UNISULVIRTUAL
Artigo de conclusão da disciplina Produção Filosófica
do Curso de Filosofia

Imagem: Santo Agostinho em quadro de Boticelli.
Fonte - Wikipedia Commons
RESUMO:
Este artigo aborda o tema felicidade,
inicialmente na visão geral de alguns filósofos e, mais
especificamente, em Santo Agostinho e na obra de Allan Kardec. O conceito
de felicidade, apesar de explorado desde a antiguidade e por um número
muito grande de pensadores, não é definitivo, bem como
não se tem notícias de quem afirme que ela foi alguma
vez completamente atingida por alguém. No entanto, todos a buscam
e essa dificuldade de entender o que realmente seja felicidade tem levado
algumas pessoas a se aferrarem a situações enganosas,
passageiras, como se definitivo fosse. Santo Agostinho vê a felicidade
na união com Deus, na beatitude. Allan Kardec deixa claro, de
forma semelhante, que a felicidade não pertence ao mundo natural,
e deve ser buscada na vida espiritual, a que realmente importa ao Espírito
eterno. Evidenciam-se paralelos entre a visão de Agostinho e
a de Kardec, uma vez que ambos propõem ao homem transcender o
imediatismo da vida física e, embora vivendo e cumprindo seus
deveres para com o mundo físico, buscarem numa instância
superior a felicidade almejada.
INTRODUÇÃO
Pretende-se, neste artigo, investigar
o conceito de felicidade presente na obra de Santo
Agostinho e nas duas principais obras espíritas –
O Livro dos Espíritos e O Evangelho
Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec –,
e comparar as duas posições e verificar o que há
de comum entre os dois autores.
Felicidade é um tema que perpassa
a obra, se não de todos os filósofos, pelo menos de um
número significativo deles, dos pré-socráticos
à atualidade. Santo Agostinho aborda o tema especialmente em
Solilóquios (“Soliloquia”),
A Vida Feliz (“De beata vita”)
e Confissões, e a identifica com a beatitude, “finalidade
última da vida cristã, felicidade daquele que cumpre o
destino da c riatura de elevar-se a Deus” (Silva,
2007:46). A Doutrina Espírita, conforme codificada por
Kardec, apresenta a ideia de uma felicidade que transcendente o mundo
material, tendo conotações muito específicas, como
alvo a ser conquistado pelo homem (espírito encarnado) no mundo
espiritual, o verdadeiro e para o qual retornará.
Por outro lado, Santo Agostinho está
fortemente presente na codificação espírita. É
citado pelo menos 16 vezes nos dois principais livros do chamado “pentateuco
kardequiano” – 7 vezes n’O Livro dos Espíritos,
e 9 vezes n’O Evangelho Segundo o Espiritismo. É considerado,
na condição de Espírito desencarnado, “um
dos maiores vulgarizadores do Espiritismo” 1
(Kardec, 2008: 69), contribuindo de forma significativa com a codificação
elaborada por Allan Kardec.
Propõe-se, aqui, verificar,
pela análise dos conceitos agostinianos e kardequianos para felicidade,
o paralelismo entre a filosofia de Agostinho e os postulados da Doutrina
Espírita.
Santo Agostinho
Aurélio Agostinho, filho de família
burguesa, nasceu em 13 de novembro de 354, em Tagasta, na Numídia.
Seu pai, Patrício, pagão, foi batizado pouco antes de
morrer. Mônica, sua mãe, ao oposto do pai, era cristã
fervorosa, e teve forte influência religiosa sobre o filho.
Em Cartago, para onde foi para avançar
nos estudos que havia iniciado onde nascera, cai em profundo desvio
moral e sensualidade, segundo seus próprios relatos. Aderiu ao
maniqueísmo, por meio do qual explicar, por ele, o problema do
mal e, consequentemente, justificando sua própria vida. Terminados
os estudos, abriu uma escola em Cartago, de onde foi para Roma e Milão.
Em 386, com 32 anos, afasta-se dos estudos, por razões de saúde
e, principalmente, espirituais.
Abandona o maniqueísmo, adota
o neoplatonismo e acaba por chegar a uma concepção cristã
da vida. Por questões de luxuria, sua conversão moral
ainda levará algum tempo. Isso acontecerá, de forma absoluta
em setembro de 386. A partir daí, Agostinho renuncia ao mundo,
ao matrimônio, à carreira, e adota uma vida retirada, de
solidão e recolhimento, por algum tempo, na companhia da mãe,
do filho e de alguns discípulos, nas proximidades de Milão.
