Ademir
Xavier
> Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte:
artigo de Michael Nahm (2011)

"Nesses momentos ele vive da vida
espiritual, enquanto que o corpo vive apenas da vida vegetativa;
acha-se, em parte, no estado em que se achará após
a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos
e outros Espíritos, livres ou encarnados como ele."
- A. Kardec, 'A Gênese',
Cap. 14, II
- Explicação de
alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão
espiritual ou psíquica, dupla vista, sonambulismo,
sonhos, parágrafo 23.
Em um artigo recente e muito interessante,
Michael Nahm (2011), "Reflections on the Context
of Near-Death Experiences", apresenta uma introdução
ao fenômeno de experiências de quase morte (em inglês
NDE, near death experiences) como visto pela perspectivas de fenômenos
correlacionados a NDE e que ocorrem um pouco antes, durante ou
depois dele. Tais ocorrências constituem o que Nahm chama
de 'contexto' das NDEs. Ele chama a atenção para
o fato de que muitos pesquisadores que buscam explicações
'naturalistas' para a NDE não prestam atenção
devida a tais eventos, gerando assim, explicaões incompletas.
Esse estudo é interessante pois demonstra a amplitude explanativa
da tese espiritualista que descreve o ser humano como composto
de um 'duplo': primeiro a noção filosófica
dualista de corpo e espírito e, depois, a tese espírita
de um novo corpo (perispírito) que sobrevive a morte e
que também não deve ser confundido com o Espírito.
Aqui apresentamos um resumo do
artigo de Nahm com citação de referências
contidas nesse artigo. O estudo mostra também que essas
referências modernas confirmam o que Kardec já havia
descoberto e descrito em muitos de suas obras. No que consistiria
tal contexto? O artigo analisa os seguintes fenômenos registrados
na literatura:
Modificações
corporais inexplicáveis (Unexplained Bodily Changes):
tais modificações ocorrem durante ou logo após
uma NDE. São curas ou alívios momentâneos
que trazem lucidez ao paciente que passa pela NDE. Há entretanto
relatos de modificações físicas inexplicáveis
(Pasricha, 2008) que parecem corresponder à experiências
que ocorreram durante o estágio de NDE. Há estudos
que demonstram a existência de ocorrências de marcas
corporais durante estados hipnóticos ou durante sonhos,
o que forneceria uma possível mecanismo para explicação
das marcas observadas durante NDEs.
Experiências fora do corpo
reciprocamente confirmadas (Reciprocally Confirmed OBEs During
Near-Death States), De acordo com Nahm :
Em casos típicos, uma
pessoa em um estado de NDE afirma ter visitado membros da família
à distância, pessoas que muito se deseja encontrar.
A visita ocorre por meio de uma 'experiência fora do corpo'
(OBE: em inglês 'Out-of-the-body experience). Posteriormente,
esses membros da família confirmam terem recebido uma
impressão da presença da pessoa no momento assinalado
por ela.
(Nahm, 2011, para o texto original, ver seção,
'Originais do artigo', 1)
Isso seria uma variedade de aparições
durante as crises que tem sido narradas na literatura (Fenwick,
Lovelace e Brayne, 2010) sobre eventos psíquicos. Já
em 1868 em 'A Gênese', Kardec descreveu esse tipo de ocorrência
(Nota 1). Pode-se também correlacionar tais experiências
como uma variedade dos chamados fenômenos de 'aparições
dos vivos' que foi abundantemente tratado por Kardec (Nota 2)
e outros (Gurney, Myers e Podmore, 1886). Estudos recente apontam
para ocorrência de 'comunicações pós
falecimento' (LaGrand, 1997) que seriam curtas notícias
verificados junto a familiares:
Em todos esse casos, o modo
geral de ocorrência parece ser idêntico ao das aparições
durante as crises de vivos ou pessoas quase falecidas, mas as
motivações para seu aparecimento ou as mensagens
a serem passadas são diferentes: as aparições
de crise tendem a informar a pessoa sobre a crise ou a própria
morte, enquanto que as aparições de recém
falecidos transmitem frequentemente mensagens de bem estar,
esperança ou encorajamento aos que ficaram enlutados.
