Resumo
O principal objetivo deste trabalho
é relatar a incidência e relevância sociológica
de experiências parapsicológicas na vida diária
de estudantes universitários brasileiros, e chamar a atenção
dos pesquisadores, especialmente dos que fazem pesquisa no Brasil, para
a promissora oportunidade que este país oferece para se fazer
estudos de campo produtivos. O presente estudo compreende a análise
de dados obtidos através da aplicação de um questionário
de 72 ítens, em parte traduzido do questionário de 46
ítens de Palmer (1979) com algumas adaptações de
acordo com a cultura brasileira. O restante do questionário compreende
27 questões da Escala de Experiências de Dissociação
(Scale Experience Dissociative), desenvolvida por
Bernstein e Putnam (1986). Essas questões também foram
traduzidas e incluídas no questionário para uma posterior
análise dos dados. Os resultados foram muito interessantes: 89,5%
dos respondentes disseram ter passado por pelo menos uma experiência
psíquica. Detalhes descritivos dos resultados do questionário
são apresentados. Em um trabalho futuro, pretendemos analisar
todos os ítens do questionário, comparando-os aos resultados
de outros questionários. Pretendemos também ampliar o
estudo para conseguir uma amostra quantitativamente significativa da
população brasileira para maiores análises.
Introdução
Diversas pesquisas de levantamento de
dados têm sido conduzidas nas últimas décadas em
Parapsicologia, entre elas Blackmore, 1984; Richards, 1990; Haight,
1979; Irwin, 1985 e 1985a; Kohr, 1980; Neppe, 1983; Thalbourne, 1981;
Thalbourne, 1985 e assim por diante. No entanto, nada do que foi publicado
até agora em matéria de levantamentos de dados inclui
a população brasileira. Embora se diga que o Brasil é
um "paraíso" em termos da freqüência de
ocorrências de fenômenos psíquicos - ou, pelos menos,
sugestão dessas ocorrências - tal característica
não foi empiricamente demonstrada antes de nosso estudo. É
por isso que sentimos que esta pesquisa é muito importante: nada
parecido foi feito antes no Brasil, nem pelos diversos pesquisadores
estrangeiros que visitaram e continuam visitando o nosso país
para estudarem as experiências psíquicas brasileiras (ex.
Patric Geisler, David Hess, Patrice Keane, Stanley Krippner e William
Roll), nem por pesquisadores brasileiros. Através de nosso estudos,
esperamos encorajar pesquisadores, especialmente os brasileiros, a iniciarem
novos projetos de pesquisa parapsicológica no Brasil.
Neste trabalho, queremos demonstrar
a análise da incidência e importância dos fenômenos
psíquicos na vida diária de estudantes universitários
brasileiros. Este é o primeiro estágio de um estudo mais
completo, que consiste na análise de alguns dados que foram colhidos
pela aplicação de um questionário de 72 ítens.
Pretendemos analisar todos os ítens do questionário no
futuro e ampliar a significação estatística da
amostra de forma que se torne uma amostra quantitativamente representativa
da população brasileira em geral.
Método
O presente estudo consistiu na administração
e análise de 181 questionários a estudantes da Faculdade
Anhembi Morumbi (São Paulo, SP, Brasil). O questionário
consistia em 72 ítens, sendo 45 ítens traduzidos do questionário
de Palmer (1979) e os outros 27 ítens tomados da Escala de Experiências
Dissociativas (Dissociative Experience Scale ou DES, 1986), incluidas
no questinário para uma análise posterior. (Na verdade,
o DES é composto de 28 ítens, mas a cópia que conseguimos
apresentava apenas 27. Descobrimos o erro somente após os questionários
terem sido administrados. Conseqüentemente, não pudemos
incluir o ítem que faltava no questionário.)
As questões da escala de dissociação
foram traduzidas sem nenhuma modificação. Algumas questões
do questionário de Palmer (2, 11, 36, 41, 42, 43 e 44) foram
traduzidas e adaptadas à cultura brasileira. Uma questão
foi propositadamente omitida (45). Não comentaremos aqui a respeito
da adaptação de algumas outras questões porque
estas não foram analisadas para o presente trabalho.
