Em 24.03.2013, no programa Fantástico,
da Rede Globo de Televisão, foi apresentada uma reportagem
bem interessante: “Neurocirurgião volta
do coma e se convence que há vida após a morte”,
na qual se relatou a experiência de quase-morte vivenciada
pelo neurocirurgião norte-americano Eben Alexander III
(1953- ), que foi professor de medicina na Harvard Medical School.
O que faz desse caso algo extraordinário
é o fato de que Dr. Alexander era bem cético,
antes de sua própria experiência de EQM, iniciada
em 10 de novembro de 2008, quando entrou num coma profundo,
por sete dias, causado por uma forma rara de meningite. Como
todo bom defensor da lógica científica, até
então não aceitava a Experiência de quase-morte
- EQM como fato real; ele a considerava totalmente impossível;
porém, após vivenciá-la na própria
pele, “voltou convencido de que existe vida do outro
lado” (FANTÁSTICO, 2013),
passando a ser um defensor incondicional da sua realidade. É
bem provável que seus pares não devem estar gostando
nada desta história, que, para eles, tem todo o sabor
de uma crendice popular.
Conforme a reportagem do Fantástico,
o Dr. Alexander estuda o cérebro há mais
de 25 anos; portanto, é um especialista no assunto da
mente humana, razão pela qual sua opinião merecerá
todo um cuidado especial, uma vez que seria ilógico simplesmente
negar a experiência vivida por ele. Certamente, que o
seu relato tem um peso maior, ou seja, uma maior credibilidade,
em razão do fato de que sua especialidade médica
lhe dá condições de ver o fato não
só com olhos de um cientista, mas como os de um integrante
de uma ocorrência de EQM, que o coloca à frente
de qualquer um outro especialista que ainda não tenha
vivenciado esse fenômeno. Confessa: “[…] tive
o privilégio de entender que a vida não termina
com a morte do corpo ou do cérebro, […]
(ALEXANDER, 2013, p. 16).
Na obra Uma prova do céu, na qual relata
sua experiência, Dr. Alexander deixa bem claro que “[…]
as conclusões são baseadas em uma análise
médica da minha experiência e na minha familiaridade
com os conceitos mais avançados da neurociência
e dos estudos da consciência. […]” (ALEXANDER,
2013, p. 15-16) e, um pouco mais à frente: “[…]
sei a diferença entre a fantasia e a realidade, e
posso assegurar que a experiência que estou tentando transmitir
aqui, ainda que de forma vaga e insatisfatória, foi de
longe a experiência mais real de minha vida”
(ALEXANDER,
2013, p. 47). Sua mudança foi tão radical
que teve a hombridade de afirmar: “Antigamente, eu
jamais usaria a palavra espiritual no meio de uma conversa científica.
Hoje acho que não podemos deixá-la de fora”.
(ALEXANDER, 2013, p. 84). Penitencia-se
dizendo sobre a EQM: “Lamento nunca ter levado
isso a sério, nunca ter estudado com atenção
o que meus pacientes contavam sobre suas experiências.
Eu nunca sequer tive curiosidade para ler a literatura
médica sobre o assunto”. (ALEXANDER,
2013, p. 125, grifo nosso).
Após sua experiência passou a informar-se sobre
o assunto, e foi aí que deparou com o que percebemos
em muitos “entendidos” no assunto: “Enquanto
lia as explicações 'científicas' a respeito
da EQM, eu ficava chocado com a superficialidade das análises.
[…]” (ALEXANDER, 2013, P.
141).
Bem disse o Dr. Sam Parnia (?- ): “[…] obviamente
as EQMs foram muito reais para aqueles que passaram por elas.
[…]” (PARNIA, 2008, p.
91). Por nossa vez, diríamos: Não adianta
teorizar que a pimenta arde, é preciso prová-la,
para daí se ter certeza. Não podemos também
deixar de mencionar uma das frases que Dr. Eben Alexander cita
em seu livro: “Há duas maneiras de ser enganado.
Uma é acreditar no que não é verdade; a
outra é se recusar a acreditar no que é verdade.
- Søren Kierkegaard (1813-1855)”.
