Estou estudando o capítulo XI do livro A Gênese,
que trata da gênese espiritual, ou seja, da concepção,
origem e destino dos Espíritos. Esse livro foi publicado
um ano antes da desencarnação de Allan Kardec, e
esse capítulo em especial é uma espécie de
retorno a temas tratados no livro primeiro de O Livro dos Espíritos.
Um ponto aparentemente óbvio, que fica bem claro nesse
capítulo, é o que poderíamos chamar de insight
kardequiano. Emprego o termo em seu sentido psicológico,
como define Houaiss, "compreensão ou solução
de um problema pela súbita captação mental
dos elementos e relações adequados".
O capítulo começa respondendo à questão
o que é princípio espiritual? Fica muito claro que
Kardec associa o princípio espiritual à inteligência
e, com isso, o distingue do princípio material.
Por que Allan Kardec não fez como os cientistas de sua
época, e associou a inteligência e as funções
psicológicas ao cérebro? A resposta é simples:
por causa da comunicação com os Espíritos.
No capítulo IV de O livro dos Médiuns (dos sistemas,
que pode ser entendido também como as teorias), o mestre
francês discute as hipóteses de charlatanismo, da
loucura, do músculo estalante (para explicar os raps) e
das causas físicas (magnetismo, eletricidade ou fluido)
e do reflexo (seria uma espécie de animismo ou telepatia).
para explicar os fenômenos que ele estudou. A inteligência
das respostas obtidas dos espíritos, contudo, é
uma característica que não pode ser explicada pelas
teorias de base natural e o conteúdo das comunicações
afasta ou reduz o poder explicativo da teoria do reflexo.
Ainda nesse capítulo, Allan Kardec discute as teorias
que têm por causa dos fenômenos seres inteligentes,
e discute os sistemas (teorias) da alma coletiva, sonambúlico,
diabólico ou demonista, otimista (ação exclusiva
de bons Espíritos), uniespírita (produzidos por
Cristo), multiespírita e o sistema da alma material.
Se há um conjunto de fenômenos produzidos por inteligências
incorpóreas, a inteligência em si não é,
nem pode ser, uma propriedade do organismo, embora esse possa
prejudicar sua manifestação. Há, portanto,
um princípio espiritual ou inteligente, que não
se reduz ao corpo material.
Esse é um dos pressupostos centrais da Doutrina Espírita.
A partir dele Kardec fez diversas deduções filosóficas,
e agregou resultados de observações e de diálogos
com os Espíritos, constituindo o espiritismo como doutrina,
ou como gosto de dizer, desenvolveu o pensamento espírita.
Um princípio espiritual (que tem por essência a
inteligência e a personalidade) independente do princípio
material traz consigo uma imensidade de novas possibilidades e
novas formas de ver o mundo e a existência.