Apresentação
Durante o final de 2003 e início
de 2004 diversos e-mails encaminhados ao GEAE versavam sobre a relação
entre a Ciência e o Espiritismo. Questões
e Comentários que nos levaram a discutir o tema e buscar
uma forma de sintetizá-lo.
Desta busca nasceu este artigo, em forma de diálogo,
onde os participantes são Ademir Xavier e Alexandre Fontes
da Fonseca. A apresentação de cada um deles
se fará mais detalhadamente no início do diálogo,
mas basicamente são dois Espíritas de formação
cientifica e especialização na área da Física.
Além destes participantes diretos, tivemos também
a participação dos editores do GEAE, comentando e
ajudando no encaminhamento do diálogo. De minha parte fiz
o papel de moderador e de compilador das respostas. A ordem das
perguntas e sua organização final refletem a estruturação
em um artigo para o Boletim mas foram originariamente e-mails trocados
durante o debate.
Com o propósito de organizar o debate adotamos por regra
colocar inicialmente a questão debatida e a seguir a resposta
de cada um dos participantes, ordenadas por ordem alfabética.
As réplicas e tréplicas, quando houverem, seguirão
após as respostas originais.
Muita Paz,
Carlos Iglesia
Definição
de Escopo
Na definição
de Allan Kardec o Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência
de observação e uma doutrina filosófica.
Como ciência prática, consiste nas relações
que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia,
compreende todas as consequências morais que decorrem dessas
relações (KARDEC, 1995)
Decorre já desta definição um relacionamento
entre a metodologia de pesquisa da Doutrina Espírita e a
das ciências ordinárias, bem como uma correlação
entre seus avanços e o aperfeiçoamento da compreensão
filosófica do mundo - conceito que os filósofos alemães
celebrizaram com o nome de "Weltanschauung" (visão
de mundo) - proposta pelo Espiritismo.
Aparentemente simples estes relacionamentos tem levado defensores
e opositores da doutrina a repetidas confusões. Desde as
mais simples - como atribuir a cada nova descoberta cientifica foros
de comprovação ou reprovação de afirmações
espíritas pontuais - até as mais refinadas como as
que buscam enquadrar a ciência espírita dentro dos
estreitos limites obedecidos pela epistemologia[1] das ciências
ordinárias, esquecendo-se que o Espiritismo não só
lida com fenômenos espirituais que escapam a mensuração
direta por instrumentos materiais como também é em
parte “Revelação”.
É portanto no esclarecimento destes relacionamentos que focaremos
nossa atenção. O que se pode dizer sobre a relação
Espiritismo e Ciência ordinária? Como as descobertas
nos dois campos se relacionam e como podem ser extrapoladas de um
para outro. Qual o ferramental para estas análises e o seu
critério de validade.
Os Participantes
Uma vez que estaremos tratando de
temas bastante especializados é importante que sejam apresentados
os participantes, indicando o seu nível de conhecimento no
campo científico. Ambos prefeririam ser identificados da
forma mais singela possivel, mas neste caso em especial, precisaremos
nos ater mais as regras que seguem publicações especializadas
em ciência do que propriamente as que costumamos usar. Assim:
[Ademir] Recebeu seu PhD em Física em 1997
na Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP trabalhando com
aproximações semiclássicas a sistemas quânticos
unidimensionais e bidimensionais. Após um curto estágio
na Universidade de Freiburg in Breisgau, Alemanha, publicou vários
trabalhos em física de aceleradores com especial atenção
à otimização de anéis aceleradores de
elétrons de altas energias. Atualmente dedica-se à
pesquisa operacional, geração automática de
programação de produção, desenho de
sistemas ópticos e de RF e reconhecimento de imagens. É
membro do conselho editorial do GEAE desde 1997, com particular
interesse em epistemologia e na relação Ciência-Espiritismo.
[Alexandre] Frequenta
o centro espírita desde pequeno mas passou a se interessar
pela leitura e estudo da dotrina espírita aos 15 anos de
idade. É Físico formado pela Unicamp onde também
realiza os cursos de mestrado e doutorado. Atualmente é pós-doutorando
no Instituto de Física da USP. Já visitou como estágios
de período mais ou menos curto o Departamento de Matemática
da Universidade do Arizona, o Instituto de Física Teórica
no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e o Departamento
de Química de RUTGERS, The State University of New Jersey.
É cientista, físico, em inicio de carreira com alguns
poucos artigos publicados.
Debate
1) É importante começarmos
pela definição do que estamos discutindo, assim é
natural que a primeira pergunta seja o que é “Ciência”?
[Ademir] Uma definição popular diz
que a ciência é a parte do conhecimento que estuda
a Natureza. Uma resposta precisa, clara e definitiva é entretanto
impossível de ser feita em tão curto espaço,
requerendo conhecimentos específicos da área da filosofia
conhecida como epistemologia. Ver Boletim 300 do GEEA para maiores
explanações nessa área por Silvio S Chibeni.