É nesse retiro que escreve seus diálogos filosóficos.
Em 387, então com 33 anos, por ocasião da Páscoa,
é batizado por Santo Ambrósio, que, com sua doutrina e
eloquência, influenciou fortemente a conversão de Agostinho.
Após sua conversão e a
morte da mãe, em Óstia, Agostinho volta para Tagasta,
vende todos os seus bens, distribui o arrecadado entre os pobres e funda
um mosteiro. Foi ordenado padre em 391 e consagrado bispo em 395, assumindo
a direção da igreja de Hipona até seu falecimento,
em 28 de agosto de 430, com 75 anos.
Convertido, Agostinho
vai se dedicar totalmente ao estudo da Bíblia, da teologia, e
à redação de suas obras, em que
se destacam as filosóficas: Contra os acadêmicos, Da vida
beata, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a
quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre a música –, além
dos escritos antimaniqueístas: Sobre os costumes, Do livre arbítrio,
Sobre as duas almas, Da natureza do bem. Como para Agostinho, filosofia
e teologia são indissociáveis, também ganha importância
filosófica as obras teológicas e religiosas, especialmente:
Da Verdadeira Religião, As Confissões, A Cidade de Deus,
Da Trindade, Da Mentira.
Agostinho vai se destacar entre
os Padres, como Tomás de Aquino na Escolástica. Inspira-se
em Platão e no neoplatonismo. A profundidade do seu sentir
e seu gênio compreensivo, fundem o caráter especulativo
da patrística grega com o caráter prático da
patrística latina, ainda que os problemas que fundamentalmente
o preocupam sejam sempre os problemas práticos e morais: o
mal, a liberdade, a graça, a predestinação.
(www.mundodosfilosofos.com.br; 2011)
Allan Kardec
Hippolyte Léon Denizard Rivail,
pseudônimo Allan Kardec, nasceu em 3 de outubro de 1804, em Lyon,
na França, e faleceu em 31 de março de 1869, aos 65 anos,
em Paris, vítima de um aneurisma. Foi professor de aritmética,
pesquisador de astronomia e magnetismo. Discípulo de Pestalozzi,
era criterioso em seus estudos e não se deixava levar por modismos.
De início, como pesquisador do magnetismo humano, acreditava
que todos os acontecidos poderiam ser explicados pela ação
das pessoas envolvidas, dispensando-se qualquer explicação
de natureza espiritual.

Foto: Allan Kardec.
Enviada por um colega da Liga de Pesquisadores do Espiritismo
(LHIPE)
Em 1855, foi convidado a assistir a manifestações que
ocorriam nos salões da capital francesa – mesas e objetos
se movimentando e, supostamente, comunicando-se com as pessoas. O professor
participou de várias sessões e sentiu-se intrigado com
o fato de muitas das respostas obtidas através de objetos inanimados
fugirem do conhecimento cultural e social dos participantes do "espetáculo".
Como não admitia a possibilidade de tais objetos apresentarem
manifestações inteligentes, deduziu que havia algum tipo
de inteligência invisível atuando sobre os mesmos, e responsável
pelas respostas.
Formulou, então, suas próprias
perguntas e obteve, pelos mesmos meios, a informação de
que os respondentes em almas de pessoas que viveram na Terra e agora,
mortos, se manifestavam como podiam. Numa dessas mensagens, dirigida
especificamente a Hippolyte Léon DenizardRivail, o ser invisível
que se denominou Espírito da Verdade, informou que ele, Hippolyte,
tinha como missão desenvolver uma nova doutrina, que teria caráter
filosófico, científico e religioso. Hyppolyte, depois
de vários questionamentos a respeito, aceita a incumbência
e adota o pseudônimo de Allan Kardec, para distinguir suas obras
na nova doutrina daquelas realizadas como pedagogo. De seu trabalho,
surge a Doutrina Espírita, codificada em 5 livros básicos:
O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro
dos Médiuns, A Gênese e O Céu e o Inferno.
1 – OS FILÓSOFOS E
A FELICIDADE

A Escola de Atenas, quadro do pintor renascentista
Rafael Sanzio
Provavelmente qualquer pessoa questionada sobre seu maior desejo na
vida responderá que é ser feliz, mesmo que essa resposta
tenha as mais diversas formas. E tão amplo quanto essa aspiração
é o número de conceitos de felicidade. Não há
unanimidade sobre o tema. E não deve causar admiração
essa indeterminação do senso comum, uma vez que nem os
pensadores são acordes sobre o que seja felicidade.