(Nahm, 2011, para o texto original, ver seção
'Originais do artigo', 2)

O primeiro caso caracterizaria o que é chamado de DBV (deathbed
visions), ou visões do leito de morte. Com relação
a esses últimos, Nahm considera: (a) as DBVs trazem mensagens
consoladoras; (b) quase sempre surgem imagens de parentes falecidos
durante as DBVs; (c) as DBV compartilham de aparência semelhante
a de muitas outras 'aparições' tais como visões
de emanação de luzes; (d) Muitas DBVs são
'testemunhadas' por apenas uma pessoa, mas há casos de
várias pessoas, de forma coletiva, servirem de testemunhas
(Bozzano, 1947, Barrett,1926). Não foge de nossa memória
o Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos' sobre a 'Emancipação
da alma'. O leitor deve comparar a descrição de
Nahm com as questões # 413-418.
Existem muitos relatos durante tais aparições de
crises de encontro com pessoas falecidas (Osis e Haraldsson, 1997).
Explicações não espíritas tem dificuldade
em justificar porque isso ocorre com pessoas falecidas e não
com pessoas vivas (que, afinal, não poderiam comparecer
para um último adeus). Ao contrário, quando o paciente
deseja insistentemente se encontrar com um vivo é que ocorrem
eventos de visualização desse paciente junto aquele
parente-alvo que está vivo (o que seria uma 'aparição
de um vivo').
Fato muito interessante que também é descrito por
Nahm é quanto a ocorrência de aparições
de vivos a pacientes em estado de NDE. A princípio, poder-se-ia
imaginar que o surgimento de vivos a pacientes de NDE demonstra
o caráter fantasioso da ocorrência. Mas, Nahm descreve
que tais aparições se dão em momentos especiais,seja
quando o vivo também tem presentimentos a respeito da morte
iminente do paciente ou quando o vivo encontra-se em um estado
alterado de consciência (dormindo, acamados etc, os chamados
casos 'reciprocally confirmed', ver mais adiante). Portanto, Nahm
admite que, nesses casos, o vivo tenha se 'projetado' de alguma
forma em direção ao paciente. Além disso,
segundo Nahm:
Há inúmeros casos
registrados em que o paciente erroneamente achou que estivesse
vendo um vivo - mas tal indivíduo em questão já
estava morto. Além disso, pacientes de NDE frequentemente
tem visões de pessoas totalmente desconhecidas, o que
é algo difícil de explicar usando wishful
thinking.
(Nahm, 2011, para o texto original, ver seção
'Originais do artigo', 3)
Uma referência de casos
sobre isso é (Greyson, 2010).
Sonhos e NDEs compartilhados:
conforme descrito pelo Dr. Moody (2010), há casos de indivíduos
absolutamente sãos que têm sonhos onde experimentam
sensações e informações semelhantes
ao do paciente que passa pelo NDE. Essas experiências podem
assim ser compartilhadas, o que dificulda a explicação
de que NDE são fenômenos causados por danos cerebrais
no paciente. Como explicar as visões compartilhadas por
pessoas sãs? Conforme explica Nahm:
NDEs compartilhadas também
podem ser consideradas como ND-OBEs compartilhados, que, além
disso, incluem estágios posteriores de NDEs onde persistem
aspectos mais transcendentais. Dados esses paralelos, parece
que NDEs e sonhos (lúcidos) são experiências
que podem ser compartilhadas com outras pessoas vivas em um
tipo de espaço não físico ou mental. Nesse
contexto, é interessante ver que uma grande quantidade
de experiências psíquicas sejam reportadas a partir
de sonhos onde a morte e o morrer sejam temas predominantes,
e que muitos dos sonhos ostensivamente paranormais sejam descritos
com uma vivacidade ou intensidade que é ausente na maioria
dos sonhos ordinários.
