Seu sucesso e reconhecimento por cristãos
e autoridades cristãs de diversas partes do mundo parece
ter despertado a inveja de Demétrio, que o destituiu do magistério
e do presbiterato, além de excomungá-lo.
Orígenes foi para Cesaréia da Palestina, onde passou
seus últimos vinte anos. Lá ele continuou a ensinar
e organizou um centro de estudos, além de uma biblioteca
que se tornou célebre e na qual trabalharam no futuro “Pânfilo,
Eusébio e São Jerônimo” (Frangiotti,
p. 15). Ele também passou a pregar
e comentar diariamente a escritura para os cristãos.
No governo do imperador Décio iniciou-se uma nova perseguição
aos cristãos, quando Orígenes foi preso e torturado,
desencarnando anos depois.
Eusébio de Cesaréia afirma que Orígenes escreveu
cerca de 2.000 livros, e Jerônimo fez um levantamento de 800
títulos. Muito se perdeu do que Orígenes escreveu
porque algumas de suas doutrinas e ideias foram condenadas pelo
II Concílio de Constantinopla, em 553, o que “provocou
o desaparecimento sistemático de sua imensa obra”(Frangiotti,
p. 17).
A Hierarquia Deus – Jesus
e o Espírito Santo
Seria muito difícil comentar a obra de Orígenes como
um todo, então deter-me-ei em dois pontos que interessam
a nós, espíritas.
Ao estudar o espírito santo, Orígenes faz uma hierarquia
entre Deus, Jesus e o espírito santo. Ele defende a homoousia
(Jesus foi emanado de Deus, e tem a mesma natureza do Pai), que
nos é estranha, porque entendemos Jesus como espírito
superior e distinguimos a natureza de Jesus da de Deus, em função
das características divinas discutidas por Kardec. Contudo
ele admite alguma subordinação do filho ao Pai (Reale,
p. 45). Já o espírito
santo teria um papel santificante.
Até o momento, em boa linguagem espírita, entendo
que Jesus, após a desencarnação continua acompanhando
o movimento cristão através da mediunidade dos profetas
cristãos e de outros médiuns das comunidades. Entendo
também que outros espíritos superiores, missionários
de Jesus, tinham o seu papel junto a estas comunidades, sendo identificados
como o Espírito, como diz Denis, ou o Espírito Santo,
como afirma a tradição católica. Reale afirma
que Orígenes via no Espírito Santo uma “função
específica na ação santificante”.
Preexistência e Reencarnação
O segundo ponto que nos interessa é
a defesa da preexistência do espírito antes da concepção.
Orígenes entende que os espíritos preexistem e quando
cometem pecado, nascem, ou seja, encarnam. É uma leitura
muito próxima da de Kardec que entende que o ciclo das encarnações
é necessário ao desenvolvimento dos espíritos
e que possibilita a reparação das faltas cometidas.
Outra similitude, que encontrei em Reale (p.
46) diz respeito à reencarnação.
Para que o leitor não pense que estou inventando ou lendo
mal, passo a citar textualmente:
“É doutrina
típica de Orígenes (derivada dos gregos, embora
com notáveis correções) a que segundo a qual
o “mundo” deve ser entendido como série de
mundos, não contemporâneos, mas subsequentes um ao
outro. Tal visão relaciona-se estreitamente com a concepção
origeniana segundo a qual, no fim, todos os espíritos se
purificarão, resgatando suas culpas, mas, para se purificarem
inteiramente, é necessário que sofram longa, gradual
e progressiva expiação e correção,
passando, portanto, por muitas reencarnações em
mundos sucessivos.” (Reale,
p. 46)
Vê-se, portanto, que Léon
Denis leu acertadamente quando escreveu em seu “Cristianismo
e Espiritismo”:
“De todos os padres da Igreja,
foi Orígenes quem afirmou do modo mais positivo, em numerosas
passagens dos seus princípios (Livro 1º.), a reencarnação
ou renascimento das almas. É essa a sua tese: “A
justiça do Criador deve patentear-se em todas as coisas”.