Opinião sensata é a do Dr. Ebby Elahi (?- ), professor
adjunto no Mount Sinai Hospital, em Nova York; veja-se este
trecho mencionado por Sam Parnia:
A neurociência não
pode nos dizer se existe ou não uma realidade externa
atrás dos relatos das experiências de quase-morte,
e, como tal, nós simplesmente não sabemos. As
experiências são certamente 'reais' para os indivíduos
que passam por elas, mais isso é tudo o que
podemos dizer neste ponto. Da mesma forma, não
podemos refutar as afirmações das experiências
também, uma vez, que nós mesmos não passamos
por elas.
(PARNIA, 2008, p. 188, grifo
nosso).
As pesquisas da EQM iniciaram-se em 1975 com Dr. Raymond Moody
Jr, prof. De Filosofia, autor do livro Vida depois
da Vida, um best-seller. Podemos citar outros
pesquisadores e investigadores, baseando-nos na obra Relatos
verídicos. Experiências de quase-morte:
Melvin Morse (Pediatra, EQM em crianças), Manuel Domingos
(neuropsicologista), Atwatter (investigadora e escritora), Pim
vam Lommel (cardiologista), Kenneth Ring (psicólogo),
Peter Fenwick (neuropsiquiatra), Bruce Greyson (psiquiatra),
Michael Sobom (cardiologista), Stevenson (psicólogo),
Mário Simões (psiquiatra) e Víctor Rodrigues
(psicólogo) (DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 165, 167 e 180).
O professor de neurociências Dean Mobbs (?- ), da Universidade
de Columbia, em New York, E.U.A., foi a voz contrária
apresentada pelo Fantástico, que disse:
É difícil acreditar
num desligamento completo do cérebro. E que mesmo no
caso do doutor Alexander, outras áreas do cérebro
podem ter permanecido ativas, provocando as sensações
que ele descreve.
O nosso cérebro é muito bom em transformar a
realidade. Em um acidente, como um trauma na cabeça,
os caminhos do cérebro podem ser danificados, mas é
possível que ele encontre outras maneiras de identificar
os sinais que vêm de fora e criar uma nova experiência
como a da quase morte, por exemplo.
O uso de fortes analgésicos e a baixa oxigenação
do cérebro durante estados de coma podem explicar que
luzes e sons estranhos sejam percebidos pela mente.
E a sensação de estar fora do corpo já
foi induzida artificialmente em muitas pesquisas. Eu acho
que essas experiências de quase morte na realidade são
uma maneira do cérebro lidar com um trauma.
Não duvidamos de que a opinião de Moobs reflete
a de muitos outros estudiosos do corpo e da mente humanas; entretanto,
esta nos pareceu bem ultrapassada tendo em vista conclusões
de pesquisadores mais atualizados. Certamente, tem razão
o Dr. Sam Parnia, ao concluir este seu relato:
Era um programa a respeito das
experiências de quase-morte. Havia inúmeros
especialistas falando sobre o assunto, muitos dos quais apresentando
suas próprias teorias quase como “fatos”,
embora ainda não fossem comprovados. Fiquei desapontado
com isso, e achei que aquilo não era nada científico.
[...] (PARNIA, 2008, p. 25-26,
grifo nosso).
Ao que, um pouco mais à frente, completa: “[...]
Isso significa que os “especialistas” no assunto
geralmente tinham expressado mais suas visões filosóficas
do que seus objetivos científicos”. (PARNIA,
2008, p. 52).
Mostra-nos, Parnia, o grande dilema da ciência médica:
Agora minha busca por respostas
estava se tornando cada vez mais interessante. Era de fato
incrível que tantos médicos respeitados, trabalhando
com pacientes em estado praticamente terminal, tivessem tido
suas próprias EQMs. Havia realmente alguma coisa extraordinária
acontecendo... Como as pessoas conseguiam se lembrar
de detalhes de forma tão clara quando estavam sob morte
clínica durante 30 a 45 minutos? Esse era um dilema
que não poderia ser descrito tão facilmente
com nossos conceitos atuais de medicina. […]
(PARNIA, 2008, p. 106, grifo
nosso).
O Dr. Sam Parnia, apresentando suas considerações
para rebater aos que apontam a EQM como alucinação
ou coisa que o valha, cita os casos de crianças (PARNIA,
2008, p. 37-38) e pessoas congenitamente cegas, isto
é, nascidas cegas (PARNIA, 2008,
p. 54-55) que também passaram pela experiência
de quase-morte, mantendo-se dentro do padrão atualmente
estabelecido para se identificar uma EQM.
