A possibilidade de influenciação
espiritual é presentemente rejeitada por terapias ortodoxas
que não reconhecem a natureza independente da mente humana
de sua contraparte material. Entretanto, isso não impede
que o fenômeno esteja vastamente disseminado na população
e pode ser considerado como fonte de várias desordens mentais
e origem de vários crimes hediondos.
Já em 1861, Allan Kardec
redefiniu a obsessão como 'o domínio
de alguns Espíritos sobre certas pessoas. Uma influência
que nunca é exercida por bons Espíritos, mas sim por
aqueles de natureza inferior' (1).
Se a personalidade humana tem sua origem em um centro de forças
psicológicas conhecidas como 'Espírito' - que é,
por si mesmo, totalmente independente da matéria - o fenômeno
de obsessão espiritual pode ser bem uma das causas subjacentes
a mutas tragédias diárias, embora isso não
seja reconhecido dessa forma. Isso acontece porque somente parte
da natureza humana morre de fato. A parte mais importante, que contém
conhecimento, memória - o Ser em essência - continua
a existir, muitas vezes ignorando sua nova condição
de vida.
Apenas Espíritos podem se
comunicar com Espíritos e o processo de 'comunicação'
em si não é limitado aos fenômenos mediúnicos
que a literatura espírita descreve tão bem. Há
outras formas, desde sutis variações de humor ou aparecimento
de personas múltiplas em um corpo único, até
o comportamento mais extremo que indica infestação
da mente do doente. Esse último caso, conhecido como possessão,
foi também bem descrito por Kardec (2)
como último grau de obsessão espiritual (3).
A ideia de que algum tipo de poder
invisível externo possa controlar um humano é bem
antiga. O Novo Testamento fala sobre a 'expulsão de demônios'
(4). O assunto recebeu um tratamento
recente com uma tese do Dr. Terence J. Palmer em 2012. Intitulada
"Revised Epistemology for an Understanding of Spirit
Release Therapy Developed in accordance with the Conceptual Framework
of F. W. H. Myers" (5), ("Uma
Epistemologia Revisada para compreensão da Terapia de Liberação
de Influências Espirituais de acordo com o Arcabouço
Conceitual de F. W. H. Myers"), essa tese foi submetida
para o grau PhD na School of Theology and Religious
Studies da Universidade
do país de Gales em Bangor, Reino Unido. O trabalho tem
treze capítulos que tratam do assunto a partir da perspectiva
do eminente cientista Frederic
William Henry Myers (1843-1901). Myers
é, certamente, uma das mentes mais lúcidas da pesquisa
psíquica no Sec. XIX, alguém que sustentou a ideia
da sobrevivência seriamente. O que é chamado de 'obsessão'
pela literatura espírita do Sec. XIX é chamado de
'spirit attachment' pelo Dr. Palmers e o novo campo de psicoterapia
conhecido como SRT - Spirit Release Therapy, algo que podemos traduzir
como 'terapia de liberação de influenciação
espiritual' como mais uma opção à 'terapia
de desobsessão' (ver tese, p. 13, "What
is Spirit Release Therapy").

Capa da tese do Dr. Palmer
Alguns trechos da tese
Um curto resumo da tese pode ser
lido na p. 6, "Introduction":
A tese explora a contribuição
dada por Frederic Myers a nossa compreensão de uma das
mais profundas experiências espirituais: a possessão
de um individuo por uma entidade espiritual que pode ser percebida
como benigna ou maligna, criativa ou destrutiva, saudável
ou não. A SRT, que explicamos mais completamente abaixo,
pode ser usada como método de intervenção
para liberar o indivíduo da influência de espíritos
doentes que são frequentemente espíritos de desencarnados.
Ela é constituída por uma mistura eclética
de conceitos e procedimentos seculares e espirituais que são
independentes de modelos psiquiátricos tradicionais de
cuidados com a saúde mental ou do exorcismo religioso,
sendo complementares a eles. A experiência de um terapeuta
em SRT, junto com conceitos teóricos e métodos experimentais
de Frederic W. H. Myers, dão à possessão
e ao exorcismo uma dimensão que métodos e teorias
antropológicas, teológicas e médicas anteriores
não o fizeram.
Portanto, o estudo do Dr. Palmer
está completamente de acordo com a abordagem espírita
de 'desobsessão', que é frequentemente praticada em
muitos centros espíritas no Brasil. Por exemplo, a moderna
SRT (sempre de acordo com a abordagem de Myers) finalmente rejeita
a visão tradicional que confunde o trabalho de desobsessão
de Espíritos com qualquer coisa próxima ao "exorcismo":
SRT é
fundamentalmente diferente do exorcismo religioso, onde espíritos
são tomados como sendo do 'mal' e devem ser expulsos. A
abordagem de Willian Baldwin é solidária e terapêutica
e em contraste completo com a concepção popular
de exorcismo
(p. 17, "Difference between SRT and
Exorcism").
A referência a W. Baldwin
pode ser encontrada abaixo (6). Isso está absolutamente de
acordo também com a abordagem de Kardec (7) para a obsessão,
uma vez que os Espíritos nada mais são do que as almas
dos homens desprovidas de corpos e, portanto, não devem ser
confundidos com a visão tradicional de demônios. Com
todo o respeito que devemos às crenças tradicionais,
a ideia de uma entidade maligna e a noção de demônios
provou ser outra má interpretação de textos
bíblicos. Esse fato é de importância fundamental
para o sucesso dessa terapia no futuro, uma vez que ela abre possibilidades
de muitos procedimentos heurísticos para o problema, assim
como novas práticas frequentemente dificultadas pela postura
tradicional do exorcismo:
Enquanto
que a crença enganadora na possessão e no exorcismo
resultará sempre em métodos inapropriados de intervenção
em serviços de atendimento público ou profissional
de saúde, a compreensão alternativa do conceito
de possessão por um espírito está de acordo
com o arcabouço científico de F. W. H. Myers e resultará
em métodos mais apropriados de tratamento
(p. 11, "What is Possession and Exorcism?
)"

