
Allan Kardec
tem um texto publicado em Obras Póstumas que sempre me
intrigou, denominado “As cinco alternativas da humanidade”.
Confesso que nunca entendi direito os deístas e porque
Kardec denominou “doutrina dogmática” à
dos católicos e protestantes, sem menção
ao cristianismo.
Ele coloca em uma posição
diversa o espiritismo, confrontando-o com as demais doutrinas,
nos aspectos que selecionou delas.
Já levantamos em outra
publicação do Espiritismo Comentado, a questão
do panteísmo e de sua relação com o pensamento
de Baruch Spinoza.
Hoje eu estou lendo o livro “Dispelling
the Darkness: Voyage in the Malay Archipelago and the Discovery
of evolution by Wallace and Darwin”, de John Van Wyhe, que
trata do tema de forma interessante.
Ele diz que Darwin também
“pensava muito sobre religião” e que foi durante
a pesquisa e teorização intensa que ele fez à
bordo do Beagle que ele passou a desacreditar “na cristandade
e divina revelação. Não havia simplesmente
nenhuma evidência. Ele desceu um nível e se tornou
um deísta. Ele ainda acreditava em um criador sobrenatural
que estabeleceu as leis da natureza em primeiro lugar, mas tanto
quanto Darwin pensava, a natureza trabalhava de acordo com as
leis naturais.”
Os deístas entendem, em
geral, que se pode estudar a divindade a partir do conhecimento
da natureza, e não da teologia cristã. No caso de
Darwin, ele fez uma ruptura com o pensamento cristão, após
começar a perceber que existia a evolução
das espécies a partir da seleção natural,
que induziu, assim como Wallace, da leitura de Thomas Malthus,
curiosamente.
Da mesma forma que Darwin, em
sua autobiografia, Flammarion rompe com o cristianismo ainda na
adolescência, após estudar os avanços da ciência
e os erros da Bíblia no que concerne à idade do
mundo, formação da humanidade e outros temas que
emergiram nas ciência no final do século XVIII e
início do século XIX.
Nesse ponto, há alguma
relação entre Darwin e Kardec, porque Kardec entendia
as leis naturais como criadas por Deus, e por isso as chamava
de “Lei Divina ou Natural”, mas Kardec propõe
leis que vão além de Darwin, e aceita um providencialismo
que não é divino, mas espiritual.
Outra diferença entre o
deísta Darwin e o espírita Allan Kardec, é
que este se entendia como cristão espírita, ou seja,
ele não abriu mão do cristianismo como base ética,
nem do estudo histórico do cristianismo, nem da possibilidade
de explicar passagens da vida de Jesus e dos apóstolos
consideradas milagres com a nova perspectiva obtida a partir dos
estudos dos fenômenos espirituais.
Na classificação
de Kardec, Darwin seria um deísta independente, e não
providencialista.
Considerando a classificação
de Kardec de espírita-cristão, o espiritismo teria
uma dimensão religiosa, como entendia Flammarion em seu
livro "As Forças Naturais Desconhecidas".