(Nahm, 2011, para o texto original, ver seção
'Originais do artigo', 4)
Aqui "ND-OBE" são
'near death out-of-the-body experiences'. Lendo isso, não
há como não citar Kardec (Cap. 8 de 'O Livro dos
Espíritos': da emancipação da alma, o sonho
e os sonhos), Q #402:
O sono liberta a alma parcialmente
do corpo. Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no estado
em que fica permanentemente depois que morre. Tiveram sonos
inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se
desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem,
vão para junto dos seres que lhes são superiores.
Com estes viajam, conversam e se instruem. Trabalham mesmo em
obras que se lhes deparam concluídas, quando volvem,
morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta circunstância
é de molde a vos ensinar que não deveis temer
a morte, pois que todos os dias morreis, como disse um santo.
O leitor deve considerar ainda
as respostas a outras questões, como a #406 (sobre o 'sonhar
com pessoas vivas') e toda a questão #402 da qual reproduzimos
acima apenas um parágrafo.

Conclusões preliminares
Portanto, na revisão feita
por Nahm da literatura sobre o contexto de NDEs encontramos resultados
que validam parte inteiras do Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos'.
Chama a atenção que essa confirmação
não vem absolutamente da análise de fatos comuns
tais como sonhos ordinários ou experiências menos
relevantes. Ao contrário, é da análise das
anomalias, de fatos não corriqueiros tais como NDEs e ocorrências
de experiências psíquicas compartilhadas, que podemos
reunir uma grande quantidade de fatos que atestam a realidade
da 'emancipação da alma' e da natureza dual do ser
humano.
Na segunda parte desse artigo
continuaremos com a exposição comentada da revisão
de M. Nahm com os temas: ligações formais entre
NDEs, mediunidade e lembranças de vidas passadas; correspondência
entre o conteúdo de NDEs, comunicações mediúnicas
e lembranças de vidas passadas; fenômenos físicos
registrados no momento da morte; audição de músicas
não explicadas no momento da morte e memórias não
ordinárias em crianças.
Referências
Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London:
Methuen.
Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
Fenwick, P., Lovelace, H., & Brayne, S. (2007). End of life experiences
and their implications for palliative care. International Journal of
Environmental Studies, 64, 315–323.
Greyson, B (2010). Seeing deceased persons not known to have died: "Peak
in Darien" experiences. Anthropology and Humanism, 35, p. 159-171.
Gurney, E., Myers, F. W. H., & Podmore, F. (1886). Phantasms of
the Living (2 vols). London: Trübner.
LaGrand, L. (1997). After Death Communication: Final Farewells. St.
Paul, MN: Llewellyn.
Moody R. (2010), Glimpses of Eternity, New York: Guideposts.
Nahm, M (2011), Reflections on the Context of Near-Death Experiences,
Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
Osis, K., & Haraldsson, E. (1997). At the Hour of Death (third edition).
Norwalk, CT: Hastings House.
Pasricha, S. (2008). Near-death experiences in India: Prevalence and
new features. Journal of Near-Death Studies, 26, 267–282.
Notas e referências a Kardec.
1. A. Kardec, 'A Gênese', Cap. 14, II - Explicação
de alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão espiritual
ou psíquica, dupla vista, sonambulismo, sonhos, parágrafo
23:
O laço fluídico que o prende ao corpo só por ocasião
da morte se rompe definitivamente; a separação completa
somente se dá por efeito da extinção absoluta do
princípio vital. Enquanto o corpo vive, o Espírito, a
qualquer distância que esteja, é instantaneamente chamado
à sua prisão, desde que a sua presença aí
se torne necessária. Ele, então, retoma o curso da vida
exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva
das suas peregrinações uma lembrança, uma imagem
mais ou menos precisa, que constitui o sonho. Quando nada, traz delas
intuições que lhe sugerem idéias e pensamentos
novos e justificam o provérbio: A noite é conselheira.