Apesar de ser tema recorrente e antigo,
aparecendo nas mais variadas formas de manifestação do
espírito humano, do mais popular às altas cogitações
filosóficas, do folclórico à arte mais refinada,
do mítico ao racional mais elaborado, não se encontra
uma definição única e acabada de felicidade. Variando
no tempo, por região, de uma cultura para outra, e mesmo entre
pessoas de uma mesma cultura, inúmeras são as formas de
se entender o que felicidade significa, segundo os mais diversos critérios
e orientações, agravado pelo fato de que “nunca
se afirmou que ela tenha sido alcançada completamente”
(Silva, 2007: 7). Para Franklin Leopoldo
e Silva, a dificuldade para se abordar a felicidade pode ser consequência
da pluridimensionalidade do ser humano. Em suas palavras:
"qualquer definição
de felicidade implica opção por uma ideia possível
de Homem, desde aquelas que se regulam por uma universalidade abstrata
até as que postulam uma irredutível singularidade individual.”
(Silva, 2007: 7)
Toda essa dificuldade, no entanto, não
deve servir de impedimento para se pensar sobre a felicidade e de buscá-la
na prática. Conforme entende Silva (2007), uma das maiores dificuldades
está exatamente em saber se a felicidade que se busca é
a mesma que se entende como verdadeira. Daí resulta a ilusão
de muitas pessoas se apegarem a qualquer coisa, como objeto de felicidade,
sem antes refletir sobre o que querem e o resultado deste querer.
A origem latina da palavra felicidade – felicitas,
tatis – remete a um entendimento mítico da expressão:
"Felicidade – divindade
alegórica romana. Era geralmente representada nas moedas sob
a forma de uma mulher corpulenta, portando o caduceu de Mercúrio
e a cornucópia: um simboliza a prosperidade e saúde;
a outra, opulência, dons indispensáveis à felicidade.”
(Dicionário de mitologia grecoromana,
Abril Cultural, 1973: 73)
Daí o termo, que em sentido próprio significa fecundidade,
fertilidade, tornar-se, em sentido especial, “favor dos deuses”
(Dicionário Escolar Latino/Português, MEC). Talvez venha
daí o entendimento de que felicidade seria uma graça concedida
por especial deferência de Deus, ou a ser alcançada na
identidade entre Deus e o homem:
“O Cristianismo conserva a ideia
fundamental de que a identidade é a felicidade, por isso o
homem se identifica em Deus, em quem está a sua felicidade”
(Silva, 2007: 44).
Para Abbagnano (2007: 505) “o conceito felicidade
é humano e mundano” e “nasceu na Grécia antiga”.
O autor aponta os vários entendimentos do termo entre os filósofos
antigos:
"Tales
julgava feliz ‘quem tem um corpo são e forte, boa sorte
e alma bem formada’. (...) Demócrito
(...) definia a felicidade como ‘a medida do prazer e a proporção
da vida’, que era manter-se afastado dos excessos. (...) A tese
segundo a qual a felicidade é o sistema dos prazeres foi expressa
com clareza por Aristipo, que fez a distinção
entre prazer e felicidade. (...) Egesias (...) negava
a possibilidade de felicidade, (...) justamente pelo fato de que os
prazeres são demasiado raros e passageiros. Por outro lado,
Platão negava que a felicidade consistisse
no prazer e a julgava, ao contrário, relacionada com a virtude.
‘Os felizes são felizes por possuírem a justiça
e a temperança; os infelizes são infelizes por possuírem
a maldade’ (Górgias); no Banquete são chamados
de felizes ‘aqueles que possuem a bondade e a beleza’,
[i. é] ser virtuoso, e a virtude outra coisa não é,
segundo Platão, senão a capacidade da alma de cumprir
o seu próprio dever, ou seja, de dirigir o homem da melhor
maneira. (...) Aristóteles insistiu no caráter
contemplativo da felicidade em seu grau superior, a bem-aventurança,
mas apresentou uma noção mais ampla de felicidade, definindo-a
como ‘certa atividade da alma, realizada em conformidade com
a virtude’; ela não exclui, mas inclui a satisfação
das necessidades e das aspirações mundanas. As pessoas
felizes, segundo Aristóteles, devem possuir as três espécies
de bens que se podem distinguir, quais sejam, os exteriores, os do
corpo e os da alma. (...) Em geral pode-se dizer que ‘cada qual
merece a felicidade na medida da virtude, do tino e da capacidade
de bem agir que possui, podendo se tomar como exemplo a divindade,
que é feliz e bem-aventurada não graça aos bens
exteriores, mas por si mesma, por aquilo que ela é, por natureza’.
A felicidade é; portanto mais acessível ao sábio
que mais facilmente se basta a si mesmo. (...) [Para os estóicos]
o sábio é aquele que se basta e que acha a felicidade
em si mesmo, o que melhor se chamaria de bem-aventurança. Para
Plotino [que critica os estóicos e Aristóteles],
a felicidade é a própria vida; por isso, ao mesmo tempo
que pertence a todos os seres vivos, pertence eminentemente à
vida mais completa e perfeita, que é a da inteligência
pura. (...) A felicidade do sábio não pode ser destruída
(...) por nenhuma circunstância desfavorável, assim como
não pode ser aumentada pelas circunstâncias favoráveis:
por isso é a própria bem-aventurança de que gozam
os deuses. A filosofia medieval adotou e enfatizou esses conceitos.”
(Abbagnano, 2007: 5056)
Epicuro (341aC270aC) vincula fortemente felicidade a prazer.
Para ele, “o prazer é o início e o fim de uma vida
feliz. Com efeito, nós o identificamos com o bem primeiro e inerente
ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa”
(Epicuro, 2002: 37).
Mas deixa claro que, ao contrário do que parece sugerir, não
se trata de qualquer prazer:
"Embora o prazer seja nosso bem
primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há
ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos
advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo
que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres,
se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores (...).
Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de
acordo com o critério dos benefícios e dos danos.”
(Epicuro, 2002: 39)
A conjugação felicidade e prazer será retomada
no humanismo, com autores como Locke, para quem "a
felicidade 'é o maior prazer de que somos capazes, e a infelicidade,
o maior sofrimento", e Leibniz, que considerava
"a felicidade é um prazer durável, o que não
poderia acontecer sem o progresso contínuo em direção
a novos prazeres’.”
(Abbagnano, 2007: 506)
Considerando a felicidade parte do bem
supremo, Kant não a considera possível
neste mundo, só sendo possível em “um mundo inteligível,
que é ‘o reino da graça’, por intervenção
de um princípio onipotente” (KANT,
segundo Abbagnano, 2007: 506). Este conceito de felicidade impossível
é praticamente abandonado na filosofia moderna, e tornando com
uma abordagem utilitarista em Hume e no empirismo inglês.
Hume vai identificar...
“... o que é moralmente
bom com o que é útil e benéfico. Depois dele,
Bentham retomava como fundamento da moral a fórmula de Beccaria:
‘A maior felicidade possível, no maior número
de pessoas’, (...) acentuando cada vez mais o seu caráter
social. (...) [Para esses autores] a felicidade, por depender de condições
e circunstâncias objetivas além das atitudes do homem,
não pode pertencer ao homem em sua individualidade, mas só
ao homem como membro de um mundo social. E, embora relacionem felicidade
com prazer, distinguem os vários tipos de prazer, admitindo
a identificação apenas com os prazeres socialmente partilháveis.”
(Abbagnano, 2007:506)

Imagem: Immanuel Kant em pintura do séc.
XIX.
Fonte: Wikipedia Commons
O princípio da maior utilidade acaba por
se tornar a base do liberalismo moderno, anglo-saxônico, e a ‘busca
da felicidade’ é incluída entre os direitos naturais
e inalienáveis do homem, pela Constituição americana.
E Bertrand Russel, seguindo essa tradição,
acrescenta os interesses múltiplos das relações
do homem com as coisas e com os outros homens, eliminando o egocentrismo,
o fechamento em si mesmo e nas paixões pessoais.
“Trata-se de uma condição
que coloca a felicidade em posição diametralmente oposta
à da autossuficiência do sábio, que os antigos
consideravam o grau mais elevado de felicidade” (Abbagnano,
2007:506).
