26/05/2008
Graças à ajuda de profissionais-detetives
da área de saúde, mulher reencontrou os filhos no interior
de São Paulo. Equipe faz pesquisas em cartórios e prontuários;
lei de 2001 incentiva a volta para casa de pacientes de hospitais psiquiátricos
MATHEUS PICHONELLI
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
Equipes médicas da rede pública de São
Paulo encontraram, desde 2004, famílias de pelo menos 650 pacientes
de hospitais psiquiátricos. Em muitos casos, são pessoas
que não recebiam notícias dos parentes havia anos.
Por meio de pesquisas em prontuários, cartórios e entrevistas,
médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros
coletam pistas que levam moradores de instituições a se
reencontrar com parentes após décadas de internação.
Alcione Galdino, 72, internada desde os anos 60 após sofrer surtos
psicóticos, passou 42 anos longe dos filhos. Em 1971, quando
recebeu alta de um hospital de Ribeirão Preto (SP), ninguém
foi buscá-la no local.
O marido, que se casara com outra mulher, tinha dito aos filhos que
a mãe estava morta.
"Não pode ser verdade. Minha mãe
morreu", disse Emília Inácio da Silva, 50, após
receber, em março, um telefonema do Centro de Reabilitação
de Casa Branca (SP).
Equipes da instituição, para onde Alcione
foi transferida no início do ano, já localizaram ao menos
260 famílias de pacientes desde 2000.
"Eu achava que meus filhos eram ainda pequenininhos",
disse Alcione à Folha.
Ao ser levada ao sítio onde a filha mora, em
Neves Paulista (SP), ela descobriu que era avó e bisavó.
"Minha mãe tinha depressão. Na
época ninguém entendia e só internava",
diz Emília.
Após 20 dias com os parentes, Alcione voltou
ao hospital e agora espera se aposentar e obter benefícios como
o do programa federal De Volta Para Casa - que paga R$ 240
mensais por um ano a quem que deixa o hospital - para poder se
mudar para a casa da filha.
Outro caso é o de Luís dos Santos, de aparentes 60 anos,
que passou 20 anos separado da família após ter uma crise
epilética no meio da rua e ser internado em Franco da Rocha (Grande
São Paulo).
Em seus relatos, dizia ter sido abandonado. Após contato feito
pela equipe médica de Casa Branca, reencontrou a irmã,
com quem vive em Osasco.
Segundo Sueli Pereira Pinto, diretora do hospital de Casa Branca, histórias
como a de Alcione e Luís só ocorreram porque a relação
entre pacientes e profissionais de saúde mudou. Desde 2001, com
a lei da reforma psiquiátrica, pacientes são incentivados
a voltar para casa.
Para isso foram criados os Caps (Centros de Atenção Psicossocial),
que hoje ajudam 360 mil pessoas ao ano em todo o país e prestam
atendimento clínico sem internação.
"Antes, o tratamento visava a exclusão.
Pessoas eram retiradas do convívio das famílias e ninguém
se importava com o que o paciente dizia. O recurso era a internação.
Hoje, o que o paciente diz é relevante para que ele reencontre
sua história e identidade", disse Sueli.
A Secretaria de Estado da Saúde iniciou um censo
para saber quantos pacientes psiquiátricos estão há
mais de um ano internados. O Estado tem 58 hospitais psiquiátricos
e cerca de 6.500 pacientes psiquiátricos de longa permanência
internados.
AJUDA: ASSISTENTE SOCIAL JÁ PROMOVEU
TRÊS REENCONTROS
O reencontro de Alcione Galdino com a família não ocorreria
sem a ajuda de uma das principais "detetives" do Centro de
Reabilitação de Casa Branca. A assistente social Roseli
Martins, 53, diz já ter perdido a conta de quantas famílias
ajudou a unir em 12 anos de instituição. Em ao menos três
casos, afirma, ex-moradores do centro voltaram ao convívio familiar.
No caso de Alcione, Martins fez mais de 30 ligações para
cartórios e delegacias até localizar a filha da paciente.
>>>
clique aqui para ver a lista completa de notícias
>>>
clique aqui para voltar a página inicial do site
topo