F. W. H. Myers.
Outro fator importante se encontra no extremo
oposto da escala de crenças, aquele que refuta a possibilidade
de influenciação espiritual, que é a situação
presente das terapias ortodoxas. De acordo com o Dr. Palmer, muitos
trabalhos de evidência demonstraram os fatos:
Junto com
a evidência científica documentada fornecida por
primeiros místicos e cientistas como Emmanuel Swedenborg
(1758), Allan Kardec (1857), Edgar Cayce (1970), William James
(1902), Frederick Myers (1903) e James Hyslop (1919), o Dr Wickland
forneceu evidências científicas em apoio à
ideia associação com os espíritos como uma
realidade que é difícil de ignorar ou refutar
(p. 22, "Dissociation and Paranoia")
e
A necessidade
de explicações científicas para as experiências
subjetivas extraordinárias, tais como múltiplas
personalidades e possessão espiritual, tornou-se um beco
sem saída pela rejeição da ideia inicial
identificada por Carl Wickland e os primeiros pesquisadores, incluindo
Frederic Myers, a saber, que o mundo espiritual existe conjuntamente
com o mundo físico (p. 27).
Todos os autores citados acima pelo
Dr. Palmer fizeram muitas contribuições ao assunto.
Entretanto, a ideia da sobrevivência da alma só foi
aceita marginalmente por terapeutas hoje em dia, embora a situação
pareça mudar no presente (ver p. 31, "Spirit
Release Today and the Future").
Os treze capítulos
da tese são divididos em quatro partes:
1. Introdução;
2. Parte I: Possessão e Exorcismo - Métodos e Teorias
(Capítulos 1 a 4);
3. Parte II: O arcabouço conceitual de Myers (Capítulos
5 a 9);
4. Parte III: O arcabouço conceitual de Myers e a ciência
moderna (Capítulos 10 a 13).
A tese mostrou que métodos
científicos podem ser aplicados ao problema das doenças
mentais à luz do princípio de obsessão espiritual
(o que, de fato, poderia resultar em uma nova era na Psiquiatria).
Isso é feito revisando-se extensivamente a contribuição
de Myer que concordamos é de grande importância:
Provavelmente,
o maior desafio para Myers e seus adeptos estava na resistência
entrincheirada da ciência convencional as suas descobertas.
Myers insistia que não era ideal que cientistas ignorassem
ou evitassem questões difíceis tais como aquelas
resultantes do sonambulismo ou automatismo só porque eles
não acreditassem na realidade do que julgavam ser 'sobrenatural'
ou 'oculto'. Os mesmos desafios se apresentam atualmente aos pesquisadores
do paranormal. Embora a possessão espiritual possa ser
considerada um fenômeno conhecido desde a mais remota antiguidade,
ele é julgado como não tendo lugar em um mundo de
alta tecnologia. Mas, a tecnologia moderna também contribuiu
para o processo de comunicação dos espíritos
com o mundo material. Exemplos de pesquisa em transcomunicação
instrumental (TCI) e comunicação instrumental de
voz (IVC) trazem evidências de que os espíritos usam
tecnologia moderna para se comunicar com pesquisadores.
(p. 40, "Myers’ Conceptual Framework
and Modern Science")
Por que a nova abordagem funciona?
Porque os homens tem uma natureza dual
e, ao se considerar a possibilidade de interação da
mente humana com personalidades desencarnadas, um
novo e nunca explorado Universo é revelado. Portanto,
a SRT tem fertilidade heurística; ela pode realmente resultar
em novos e eficientes tratamentos, enquanto que seu oposto é
uma abordagem estéril. Alguns terapeutas modernos finalmente
reconheceram que o bem estar e a saúde de seus pacientes
são mais importantes do que suas próprias crenças
acadêmicas.
No que diz respeito à tecnologia
moderna, acrescentamos que o aparecimento do Espiritualismo no Sec.
XIX parece ter sido 'preparado' em paralelo com o advento das telecomunicações,
e muitos pioneiros da comunicação sem fio eram também
estavam interessados na comunicação entre os dois
mundos.
- (ver BBC documentary "Science
and the Seance").

O que Sir O. Lodge (1851-1940),
N. Tesla (1856-1943) e T. A. Edison
(1847-1931)
têm em comum?
A 'comunicações sem fio' seria uma resposta boa,
assim como ' profundo interesse na comunicação com
o mundo espiritual'.
Esses bem feitores da humanidade foram também interessados
no Espiritualismo.
O Dr. Palmer sumariza a abordagem de Myers
na parte final de sua tese: