Uma das propostas que vou tentar
realizar no Espiritismo Comentado é a discussão da
dimensão científica do espiritismo. Antes disso, temos
que entrar em um entendimento comum sobre: "o que é
ciência?"
Um dos primeiros temas a se discutir
é que a ciência é um empreendimento coletivo,
articulado e falível. Penso são adjetivos de ampla
aceitação pela comunidade científica, e que
nos possibilita discutir algumas concepções muito
equivocadas que as pessoas em geral têm do conceito de ciência.
Vou falar um pouco das chamadas ciências naturais.
Ao contrário do que se imagina,
quando se vê um grande cientista como Einstein ou Pasteur,
a ciência não é fruto de uma grande inteligência
individual que teve uma espécie de “iluminação”
que revoluciona o que se sabia antes. Thomas Edison dizia que “a
genialidade é 99% de transpiração”, ou
seja, muito trabalho duro, muita leitura e estudo, para, ao final,
conseguir um momento de inspiração.
O cientista, portanto, lê
o que outros cientistas publicam. Ele passa muitas horas estudando
um tema antes de poder escrever sobre ele. É o que se chama
de “estado da arte”, “revisão bibliográfica”,
“revisão sistemática”, com pequenas diferenças
entre essas expressões.
Quando se vai escrever um artigo,
para comunicar alguma coisa, normalmente se lê o que foi escrito
nos últimos cinco anos sobre o tema (esse tempo é
variável), sem contar os anos de estudo de um especialista
sobre os conhecimentos da sua área para ser considerado como
tal.
Hoje isso é bem mais complicado,
porque há milhares de cientistas trabalhando ao redor do
mundo, e cada vez surgem mais revistas especializadas. As publicações
têm sido feitas em inglês, principalmente, que acabou
sendo considerado o idioma mais dominado pelos cientistas, pelo
menos ocidentais.
Suponha que o tema em estudo seja
a “reencarnação”, como o fizemos há
alguns anos no Encontro Nacional da LIHPE. O que se escreveu sobre
reencarnação em revistas científicas analisadas
por pares? Por incrível que pareça, ao contrário
do que se pensa, há muita coisa sendo escrita e produzida
sobre esse tema, com métodos aceitos pelos cientistas, e
publicado. A velha afirmação que os cientistas não
estudam reencarnação e não aceitam que se estude
o tema não se sustenta, embora seja válida para muitos
que consideram o tema metafísico.
Essa revisão não visa
apenas ao conhecimento dos fatos registrados, por exemplo, crianças
que se lembram de ter vivido anteriormente, mas também de
todas as explicações possíveis para esse fato,
após constatado, que é o que se chama de teoria científica.
A análise das teorias, o jogo de aceitação
e refutação das explicações existentes
e a formulação final, após todos esses estudos,
é o que se chama de conhecimento científico.
Obviamente, após anos de
trabalho e publicação, alguns cientistas se tornam
notáveis por todas as contribuições que deram
às suas áreas. Alguns são até considerados
gênios, porque conseguiram uma nova e melhor forma de explicar
um conjunto de fatos que não era percebido por seus pares.
Obviamente, são inteligentes, mas não chegaram lá
apenas por serem inteligentes, mas por terem feito seus 99% de esforço,
lendo, observando, experimentando, escrevendo, reescrevendo, criticando
o que existe e não está bem elaborado, identificando
falhas nos estudos já realizados, entre outras atividades.
Mas a ciência é falível?
Não é a verdade? Isso fica para outro post.