O conceito de felicidade volta a ser
deixado de lado, sendo reabilitado com a filosofia prática e
a ética normativa, dividido entre:
1º aqueles a quem a felicidade
coincide com uma situação de satisfação
parcial de exigências humana que são consideradas fundamentais
ou imprescindíveis (significado fraco de felicidade);
2º aqueles para quem a felicidade (‘verdadeira’)
não se esgota no nível 1, mas coincide, na sua plenitude,
com uma (hipotética) situação de satisfação
total (significado forte de felicidade).
Os defensores do significado ‘forte’ de felicidade costumam
chegar a uma solução de tipo metafísico-religioso
baseada na tese, presente nos clássicos da filosofia cristã,
segundo a qual ‘nada pode saciar a vontade humana a não
ser o bem universal (total, infinito)’ que ‘não se
encontra em um bem criado, mas apenas em Deus’, ou então
chegam à conclusão pessimista de que o desejoso humano
de felicidade completa está destinado a chocar-se contra o ‘silêncio
irracional do mundo’ (Camus) e portanto permanecer insaciado.
(Abbagnano, 2007: 507)
Uma solução intermediária é representada
por autores que, mesmo reconhecendo a existência de um desejo
de plenitude (“anseio de infinito”) no homem, duvidam da
existência (ou da possibilidade de se conhecer) de um “referente
objetivo”, contentando-se (conscientemente), portanto, com a noção
de felicidade relativa (ou “fraca”), como sendo “a
única que se pode sentir e sobre a qual se pode discutir filosoficamente,
tanto em termos éticos quando sociopolíticos” (Abbagnano,
2007: 507).
2 – A FELICIDADE EM
SANTO AGOSTINHO
Franklin Silva considera a filosofia de Santo Agostinho eminentemente
prática e, sob este aspecto, moral, tendo uma relação
tão harmônica com a teologia que tende a se identificar
com esta. Considera a influência de Platão em Santo Agostinho
marcante.
“Para Agostinho, Platão
atingiu o mais elevado nível de verdade a que alguém
poderia chegar independentemente da revelação divina”,
mas, ainda assim, com uma visão incompleta da verdade, que,
em última instância, se confunde com Deus. “Porém
Platão teria atingido a transcendência, isto é,
o caráter não material e inteligível da verdade
e do bem” (Silva, 2007: 445).
O Cristianismo vai superar o “sentido grego do conhecimento contemplativo”
(theoria), ao identificar conhecimento com amor (caritas), “na
medida em que o conhecimento da verdade e o amor do bem se entrosam
numa mesma fé” (Silva, 2007:45).
A diretriz máxima do Cristianismo, informada pelo próprio
Cristo, assenta-se no amor a Deus e ao próximo:
- Mestre, qual é o grande
mandamento na lei?
- E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: amarás
o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.
(Mateus 22:3640; negrito nosso)

Imagem: Painel iconográfico do século
VI.
Fonte: Wikipedia Commons
Jesus também associa o conhecimento da verdade
com caminho para a liberdade:
“E conhecereis a verdade
e a liberdade vos libertará” (Jo 8:32). Dessa forma,
e retornando a Santo Agostinho, aliando sua razão e liberdade
à graça divina, o homem pode construir sua salvação
– no sentido de libertação do “pecado de
Adão” (pecado original) e sua (re)união (religação
– religare – religião) com Deus. Isto se daria
por uma vida ética, que conduziria o homem a Deus, desde sua
origem obscurecida pelo pecado, até o renascimento redentor.
Alcançar este estado de beatitude seria o propósito
maior da vida cristã e a felicidade de quem cumpre o destino
de “elevar-se a Deus”
(Silva, 2007:46)
Para Agostinho, essa busca por
Deus é a própria busca pela felicidade:
“Quando te procuro, ó
meu Deus, procuro a felicidade da vida. O meu corpo, com efeito, vive
da minha alma, e a alma vive de ti”
(Confissões, X, 20).
E afirma:
Há um modo de possuí-la
[a felicidade] que nos torna felizes, e há os que são
felizes pela esperança de possuí-la. Estes a possuem
de modo inferior aos que já são felizes pela posse real,
estando porém em melhores condições do que os
que não são felizes nem na realidade nem na esperança.”
E, abrindo para a ideia de que o homem já tem em si a memória
da felicidade, acrescenta: “No entanto, quem a espera não
deseja tanto ser feliz, se já de algum modo não possuísse
a felicidade.
(Confissões, X, 20)
O conceito de felicidade não é desconhecido do homem.