A resposta na primeira frase acima
está muito longe de ser definitiva e torna-se importante
saber o que caracteriza uma determinada disciplina como tendo status
de "ciência". Isso é mais fácil de
fazer do que o contrário. A reinvidicação por
parte de muitas disciplinas (tais como biblioteconomia, história,
psicologia, estudos sociais etc) desse status tornou-se algo muito
procurado hoje em dia, dado o prestígio de que a atividade
científica - gerada pelo trabalho de ciências tais
como biologia, física, química - tem na sociedade.
O prestígio vém sobretudo (no meu entender) das conseqüências
palpáveis na vida moderna da atividade científica
tais como as inumeráveis aplicações tecnológicas,
a prevenção e cura de doenças, a projeção
de sistemas biológicos com propriedades específicas
etc.
Em geral, o que caracteriza uma ciência bem estabelecida após
atingir o estágio de maturidade é a existência
de um paradigma que coordena, direciona e estabelece a pesquisa
científica. O conceito de paradigma como princípio
organizador da atividade genuinamente científica suplanta
as concepções populares sobre a existência de
um "método científico". Mas uma imensa maioria
de pessoas (bem instruídas diga-se a verdade) ainda acredita
que toda atividade científica deve seguir rigorosamente um
método (científico) e que os resultados das pesquisas
são "rigorosamente comprovados". Assim, pelo critério
do método costuma-se desqualificar uma determinada disciplina
- mormente se é o caso de o objeto de estudo ser de observação
indireta (como veremos abaixo é o caso da Cosmologia, radioastronomia
etc.) como tendo caráter científico. O Espiritismo
- principalmente quando analisado em sua superfície e com
visão pré-concebida, também tem seu caráter
científico rejeitado, o que não é o caso.
Dentro da Doutrina Espírita podemos dizer que a atividade
das chamadas ciências ordinárias (que seguem modelos
ou paradigmas científicos bem estabelecidos) está
intimamente relacionada ao estudo do elemento material. Obviamente
que essa afirmação é válida dentro das
visões de mundo onde o Espírito é elemento
integrante da realidade. Nas visões onde esse elemento não
é reconhecido, a única realidade é a matéria
e disciplinas que pretendam estudar o elemento espiritual tem seu
reconhecimento rejeitado.
[Alexandre] Uma
definição (nao sei é popular) de "método
cientifico" é tal que diz que o conhecimento é
construído/obtido a partir dos estágios:
1) Observação da natureza
2) Proposição de um modelo teórico
3) Teste do modêlo através de experimentos
Porém, essa definição está longe de
acontecer na realidade. O que a gente vê (e faz no nosso trabalho)
é as vezes primeiro propor modêlos, depois observar
a natureza ou fazer testes através de experimentos e perceber
algo novo ou etc. A ordem acima pode ser quebrada e como o Ademir
respondeu em outras questões abaixo muitas predições
dos modelos teóricos só foram verificados experimentalmente
no futuro.
Portanto, como o Ademir escreveu acima, produzir conhecimento que
mereça o adjetivo "científico" não
requer seguir um método específico mas sim estar de
acordo com o paradigma maior que define o campo de estudo.
O que eu gostaria de acrescentar é que, independente do campo
de estudo, existe uma necessidade de verificar a descrição
da realidade que criamos, isto é, verificar o modelo teórico.
Esse é um ponto que é comum a todos os campos de estudo.
E Kardec foi muito cuidadoso com esse aspecto ao criar um forte
laço entre a codificação e os "fatos".
No item VII da introdução do Livro dos Espíritos
Kardec diz que os fatos é que dão a palavra final
sobre a realidade. Em física, os "fatos" são
verificados experimentalmente enquanto que em Cosmologia os "fatos"
são apenas observados. Mas, dentro desse critério
de verificação através dos fatos, a física,
a cosmologia e o espiritismo são legítimos.
2) Dentro da ciência, qual é a posição
da Física?
[Ademir] A física é a parte da ciência
que estuda a matéria em seu estado mais elementar e primitivo.
Essa definição também é muito limitada
e, para ser complementada satisfatoriamente, exigiria uma grande
explanação sobre os principais ramos de pesquisa da
física moderna.
O que nos parece ser relevante conhecer
a respeito do status científico da Física é
sua estruturação completamente dentro dos moldes de
paradigma. O exemplo mais marcante (e que influenciou a pesquisa
na física desde o século 17) foi o desenvolvimento
da mecânica. Rigorosamente a mecânica tem como objetivo
estudar o estado de movimento da matéria. Aqui, por "matéria"
podemos entender um simples "ponto material", ou seja,
uma abstração teórica que se consegue tomando
um objeto material de qualquer tamanho e reduzindo infinitamente
suas dimensões (termo usado aqui em sentido não próprio
da física), mantendo-se contudo inalterável sua "massa".
O estado de movimento em nosso "espaço" é
definido na mecânica por um conjunto de seis coordenadas,
três para a posição segundo um sistema de referência
preferencialmente "inercial" e mais três para o
momento ou quantidade de movimento igualmente medida nesse referencial.