Neste estudo preliminar, focalizamos
nossa atenção às respostas das questões
1, 3, 11, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 26, 27, 28, 29, 30, 34, 35, 39 e 44
porque essas questões estão centradas na incidência
e importância das experiências psi na vida diária.
Selecionamos as questões que foram caracterizadas por Palmer
como "IA" e algumas das questões categorizadas por
ele como "IB". A categoria "IA" envolviam "experiências
que, se válidas, por definição envolvem psi, isto
é, ESP ou PK. Essas experiências incluem experiências
de ESP em vigília, sonhos contendo ESP, o fato de ser um agente
da experiência ESP de alguém, e a atividade poltergeist
(RSPK)" (Palmer, 1979). A categoria "IB" envolve "experiências
que não são parapsicológicas como tais, mas são
do interesse dos parapsicólogos porque podem propiciar um contexto
para efeitos ESP ou PK" (Palmer, 1979). Incluímos as questões
"IB" que englobavam experiências fora do corpo, aparições,
assombrações e "memórias" de vidas passadas,
porque nessas questões as relações dessas experiências
com psi foram explicitamente exploradas.
A amostra
a) Seleção da amostra
Decidimos administrar o questionário
a estudantes da Faculdade Anhembi Morumbi porque trabalhamos nessa instituição.
Uma das coordenadoras dos cursos da área de Ciências Humanas
conseguiu a colaboração de cinco professores para a aplicação
do questionário. Esses professores lecionam em sete classes,
cujos estudantes compreendem o nosso grupo de respondentes. Cinco dessas
classes pertencem ao período noturno e duas ao período
matutino. Ao todo, 181 estudantes participaram da pesquisa. Decidimos
não aplicar o questionário às classes em que lecionamos
para minimizar qualquer influência potencial de nosso relacionamento
com os respondentes.
b) Características dos estudantes respondentes
Entre os 181 estudantes respondentes, 21 eram homens e 160 mulheres.
Suas idades variavam de 18 a 47 anos. 62,4% tinham entre 18 e 25 anos
e 37,6% tinham entre 26 e 47 anos. Quanto à religião,
61,5% dos estudantes eram católicos, 15% eram espíritas
kardecistas, 7% eram protestantes, 3% umbandistas, 3% disseram ter algum
tipo de crença oriental, 3% eram agnósticos ou ateus e
7% indicaram ter outros tipos de crença.
Procedimento
Em primeiro lugar, obtivemos permissão
da coordenadora dos cursos de Ciências Humanas da Faculdade Anhembi
Morumbi para aplicar os questionários aos estudantes, se possível,
durante o período de aulas. No dia 7 de março de 1994,
o questionário foi aplicado aos estudantes durante o período
costumeiro de aulas, de acordo com o horário de aulas dos professores
que colabararam.
Antes de começarmos a distribuir
os questionários aos estudantes, enfatizamos que eles poderiam
examinar o questionário e decidir se o responderiam ou não.
Nossa intenção era obter, pelo menos, 200 questionários
preenchidos, mas dos 214 estudantes que estavam matriculados para os
cursos em questão, 11 decidiram não responder o questionário
e 22 estavam ausentes. (Os estudantes não foram previamente informados
dos planos de aplicação do questionário.) Aproximadamente
95% dos 192 estudantes que foram convidados a participarem do levantamento
de dados responderam o questionário. Não convidamos outros
estudantes para tomar parte na pesquisa para completar o número
pretendido de 200 respondentes porque decidimos aplicar o questionário
apenas às classes para as quais obtivemos permissão para
fazê-lo. Cada estudante recebeu um questionário e uma folha
de respostas.
Análise dos dados
As respostas foram transferidas para o Excel 4.0 For
Windows para análise estatística.
Descrição dos resultados
a) Incidência
a.1- Experiência psi
a.1.1- Experiência de ESP em estado de vigília.