Desses dois tipos de EQM o que merece destaque é o que
ocorre com pessoas congenitamente cegas; isso porque, se a pessoa
não enxerga desde que nasceu, como o seu cérebro,
que registra os fatos que lhe são transmitidos por um
ou mais dos nossos cinco sentidos, poderia armazenar fatos,
que só são transmissíveis pelo sentido
da visão, se o participante da EQM jamais enxergou? Logo,
como pode o cérebro transmitir sensações
só perceptíveis pelo sentido físico da
visão, se ele nunca as recebeu? Principalmente para descrever
fatos ocorridos no plano físico, repetimos, se o participante
da EQM, nunca enxergou?... Isso, certamente, nos remete a outras
vidas, como única forma de se explicar tais casos; mas
como isto é outro assunto, sigamos em frente.
E quanto a outros fatores geralmente apresentados, o Dr. Sam
Parnia diz:
[…] Não
há evidências para fundamentar o papel das drogas,
falta de oxigênio, excesso de dióxido de carbono,
ou potássio, ou sódio como causa das EQMS.
Curiosamente, os níveis de oxigênio eram maiores
em pacientes com EQM do que naqueles sem, mas tínhamos
de ser bastante cuidadosos ao interpretar isso, já
que tínhamos uma amostra de pessoas com EQM muito menor
do que sem. […] (PARNIA, 2008,
p. 110, grifo nosso).
Temos ainda para apresentar esta
confissão de Parnia:
Eu sempre fiquei um tanto
desapontado com colegas cientistas que declaravam publicamente
que as EQMs eram simplesmente alucinações resultantes
da falta de oxigênio e outros processos químicos
dentro do cérebro. Embora sempre pensasse
que a razão por trás deste argumento fosse bastante
eloquente, nunca houve evidências para apoiá-la.
Portanto, deveria ter sido discutida como uma possibilidade
ao invés de configurar um fato científico verdadeiro.
[…]
Isto é uma maneira bem simplista de se olhar
um assunto complexo que precisa de mais esclarecimentos e
explicações. […] (PARNIA|,
2008, p. 165-166, grifo nosso).
Estudos feitos por ele, com pessoas que sofreram parada cardíaca,
trazem significativo apoio à tese de que a consciência
sobrevive à morte clínica:
[…] Em prática clínica,
a morte geralmente é diagnosticada quando o
coração pára de bater, a respiração
e o tronco do cérebro (a área do cérebro
responsável pela manutenção da vida)
das pessoas cessam suas atividades, paralisando
o funcionamento do restante do cérebro. […].
(PARNIA, 2008, p. 58, grifo nosso).
[…] Pesquisas feitas por médicos mostraram que
as células do cérebro começam a sofrer
danos em questão de minutos da perda de fluxo sanguíneo,
e, se ela não é restaurada em cerca de 15 a
20 minutos, a perda de células se tornam extremamente
extensa. […]. (PARNIA, 2008, p.
114).
Não sabemos como isto acontece, mas sabemos
com certeza de que ter estas experiências implica que
estas pessoas possuem atividades da mente e consciência
durante a parada cardíaca. […] Isso
fez nascer paradoxalmente (não tão insignificante)
a possibilidade de que a mente humana e a consciência
podem continuar a funcionar durante a parada cardíaca,
por exemplo, quando o cérebro não está
funcionando e quando o critério clínico de morte
foram encontrados.
[…] Se ambos os conjuntos de dados estiverem
absolutamente corretos, então isto iria sugerir que
a mente humana e a consciência continuam ativas mesmo
quando o cérebro não funciona ou quando atingimos
a morte clínica. Isto então implicaria
que muitas de nossas pressuposições sobre o
relacionamento entre o cérebro e a mente não
são corretas. […]. (PARNIA,
2008, p. 214, grifo nosso).
[…] Se a mente e a consciência são
produtos de atividade cerebral, então é esperado
que eles cessem o funcionamento nesta hora, ou, na melhor
das hipóteses, logo depois. É mais
ou menos como entrar em um quarto onde há uma luz,
e não saber de onde ela está vindo. Se viramos
o interruptor e a luz se apagar, então podemos concluir
que ela estava vindo da lâmpada que desligamos. Se,
por outro lado, desligarmos o interruptor e a luz ainda estiver
presente, então concluímos que ela vem de outra
fonte.