Segundo a mecânica, dado uma descrição completa
das forças que atuam nesse "ponto" é possível
conhecer o estado futuro desse movimento. O conhecimento é
tanto mais preciso quanto mais preciso forem nosso conhecimento
a respeito do estado inicial. O fato é que com essas e outras
noções foi possível explicar e prever admiravelmente
uma grande quantidade de fenômenos observáveis. As
leis da mecânica para o ponto material podem ser generalizada
para distribuições arbitrárias de matéria
e, juntamente com leis complementares (tais como as leis da gravitação,
as forças de atrito etc), permitem explicar quase que a totalidade
dos fenômenos de movimento observáveis (e muito mais
complexos) tais como: fenômenos meteorológicos (uma
extensão da mecânica aos fluidos), vibração
de estruturas (teoria da elasticidade), levitação
de objetos mais pesados que ar (dinâmica de fluidos), dinâmica
dos planetas, cometas, origem do sistema solar etc.
De todos as divisões da física não é
exagero dizer que a mecânica exerceu maior influência
em outros ramos paralelos tais como os desenvolvimentos tecnológicos
nas engenharias. De olho nesse sucesso, muitas disciplinas procuram
se esforçar para atingir um nível de madureza como
atingido pela mecânica na física.
O caráter científico da mecânica vém
assim de sua estruturação na forma de um "paradigma".
Esse se confunde com as leis de movimento de Newton complementados
por leis particulares que servem para conectar o paradigma à
realidade da Natureza. A noção de paradigma é
extendida a outros ramos da física sem exceção:
eletromagnetismo, física nuclear, termodinâmica, física
estatística, mecânica quântica, óptica
etc. A noção de paradigma ou a estruturação
do conhecimento científico como um paradigma não foi
feito de caso pensado na física. Antes, desenvolveu-se de
maneira totalmente independente entre os vários campos e
pode ser inferido posteriormente pelas pesquisas em história
da ciência.
Repetimos que o paradigma é um indício muito forte
de amadurecimento de uma disciplina como científca - independentemente
do campo de estudo. Assim, se uma disciplina se dispõe a
estudar o elemento espiritual -através de suas inúmeras
manifestaçõpes - e conseguir atingir o nível
paradigmático, terá atingido maturidade científica.
Esse é o caso do Espiritismo (ver referências abaixo).
[Alexandre] Nada a acrescentar às palavras
do Ademir.
3) Dentro da Física, quais são os campos de
estudos que lidam com a física quântica e com a cosmologia?
Em que diferem seus métodos de trabalho e objetivos?
[Ademir] Mais propriamente
falando a "mecânica quântica" (sinônimo
para física quântica) é o ramo da física
que se formou como uma extensão da mecânica - é
uma mecânica de fato - mas que dispõe de um paradigma
completamente diferente da mecânica clássica. A mecânica
quântica tem como objeto de estudo os estados da matéria
em seu nível mais elementar, lidando com quantidades de movimento
ínfimas se comparadas às quantidades de movimento
associados aos fenômenos do dia-a-dia.
A cosmologia é uma área intermediária entre
a astronomia (através da astrofísica) e da física
cujo objetivo é formular modelos de universo. Diferentemente
da física, a astronomia seguiu um caminho próprio.
A astronomia é uma ciência muito mais "fenomenológica"
no sentido que tende a formular modelos que se adaptem ao máximo
ao que se observa no céu (lembremos do caso do sistema de
Ptolomeu dos planetas orbitando a Terra, inclusive o Sol).
A interdisciplinaridade entre a astronomia e a física é
algo de há muito bem estabelecido, seja através da
astrofísica ou da mecânica celeste (uma aplicação
da mecânica clássica determinista mais considerações
geométricas de transformação entre sistemas
de referência). Rigorosamente falando, do ponto de vista histórico,
a evolução da compreensão do estado de movimento
dos astros (um dos objetivos da astronomia) teve que esperar o desenvolvimento
da física, principalmente a formulação do paradigma
da mecânica. A pesquisa astronômica é independente
contudo, sendo complementada através de modelos da física.
Por exemplo, tomemos as observações de sistemas de
estrelas binários muito próximos, a busca por discos
de "acreção" adicionados os modelos para
esses discos, a descrição estatística da distribução
e propriedade das estrelas - que desenvolveu-se independentemente
da física, mas complementada por esta etc. Podemos dizer
que a pesquisa astronômica vai muito longe, mas vai muito
mais se feita em companhia da física.
A cosmologia desenvolve-se como um programa de pesquisa na forma
de proposições de modelos de universo. Ligada à
astronomia, a origem da cosmologia é muito antiga e todos
os povos desenvolveram noções cosmológicas.
