câmara
no ano passado e tramita no Senado.
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