Até agora, não temos prova definitiva
e concreta para nenhuma das teorias. Entretanto,
como muitas milhares de pessoas, inclusive crianças
pequenas, relatam uma mente e uma consciência
plenamente em funcionamento, e foram capazes de testemunhar
acontecimentos ocorrendo nos recintos, há a
hipótese de que mente e consciência existam separadamente
do cérebro e também durante, e, ao menos, por
algum tempo após a morte. Existem também
várias histórias de médicos que ressuscitaram
pacientes que lhes contaram os detalhes do que aconteceu durante
suas paradas cardíacas.
(PARNIA, 2008, p. 224-225, grifo nosso).
Ora, se pessoas relatam experiências ocorridas até
mesmo depois desse tempo limite é, consequentemente,
mais do que evidente que a consciência (= mente) continuou
ativa, apesar do indivíduo estar clinicamente morto.
Realmente, confirma-se que “o pior cego é aquele
que não quer ver”.
Para fechar as citações do Dr. Sam Parnia, trazemos
esta última, pois, com ela, se põe a nocaute os
sistemáticos negadores da EQM:
O experimento de Platão
claramente ilustra as limitações na compreensão
e na apreciação das coisas que estão
fora dos limites de nosso corpo. Uma vez que os outros membros
da caverna nunca haviam experienciado nenhuma forma de realidade
além daquela que viam, então nem mesmo consideravam
que ela pudesse existir.
[…] É muito difícil convencer
as pessoas a pensar sobre a realidade de um modo diferente,
se elas não são capazes de percebê-la,
ou se já possuem uma opinião formada.
[…] (PARNIA, 2008, p. 181, grifo
nosso).
Infelizmente, essa é a realidade sobre o tema EQM com
a qual ainda nos defrontamos; quiçá não
seja por muito tempo.
Por oportuno, transcrevemos trecho da fala do Dr. Melvin Morse
(1953- ), prefaciando o livro A vida depois da Vida, de Raymundo
Moody (1944- ); diz:
[…] O fato de que cérebros
em coma podem estar conscientes e cientes do ambiente ao seu
redor, além de interagir com outra realidade espiritual,
tem implicações profundas em nossa compreensão
de como o cérebro humano funciona. […]
(MOODY JR, 2004, p. 19).
Então a questão é
que a ciência tem que rever alguns de seus conceitos,
atualizando-os à realidade que se impõe.
Manuel Domingos (1953- ), neuropsicólogo e psicólogo
clínico, presidente da Sociedade Portuguesa de Neuropsicologia,
Presidente do Instituto da Mente e autor de mais de 120 comunicações
e publicações científicas, nas áreas
da Neurociência e da Psicologia, traz várias considerações
que confirmam tudo quanto disse o Dr. Sam Parnia, razão
pela qual o citaremos no presente estudo.
[…] Por outro lado, aos
recém-nascidos falta a acuidade visual, a senso-percepção
visuo-espacial, a agilidade mental e (tanto quanto se sabe)
a plasticidade cortical que permita integrar e codificar as
memórias da experiência do nascimento. Por fim,
os relatos de experiência fora-do-corpo e sobre
a passagem através de um túnel para uma outra
dimensão são igualmente comuns, tanto entre
pessoas que nasceram de parto eutócico como entre os
que nasceram de cesariana (Blackmore,
1983), contradizendo os pressupostos das 'memórias
do nascimento', pois se assim fosse essas vivências
seriam raras nos indivíduos que nasceram por cesariana.
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 183, grifo nosso).
Embora os factores fisiológicos, psicológicos
e socioculturais possam realmente interagir de forma complexa
conjuntamente com uma EQM, as teorias propostas até
ao momento consistem, basicamente, em especulações
sem qualquer sustentabilidade.
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 188, grifo nosso)
[…] Pessoalmente, eu acho que a ciência
é uma destruidora de conhecimento. Pode ajudar
nalgumas coisas, mas na ciência há muito
o vício de dizer que “isto está provado
porque a ciência demonstrou”. Só
que a ciência demonstra hoje, para dizer amanhã
que, afinal, não era assim. Ou seja, nada
está cientificamente provado de forma absoluta e perene.