Mais modernamente, a cosmologia estrutura-se seguindo paradigmas
da física tais como a relatividade geral, a mecânica
de Newton e geometria. A adequação empírica
das teorias cosmológicas é muito restrita dada a natureza
do objeto de estudo: não se podem fazer experimentos, não
é possível reproduzir os fenômenos e muito menos
controlá-los. Podemos fazer um paralelo entre a cosmologia
e a meteorologia: da mesma forma que aquela, a meteorologia sofre
da impossibilidade de se fazer experimentos, tendo-se que contentar
com a busca de modelos que representem fielmente o que é
visto, dentro de noções mais abstratas de fundamentos
que impedem a construção de modelos por mera geração
ou proposição de leis que se adicionam infinitamente.
O objetivo de uma atividade científica desse tipo é
construir modelos que sejam simples e ao mesmo tempo suficientemente
abrangentes para cobrir vasta gama de fenômenos.
Assim, se formos observar a base dos modelos dinâmicos para
descrição de fenômenos meteorológicos,
veremos que são bastante simples, fundamentados em conceitos
primitivos da dinâmica de fluidos, termodinâmica e mecânica
de Newton. A cosmologia, baseando-se em conceitos mais primitivos
da física tais como a relatividade, a dinâmica e a
geometria, propõe modelos de universo que visam descrever
o estado do universo inicial - como uma extrapolação
do que se observa hoje e, se possível, seu futuro. Não
é difícil imaginar que diante da possibilidade de
que as leis da física se alterem com o passar de muitos anos
(o que não é admitido por princípio, mas é
plausível) e de outros problemas teóricos, a descrição
do universo primitivo e do futuro do universo sofre de inúmeros
problemas, e conferem à cosmologia uma roupagem de "crença"
aparente, visto que a idéia de crença se baseia popularmente
na noção de algo que se acredita simplesmente.
Entretanto, a cosmologia enquadra-se no conceito de ciência
pois possui um paradigma: atualmente o chamado "modelo padrão"
(a despeito de problemas de adequação empírica
que surgem pela descoberta de novos fatos e disponibilidade de novas
observações), é o paradigma em uso pela cosmologia.
[Alexandre] Segundo o livro "Quantum Questions"
do filósofo Ken Wilber (Shambhala Publications, Boston 2001),
os grandes físicos (Heisenberg, Schroedinger, Planck,etc)
tinham consciência de que a física (suas teorias) se
alteram com o tempo. Inclusive, Wilber afirma que todos eles eram
ao mesmo tempo religiosos e não concordavam que a fisica
deve ser usada para explicar os fenomenos "místicos"
justamente porque a fisica do amanhã pode vir a ser bem diferente
da fisica do hoje. Wilber também menciona uma critica atual
ao livro O Tao da Fisica (Fritjof Capra) porque o modelo usado pelo
Capra (teoria do bootstrap) não é a mais aceita hoje
(que é o modelo padrão).
André Luiz, no mecanismos da mediunidade, de forma muito
interessante, ao meu ver, também menciona, como um cuidado
a se tomar, que a ciência de um século muitas vezes
é suplantada pela do século seguinte. Isso é
um cuidado básico que devemos lembrar (que o Ademir lembrou
bem).
4) É válido o uso dos métodos da fisica
em outros campos do conhecimento cientifico?
[Ademir] É importante considerar que o
"método" é uma conseqüência da
aplicação do paradigma, sendo orientado explicitamente
por ele. Como o paradigma diz respeito antes de tudo a um objeto
de estudo, não é difícil imaginar que diferentes
métodos devam ser desenvolvidos (se for o caso) para objetos
de estudos diferentes. Assim, é completamente ilícito
em princípio utilizar métodos de pesquisa empírica
da física, por exemplo, em outros campos de conhecimento
científico. O que pode-se, e é benéfico fazer,
é utilizar os conceitos de paradigma como inspiração
para o desenvolvimento de outros paradigmas apropriados ao objeto
de estudo em cada caso. Deve-se aguardar pela maturação
do conhecimento na forma da proposição de um paradigma
estável na disciplina específica a fim de se concluir
pela validade do uso dessa ou daquela metodologia. Mesmo nesse caso,
o que se desenvolve são métodos de pesquisa adequados
ao paradigma em questão, que apenas marginalmente podem ter
alguma relação com o método de inspiração
(se, de fato, pode-se falar na existência de tal "método").
A idéia de método é muito forte e inapropriada
para descrever o modo de atuar da atividade científica. Por
método entendemos uma "receita de bolo" ou algoritmo
que se fielmente seguido leva a resultados precisos e rigorosos.
Tal não é o caso na física que vimos ter a
noção de paradigma bem estruturada em seu núcleo
de pesquisa. Assim, não se pode falar rigorosamente em "métodos
de pesquisa".
[Alexandre] Aqui eu gostaria de acrescentar algo.
Existe um ponto fundamental que é preciso que ocorra quando
o objeto de estudo está na fronteira entre duas ciências
ou dois campos do conhecimento. Por exemplo, a energia de uma reação
química não pode ser algo diferente do que a física
entende por energia. A estrutura da molécula do DNA é
estudada em termos de questões físicas, matemáticas
(geometria) e química e é amplamente sabido, hoje
em dia, que a "forma" do DNA está intimamente ligada
à função biológica dentro da célula.