Questão: "Você já teve, enquanto
acordado(a), um forte sentimento, impressão ou 'visão'
de que um fato inesperado tivesse acontecido, estava acontecendo ou
iria acontecer e soube, mais tarde, da ocorrência desse fato?"
47% dos respondentes relataram ter tido experiências
de ESP em estado de vigília. Entre esses respondentes (47%):
81% disseram ter mais de uma experiência desse tipo; 71% disseram
ter obtido informações através de alucinações;
65% dessas experiências tiveram eventos trágicos como conteúdo;
65% dessas experiências envolviam membros da família dos
respondentes; 61% dos respondentes que relataram essas experiências
tinham contado a alguém sobre elas "antes de saberam sobre
o evento por meios normais" , o que torna esses casos potencialmente
verificáveis; e 83% relatou que o evento ou a informação
ocorreu em um período de 24 horas antes ou depois da experiência.
a.1.2- Sonhos contendo ESP
Questão: "Você já teve um sonho
bem claro e específico que se combinou com algum fato ocorrido
antes, durante ou depois do momento em que você estava sonhando,
sem que você tivesse conhecimento do fato previamente ou não
estivesse esperando que aquilo acontecesse?"
A maiorida dos respondentes (64%) relatou que passaram
pela experiência de terem sonhos contendo ESP. Dentre esses respondentes
(64%): 92% disse ter tido mais de uma experiência desse tipo;
97% relataram que esses sonhos eram mais vívidos do que os sonhos
comuns; a maioria das informações via ESP obtidas nesses
sonhos (71%) estava relacionada a eventos trágicos; 75% disseram
que a informação do sonho envolvia membros da família;
83% disseram que a informação dada no sonho se relacionava
com eventos que ocorreram num espaço de 24 horas antes ou depois
da experiência, semelhante às respostas da questão
sobre ESP em vigília; 63% disseram ter contado esses sonhos "ESP"
a alguém antes que os eventos sonhados tivessem realmente acontecido.
a.1.3- Influência por ESP
Questão: "Alguém já lhe disse
ter tido um sonho, "visão" ou intuição
que parecia conter uma informação sobre um fato envolvendo
você, sendo que tal informação não poderia
ter sido adquirida por nenhuma via 'normal' ou convencional?"
63% dos respondentes relataram que foram fontes de informação
via ESP em sonho, 'visão' ou intuição de terceiros.
Dentre esses respondentes (63%): 93% disseram ter tido mais de uma experiência
desse tipo; 74% disseram ter sentido uma forte emoção
durante a experiência; 52% relataram que estavam pensando na outra
pessoa durante a experiência; e 38% relataram que a experiência
envolveu membros da família.
a.1.4- RSPK
Questão: "Você já viu algum
objeto se mover sem que fosse possível descobrir algum meio natural
ou físico que fosse responsável pelo movimento?"
17% de nossos respondentes relataram tais experiências
psicocinéticas. Dentre esses respondentes (17%): 75% relararam
ter tido essa experiência mais de uma vez; e 59% disseram que
uma outra pessoa esteve presente durante a experiência.
a.2- Experiências relacionadas a psi.
a.2.1- Experiências Fora do Corpo
Questão: "Você já teve alguma
experiência em que sentiu como se se deslocasse "para fora"
ou "para longe" de seu corpo físico, isto é,
sentiu que sua consciência ou que sua mente estava em algum lugar
diferente de seu corpo físico?" (Se estiver em dúvida
se teve ou não esse tipo de experiência, por favor, responda
"não".)
31% dos respondentes relataram experiências fora
do corpo. Dentre esses respondentes (31%): 63% disseram ter tido mais
de uma experiência desse tipo; 57% viram seu próprio corpo
físico; 68% tiveram a sensação de viajar para fora
do corpo; 17% relataram que foram vistos como aparições
durante suas experiências; e 19% relataram que "saíram"do
corpo por vontade própria. Mas, o dado mais relevante para nós
foi o fato de que 40% desses respondentes relataram que adquiriram informações
aparentemente através da ESP, durante a experiência fora
do corpo.
a.2.2- Aparições
Questão: "Alguma vez, enquanto estava acordado(a),
você já teve a nítida impressão de ver, ouvir
ou ser tocado por alguém ou alguma coisa, sendo que essa impressão
não parecia ser devida a nenhuma causa externa física
ou natural?" (Por favor, não inclua aqui experiências
com figuras religiosas.)