Portanto, eu prefiro falar mais em conhecimento do
que em ciência. […]. (DOMINGOS;
DIAS; LOUÇÃO, 2011, p. 239, grifo nosso)
E para somar, vejamos também as considerações
de Pim van Lommel (1943- ), médico cardiologista, “conhecido
por seu trabalho científico sobre os temas de experiências
de quase-morte e consciência, incluindo um estudo prospectivo,
publicado na revista médica The Lancet”
(WIKIPÉDIA):
[…] O conteúdo
das EQM e os seus efeitos nos pacientes parecem ser semelhantes
em todo o mundo, independentemente de culturas e
épocas. […]
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 201, grifo nosso)
A minha curiosidade científica começou a crescer,
pois segundo os nossos conceitos médicos actuais,
não é possível haver consciência
durante uma parada cardíaca, altura em que a circulação
e a respiração cessam.
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 204, grifo nosso)
Já foram propostas várias teorias para explicar
a EQM. Contudo, o nosso estudo prospectivo não
revelou quais os factores psicológicos, fisiológicos
ou farmacológicos que foram a causa destas experiências
após a paragem cardíaca. Se recorrêssemos
a uma explicação puramente fisiológica,
tal como a anoxia cerebral, então a maioria dos pacientes
clinicamente mortos deveria ter relatado uma EQM. A totalidade
dos 344 pacientes esteve inconsciente devido à anóxia
cerebral na sequência da paragem cardíaca. Então,
por que é que apenas 18% dos sobreviventes de paragem
cardíaca relatam uma EQM?
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 207, grifo nosso)
[…] Estas experiências induzidas podem,
por vezes, resultar num período de inconsciência,
mas podem, ao mesmo tempo, consistir em experiência
fora-do-corpo, percepção de som, luz ou flashes,
ou lembranças do passado. Contudo, estas lembranças
são compostas por memórias fragmentadas e aleatórias,
ao contrário da retrospectiva panorâmica de vida
que ocorre numa EQM. Além disso, os processos transformacionais
raramente são relatados após as experiências
induzidas. Assim, as experiências induzidas
não são idênticas às EQM.
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 208, grifo nosso).
Havendo falta de provas favoráveis a quaisquer outras
teorias acerca das EQM, dever-se-á discutir
o conceito até agora pressuposto, mas nunca provado
cientificamente, de que a consciência e as memórias
estão localizadas no cérebro. […].
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 208)
A anóxia causa a perda de funções
dos nossos sistemas celulares. Contudo, na anóxia
que dura apenas alguns minutos, esta perda pode ser transitória;
na anóxia prolongada, ocorre a morte de células,
com perda fundamental permanente. […].
Na paragem cardíaca, a anóxia total do cérebro
ocorre em segundos. A reanimação cardio-pulmonar
adequada e atempada inverte esta perda funcional do cérebro
porque evita as lesões definitivas das células
cerebrais que causam a morte dessas células. A
anóxia de longa duração, causada pela
cessação de fluxo sanguíneo para o cérebro
durante mais de 5 a 10 minutos, resulta em lesões irreversíveis
e em morte em larga escala das células cerebrais. A
isto chama-se morte cerebral e a maioria dos pacientes acabará
por morrer.
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 217, grifo nosso)
[…] Como é possível alguém
ter perfeita consciência fora do seu corpo num momento
em que o cérebro já não funciona, durante
um período de morte clínica, como uma linha
plana no EEG? Um cérebro assim seria, grosso
modo, análogo a um computador desligado da corrente
elétrica e com os circuitos removidos. Não
poderia alucinar: não poderia fazer nada de nada. […].
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 218, grifo nosso)
[…] Mas acredito que a ciência
é a busca por explicações de novos mistérios
e não um mero acto de catalogação
de factos e conceitos antigos. […].
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 222, grifo nosso)
A questão é saber o que é a verdade?
Qual é efectivamente a realidade? Também é
algo que aprendemos com a física quântica, na
qual a consciência do investigador interfere nos resultados
das suas experiências, por isso há sempre subjectividade.
E na ciência orientada para a materialização
acredita-se, até à data, que pode haver objectividade.
Mas muitos físicos quânticos, não todos
mas muitos, acreditam que a consciência tem um papel
essencial na física quântica. Por isso, já
não há objectividade na ciência: há
um primeiro conceito na nossa consciência, depois criamos
uma experiência na nossa consciência e depois
o resultado. Penso que já é altura de
as pessoas começarem a olhar para as EQMs com a mente
aberta. Para mim, é suposto a ciência fazer perguntas
com uma mente aberta. O problema é que muitos cientistas
têm os seus velhos conceitos, sendo muito difícil
abrirem-se a novos conceitos. […].