Hoje em dia, se reconhece que a sequência do genoma de cada
ser não define somente as proteinas que serão codificadas,
mas também o comportamento físico e químico
da mesma.
No caso do espiritismo, existe uma fronteira com as ciências,
ditas ordinárias, física, química e biologia.
Se trata da questão das influências mútuas entre
o mundo espiritual e o mundo material. Porém, essa questão
é delicadíssima e requer um rigor muito elevado para
não se criar idéias equivocadas e precipitadas. Isso
significa que mesmo, como o Ademir mencionou acima, quando for possível
usar idéias dos paradigmas da física como inspiração
na pesquisa espírita, muito cuidado e atenção
deve existir para com as definições dos conceitos
a serem empregados. Muitas vezes um conceito abstrato da teoria
quântica não pode ser diretamente usado no tópico
espírita a ser pesquisado.
5) Pelo pouco que entendo do método cientifico aplicado
a fisica, ele é próprio para condições
que se sujeitem ao controle da experimentação - dadas
as mesmas condições de controle, mesmos resultados
- como a Cosmologia se encaixa neste ponto, visto que é um
pouco dificil reproduzir eventos em escala cosmica?
[Ademir] É muito simples imaginar o controle
rigoroso em determinados objetos de pesquisa ou fenômenos.
Existem muitos disponíveis abertos ao estudo. Nesses casos,
diz-se que sob as mesmas condições de contorno (especificada
pelo controle experimental) resultados idênticos são
esperados. Mas existem fenômenso de caráter probabilístico
que não se adequam a tal esquema. Outros, como no caso da
cosmologia ou meteorologia não podem ser controlados de forma
alguma. Mais uma vez, a chave para se entender o caráter
científico de uma disciplina se prente à existência
de um paradigma bem estruturado com núcleo de princípios,
leis complementares e uma interface empírica (observacional)
bem desenvolvida. Não se trata assim de se procurar por um
método de pesquisa mas por um paradigma que oriente as pesquisas
futuras. O caráter controlável dos fenômenos
é secundário, o importante é garantir que "visão
do mundo" gerada pela aplicação do paradigma
é consistente com o que se observa seja por via direta (constatação
pelo sentido) ou pelo uso de instrumentos (de forma indireta, menos
garantida por causa das implicações no modelo do uso
de instrumentos - é necessário nesse caso uma teoria
que explique o funcionamento dos mesmos para que seu uso tenha validade).
Uma das consequências do uso de paradigmas bem estruturados
é a possibilidade de se prever antecipadamente determinados
fenômenos ou ocorrências nunca observados anteriormente.
Nesse caso, como pode-se falar em utilizar um método de experimentação
sobre fenômenos cuja ocorrência não é
cogitada? Em mecânica celeste tornou-se famosa a descoberta
do planeta Netuno, que foi "calculado" por Urbain Le Verrier
seguindo as perturbações na órbita de Urano.
Na física de partículas são abundantes os exemplos
de partículas "postuladas" e posteriormente descobertas
experimentalmente. Tais façanhas de advinhação
são consequência direta da aplicação
de paradigmas bem estruturados e que trazem em si a essência
do conhecimento científico.
[Alexandre] A questão, ao meu ver, nao é
o objeto de estudo ser reprodutível ou não, mas sim
ser observável ou não. Em outras palavras, dentro
do paradigma que rege o campo de estudo, é preciso verificar
se a realidade responde, através dos fatos, de forma coerente
com a teoria.
Tanto a física (através dos fatos reprodutíveis)
quanto a cosmologia (através das observações
astronômicas) satisfazem esse critério. E o espiritismo
também satisfaz esse critério porque podemos verificar
os ensinamentos dos espíritos em nossas atividades na casa
espirita.
6) Considerando-se a resposta da questão do que é
ciência, qual seria a posição do Espiritismo?
[Ademir] O
Espiritismo é uma ciência que tem como objeto de estudo
o elemento espiritual. A doutrina espírita em seus
fundamentos constitui o paradigma da ciência espírita.
A adequação empírica do paradigma é
feita por observação direta não necessitando
o uso de aparelhos. O uso desses últimos não é
objetivo da ciência espírita que, pelas considerações
anteriores, não precisa seguir um "método"
específico.Ver referência citada para maiores detalhes.
Alguns dos fundamentos da ciência espírita são:
a existência de Deus, do elemento espiritual (independente
da matéria e preexistente a esta), a evolução
espiritual, a pluralidade dos mundos habitados e a comunicabilidade
dos Espíritos. Toda e qualquer análise do conhecimento
espírita que não leve em consideração
esses fundamentos é parcial e incompleta.
[Alexandre] Apenas enfatizando, a observação
direta a que se refere o Ademir é a observação
dos fatos que Kardec sempre priorizou.
7) Dado que os métodos da ciência foram desenvolvidos
historicamente para lidar com grandezas materiais, como fica o trato
do espírito por ela?
[Ademir]
Dada a resposta à questão 4, é possível
concluir pela inadequação de tais métodos na
pesquisa espírita.