62% reportaram ter tido tais experiências. Dentre
essses respondentes (62%): 91% relataram ter tido mais de uma experiência
desse tipo; 60% relataram que "viram" alguma coisa; 81% disseram
ter ouvido alguma coisa; 57% relataram que foram tocados po alguma coisa
ou alguém; 47% relataram que as aparições pareciam
ser um membro de sua família; 35% relataram que tiveram uma experiência
com alguém que já tinha morrido; 26% relataram que outras
pessoas estavam presentes no momento da experiência. De acordo
com os objetivos deste estudo, o dado mais importante foi o fato de
que 21% daqueles que disseram ter tido esse tipo de experiência
relataram ter adquirido informações sobre acidentes ou
mortes inesperadas por intermédio da aparição.
a.2.3- Morar em uma casa assombrada.
Questão: "Você já morou em
alguma casa que você acreditava ser mal-assombrada?"
14% da amostra respondeu "sim".
a.2.4- Memórias de vidas passadas.
Questão: "Você já teve o que
parece ser a "lembrança" de uma vida anterior, ou seja,
uma "reencarnação" ?"
18% dos respondentes relataram ter tido esse tipo de
"lembrança". Dentre esses repondentes (18%): 72% relataram
que tiveram mais de uma experiência desse tipo; 66% relataram
que tais memórias apareceram durante sonhos; 27% disseram lembrar-se
de mais de uma vida; 36% disseram que se recordavam ter sido pessoas
famosas em outras vidas; 42% relataram que podiam se lembrar de detalhes
da suposta vida passada; 27% disseram que verificaram detalhes e confirmaram
sua exatidão, o que nos faz considerar a hipótese de ESP.
b) Importância social da experiência
psi.
b.1- Proteção em uma crise.
b.1.1- Salvou a si mesmo.
Questão: " Alguma das experiências
pessoais que você indicou nesta pesquisa "salvou" você
(ou poderia tê-lo salvo) de um acontecimento sério ou trágico
como, por exemplo, de uma doença, de uma crise emocional grave,
de um acidente ou da morte? "
26% responderam "sim".
b.1.2- Salvo por alguém.
Questão: "Alguma outra pessoa já
lhe contou sobre uma experiência de "aviso" que ela
tenha recebido que dizia respeito a você, que o salvou (ou poderia
tê-lo salvo) de um acontecimento sério ou trágico
como de uma doença, de uma crise emocional grave, de um acidente
ou de sua possível morte?"
27% responderam "sim".
b.1.3- Algumas de suas próprias experiências
indicadas nesta pesquisa "salvou" uma outra pessoa (ou poderia
tê-la salvo) de um acontecimento sério ou trágico,
como, por exemplo, de uma doença, de uma crise emocional grave,
de um acidente ou da morte?"
18% responderam "sim".
b.2- Mudança de atitudes.
Questão "Algumas dessas experiências
que você indicou até agora nesta pesquisa influenciou ou
mudou SIGNIFICATIVAMENTE algum de seus sentimentos ou atitudes em relação
a..."
Os dados mais significativos obtidos nas respostas a
esta questão foram aqueles relacionados à mudança
de atitudes dos respondentes quanto às suas crenças espirituais
(43% do total), seguido por aqueles que disseram ter tido uma mudança
de atitude em relação a si mesmo (35% do total).
b.3- Influência nas decisões.
Questão: "Algumas das experiências
que você indicou até aqui influenciou ou mudou alguma das
importantes decisões que você tomou em sua vida em relação
a..."
Os dados mais interessantes obtidos na resposta a esta
questão relacionam-se ao estilo de vida, como gastar o tempo,
ideais ou propósitos ou objetivos na vida (27% do total da amostra),
seguidos pela influência da experiência em decisões
sobre a escolha de ir ou não para a escola ou para a faculdade,
ou em que se especializar (25% da amostra total).