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 237-238)
Questão interessante é a universalidade do fenômeno,
o que só vem a favorecer a hipótese de sua realidade,
porquanto, é totalmente ilógico imaginar que pessoas,
de várias partes do mundo, de várias camadas sociais,
tenham, em conluio, relatado aspectos semelhantes, tais, que
já formam indicadores para se saber se uma pessoa passou
por uma EQM ou não.
Estas duas falas de Paulo Alexandre Loução (1964-
), historiador e filósofo, servem, perfeitamente, para
uma conclusão final sobre o assunto:
[…] Como é
que se pode explicar fisicamente as experiências fora-do-corpo,
em que estando este clinicamente morto, as pessoas narram
com detalhe, por exemplo, o que aconteceu na sala de operações?
Cremos que os factos narrados neste livro são,
suficientemente, categóricos para que não procuremos
tapar o “Sol com a peneira” e buscarmos
fórmulas rebuscadas e inverosímeis [1]
por não aceitarmos que o paradigma materialista
já não responde aos dados científicos
actuais. (DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 275, grifo nosso)
[…] Quer dizer, a teoria científica que
coloca o cérebro como origem exclusiva de pensamentos
e sede única da consciência humana foi ultrapassada
pelos factos. Há que desenvolver outra teoria.
(DOMINGOS; DIAS; LOUÇÃO,
2011, p. 278, grifo nosso)
Vimos que todas as hipóteses apresentadas para justificar
a EQM, foram sobejamente refutadas pelos autores citados, só
restando a capitulação dos cientistas diante dos
fatos.
Talvez o que esteja acontecendo com os cientistas seja exatamente
isto que o Dr. Melvin Morse, em sua obra Do outro lado
da vida, disse: “[...] A minha sensação
é que as pesquisas de quase-morte tornaram-se alvo de
um reducionismo porque vários pesquisadores sentiram-se
frustrados por não serem capazes de explicar este fenômeno
espiritual”.
(MORSE e PERRY, 1992, p. 165)
Para uma melhor compreensão da EQM resolvemos fazer um
gráfico no qual ficará claro o período
de sua ocorrência. Vejamo-lo:

Explicação:
L 1: período no qual o aparelho EEG (eletroencefalograma)
registra a atividade cerebral; entre os pontos 0 e 1, nada é
registrado, pois o paciente está clinicamente morto,
sem qualquer registro cerebral.
L 2: Entre os pontos 0 e 1, atividade da consciência,
provada pelos relatos dos pacientes; inclusive, com ocorrências
reais de fatos acontecidos neste período, em que, clinicamente,
o paciente não tinha atividade cerebral, conforme consta
de L 1.
Intervalo entre os pontos 0 e 1, período em que se dá
a EQM, no qual o EEG tem linha plana.
As setas indicam os períodos nos quais há atividade
da consciência (= mente); a que ocorre na L 1 é
explicável; a da L 2, a ciência ainda não
conseguiu elucidar qual a causa da consciência (= mente)
se manter ativa; apenas apresentam-se especulações
de alguns cientistas, sem levar em conta as pesquisas já
desenvolvidas da EQM.
Qualquer uma das tradicionais explicações para
a EQM (alucinação, falta de oxigênio, drogas,
etc) só pode ocorrer até o ponto 0, pois a partir
daí o aparelho EEG não registra nenhuma atividade
cerebral, ou seja, apresenta a linha plana, fato que cientificamente
demonstra que a pessoa morreu. Há, portanto, em relação
à L 1, uma interrupção entre os pontos
0 e 1, para depois tudo voltar como antes, após a “ressurreição”
do paciente.
Mal comparando, é algo como se estivéssemos diante
de um computador, editando um texto e, após colocar o
seu título, nós sermos obrigados a desligá-lo
e, passado algum tempo, voltarmos a ligá-lo, retomando
o texto; porém, para surpresa, damos com a inusitada
situação dele já ter sido totalmente escrito.
Diante deste fato, concreto e real, não temos como negar
que houve alguma atividade em nosso computador, pois a prova
está ali palpável, diante de nossos olhos, embora
não possa haver a mínima condição
de se explicar como isto aconteceu. Mas como se diz “contra
fatos não há argumentos”, temos apenas que
nos empenhar para descobrir a causa da continuação
na edição do texto, quando não havia energia
que mantivesse o computador ligado (funcionando). É algo
bem semelhante, achamos, que ocorre quando de uma EQM.