Assim igualmente se explicam certos fenômenos
característicos do sonambulismo natural e magnético, da
catalepsia, da letargia, do êxtase, etc., e que mais não
são do que manifestações da vida espiritual. (*)
(*) Casos de letargia e de catalepsia: Revue Spirite: “Senhora
Schwabenhaus”, setembro de 1858, pág. 255; — “A
jovem cataléptica da Suábia”, janeiro de 1866, pág.
18.
Originais do artigo
1. In typical cases, a person in a near-death state claims to have visited
family members at a distance whom he or she was intensely wishing to
see. This visit was often accomplished by means of an OBE. Later, these
family members confi rm that they had perceived a corresponding impression
of this person at the time in question.
2. In these cases, the overall mode of appearing seems identical to
crisis apparitions of the living or dying, although the motivations
to appear and the messages conveyed seem different: Crisis apparitions
tend to inform the perceiver predominantly about the crisis or of death
itself, whereas apparitions of the longer-deceased convey more often
messages of their own well-being, or of hope and encouragement for the
bereaved.
3. Moreover, there are numerous cases on record in which the dying erroneously
thought they had seen apparitions of living persons - but the individuals
in question had in fact died already. In addition, patients in near-death
states often see visions of persons entirely unknown to them, a finding
difficult to explain along the lines of wishful thinking.
4. Shared NDEs could also be regarded as shared ND-OBEs - with the addition
that they include mutual experiences of later stages of NDEs featuring
more transcendental aspects. Given these parallels, it seems that NDEs
and (lucid) dreams are experiences that can be shared with other living
persons in a sort of nonphysical or mental space. In this context, it
is of interest that a large proportion of spontaneous psychic experiences
are reported from dreams, with death and dying constituting predominant
themes, and that many of these ostensibly paranormal dreams are characterized
by a vividness or an intensity missing in most ordinary dreams.
Fonte: http://eradoespirito.blogspot.com.br/2012/09/reflexoes-sobre-o-contexto-de.html
PARTE 2
Reflexões sobre o contexto
de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011)
- 2/2.

"No estado material em que vos achais,
só com o auxílio de seus invólucros semimateriais
podem os Espíritos manifestar-se. Esse invólucro
é o intermediário por meio do qual eles atuam
sobre os vossos sentidos. Sob esse envoltório é
que aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou com
outra qualquer, seja nos sonhos, seja no estado de vigília,
assim em plena luz, como na obscuridade."
A. Kardec. O Livro dos Médins, 2a parte, "Das
manifestações espíritas". Cap. VI.
Na primeira parte, discutimos
brevemente trechos do artigo de Michael Nahm (2011) sobre o contexto
de experiências de quase morte. Nesta segunda parte, comentamos
outros trechos igualmente interessantes para compor nossa análise
final do trabalho.
Relação
entre NDE, Mediunidade e CORTs: do inglês 'Case
of Reencarnation type'. Aqui o autor traça relações
aparentes que existem entre relatos de experiências de quase
morte (EQM =NDEs), fenômenos mediúnicos e eventos
de lembranças de vidas anteriores (CORT):
Por exemplo, Giovetti (1999)
descreve um caso no qual um NDEr reportou ter encontrado uma
mulher de nome Mara durante uma experiência fora do corpo.
Ela disse que ele poderia escolher entre permanecer naquele
estado ou retornar ao seu corpo. O NDEr decidiu retornar. Mais
tarde, descobriu-se que Mara era também um comunicante
regular em um grupo mediúnico e que ela tinha dado uma
comunicação independente em uma sessão
descrevendo o encontro com o NDEr.
Tal ocorrência singular
está totalmente de acordo com o estado de liberdade do
Espírito, na possibilidade de seu encontro com outros Espíritos
e de trânsito de informação de forma não
convencional, como nunca seria esperado por qualquer outro processo
que jamais admitisse a independência e comunicabilidade
dos Espíritos. Mas qual a relação com lembranças
de vidas passadas? Em outro trecho do artigo, Nahm descreve:
No contexto presente, é
relevante que várias crianças, de diferentes traços
culturais, deram descrições complementares sobre
como elas passaram o período intermediário entre
duas existências. Frequentemente tais descrições
começam dizendo que deixaram o corpo da personalidade
anterior com a morte e que perceberam cenas a partir de cima.
Algumas crianças também dizem que as pessoas presentes
próximas ao corpo não conseguiam ouvi-las ou vê-las,
embora as crianças tentassem fazer contato. Outras ainda
descrevem corretamente o que aconteceu com o corpo da personalidade
anterior, por exemplo, fornecendo informação verídica
sobre eventos do funeral (Hassler, 2011; Stevenson, 1997; Tucker,
2006).
Tais descrições
são ainda mais extraordinárias (sempre do ponto
de vista que não admite a sobrevivência e reencarnação),
pois provêm de fontes consideradas de difícil influenciação
por ideias aprendidas. Vimos como crianças também
podem fornecer relatos de experiências de quase morte (ver
post da nota 2). Aqui, Nahm considera a existência de relatos
de NDE por crianças que não experimentaram uma
NDE realmente, mas que se lembram de experiência semelhante
vivida por sua personalidade anterior. A descrição
da NDE é, portanto, indireta e fornecida a partir de uma
lembrança de uma vida anterior. Tais descrições
sancionam não só a existência integral e consistente
da personalidade após a morte como também as vidas
sucessivas.

Anúncios de nascimento e posterior confirmação:
Outra variedade de fenômeno relacionado a sonhos compartilhados,
são os casos de lembranças nos pais de visitas de
Espíritos de crianças antes de seu nascimento. Pensemos
em toda controvérsia que existe em torno da questão
do aborto e sua ética, diante de evidências de sonhos
compartilhados desse tipo em que a criança posteriormente
confirma a visita!
Mas, os casos mais típicos
de anúncios oníricos CORT não recíprocos
são bastante notáveis. Neles os futuros pais sonham
frequentemente com uma personalidade falecida que declara ser
seu interesse nascer a partir deles. Posteriormente, a criança
nascida fala de uma vida que corresponde à existência
da personalidade que apareceu durante os sonhos, sendo que a
criança pode apresentar marcas de nascença que
corresponde àquelas da personalidade anterior (por exemplo,
o caso de Necip Ünlütaskiran em Stevenson, 1997)
Um interessante caso também
é apresentado pelo Dr. Moody conforme vimos em um post
anterior (ver ref. 4).
Lucidez terminal:
Um fenômeno que tem sido observado durante eventos de EQM
é o súbito retorno à lucidez de pessoas consideradas
incapazes mentalmente ou doentes em estado avançado de
ausência de consciência nos momentos que se aproximam
da morte. Esse fenômeno pode ser chamado de lucidez
terminal. Segundo Nahm:
Presentemente, conheço
cerca de 85 casos publicados desse tipo. Eles incluem pacientes
com tumores no cérebro, demência doença
de Alzheimer, derrame, meningite, esquizofrenia e outros sem
diagnóstico médico preciso. Vários outros
casos me foram relatados por comunicação pessoal.
Os incidentes mais perplexos são aqueles em que a doença
mental é causada por degeneração ou destruição
de estruturas cerebrais no paciente tal como a doença
de Alzheimer, tumores e derrames.
Sobre esse retorno à lucidez
por alguns momentos, há ainda uma observação
perspicaz:
A lucidez inexplicável
que é mostrada por alguns pacientes pode também
ser relacionada ao estado de extraordinária claridade
mental que é reportada durante as EQMs e, como mencionado,
aos momentos de lucidez que ocorrem nas visões de leito
de morte (DBV). Guy Lyon Playfair reportou um caso de um DBV
que torna evidente esse tipo de relação (correspondência
eletrônica de 22 de Dezembro de 2009). Nesse caso, uma
paciente em estado de demência experimentou uma DBV no
dia anterior ao da sua morte. Nessa visão, a paciente
viu e reconheceu membros familiares falecidos, a saber, um irmão
e uma irmã que já haviam falecido há bastante
tempo. A visão foi tão real que a mulher pediu
a sua enfermeira, de forma surpreendente, que a servisse três
xícaras de chá. Isso, considerando que no último
ano ela era incapaz de reconhecer sequer membros da família
que viviam com ela na mesma casa.
Ou seja, há uma relação
entre a percepção de estado de grande lucidez durante
uma EQM e sua ocorrência quanto o paciente encontra-se em
um estado de doença mental. Não podemos deixar de
lembrar aqui que a lucidez terminal é comprovação
do que foi revelado no 'Livro dos Espíritos' em várias
questões desde # 371 a #378 sobre o Idiotismo e a Loucura.
Reproduzimos aqui a questão #375 do LE para comparação
(ref. 3):
375. Qual, na loucura, a situação
do Espírito?
"O Espírito, quando
em liberdade, recebe diretamente suas impressões e diretamente
exerce sua ação sobre a matéria. Encarnado,
porém, ele se encontra em condições muito
diversas e na contingência de só o fazer com o
auxílio de órgãos especiais. Altere-se
uma parte ou o conjunto de tais órgãos e eis que
se lhe interrompem, no que destes dependam, a ação
ou as impressões. Se perde os olhos, fica cego; se o
ouvido, torna-se surdo, etc. Imagina agora que seja o órgão
que preside às manifestações da inteligência
o atacado ou modificado, parcial ou inteiramente, e fácil
te será compreender que, só tendo o Espírito
a seu serviço órgãos incompletos ou alterados,
uma perturbação resultará de que ele, por
si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita consciência,
mas cujo curso não lhe está nas mãos deter."

A lucidez terminal é, portanto, um fenômeno previsto
pela teoria espírita que afirma a natureza dual do ser
humano. Evidências de lucidez terminal são fornecidas
por Nahm nas seguintes referências: (Barrett, 1926, Bozzano,
1947, Kelly, Greyson, & Kelly, 2007)
Conclusões
Comentamos abaixo algumas outros
trechos do excelente artigo de M. Nahm como conclusão deste
post. Em primeiro lugar sobre as evidências existentes para
o retorno à lucidez de pacientes terminais com doenças
mentais:
Se essas observações
forem substanciadas em investigações futuras,
elas representam problemas sérios aos modelos amplamente
aceitos para a consciência e processamento de memória.
Segundo essas, a mente humana é considerada um subproduto
de interação de disparos de neurônios. Mas,
como no caso das EQMs, somos obrigados a nos perguntar: como
pode a cognição e a memória funcionarem
sob condições severas de paralisia cerebral ou
mesmo degeneração avançada das estruturas
neuronais necessárias?
Aqui há pouco a ser comentado,
deixando claro nossa concordância com essa observação
de Nahm. Ele ainda desenvolve:
A hipótese de que uma
EQM não depende do estado da organização
orgânica no cérebro constitui-se em um modelo explicativo
capaz de lidar com o enigma sobre porque as experiências
NDE podem ser tão notavelmente similares sob condições
tão variadas de fisiologia do cérebro.
Em outras palavras, as experiências
de EQM são manifestações da parte espiritual
do ser humano e, dessa forma, manifestam-se de forma independente
do estado particular ou condição neurológica
em que se encontre o corpo (embora, sua manifestação
exige que partes inteiras do cérebro estejam profundamente
comprometidas). Nesse sentido, as observações feitas
com pacientes dementados em estado terminal são muito relevantes:
Se pacientes em estado de demência
podem subitamente reconhecer membros familiares próximos
vivos durante a lucidez terminal, outros podem muito bem reconhecer
membros familiares falecidos durante uma visão de leito
de morte ou EQM, talvez porque entrem semelhantemente em um
processo de enfraquecimento de vínculos com a matéria
física cerebral. De fato, é uma afirmação
antiga do Espiritualismo que muitas doenças mentais podem
ser revertidas ou curadas no estado desencarnado.