Discussão
Sentimos que o dado mais significativo
obtido foi de que 89,5% dos respondentes relataram que passaram por
algum tipo de experiência parapsicológica. Pensamos que
a alta porcentagem de pessoas que disseram ter passado por esse tipo
de experiência está relacionada especificamente às
características religiosas dos brasileiros. Por exemplo, as religiões
assim chamadas mediúnicas são muito comuns no Brasil.
O espiritismo kardecista e a umbanda são as mais conhecidas dessas
religiões. Ensina-se os kardecistas e adeptos da umbanda a entrarem
em estados alterados de consciência, estados estes que são
considerados fortes condutores de psi (Stanford,
1987). Apesar do fato de 60% de nossa amostra ter dito ser católica,
79% destes disseram acreditar que a reencarnação é
possível, provável ou uma certeza. (Ver Tabela 3.)
Essa crença na reencarnação
é uma forte evidência da influência do espiritismo
na assim chamada "religião oficial". Isto é,
é muito comum no Brasil que as pessoas tenham duas religiões:
a oficial, geralmente a católica, e uma outra que é geralmente
de natureza espiritualista. Essa adesão a duas religiões
acontece em larga escala devido ao processo de colonização
sofrido pelos brasileiros e outros povos latino-americanos, um processo
que promoveu o sincretismo religioso. (Bastide, 1940) A religião
católica foi imposta: as pessoas "aceitaram-na", mas
não abandonaram suas crenças particulares, misturando-as
com a religião oficial. Tais misturas sincréticas de religiões
foram transmitidas às novas gerações desde o colonialismo
e tornou-se uma característica fundamental da religiosidade brasileira.
Para as pessoas em geral, um(a) médium
não é apenas alguém que é um(a) espírita
e recebe mensagens de pessoas mortas ou que provoca fenômenos
físicos. O(a) médium é também alguém
que desenvolveu poderes extraordinários. Isto é, essa
pessoa é capaz de mediar entre o visível e o invisível,
entre o sagrado e o profano. Desse modo, a cultura popular valoriza
as experiências parapsicológicas como dons especiais, não
como evidência de alguma patologia.
Uma vez que há uma aceitação
social geral das habilidades psíquicas, é fácil
para os brasileiros relatarem experiências psi, além do
fato de que muitas pessoas têm sido repetidamente encorajadas
a vivenciá-las. Considerando que os experimentos têm demonstrado
que as pessoas que acreditam em ESP alcançam resultados mais
significativos do que as pessoas que não acreditam em ESP, (Schmeidler,
1964) pensamos que os aspectos culturais podem afetar a crença
das pessoas nos fenômenos parapsicológicos e, por isso,
as pessoas se tornam mais abertas a tais experiências.
Essas características das crenças
brasileiras poderiam explicar a forte importância social das experiências
que os dados demonstraram. Mais de 90% de nossos respondentes disseram
ter tido pelo menos uma experiência psi e, destes, a maioria (80%
do total) disse que a experiência ou experiências pelas
quais passaram influenciaram suas vidas ou mudaram seus sentimentos
ou atitudes frente a diversas questões e situações
importantes. Além disso, os respondentes disseram que suas experiências
salvaram-nos de algum evento negativo (26%), possibilitaram o salvamento
de uma outra pessoa (27%) ou fez com que eles mesmos fossem salvos por
alguém (18%). Essas alegações ilustram a relevância
social das experiências parapsicológicas.
Um outro ponto importante a ser observado
é a constituição de nossa amostra. Como foi visto,
160 mulheres e 21 homens responderam o questionário. Em primeiro
lugar, a preponderância de mulheres respondentes ocorreu porque
a grande maioria dos estudantes universitários é composta
por mulheres. Em segundo lugar, as classes em que os questionários
foram aplicados são dos cursos da área de Humanas, e,
no Brasil, esses cursos contam com uma maior preferência feminina.