Dr. Raymond Moody, pioneiro na pesquisa da EQM, prova-nos essa
sobrevivência da consciência:
[…] a descrição dos eventos
testemunhados enquanto fora do corpo conferem muito bem com
o que de fato ocorreu. Vários médicos me disseram,
por exemplo, que ficam desconcertados ao ver como
pacientes sem conhecimento médico podem descrever,
em detalhes e tão corretamente, o procedimento usado
nas tentativas de ressuscitá-los, muito embora
esses eventos tenham acontecido enquanto os médicos
sabiam que os pacientes envolvidos estavam “mortos”.
(MOODY JR, 2004, p. 107, grifo
nosso).

Dr. Melvin Morse apresenta um caso curioso,
relatado pela pesquisadora Kimberly Clark (?- ), pelo qual é
fácil comprovar a realidade da sobrevivência da
consciência numa EQM. Embora tenha dito ser um sapato
(MORSE e PERRY, 1992, p. 26), outros autores afirmam tratar-se
de um tênis (ROGO, 1996, p. 216 e GROF, 1992, p. 34).
Vejamos o relato na versão do psiquiatra Stanislav Grof
(1931- ):
“Meu primeiro contato com uma pessoa
que passara por uma experiência de quase-morte foi com
uma paciente chamada Maria, uma operária emigrante
que estava visitando amigos em Seattle e teve um grave ataque
cardíaco. Foi levada à noite ao hospital pela
equipe de atendimento de emergência e internada numa
unidade cardiológica. Meu envolvimento no caso se deu
em consequência de seus problemas sociais e financeiros.
Alguns dias depois da internação, ela teve uma
parada cardíaca. Como estava sendo rigorosamente monitorada
e, sob outros aspectos, gozava de boa saúde, foi rapidamente
trazida de volta a vida, ficou entubada durante algumas horas
para ter garantida uma oxigenação adequada,
sendo, em seguida, estopada.
“Mais tarde, naquele mesmo dia, fui visitá-la
julgando que pudesse estar aflita pelo fato de seu coração
ter parado. Estava realmente aflita, porém não
por esse motivo. Seu estado de relativa agitação
contrastava com sua calma habitual. Queria conversar comigo
sobre alguma coisa. E contou: ‘Aconteceu algo muito
estranho quando os médicos e as enfermeiras estavam
lidando comigo: eu estava olhando para baixo, lá
do teto, e os via trabalhar sobre meu corpo.
“A princípio, isso não me impressionou.
Julguei que ela poderia saber o que estava se passando na
sala, as roupas que as pessoas estavam usando, e os médicos
e enfermeiras que estavam ali, pois tinha visto a todos eles
antes da parada cardíaca. Naqueles instantes, ela já
estava com toda a certeza familiarizada com o equipamento.
E como a audição é o último sentido
que desaparece, raciocinei que ela poderia ouvir tudo o que
se passava, e, embora eu não pensasse que ela estava,
conscientemente, inventando tudo aquilo, imaginei que poderia
ter ocorrido algum tipo de confabulação.
“Então ela me contou que sua atenção
fora atraída por alguma coisa que estava acontecendo
na via de acesso à sala de pronto-socorro, e que, tão
logo voltou para lá sua atenção, ela
se viu lá fora, como se, ao ‘pensar em si mesma
pairando sobre aquela via de acesso, no mesmo instante ela
de fato lá estivesse. Nessa altura, eu fiquei um pouco
mais impressionada, pois como ela chegara à noite,
dentro de uma ambulância, não lhe seria possível
saber que aspecto tinha a área onde ficava o pronto-socorro.
Raciocinei, entretanto, que em algum momento sua maca poderia
ter ficado junto à janela, e que ela poderia ter olhado
para fora, e que isso teria se incorporado à confabulação.
“Mas então Maria passou a relatar que sua
atenção havia sido novamente atraída,
desta vez por um objeto colocado sobre a sacada do terceiro
andar na extremidade norte do edifício. Ela
‘imaginara a si mesma indo’ até lá.
Percebeu, então, que ‘seus olhos fixavam
um cordão de tênis’ junto a um tênis.
Pediu-me que tentasse encontrá-lo. Ela queria
que alguém mais soubesse que aquele tênis estava
realmente lá, para confirmar sua experiência
fora-do-corpo.
“Tomada de emoções confusas, saí
do prédio e olhei para cima, examinando as sacadas,
mas de qualquer maneira não poderia ver grande coisa.