[Alexandre] Apenas lembrando, existe uma fronteira
de fenômenos com as ciências ordinárias onde
para eles, seria possivel uma análise ou estudo com base
nos paradigmas dessas ciências. Mas notem que isso não
significa que o espírito será o objeto de estudo nessa
fronteira. Os objetos seriam os fluídos, sua interação
com a matéria e com o corpo físico, a interação
entre o perispírito e o corpo, para dizer alguns. Como bem
afirmou o Ademir, os métodos das ciências ordinárias
não podem ser aplicados a questões como existência
da alma, leis morais, etc.
Repito que, de qualquer forma, essa fronteira é muito delicada
de se estudar, mesmo com a física moderna, que tem sido considerada
como a teoria que vai explicar Deus ou o espírito.
Notem também, que essa questão da fronteira não
significa que o Espiritismo necessite ter algum aval das outras
ciências. Como o Ademir expos a existência de um paradigma
que norteia o estudo e pesquisa dentro do espiritismo, o torna uma
ciência legítima. Então, para nós espíritas
nao há a necessidade de se comprovar o espiritismo. É
digno de se pensar se a humanidade, sim, necessita de alguma demonstração
de que algo existe além da matéria.
8) A Metapsiquica e a Parapsicologia são ciências?
[Ademir] Essa questão deve ser respondida
fazendo-se uma análise da estrutura paradigmática
dessas disciplinas. Dispõem elas de um paradigma bem estruturado
que oriente as pesquisas, que sobreviva como cultura científica
ao longo dos anos? Parece-nos que essas disciplinas se esforçam
por seguir um modelo ultrapassado de conhecimento científico,
podendo ser seguramente desqualificadas como ciências no sentido
exposto nas questões anteriores.
9) O que significa dizer que algo é
comprovado pela ciência? Quem emite esta comprovação?
[Ademir] O termo "comprovado pela ciência"
é de utilização popular e não tem paralelo
preciso na atividade científica.
Em geral significa dizer que a "ciência" - talvez
confundidada como a atividade dos cientistas ou pela opinião
deles - endossa essa ou aquela crença ou proposição.
Podemos dizer que a ciência "comprovou" que a Terra
gira em torno do Sol? Podemos dizer que, dentro das ciências,
há um ramo da física ou da astronomia que tem um modelo
muito bem sucedido onde a Terra orbita o Sol e não o oposto.
Esse modelo é a base para a crença por parte dos cientistas
de que a Terra se move em torno do Sol.
A crença popular da comprovação não
segue dessa cadeia de raciocínio: vem da autoridade conferida
aos cientistas. Como esses dizem que a Terra gira em torno do Sol,
então diz-se que a "ciência comprovou" que
a terra gira em torno do sol de fato.
Há que se separar aqui duas coisas:
(1) a estruturação do paradigma se faz em uma linguagem
específica que, em geral, está fora do alcançe
dos leigos. O paradigma em si prevê um conjunto de fenômenos
e descreve a Natureza de uma forma específica que só
é acessível ao profissional;
(2) a opinião dos cientistas. Cai-se agora em uma questão
de autoridade: quem tem mais autoridade, um astrônomo ou um
físico (na questão acima)? E se compararmos com a
opinião de um físico de partículas? E se utilizarmos
a opinião de um biólogo?
Está bastante claro que o que a ciência descreve não
pode depender da opinião dos cientistas, embora a opinião
popular se reporte explicitamente a tal opinião. Assim o
julgamento popular é bastante deficiente e, como consequência
disso, muitas "comprovações" carecem de
sentido, principalmente quando se referem a opinião de cientistas
que divergem sobre determinado assunto ou quando dizem respeito
a opinião derivada de modelos (paradigmas) que foram revistos.
[Alexandre] O Ademir separou bem as concepções
que existem quanto à expressão "comprovação
cientifíca". Em geral, as pessoas atribuem às
opinioes dos cientistas (mormente os grandes premios-Nobel) um valor
especial. De fato, não existe uma definição
precisa para “comprovação cientifica”
que possa ser apresentada numa frase.
Eu gostaria de colocar essa questão da seguinte maneira.
Quando é que um resultado de uma pesquisa qualquer pode ser
considerado como cientificamente válido? Aí entra
a questão já bem apresentada pelo Ademir sobre os
paradigmas de cada ciência. Cada paradigma define
seus métodos específicos de validação
de um resultado. Eu tenho usado a expressão "comprovação
científica" nesse sentido.
Vou dar um exemplo interessante cujos detalhes eu não domino
completamente mas a idéia é clara e está em
acordo com o que o Ademir explicou. Recentemente, os cientistas
divulgaram que o neutrino tem massa. Isto é, isso foi comprovado
cientificamente. Mas notem que ninguém pegou um punhado de
neutrinos e pôs numa balança. A forma pela qual eles
concluiram que o neutrino tem massa envolve muita teoria. Se não
me engano a medida experimental foi a contagem do número
de um determinado tipo de neutrino que, dependendo do resultado
significaria que os neutrinos tem massa, porque uma certa teoria
explica que se ele tiver massa o número de um determinado
tipo de neutrino será maior (daqueles que vem do sol).
