20/05/2008
A reencarnação
na Bíblia: Entrevista com Sérgio Aleixo
Onde especificamente está mencionada
a reencarnação, na Bíblia?
A palavra “reencarnação” não se encontra
nas escrituras, mas na cultura judaicocristã.
Havia o conceito de ressurreição, que, em muitos casos,
é justamente o que chamamos hoje de “reencarnação”.
Só para citarmos o caso mais inquestionável de reencarnação,
lembraríamos da afirmação de Jesus, no capítulo
11, v. 10, do Evangelho segundo São Mateus: “Ele mesmo
é o Elias que há de vir”, disse Jesus a respeito
de João Batista. Aliás, a referência correta é
Mateus, cap. 11, vv. 12 a 15.
O Gnosticismo afirmava que aressureição deveria
ser entendida de modo simbólico. Pregavam a reencarnação
antes de Jesus. Há alguma evidência de que os Apóstolos
maiores admitiam a reencarnação?
Sim. Como citamos nas considerações iniciais,
a epístola aos hebreus, em seu capítulo 11, vv. 35 e 36,
diz que “mulheres receberam seus mortos pela ressureição”.
Falando ainda sobre resgate, provação e livramento, o
que só se pode aplicar à reencarnação. A
epístola aos hebreus é tradicionalmente atribuída
a Paulo, embora se saiba hoje que é mais provável não
ser de sua autoria direta, mas com marcantes influências.
Muitos afirmam que se a reencarnação existisse, Jesus
teria sido mais claro, não deixaria sob a necessidade de interpretação.
Ou seja, teria dito sobre a reencarnação como o faz o
Espiritismo. Como você analisa este entendimento?
Aconselho a leitura atenta do Evangelho. Segundo São
João, no seu capítulo 16, v. 12, onde Jesus, pessoalmente,
afirma a seus discípulos: “Teria ainda muitas coisas que
vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora”.
Prova mais que evidente da necessidade de aguardar-se a evolução
da humanidade, a fim de que pudesse suportar certos conteúdos
que não poderiam ser franqueados ao entendimento limitado da
época.
Por que é tão difícil para a Igreja aceitar
a reencarnação?
Seu caráter extremamente subversivo aos preconceitos
étnicos, culturais e sociais vigentes, já que o rico de
hoje pode ser o pobre de amanhã; o branco de hoje pode ser o
negro de amanhã. Também, no que diz respeito aos dogmas
tradicionais, que não são articuláveis à
reencarnação. O inferno, por exemplo, deixaria de existir
na sua consideração habitual para se tornar apenas um
estado de consciência, que pode ser superado sem as mediações
institucionais humanas.
Disse o Mestre: “O Reino de Deus está dentro de
vós” - Lucas, 17:21. Podemos dizer que a humanidade entenderá
a reencarnação sem necessariamente se tornar espirita?
Sem dúvida! Vejam os casos de Brian Weiss e Patrick
Drouot, que afirmam a reencarnação por bases científicas,
sem nunca ter ouvido falar de Kardec. Vale lembrar que o Espiritismo
está fundamentado nas leis naturais que transcendem etnia, religião,
etc.
Existe algum movimento da Igreja no sentido de reconhecer a
reencarnação como fato inconteste?
O que sabemos é que eles aceitam, na alta teologia,
a reencarnação. Não sabemos, porém, se,
entre os adeptos, existe movimento nesse sentido, não sabemos.
O fato, porém, é que a verdade triunfará. Jesus,
pessoalmente, afirma a seus discípulos: “Teria ainda muitas
coisas que vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora”.
Prova mais que evidente da necessidade de aguardar-se a evolução
da humanidade, a fim de que pudesse suportar certos conteúdos
que não poderiam ser franqueados ao entendimento limitado da
época
Como podemos entender as chamadas pragas “impostas”
por Moisés, na tentativa de libertar o povo hebreu da escravidão
no Egito? Principalmente a última praga, da morte dos primogênitos?
Acreditamos que boa parte das informações bíblicas
e evangélicas, até mesmo, estão revestidas por
um discurso mitológico, o que quer dizer que representam lendas,
conteúdos do ideário popular sem nenhuma base na realidade.
Como entender a passagem da ressurreição de Lázaro,
no seu próprio corpo antes decomposto. Qual a relação
com a reencarnação que a doutrina prega?
O Espiritismo, a princípio, não aceita que Lázaro
estivesse de fato morto, ou seja, desencarnado, mas num estado cataléptico
ou letárgico. Assim, pelo poder magnético do Mestre, seu
refazimento foi possível e o espírito reassumiu as funções
orgânicas, não havendo ressurreição propriamente
dita, mas cura.
Na Oração do Credo o trecho “... Creio na
remissão dos Pecados, na ressurreição da carne
e na vida eterna”. É uma aceitação velada,
pela Igreja Católica, da reencarnação?
Acredito que sim. Ainda que necessitemos de uma certa “ginástica”
para entendermos assim, pois não é a carne que ressuscita,
ressurge, mas sim o espírito. Como, nesse fato, ele volta a revestir-se
de matéria carnal, podemos entender o dogma católico no
sentido da reencarnação, muito embora eles teimem em uma
ressurreição, digamos, “cadavérica”;
quando, na verdade, trata-se de um novo corpo assumido segundo a lei
imutável da reprodução das espécies, isto
é, a reencarnação.
O diálogo entre Jesus e Nicodemus não é
uma alusão à reencarnação? Fale algo a respeito
deste diálogo.
Sem dúvida é uma iniciação ao entendimento
reencarnacionista, pois que o Mestre diz: “Necessário vos
é renascerdes de novo” e complementa que deve ser um renascimento
“de água” e “de espírito”, ou
seja, é a retomada da experiência física, cuja constituição
é eminentemente líquida. Portanto, o renascer de água
(segundo o Prof. Pastorino “de água” e não
“da água”) é reencarnar e o renascer de espírito
é evoluir, progredir moralmente.
Teriamos alguma passagem no velho testamento sobre a reencarnação?
Sem dúvida! Nos próprios 10 mandamentos a reencarnação
é ensinada. Êxodo, 20:5:”Eu, o senhor, teu Deus,
sou Deus zeloso que visito a maldade dos pais nos filhos na terceira
e quarta geração”. E não “até”
a terceira e quarta geração, como traduzem deturpadamente
hoje em dia. A visita de Deus, ou seja, o cumprimento de sua lei se
dará na terceira e quarta geração porque o espírito
infrator já teve tempo, muitas vezes, de reencarnar na mesma
família. Por outra, por que Deus deixaria de lado a primeira
e segunda geração? Não há explicação
sem a reencarnação. Inclusive, somente assim entendemos
o que disse o profeta Ezequiel (18:20): ”O filho não levará
a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do filho. A justiça
do justo ficará sobre ele e a perversidade do perverso ficará
sobre este.” Assim, vemos que o confundir vingança com
justiça é algo peculiar ao homem, não a Deus. A
alma que pecar é que recebe a correção e não
outrem.
O que você aconselha ao espírita, ao lidar com
irmãos de outras crenças, no sentido da negação
da reencarnação.
Se forem evangélicos, protestantes, enfim, aconselho
aos irmãos espíritas que não deixem de argumentar
fraternalmente em termos escriturísticos através de um
estudo perseverante da Bíblia, já que não adiantará
argumentarmos em termos de ciência, pois o paradigma desses companheiros
ainda é “vale o que está escrito”.
Não teríamos, nós espíritas, argumentos
suficientes?
Quer nos parecer que os temos de sobra. O que precisamos é
estudar.
Em que época, aproximadamente, a reencarnação
passou a ser retirada dos textos bíblicos? E por que isso aconteceu?
Na verdade, ela não foi “retirada”. O que
tentam é dissimular os conteúdos. Mas, temos referências
desde o século II depois de Cristo, do próprio Orígenes,
um dos pais da Igreja: “Presentemente, é manifesto que
grandes foram os desvios sofridos pelas cópias, quer pelo descuido
de certos escribas, quer pela audácia perversa de diversos corretores,
quer pelas adições ou supressões arbitrárias.”
Portanto, vemos que esta intenção é, de fato, muito
antiga, mas restará sempre malograda.
Alguns evangélicos argumentam contra a reencarnação,
citando a parábola do rico e de Lázaro. O que tem a dizer
a respeito?
O pai Abraão, na parábola de Jesus, diz que eles tinham
Moisés e os profetas. Perguntaríamos aos irmãos
que argumentam com esta parábola: Não tinham os apóstolos
mais ainda que Moisés e os profetas o próprio Evangelho
do Cristo? No entanto, necessitaram da ressurreição do
morto mais eminente da nossa cultura. Se não vissem o triunfo
do Mestre sobre a morte, teriam sido o que foram?
A dissimulação do conteúdo bíblico
referente à reencarnação está no uso da
palavra ressurreição?
Em parte, sim! Pois a expressão grega “palinggenesia”,
segundo o Prof. Pastorino, era o termo técnico da reencarnação
entre os gregos. No entanto, São Jerônimo, geralmente,
o traduzia por regeneração. Já a palavra “ressurreição”
é a tradução da expressão grega “anastasis”
originária do verbo “anistemi”, que significa tornar
a ficar de pé, mas também “regressar”. Como
vemos, tudo é uma questão de resgate dos verdadeiros sentidos
das palavras, que assumem significados diversos ao longo dos tempos.
Nos cumpre, então, a pesquisa etmológica e, sem dúvida,
chegaremos à verdade reencarnacionista. É o que constatamos
do trabalho, por exemplo, do Prof. Pastorino.
Pelo que entendi, então, a crença que se enraizou
sobre o chamado “pecado original”, nos textos originais
referia-se à reencarnação? De fato, a Bíblia
está cheia de “ameaças” aos filhos, que pagariam
pelos “pecados” de seus pais... Na realidade, seriam as
gerações seguintes em que os mesmos espíritos,
já reencarnados, sofreriam as consequências de seus atos
e não uma transferência de débitos (que aliás
seria incompatível com a justiça divina)?
Sem dúvida alguma. É exatamente isso!
Que bibliografia aconselharia para uma leitura mais detalhada
do tema?
“A Reencarnação na Bíblia”
- Hermínio Miranda;
“Cartas a um Sacerdote” - Américo Domingos e Luis
Antonio Millecco;
“Visão Espírita da Bíblia” e “Revisão
do Cristianismo” - José Herculano Pires e
“Reencarnação: Lei da Bíblia, Lei do Evangelho,
Lei de Deus” de minha autoria.
Jesus deixa claro que João Batista é a reencarnação
de Elias.
Leia O Novo testamento, São
Mateus, cap. XVII, v, 10 a 13.
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