Então, subi até o terceiro andar e comecei a
entrar e sair dos quartos dos pacientes, e a olhar pelas suas
janelas, que eram tão estreitas que eu tinha de colar
o rosto na vidraça para conseguir ver a sacada. Finalmente,
encontrei um quarto onde, ao comprimir o rosto contra a vidraça
e olhar para baixo, vi o tênis!
“Meu ângulo de visão era muito diferente
daquele sob o qual Maria devia estar olhando para conseguir
perceber que o dedinho havia desgastado o lugar onde ficava
em contato com o tênis, e que o laço fora dado
por trás do calcanhar, assim como outros detalhes a
respeito do lado do calçado que não estava visível
para mim. Ela só conseguiria observar todos
esses detalhes do tênis se estivesse flutuando do lado
de fora do prédio e muito perto do tênis.
Eu o peguei e o levei para Maria. Foi, para mim, uma evidência
muito concreta”.
(GROF, 1992, p. 33-34, grifo nosso)
Esse é um caso bem simples, mas, irrefutavelmente, demonstra
a realidade da EQM. De suas pesquisas, Dr. Melvin Morse, concluiu
que “as EQMs são o caminho para unir a ciência
e espiritualismo”. (MORSE e PERRY,
1992, p. 81) e acrescenta um pouco mais à frente:
[...] Ao negar a existência da alma,
os cientistas definem o cérebro limitado às
reações dos neurônios e às eletroquímicas,
que causam um comportamento observável. Admitir além
disso seria confessar que existe mais na mente humana do que
simplesmente o cérebro. (MORSE
E PERRY, 1992, p. 86)
Se a EQM prova que a consciência (= mente)
sobrevive à morte física, nós, como espíritas,
ao invés de atribuirmos essa sobrevivência à
consciência, a atribuímos ao espírito imortal,
uma vez que aquela é um atributo deste. Claro que entendemos
que os materialistas, sejam cientistas ou não, continuarão
negando tal fato; porém, sabemos que a verdade é
algo que não se impõe, simplesmente se sobrepõe.
Podemos fechar este estudo com esta fala de Morse: “O
fato da ciência não poder medir a alma em laboratório
não significa que ela não exista”.
(MORSE e PERRY, 1992, p. 150)
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Abr/2013
Referências bibliográficas:
ALEXANDER III, E. Uma prova do céu.
São Paulo: Sextante, 2013.
DOMINGOS, M.; DIAS, P. C; LOUÇÃO, P. Relatos verídicos.
Experiências de quase-morte. Lisboa, Portugal: Ésquilo,
2011.
DOORE, G. Explorações contemporâneas da
vida depois da morte. São Paulo: Cultrix, 1992
GROF, S. A sobrevivência depois da morte: observações
a partir de modernas pesquisas sobre a consciência. In:
DOORE, G. Explorações contemporâneas da
vida depois da morte. São Paulo: Cultrix, 1992, p. 29-39.
MOODY JR, R. A. A vida depois da vida. São Paulo: Butterfly,
2004.
MORSE, M. L. E PERRY, P. Do outro lado da vida. Rio de Janeiro:
Objetiva, 1992.
PARNIA, S. O que acontece quando morremos. São Paulo:
Larousse, 2008.
ROGO, S. Volta à vida: experiência no limiar da
morte. São Paulo: Ibrasa, 1996.
Dados de Pim van Lommel: http://en.wikipedia.org/wiki/Pim_van_Lommel,
acesso em 21.04.2013, às 18:00hs.
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/03/neurocirurgiao-volta-do-coma-e-se-convence-que-ha-vida-apos-morte.html,
acesso em 25.03.2013, às 13:45 hs.
Foto Dr. Alexander:
http://s03.video.glbimg.com/x240/2478070.jpg, Portal G1 da Rede
Globo.
Inverosímil: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=inveros%C3%ADmil
[1] Está
conforme ortografia portuguesa, no Brasil é que tem dois
“ss”, fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=inveros%C3%ADmil
Tela de Hieronymus Bosch com uma
EQM: http://3.bp.blogspot.com/-xMDzuNWYtXM/TrapztkF6pI/AAAAAAAAAHA/T4rthjlDGYQ/s1600/bosch27.jpg
Este artigo foi publicado:
- Revista Espiritismo & Ciência Especial,
nº 63. São Paulo: Mythos Editora, jul/2013, p. 50-62.