Então aqui vemos que o paradigma determinou COMO
o experimento deveria ter sido feito para determinar se o neutrino
tem ou não massa. O experimento foi feito e a massa do neutrino
foi enfim descoberta. Houve uma comprovação científica
em termos do paradigma que dirige esse ramo da física.
Outro ponto que acabou se tornando algo quase que obrigatório
é a questão da publicação
de artigos em revistas científicas "per reviewed".
Este é um ponto delicado e discutível, mas, geralmente,
quando uma pesquisa é publicada numa revista cientifíca,
ela se torna, digamos assim, meio caminho andado rumo a ser considerada
"comprovada cientificamente". Na verdade, a publicação
confere um status de que a pesquisa foi analisada de acordo com
os métodos definidos pelo paradigma em questão. Porém,
o que a gente vê, é que ou esse artigo será
verificado por outros cientistas e citado como correto, ou outros
cientistas encontrarão erros nesse artigo e vão citá-lo
por isso em futuras pesquisas. Assim, um assunto pode ser considerado
como "comprovado" após os debates cientificos ocorridos
ao nivel das publicações (artigos), confirmando ou
refutando cada resultado. De qualquer forma, a publicação
de um artigo, mesmo que em revista de impacto menor, reflete o trabalho
de cada cientista.
Nesta história de "comprovação
cientifica" existe também dois aspectos. Um
é o trabalho puramente teórico. Este,
para ser válido, deverá satisfazer os métodos
e ferramentas teóricas previstos pelo paradigma em questão.
O segundo aspecto é a verificação
dos fatos, experimentalmente (quando isso é possivel) ou
através da observação. Notem que o Ademir mencionou
sobre grandes descobertas que primeiro foram previstas teoricamente
e, depois, foram confirmadas experimentalmente como, por exemplo,
o aspecto ondulatório do eletron e a existência do
positron (anti-partícula do eletron). Esses são grandes
exemplos mas eu gostaria de ressaltar que muitos outros exemplos
de previsões teóricas que não se confirmaram
existiram e, naturalmente, cairam no esquecimento por não
terem dado certo.
Assim, quem, ou melhor, o que determinou que uma previsão
teórica estava correta ou nao? Resposta: os fatos
(Kardec foi muito sábio nesse ponto!). Se ninguém
tivesse medido (querendo ou não) ou observado a existência
do positron, isso não teria o valor que tem hoje. Portanto,
a "comprovação" dos fatos tem um peso maior
do que uma "comprovação" puramente teórica
e é justamente o fato que dita o valor de uma teoria.
Perdoem-me a extensão, mas os detalhes ajudam a explicar
pontos importantes. Considerem o exemplo simples de um objeto que
deixamos cair no chão, a partir de uma determinada altura.
A mecânica clássica explica isso muito bem. Se eu soltar
uma bola de gude de uma altura de 1 metro a mecânica de Newton
prevê com uma precisão muito grande a posição
do centro da bola de gude em cada instante até tocar o chão.
Mas será que as mesmas equações me explicam,
também com precisão, a posição do centro
de uma folha de papel que cai da mesma altura? A resposta é
não pois, no caso do papel a força de resistência
do ar não pode ser desprezada (como foi no caso da bola de
gude). Esse tipo de consideração é muito comum
em fisica: toda hora os fisicos tentam descobrir onde eles podem
simplificar algumas equações para facilitar o estudo
de um conjunto (limitado) de fenômenos. Então, eu nao
posso usar as equações obtidas para a bola de gude
no caso do papel. Nesse caso, eu tenho que incluir a força
de resistência do ar para obter uma melhor explicação
ou predição do fenômeno. Em seguida eu pego
uma folha de papel e faço a experiência de modo a verificar
se a teoria (equações) está correta. Muitas
vezes, o experimento diz que as equações estão
erradas e torna o cientista a reformular as suas equações
levando em conta algum outro termo para tentar explicar os dados.
Porque eu escrevi isso acima? Vemos que os resultados teóricos
pertencentes a um dominio ou disciplina cientifica são subconjuntos
do conjunto maior de teorias (leis complementares) ligadas ao paradigma
dessa disciplina. Mas vemos que as leis complementares de um subconjunto
pode não valer dentro de outro subconjunto e isso precisa
estar bem claro na mente dos cientistas para não enfiarem
os pés pelas mãos, usando equações de
um campo no subconjunto errado. Esse o ponto que eu queria destacar
que eu vou comentar mais abaixo.
Agora o ponto que nos interessa de perto. Quando nós temos
uma idéia, ou tese, ou proposição, ou algum
resultado de pesquisa, precisamos utilizar os métodos específicos
da disciplina científica associada ao assunto para "comprovar",
isto é, demonstrar a validade de nossa idéia, tese,
ou resultado de pesquisa.
Essa questão se torna difícil e delicada quando um
assunto pertence a fronteira entre duas ou mais ciências.
