A morte é palavra para significar
"fim da vida", usada por aqueles que não conseguem
ver que a morte é, na verdade, "o começo da
vida" e a entrada do saguão sagrado da eternidade.
Mas, penetremos em sua visão, no que há além
do véu.
A pessoa agora agoniza no que é para ser uma morte rápida.
Observe algo em sua temperatura. Os pés estão frios;
as mãos quentes e macilentas; uma frieza pervade seus dedos.
Vejam. O que é aquilo que se acumula no ar, acima da cabeça
sobre o travesseiro? É uma emanação etérea
- um halo magnético dourado - uma atmosfera pulsante quase
auto consciente.
A temperatura do corpo agora abaixa rapidamente. A frieza se estende
algo acima, dos pés aos joelhos, das pontas dos dedos aos
cotovelos enquanto que, na mesma razão, a emanação
ascende ainda mais alto sobre a cabeça. O frio agora se
estende dos braços aos ombros, das pernas à cintura;
e a emanação, embora não mais elevada no
ar, está um pouco mais expandida, é um centro compacto
que se assemelha a um núcleo brilhante como um sol em miniatura.
O foco central brilhante é bem em verdade o cérebro
do novo organismo espiritual que se forma.
O frio da morte agora se estende aos peitos em torno do qual a
temperatura se reduz bastante. Vejam agora! A emanação
contém a mesma proporção de cada princípio
que compõe a alma - movimento, sensação vital,
éteres; essências, magnetismo vital, eletricidade
vital, instintos - e, bastante aumentada pela ascensão,
ela flutua como uma massa compacta a ocupar agora mais elevação
próxima ao teto.
Agora os pulmões pararam de respirar, o pulso se foi, o
coração não mais bate; enquanto isso, as
células do cérebro, o corpus callosum,
a medula, a coluna vertebral e os gânglios se iluminam em
contrações e expansões que pulsam de leve
e parecem governadas por si mesmas, como por um tipo de automatismo
auto-consciente. Vejam! A substância cinzenta do cérebro
pulsa em seu interior - uma pulsação lenta, discernível
e profunda - não dolorosa - como pesada mas harmoniosa
movimentação do mar.
Vejam! A emanação exaltada, obediente a suas próprias
leis imutáveis agora se alongou e adquiriu posição
em ângulo reto em relação ao corpo horizontal
mais abaixo. Observem! Vejam como o perfil de uma bela figura
humana se forma a partir da emanação. Ela prende
o que está acima à medula e ao corpus callosum
de dentro do cérebro por um cordão branco.
Você pode ver que um fio vital muito fino ainda conecta
os vórtices e as fibras centrais ao cérebro moribundo
com as extremidades inferiores da figura humana projetada na atmosfera.
Não obstante esse fio vital, que age como um condutor telegráfico
- transportando mensagens em direções opostas no
mesmo instante - é possível ver que a sombra envolvida
em emanação dourada continua quase que imperceptivelmente
a ascender.
Lá, o que se vê agora? Uma cabeça humana simetricamente
igual a outra, acima da massa e elevando-se lenta e admiravelmente
da nuvem dourada de princípios substanciais. E agora surge
o esboço de um semblante espiritual - face serena e cheia
de beleza que desafia a capacidade de descrição
das palavras. Vejam de novo! Emergem o pescoço e os belos
ombros e mais! um após outro, em rápida sucessão,
surgem todas as partes de um novo corpo, como que influenciados
ou dirigidos por uma varinha mágica, uma imagem brilhante,
totalmente natural, mas espiritual, uma perfeita cópia
do corpo físico abandonado, um reencenamento de pessoa
nas vizinhanças do céu, preparada para acompanhar
o grupo celestial de inteligências superintendentes do paraíso.
E o que foi aquilo? Em um piscar de olhos o fio telegráfico
vital foi cortado - partículas e princípios foram
imediatamente atraídos para cima e absorvidos pelo corpo
espiritual - de forma que a nova organização está
livre da gravitação terrestre, ela está instantânea
e absolutamente independente dos pesos e cuidados que tão
firmemente a prendiam à Terra. [Somente se libertam assim
na morte aqueles que agiram de forma correta. Qualquer paixão
cativante, último sentimento de dever não cumprido,
de injustiça cometida, é suficiente para manter
o espírito preso à Terra, como um navio atado por
grande âncora. Somente os puros tornam-se livres.]
Eis aqui um corpo espiritual, substancial e imortal. Semeado na
escuridão e na desonra, ele agora é colhido na beleza
e na claridade. Vejam que contraste - uma diferença muito
grande - entre um e outro. Percorram com os olhos a sala. Há
muitos amigos, parentes idosos, crianças na câmera
da morte, eles choram sem o conforto ainda que da fé cega;
enlutam-se trocando sussurros de esperança entre ouvidos
que duvidam; reúnem-se em torno do prostrado, corpo frio;
pressionam as pálpebras daqueles olhos agora cegos; em
silêncio e pesar deixam a cena; e agora outras mãos
dão início às preparações com
as quais os vivos consagram a morte.
Mas, abramos nossos olhos maiores que teremos um dia quando revestidos
pelos paramentos da imortalidade. Vejam! O novo corpo espiritual
formado - rodeado por grupo de anjos guardiões - move-se
com graça em direção às praias celestiais.
A personalidade emergida segue uma corrente vibratória
de atração magnética que notamos penetrar
no recinto e se ater ao cérebro do ressurreto enquanto
agonizava o corpo. Ela desce a partir do sensorium das inteligências
superiores - uma corrente fibrosa de luz telegráfica -
enviadas de cima, para saudar com amor e guiar com sabedoria o
recém ressuscitado. Essa corrente amorosa, alimentada por
pensamento, guia tranquilamente o recém emergido para cima
e mais além.
Por terras aveludadas e campos floridos do país celeste,
um arco de promessa eterna torna-se visível e pende, preenchendo
com beleza indescritível o oceano dos céus, a cobrir
com amor infinito as zonas imensuráveis de Além-Túmulo.