Como vimos, isso é corolário
do que apresentamos acima com a questão # 375 de 'O Livro
dos Espíritos'. Sobre desdobramentos empíricos das
EQM, Nahm também lembra a existência de eventos onde
múltiplas pessoas foram envolvidas simultaneamente em um
evento de EQM (Gibson, 1999), o que possibilitaria a descrição
simultânea da ocorrência entre diferentes indivíduos:
Se tais descrições
puderem ser independentemente corroboradas por participantes
diferentes em uma mesma experiência, isso forneceria um
argumento forte a favor da possibilidade de experiências
intersubjetivas durante o estado aparentemente desencarnado
do ser. A crença de que aqueles que deixam seus corpos
físicos - seja durante a vida ou durante a morte - são
capazes de ver outros Espíritos desencarnados é
parte de antigas tradições de muitas culturas
ao redor do mundo.
Experiências de quase morte
reciprocamente confirmadas, comunicações mediúnicas
que confirmam experiências de EQM, crianças que lembram
EQMs vividas pelas personalidades de uma vida anterior, pais que
sonham recorrentemente com personalidades que pedem para nascer
a partir deles e seus filhos então confirmam os sonhos
dos pais, doentes mentais que repentinamente recobram a lucidez
pouco antes da morte, pessoas afetadas por problemas neuronais
graves que subitamente recordam EQMs exibindo um estado de grande
lucidez, EQMs que relembram experiências vividas em outras
existências...
Tais são os fenômenos
desprezados e desconsiderados pelo conhecimento especializado
da medicina, casos que ocorrem talvez aos milhares todos os dias,
previstos e prescritos na lei, porque revelam a natureza real
do ser humano, alma consciente e viva dentro da grande Eternidade
que é a vida verdadeira do Espírito imortal.
Notas
1. Reflexões sobre o contexto de experiências
de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.
2. Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia)
3. A. Kardec. 'O Livro dos Espíritos'. Referência do IPEAK.
4. Palestra do Dr. Raymond Moody sobre Experiências de quase-morte
compartilhadas. (Set, 2011).
Referências
Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London:
Methuen.
Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
Gibson, A. S. (1999). Fingerprints of God. Bountiful, UT: Horizon
Giovetti P. (1999). Visions of the dead. Death-bed vision and and near
death experiences in Italy. Human Nature 1, 38-41.
Hassler D (2011). Spontanenerinnerungen kleiner kinder an ihr 'früheres
leben'. Aachen. Shaker Media.
Kelly, E. W., Greyson, B., & Kelly, E. F. (2007). Unusual experiences
near death and related phenomena. Em E. F. Kelly, E. W. Kelly, A. Crabtree,
A. Gauld, M. Grosso, & B. Greyson (Eds.), Irreducible Mind: Toward
a Psychology for the 21st Century, Lanham, MD: Rowman & Littlefi
eld, pp. 367–421.
Nahm, M (2011). Reflections on the Context of Near-Death Experiences,
Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
Stevenson I. (1997). Reincarnation and Biology. Westport. CT Praeger.
Tucker J. T.(2006). Life before life. London: Piatkus Books.
Fonte:
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produz de útil?
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Crenças Céticas XIX - Como refutar qualquer coisa
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Crenças Céticas XX - Como refutar qualquer coisa
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Crenças Céticas XXI: Será que o homem pousou na
Lua?
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Crenças Céticas XXII - Pequeno manual de falácias
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Crenças Céticas XXIII - Pequeno manual de falácias
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Crenças Céticas XXV - Comentários à argumentação
cética de um grande estudo em NDE
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Ademir
Xavier & Alexandre Fontes da Fonseca - Carlos Iglesia - moderador
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