26/06/2008
Células-tronco para a memória
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data%5Bid_materia_boletim%5D=7974
Agência FAPESP
Células-tronco neurais poderão ajudar a restaurar a memória
de pessoas que sofreram danos cerebrais, indica pesquisa realizada na
Universidade da Califórnia em Irvine (UCI), nos Estados Unidos.
No estudo, camundongos com danos cerebrais tiveram a memória
restabelecida em níveis semelhantes aos encontrados em animais
saudáveis, depois de receber tratamento com células-tronco
por três meses. Os resultados do trabalho foram publicados na
edição desta quarta-feira (31/10/2007) da revista Journal
of Neuroscience.
Segundo os autores, as células-tronco secretaram proteínas
conhecidas como neurotrofinas, que protegeram da morte as células
vulneráveis, resgatando a memória. O sucesso do experimento
sugere que uma droga que aumente a produção dessas proteínas
poderia ser desenvolvida para restaurar a capacidade de lembrar em pacientes
com perda neuronal.
“Nosso trabalho fornece
claras evidências de que as células-tronco podem reverter
a perda de memória”, disse Frank LaFerla, professor de
neurobiologia e comportamento da UCI. “Isso nos dá esperanças
de que as células-tronco poderão, algum dia, ajudar
a restaurar a função cerebral de humanos que sofram
de uma ampla gama de doenças e danos que impedem a formação
da memória.”
LaFerla, Mathew Blurton-Jones
e Tritia Yamasaki fizeram seus experimentos utilizando um tipo de camundongo
geneticamente modificado que desenvolve lesões cerebrais em áreas
designadas pelos cientistas. Para esse estudo, eles destruíram
células do hipocampo, área do cérebro vital para
a formação da memória e na qual os neurônios
morrem com freqüência.
Para testar a memória dos animais, os pesquisadores submeteram
camundongos saudáveis e outros com danos cerebrais a testes de
reconhecimento de objetos e lugares – memórias de lugar
dependem do hipocampo, enquanto memórias de objetos dependem
mais do córtex.
No teste de lugar, os camundongos saudáveis lembravam de seus
ambientes em cerca de 70% dos casos, mas os animais com danos cerebrais
só lembravam em 40% das vezes. No teste de objeto, os animais
saudáveis lembravam dos objetos 80% das vezes, enquanto os doentes
lembravam em apenas 65% dos casos.
Os cientistas então testaram se células-tronco neurais
de um camundongo poderiam ajudar a melhorar a memória dos animais
com danos cerebrais. Para testar a hipótese, injetaram em cada
camundongo cerca de 200 mil células-tronco neurais desenhadas
para aparecer coloridas de verde sob luz ultravioleta. A cor permitiu
aos cientistas rastrear as células-tronco nos cérebros
dos animais após o transplante.
Três meses depois do implante, os camundongos foram submetidos
ao teste de reconhecimento de lugar. Os pesquisadores constataram que
os animais com danos cerebrais que receberam o tratamento lembravam
do ambiente em cerca de 70% das vezes – mesmo nível dos
camundongos saudáveis. Os que não receberam o tratamento
continuaram com limitações de memória.
Em seguida, a equipe examinou como as células-tronco coloridas
de verde se comportavam no cérebro dos animais. Foi constatado
que apenas 4% delas haviam se transformado em neurônios, indicando
que as células-tronco não melhoravam a memória
com uma simples substituição das células cerebrais
mortas.
Nos camundongos saudáveis, as células migraram para o
cérebro, mas nos animais com perda neural elas se acumularam
no hipocampo, a área do dano. Os camundongos tratados com células-tronco
apresentaram mais neurônios, quatro meses após o transplante,
que os não tratados.
“Sabemos que muito
poucas das células se tornaram neurônios. Então,
achamos que as células-tronco estão melhorando o microambiente
local do cérebro. As evidências sugerem que as células-tronco
fornecem apoio aos neurônios vulneráveis e avariados,
mantendo-os vivos e funcionais ao produzir as neurotrofinas”,
disse disse Blurton-Jones.
Se as neurotrofinas suplementares estão de fato na base da
melhora de memória, os cientistas podem tentar criar uma nova
droga que estimule a produção dessas proteínas.
“Muito do foco na
pesquisa com células-tronco tem relação com
o fato de elas se transformarem em diferentes tecidos, mas talvez
isso não seja sempre necessário. Nesse caso, não
tivemos que produzir neurônios para melhorar a memória”,
destacou Yamasaki.
O artigo de Frank LaFerla e outros
pode ser lido por assinantes do Journal of Neuroscience em www.jneurosci.org.
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