Por exemplo, ao usarmos fisica ou matemática para explicar
certas propriedades do DNA, é preciso satisfazer tanto os
critérios e métodos dos paradigmas da fisica utilizados,
quanto aqueles da biologia e da química. Se eu for muito
específico na fisica e não prestar atenço às
informações biológicas o meu trabalho não
será aceito como válido, cientificamente.
A mesma coisa tem que valer para com as tentativas de relacionar-se
a fisica e o espiritismo. Devemos aplicar o rigor de cada
uma das ciências envolvidas (fisica e espiritismo) se quisermos
obter um resultado válido perante os paradigmas de ambas.
É preciso ter um cuidado mais que redobrado ao utilizar (ou
tentar utilizar) definições e equações
da fisica para descrever algo de ordem espiritual pois precisamos
verificar se as equações que usamos, que pertencem
a um determinado subconjunto de fenômenos fisicos, podem ser
aplicados no fenômeno espírita que pretendemos. Esse
é o ponto que é muito delicado, requer muita discussão
por nao sabermos bem o que é o mundo espiritual, ou melhor,
o que são os fluídos que o compõem? E nesse
ponto é que eu faço o meu alerta (artigo fisica quantica
I: alerta) de que não se publicou ainda as explicações
que permitirão a nós analisarmos se a idéia
ou tese proposta tem valor científico de acordo com a física
e o espiritismo.
Notem que eu não posso afirmar que elas não são
válidas. Mas sem ver a explicação delas elas
tem o mesmo valor de uma opinião (vide comentários
do Ademir sobre opinião, mesmo a de um cientista).
Uma opinião não pode ser divulgada como uma tese "comprovada".
Os leitores leigos não sabem discernir e tomam por "comprovação
científica" as afirmativas feitas pelos cientistas,
mesmo sendo eles espíritas, e mesmo tendo elas sido feitas
com a mais nobre das intenções. Todo cidadão
tem o direito de possuir e crer nas teses que quiser, nas teorias
e idéias que quiser. Mas ninguém tem o direito
de divulgá-las como verdades relativas a uma ciência
sem satisfazer os critérios e métodos determinados
pelos paradigmas da mesma. O máximo que alguém
pode fazer é divulgar sua idéia dizendo ser uma idéia
particular, uma opinião que ela acredita ser verdade, mas
que não pode ser tomada ainda como "cientificamente
comprovada" e que ela pode e deve ser analisada pelos demais
companheiros que se interessarem.
De fato, uma coisa é o que a comunidade científica
"pensa" ser o que é ciência. Outra coisa
é o que ela realmente é ou deveria ser.
O ponto central é que é necessário que as idéias
novas sejam publicadas junto com a explicação das
mesmas ou com fatos que a suportem.
Se uma idéia é puramente espírita, isto é,
pertence e está ligada apenas ao paradigma espírita
a explicação da idéia proposta só depende
dos conceitos pertencentes ao Espiritismo.
Portanto, explicações para Jesus, os espíritos,
a reencarnação, a mediunidade só dependem do
paradigma espírita e isso não está em conflito
com o conceito de ciência.
Chibenni já demonstrou que do ponto de vista filosófico
mais rigoroso, a Doutrina Espírita é uma Ciência
legítima, com seu próprio paradigma e métodos.
Os artigos do prof. Chibenni podem ser obtidos em: http://www.geocities.com/chibeni
Se a idéia é puramente ligada
a física ou à química ou à biologia,
as formas de se defender as novas idéias e pesquisas (ou
investigações) só dependem de cada uma dessas
ciências em separado.
Se uma idéia nova é o que a gente chama de interdisciplinar,
então isso significa que ela está ligada a mais de
uma ciência ao mesmo tempo. Por exemplo, o estudo da estrutura
tridimensional do DNA envolve física, biologia e química.
Então, nesses casos, as idéias e pesquisas novas devem
ser explicadas e embasadas de acordo com os paradigmas atuais de
todas as ciências envolvidas.
Por fim, o ponto onde quero chegar é que se uma idéia
nova está ligada ao mesmo tempo, ao Espiritismo e a qualquer
outra ciência básica, como a física, por exemplo,
essa idéia nova deve ser explicada de acordo tanto com o
Espiritismo quanto com a física. A idéia nova não
pode satisfazer apenas aos critérios de uma das ciências
envolvidas. Ela deve satisfazer os critérios e rigores das
duas.
No Espiritismo estamos acostumados a passar todas as mensagens recebidas
mediunicamente pelo crivo da razão, e quando não podemos
fazer essa análise, devemos passar pelo crivo do consenso
universal. Ou seja se um espírito desencarnado, não
importa quem seja ou em nome de quem esteja escrevendo, transmitir
uma mensagem sobre assunto novo, o correto é por de molho
e esperar por outras mensagens de espíritos em outros lugares
e por outros médiuns. Mas se um assunto novo é transmitido
por um "espírito encarnado" por que não
aplicar o mesmo cuidado?