Na verdade, ele o traz em si, na forma de memória, por que “já
fomos alguma vez felizes”. Se não fosse assim, ele não
o buscaria com tanta veemência e por toda parte.
“Mal ouvimos o seu nome, confessamos
desejá-la, e não é o som da palavra que nos alegra”
(Confissões, X, 20).
Ao mesmo tempo em que é algo universal,
a felicidade é desejada por todos, indiscriminadamente, não
havendo quem a repudie:
A felicidade não é justamente
aquilo que todos querem, não havendo ninguém que não
a queira?
(...) De fato, a felicidade em si não
é grega nem latina, mas os gregos, os latinos e os homens de
todas as línguas querem alcançá-la. Ela é
conhecida por todos, e se todos pudessem ser interrogados a uma só
voz – quereis ser felizes?, – sem dúvida alguma
responderiam que sim. (Confissões,
X, 20)
E acrescenta:
“...a noção
de felicidade leva, não só a amá-la, mas a querer
possuí-la para ser feliz” (Confissões,
X, 21).
E não é neste mundo natural
que a felicidade deve ser buscada, porque não ela não
faz parte dele – “A vida feliz não se vê com
os olhos porque não é corporal” (Confissões,
X, 21) –, e nisso o mestre de Hipona ecoa Jesus, quando
este disse: “... os verdadeiros adoradores adorarão o Pai
em espírito e verdade” (Jo 4:23);
e ainda: “O reino de Deus não vem com aparência exterior”
(Lc 17:20).
Uma vez identificado a verdadeira felicidade
e a forma de encontrá-la, não deve o homem contentar-se
com nada menos que sua plena posse:
Longe de mim, Senhor, longe do coração
de teu servo, que se confessa diante de ti, longe o pensamento de
que uma alegria qualquer possa torná-lo feliz. Há uma
alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles
que te servem por puro amor: essa alegria és tu mesmo. E esta
é a felicidade: alegrar-nos em ti, de ti e por ti. É
esta a felicidade, e não outra. Quem acredita que exista outra
felicidade, persegue uma alegria que não é a verdadeira.
Contudo, a sua vontade não se afasta de uma certa imagem de
alegria.
(Confissões, X, 22).
E complementando:
... e desde que amam a felicidade,
que nada mais é que alegria proveniente da verdade, certamente
também amam a verdade...
(Sto. Agostinho, apud Silva, 2011).
3 – A FELICIDADE EM ALLAN KARDEC
Foto: Obras de Kardec em edições
diferentes. Carlos A. I. Bernardo
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec (pseudônimo
de Hippolyte Léon Denizard Rivail, Lyon 1804, Paris 1869)
é um conjunto de informações sobre o mundo espiritual,
seus habitantes, os Espíritos – que seriam os homens do
mundo físico, porém desencarnados –, a relação
entre os dois planos, suas características e sua realidade última,
não passando a vida física de um estágio temporário
até que o indivíduo a ele retorne. Trata, também,
de uma série de orientações de como o homem deve
se comportar, aproveitando a sua encarnação, de forma
a evoluir, aproximar-se da divindade e conquistar a felicidade. Neste
sentido, cumpre-lhe corrigir uma série de informações
que considera equivocadas, trazendo informações que conscientizam
cada indivíduo de seus potenciais e de sua responsabilidade na
construção do destino.
Ministrando a prova material da existência
e da imortalidade da alma, iniciando-nos nos mistérios do nascimento,
da morte, da vida futura, da vida universal, tornando-nos palpáveis
as inevitáveis consequências do bem e do mal, a Doutrina
Espírita, melhor do que qualquer outra, põe em relevo
a necessidade da melhoria individual. Por meio dela, sabe o homem
de onde vem, para onde vai, porque está na Terra; o bem tem
um objetivo, uma utilidade prática. Ela não
se limita a preparar o homem para o futuro, forma-o Também
para o presente, para a sociedade. Melhorando-se moralmente,
os homens prepararão na Terra o reinado da paz e da fraternidade.
(Kardec, 2005: 568; negrito nosso)
O Espiritismo acaba por se apresentar como uma filosofia de vida, muito
mais do que uma confissão religiosa. Traça diretrizes
para a vida presente, sem qualquer forma de imposição,
tendo em vista as consequências dos atos na vida futura, e mesmo
nessa vida (causa e efeito). Buscando orientar o homem, no seu desprendimento
das preocupações meramente materiais, com vistas a se
construir como criatura divina, buscando a transcendência que
Platão menciona e Agostinho endossa, a doutrina proposta por
Kardec torna-se um código de vida, um meio de se alcançar
uma felicidade duradoura na realização do Espírito.