Para verificar se a preponderância de mulheres tornaria os resultados
tendenciosos, comparamos o número de homens e mulheres separadamente
e descobrimos que a incidência e relevância das experiências
psi para cada grupo foi comparável. Isto é, dos 21 homens
respondentes, 90% disseram ter tido algum tipo de experiência
psi; e das 160 mulheres respondentes, 89% disseram o mesmo.
Ao darmos continuidade ao nosso estudo,
pretendemos aplicar o questionário a estudantes de outras áreas
a fim de verificar se a porcentagem de incidências de experiências
psíquicas assim como sua relevância social persistem.
É possível que essa amostra
seja qualitativamente representativa da população brasileira
em geral porque a faculdade escolhida (Faculdade Anhembi Morumbi) é
particular. No Brasil, em geral, as pessoas ricas é que têm
meios para estudar numa escola superior gratuita. O vestibular para
a admissão em uma universidade pública é muito
difícil e poucas pessoas podem estudar em uma boa escola particular
de forma a estarem preparadas para o vestibular. No Brasil, as escolas
públicas de 1º e 2º graus em geral são muito
pobres e o ensino não é muito bom. (Há algumas
raras exceções.) Por isso, as universidades particulares
têm uma maior variedade de pessoas de diferentes classes sociais:
os estudantes mais pobres podem conseguir bolsas de estudo e os estudantes
das classes média e alta podem pagar pelos cursos. Os dados levantados
indicaram que 43% dos respondentes pertencem à classe baixa,
36,5% à classe média e 21% à classe alta. Um outro
aspecto que pode servir de base para a idéia de que a amostra
poderia ser qualitativamente representativa da população
brasileira vem do fato de que o levantamento de dados foi feito em uma
faculdade da cidade de São Paulo. Isto é muito importante
porque a migração de outras cidades brasileiras para São
Paulo é bem grande, fazendo com que São Paulo tenha, como
população, uma mistura de pessoas de várias regiões
do país.
Pretendemos testar se esses resultados
persistem ou não em ampliações futuras de nossa
pesquisa, quando pretendemos aumentar a generalização
dos nossos dados estatisticamente, aumentando o tamanho da amostra.
Assim, teremos uma maior possibilidade de comparar os resultados brasileiros
aos levantamentos de dados feitos em outros países. Por enquanto,
podemos dizer que se os resultados persistirem, haverá a evidência
de uma maior incidência de experiências parapsicológicas
no Brasil do que em outros países nos quais os levantamentos
de dados sobre Parapsicologia têm sido feitos. Neste ponto, nossos
dados não são conclusivos. Na verdade, nossos dados constituem
o ponto de partida para um estudo mais completo da população
brasileira. Esperamos que outros pesquisadores se inspirem em nosso
estudo e que conduzam novas pesquisas na área da Parapsicologia
no Brasil.
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer a Maria
do Carmo Negrini Fagundes (Coordenadora do Curso de Letras e Secretariado
da Faculdade Anhembi Morumbi), e Maria José Gervásio,
Luiz Antonio Ferreira, Verônica Pakrauskas Totis, Irene Hirsch,
Irene da Glória Rodrigues (professores da Faculdade Anhembi Morumbi),
Joanne McMahon, PhD. (Parapsychological Foundation), Dr. John Palmer
(FRNM) e Filipe Rios por sua ajuda e encorajamento. Gostaríamos
de agradecer especialmente a Carlos Alvarado e Nancy Zingrone. Esta
pesquisa não seria possível sem a colaboração
dessas pessoas.
Referências
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*
Wellington Zangari
Diretor
Inter Psi
Grupo de Semiótica, Interconectividade e Consciência,
Centro de Estudos Peirceanos,
Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação
e Semiótica,
PUC-SP
**
Fátima Regina Machado
Diretora-Executiva do Centro de Estudos Peirceanos,
Membro do Inter Psi
Grupo de Estudos de Semiótica, Interconectividade e Consciência,
do CEPE, COS, PUC-SP.
Fonte:
http://www4.pucsp.br/pos/cos/cepe/intercon/revista/artigos/survey.htm
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