Por do sol em Marte fotografado da cratera Gusev.
Imagem: Nasa (2005)
"To
communicate with Mars, converse with spirits."
(T. S. Elliot, 1944, 'The Four Quartets, the dry salvages",
V)
Em um
post anterior
mostramos que a existência de vida fora da Terra tornou-se uma
realidade com a descoberta de um número surpreendente de planetas
em estrelas dentro do que se costumou chamar de 'nossa galáxia'.
A existência dessa vida (do ponto de vista físico) depende
fortemente da chance de existência de planetas, fato que se
tornou fenômeno incontestável diante da prova de que
existe pelo menos um planeta em média (talvez 2) para cada
estrela da Via-Láctea. Isso caracteriza uma quantidade muito
grande de planetas (da ordem de 400 bilhões ou, talvez, 1 trilhão),
o que faz com que a chance de vida física (biológica
como a nossa) seja muito grande.
Entretanto, o assunto merece um pouco mais de atenção
para tornar mais claro o ponto de vista espírita ou, melhor
dizendo, espiritualista. A tese espiritualista é muito simples
em essência, mas resulta em consequências inimagináveis
para nossa concepção comum do mundo. Embora seja uma
ideia muito antiga, tornou-se uma ideia revolucionária para
a visão moderna materialista do mundo. Esse impacto tem sua
razão de ser, uma vez que a ciência moderna tem seus
próprios 'contrafortes' ou 'defesas' que impedem que qualquer
um se aproprie de seus princípios. Há regras para se
fazer ciência e essas regras não permitem que se extrapolem
princípios além de determinadas fronteiras.
A existência da fenomenologia
psíquica e a certeza da existência de inteligências
extracorpóreas prenuncia uma revolução ainda
maior na nossa maneira de ver o mundo. Acostumados a compreender esse
mundo apenas do ponto de vista de nossos sentidos ordinários,
os quais apenas processam informação da matéria
tangível, não somos dotados ainda de nenhum tipo de
habilidade especial capaz de apreender a parte invisível do
Universo. Que essa parte exista não há dúvida,
pelo que chegamos à conclusão de que não é
mais possível apenas confiar em nossos sentidos ordinários
para explorar o Universo.
O que é vida?
Embora façamos uso da literatura
espírita como base, o que discutiremos aqui é premissa
de qualquer tese espiritualista. A pergunta capital é: o que
é vida? Embora existam muitas definições fundamentadas
na biologia para a vida, ao analisar o problema no contexto do espiritualismo,
é preciso alargar radicalmente essa concepção.
Pois ela não apenas engloba a existência de organismos
com determinado tipo de arranjo e estrutura molecular física,
mas outros tipos de formas que existem nesse Universo paralelo postulado
pela tese espiritualista. Se existe sobrevivência, a resposta
à questão 'O que é Vida?' deve também
levar em conta esses outros tipos de existência, que não
estão sujeitos à apreensão tangível.
Logo no início de 'O Livro dos Espíritos' podemos ler
a resposta dada à questão 86, sobre a independência
entre o mundo material e o mundo 'paralelo' formado pelos Espíritos:
#86.
O mundo corporal poderia deixar de existir, ou nunca ter existido,
sem que isso alterasse a essência do mundo espírita?
“Decerto. Eles são
independentes; contudo, é incessante a correlação
entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem.”
A resposta é compreensível
do ponto de vista lógico. Se o mundo espírita dependesse
do mundo material, aquele seria uma derivação da matéria
pelo que a sobrevivência não seria possível.
Para a nossa discussão, se a vida espiritual dependesse da
vida biológica, então, para todos os propósitos,
isso equivaleria à inexistência da vida espiritual. Estabelecido
a independência dos princípios, então, como dissemos
acima, um novo Universo se estabelece. O Universo espiritual é
essencialmente composto pelos Espíritos que constituem uma
das 'forças da Natureza' (além da matéria), e
que carregam memória e inteligência. Os Espíritos
são fontes primárias de informação do
Universo, além de terem como atributo a inteligência.
Mas onde estão eles? Embora plenamente válida, essa
questão é proferida no referencial de 'espaço
ou lugar' do Universo material. Não há um 'lugar pré-definido'
nesse espaço material para o elemento inteligente, pois, como
vimos eles são independentes. Por isso, compreendemos a resposta
à questão seguinte:
#87. Ocupam os
Espíritos uma região determinada e circunscrita no
espaço?
“Estão por toda
parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Vós
os tendes de contínuo a vosso lado, observando-vos e sobre
vós atuando, sem o perceberdes, pois que os Espíritos
são uma das potências da Natureza e os instrumentos
de que Deus se serve para a execução de seus desígnios
providenciais. Nem todos, porém, vão a toda parte,
pois há regiões interditas aos menos adiantados.”
Uma vez que esses dois universos são
independentes, um não pode estar circunscrito ao outro. A independência
se expressa em não existirem limites pré-fixados de
um elemento para com o outro. Ainda mais importante, disso segue que
confusões de entendimento podem surgir ao se procurar aplicar
a um desses mundos conceitos naturalmente derivados do outro.
A analogia que podemos fazer aqui é com a vida microbiana:
por mais que usemos recursos de limpeza e esterilização,
nunca conseguiremos eliminar a vida microscópica que pulula
a nossa volta e que não conseguimos ver. Somos, portanto, obrigados
a viver em conviver com as duas realidades, embora só tenhamos
acesso a uma só.
Existe vida na Lua?

Uma
vez que nossa concepção de 'vida' é substancialmente
alterada pela tese espiritualista, não é difícil
responder à questão sobre 'a existência de vida
em outros planetas'. Há certamente vida em várias gradações
físicas (que é a busca por vida alienígena das
ciências da matéria), mas podemos falar também
em vida em outro sentido, a saber, no sentido espírita.
Assim, se nos perguntarmos, existe vida na Lua? A resposta pode ser
um sonoro 'não' se entendemos por vida a
concepção
puramente física dela
(Nota 1).
Entretanto, e quanto à existência de Espíritos?
Embora um 'sim' possa parecer pura especulação (por
causa de nosso apego à concepção de vida física),
ele é consequência direta da tese que discutimos acima.
Como o Universo dos Espíritos não depende da matéria,
eles estão por toda parte. Então, pela nossa concepção
radicalmente alargada de vida e consciência, a afirmativa positiva
é a conclusão mais lógica.
Interessante é ver que, ao longo do 'Livro dos Espíritos',
o tema foi retomado de forma consistente com os primeiros princípios
explícitos nas questões #86 e #87. Especificamente sobre
'mundos estéreis' como a Lua, encontramos a resposta à
questão #236 que reproduzimos abaixo:
236. Pela sua natureza
especial, os mundos transitórios se conservam perpetuamente
destinados aos Espíritos errantes?
“Não, a condição deles é meramente
temporária.”
a) – Esses mundos são ao mesmo tempo habitados por
seres corpóreos?
“Não; estéril é neles a superfície.
Os que os habitam de nada precisam.
A resposta confirma a 'esterilidade
física' de tais mundos, que são destinados
à determinada classe de Espíritos. Porém, confirmada
também está que a esterilidade física não
é empecilho para a atração que tais mundos representem
a determinados tipos de Espíritos.
Por mais extraordinárias que possam soar tais revelações,
todas são consequência direta da tese fundamental espírita,
a de que há sobrevivência e vida futura.
Dos OVNIs e ETs.
O leitor pode se perguntar porque
escolhemos um título com as palavras OVNIS (objetos voadores
não identificados) e ETs (do inglês, extraterrestrials)
para uma análise sobre questão da vida em outros planetas
do ponto de vista espiritualista. Nossa opinião é que
a questão sobre a existência de visitas no nosso mundo
(físico) de seres de outros planetas e mundos corre paralela
(e bem perto) à questão da sobrevivência do Espírito.
A tese da 'pluralidade dos mundos habitados' deve ser largamente aceita
por todos os espiritualistas em geral e certamente é um princípio
importante na solução da questão dos extraterrestres.
A 'descoberta' desse tipo de vida
(física) seria uma comprovação por meios usuais
(e, portanto, envolvendo a matéria tangível) de outros
tipos de vida além da nossa vida física. Esse achado
seria certamente inigualável frente a todos os outros da história
das descobertas humanas, mas não maior do que a constatação
de que, para haver vida verdadeira, não se faz necessária
a matéria. Portanto, ao se aceitar abertamente a tese espiritualista,
o campo de investigação estará muito mais aberto
à constatação de fatos nunca antes imaginados
na história humana.