
O isolamento de grupos em um centro
espírita de grande porte é um dos grandes desafios
institucionais que precisa ser enfrentado, para que não haja
ruptura do caráter associativo.
É mais fácil isolar-se
em uma reunião (mediúnica, por exemplo) ou grupo,
participar de atividades apenas com as pessoas deste grupo e contribuir
com um valor da cota associativa, não se interessando pelas
necessidades coletivas da associação, e apenas direcionando
exigências para a diretoria, sob a justificativa de ser sócio
regular e participar da organização há décadas.
Neste caso, sempre que as necessidades
de muitos afetam a rotina dos trabalhos do grupo, este trata dos
pedidos de mudança da direção como uma intervenção
indevida.
Quando isto acontece, há
uma inversão do pacto associativo. Os dirigentes são
vistos mais como empregados ou prestadores de serviço da
organização e não como lideranças, que
abrem mão de seu tempo pessoal e familiar para contribuir
com a associação a pedido e com voto de confiança
de todos.
Neste cenário, é mais
difícil mobilizar a contribuição dos associados
para objetivos comuns, da associação como um todo,
que demandam trabalho voluntário e envolvimento de todos.
Os projetos externos a um grupo, como a construção
de uma nova sede, a adoção de regimentos, o socorro
a uma atividade considerada importante que está com falta
de trabalhadores, a promoção de eventos para encontro
dos membros da organização, sejam de caráter
doutrinário ou administrativo e a participação
de pessoas de diferentes grupos em atividades que não são
vistas como “deles” por dirigentes e membros de grupos.
As escolhas de dirigentes e lideranças
se tornam um trabalho muito difícil, porque, isolados, os
valores de cada grupo não são conhecidos pela organização
como um todo, faltando o vínculo da confiança e do
respeito entre eles e o corpo dirigente. Os valores, quando identificados
e convidados, necessitarão gastar mais energia e dedicação
para superar as dificuldades criadas pelo isolamento e pelo desconhecimento
das equipes novas com que trabalharão. Não raro, muitos
se afastam precocemente, por motivos muitas vezes triviais, que
não seriam causa deste tipo de atitude se já houvesse
um relacionamento anterior.
Não há, portanto,
uma relação orgânica entre o nível estratégico
(a direção do centro), nível gerencial (a direção
dos grupos) e trabalhadores (nível operacional). Começa
a ocorrer uma estranha disputa de poder entre direção
do centro e direção dos grupos, quando deveria haver
um relacionamento de colaboração, principalmente porque
os grupos e os associados em geral necessitam de um corpo diretor
eficaz e são eles que o elegem e o conduzem a suas funções
“nunca-remuneradas”.
Esta reflexão não
exime os dirigentes dos centros espíritas de seus equívocos,
do excesso de individualidade ou do cometimento de abusos em suas
funções, mas este seria objeto de discussão
de outro texto. O que observamos é a estranha inversão
e competição, que possibilita o desenvolvimento de
um clima organizacional na casa espírita muito bem descrito
pelo espírito Irmão X, no livro Cartas e Crônicas,
capítulo 29, intitulado “Bichinhos” ao qual remeto
o leitor.