
Pintura de um autor da época das bruxas
de Salém, Thomas Satterwhite
O episódio de Salém, nos
Estados Unidos, virou até filme. Diz respeito a pessoas que
foram consideradas bruxas, intermediárias do demônio,
e que passaram a ser caçadas com base no “Malleus Maleficarum”,
o livro que tentava indicar comportamentos e sinais do pacto sinistro
com o diabo, a partir de denúncias, que eram estimuladas por
um clima de histeria, misturado com medo e um falso sentimento religioso
de dedicação.
Pessoas como estas sempre estiveram na história, porque talvez
sejam manifestação do lado obscuro de nossa alma, aquele
que teimamos em dizer que ficou no passado, mas às vezes se
manifesta.
Estão por aí, inclusive no meio espírita. Apesar
de se acreditarem humildes, agem como se fossem donos da verdade.
Não exercem a crítica com sua face racional, paciente,
que visa a mostrar contradições de ideias. Gostam de
dar golpes verbais, e abusam das acusações em seus discursos.
Ao analisarem uma obra ou um autor, não se detém na
análise das ideias em conformidade e em contradição
com o pensamento kardequiano, por exemplo. Estigmatizam. Argumentam
pela existência de um perigo iminente, que ronda todo o movimento
espírita, colocando-se como paladinos, defensores da paz e
do bem.
Ao demonizarem seus opositores, endeusam-se aos olhos do leitor ingênuo,
que os acredita fiéis defensores da verdade.
É quase impossível manter um diálogo, porque
como estão certos de suas verdades pessoais, e não costumam
rever ideias, recorrem logo à retórica para fazer desacreditar
os que se lhes opõem algum ponto de vista. Querem transformar
o diálogo em uma espécie de jogo de gladiadores, e os
que o assistem em uma espécie de torcida, pronta a aplaudir,
em suas mentes imaginativas, o golpe bem dado no adversário.
Escolhem cuidadosamente as falhas e erros das instituições
espíritas, não para propor mudanças e auxiliar
nelas, mas para acusá-las, torná-las menores e indignas
de crédito aos olhos do público. Reafirmam sua imagem
quixotesca ao acreditarem-se denunciando e defendendo a pureza doutrinária,
ou o futuro da doutrina espírita.
De tanto agredirem verbalmente, desagregam. Atraem apenas as mentes
ingênuas, que acreditam também estar em uma luta justa,
e que os elegem como campeões. Cercam-se apenas dos que aceitam
tudo o que pensam, sem qualquer discordância, e que se calam
ante sua "voz de trovão".
Peço a Deus a vigilância constante, capaz de me fazer
distinguir a atitude vaidosa destes homens, que seguramente existe
no lado negro de minha alma, da análise crítica, necessária
e humilde, capaz de fazer pensar e proporcionar o avanço, pela
convicção compartilhada, dos que trabalham diária
e voluntariamente por um espiritismo congruente com suas bases e propósitos.