Nesse sentido, Deolindo Amorim, citado
por Gandres (2011), afirma que o Espiritismo é, para nós,
uma filosofia de vida, não é simplesmente uma crença”,
e, “embora se preocupe diretamente com a vida futura ou extraterrena,
não deixa, todavia, de cogitar do bem-estar humano, discutindo
os aspectos fundamentais da questão social” e adverte:
“O Espiritismo parte de princípios
e objetivos que visam justamente colocar a criatura humana em condições
de superar o culto material, a crença no poder miraculoso de
objetos e no carisma de pessoas endeusadas pela submissão de
adoradores (...) Ele é um conjunto homogêneo de princípios
(Deolindo Amorim, segundo Gandres, 2011).
Conceituar o que é felicidade,
sob a ótica espírita, é fundamental para que o
adepto da doutrina saiba o que realmente busca, evitando as armadilhas
dos entendimentos equivocados. Para Kardec, “a felicidade é
uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam
sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la”
e que, “neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado
(Kardec, 2008: 138). Essa impossibilidade
– de uma felicidade mundana – é ainda mais evidenciada
em O Evangelho segundo o Espiritismo:
Não sou feliz! A felicidade
não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem em todas
as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova,
melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade
desta máxima do Eclesiastes: ‘A felicidade não
é deste mundo.’ Com efeito, nem a riqueza, nem o poder,
nem mesmo a florida juventude são condições essenciais
à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três
condições tão desejadas, porquanto incessantemente
se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas
as idades se queixarem amargamente da situação em que
se encontram. (Kardec, 2008:137)
A confusão entre felicidade verdadeira
e falsa leva a opções desastrosas, em que os indivíduos,
iludidos por um ganho imediato e de curto prazo, não se percebem
elegendo comportamentos e atitudes com custos futuros elevados. Mensagem
atribuída ao Espírito Delfina de Girardin chama a atenção
para a importância de se distinguir uma da outra, já que
a escolha errada redundaria em sofrimento posterior para o homem iludido:
Vou revelar-vos a infelicidade sob
uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais
com todas as veras de vossas almas iludidas. A felicidade é
a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã
agitação, é a satisfação louca
da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação
do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu
futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que
ardentemente procurais conseguir.
(Kardec, 2008: 145)
E, em linha com Epicuro quando este
recomenda a seleção de prazeres e dores, o mesmo Espírito
acrescenta:
Que, pois, o Espiritismo vos esclareça
e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e
o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis
então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo,
preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não
pode dar glória, nem promoção! Que importa ao
soldado perder na refrega armas, bagagens e uniforme, desde que saia
vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no
futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne,
contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste?
(Kardec, 2008: 1456)
Uma felicidade relativa, no entanto,
é possível ao homem, desde que prefira os gozos da alma
aos do corpo, como sugeria Platão:
Vive o homem
incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente
lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra.
Entretanto, malgrado às vicissitudes que formam o cortejo inevitável
da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade,
se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas
às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais
em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar
dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz
do coração, única felicidade real neste mundo,
ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará,
e, coisa singular! O homem, como que de intento, cria para si tormentos
que está nas suas mãos evitar.
(Kardec, 2008: 3)
Uma ideia do que seria a verdadeira
felicidade é dada quando Kardec fala da classe dos Espíritos
puros, em O Livro dos Espíritos:
Gozam de inalterável felicidade,
porque não se acham submetidos às necessidades, nem
às vicissitudes da vida material. Essa felicidade, porém,
não é a de ociosidade monótona, a transcorrer
em perpétua contemplação. Eles são
os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para
manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os
Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra
de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões.
Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los
ao bem ou à expiação das faltas que os conservam
distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação
gratíssima.
(Kardec, 2007: 127)
Essa felicidade, em sentido máximo
e duradoura, deve ser preferida a qualquer ilusão terrena:
“A felicidade
eterna é mil vezes preferível aos prazeres efêmeros
da Terra...” (Kardec, 2007: 238).
Mais claramente, a felicidade verdadeira está
assim explicada, na questão 967, de O Livro dos Espíritos:
967. Em que consiste a felicidade
dos bons Espíritos?
Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio,
nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer
das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor
que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam
as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida
material. São felizes pelo bem que fazem. Contudo, a felicidade
dos Espíritos é proporcional à elevação
de cada um. Somente os puros Espíritos gozam, é exato,
da felicidade suprema, mas nem todos os outros são infelizes.
Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de graus em
que os gozos são relativos ao estado moral. Os que já
estão bastante adiantados compreendem a ventura dos que os
precederam e aspiram a alcançá-la. Mas, esta aspiração
lhes constitui uma causa de emulação, não de
ciúme. Sabem que deles depende o consegui-la e para a conseguirem
trabalham, porém com a calma da consciência tranquila
e ditosos se consideram por não terem que sofrer o que sofrem
os maus.
(Kardec, 2007: 548)
4 – SANTO AGOSTINHO EM ALLAN KARDEC
Santo Agostinho é citado pelo
menos sete vezes na principal obra de
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos. Consta com um dos Espíritos
a assinar – em Prolegômenos – a orientação
dada a Kardec sobre o teor do trabalho proposto, na codificação
da doutrina (Kardec, 2007:71).
É atribuída a Santo Agostinho
a orientação sobre o autoconhecimento, como “o meio
prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida
e de resistir à atração do mal”, na questão
919 da obra citada:
Fazei o que eu
fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência,
passava em revista o que fizera e perguntava a mim mesmo se não
faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim
se queixar. (...) (Kardec, 2007:517)
O filósofo cristão é
um dos Espíritos que respondem à questão 1009,
do mesmo livro, quando Kardec questiona sobre duração
das penas impostas. É categórico em afirmar a duração
relativa destas penas, consoante a bondade e justiça divinas:
Aliás,
no fazer que a duração das penas dependa dos esforços
do culpado não está toda a sublimidade da justiça
unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade
desta sentença: ‘A cada um segundo as suas obras’.
(Kardec, 2007:568)
É também de Santo Agostinho a mensagem
que encerra O Livro dos Espíritos.
Na obra O Evangelho segundo o
Espiritismo, Santo Agostinho é citado 9 vezes. Logo no início
do livro, como ficou dito na introdução deste artigo,
Kardec o considera “um dos maiores vulgarizadores do Espiritismo”
(Kardec, 2008:69),
ou seja, um dos que mais contribuíram para colocar a Doutrina
Espírita ao alcance do vulgo, do homem comum.
No capítulo III – Há
muitas moradas na casa de meu pai, mensagem atribuída a Santo
Agostinho fala sobre a progressão dos mundos, informando que
um “orbe expiatório mudar-se-á em planeta de regeneração,
onde os homens serão ditosos, porque nele imperará
a lei de Deus” (Kardec, 2008:95; negrito
nosso).
No capítulo V – Bem aventurados
os aflitos, a mensagem do filósofo está inteiramente em
concordância com sua manifestação em vida, sobre
não ser a Terra (o mundo natural) região de felicidade:
Será a Terra um lugar de gozos,
um paraíso de delícias? Já não ressoa
mais aos vossos ouvidos a voz do profeta? Não proclamou ele
que haveria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse
vale de lágrimas? Esperai, pois, todos vós que aí
viveis, causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas
e profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para o Céu
e bendizei o Senhor por ter querido experimentar-vos...
(...)
Ditosos os que sofrem e choram!
Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças.
(Kardec, 2008:1367).
Uma forma de encontrar alguma
consolação e felicidade está na prática
da prece, em que o crente entra em contato com Espíritos superiores,
que o podem ajudar na dura jornada terrena e fornecer algum consolo
nos momentos mais difíceis, é o que se lê na última
mensagem de Santo Agostinho, em O Evangelho segundo o Espiritismo, no
capítulo XXVII – Pedi e obtereis (Kardec,
2008: 490491).
5 – CONCLUSÃO
Santo Agostinho e Allan Kardec concordam
que a Terra não é o espaço da real felicidade.
Que esta deve ser buscada num mundo superior, a que o homem terá
acesso através da sua evolução espiritual. O mundo
físico é espaço para construções,
realizações, cujos resultados seus autores auferirão
mais tarde, no “plano espiritual”. E os resultados serão
de acordo com a qualidade, boa ou má, das realizações.
É, ainda, o local de resgate de erros do passado, visando à
redenção do indivíduo, ao mesmo tempo em que se
realiza como Espírito eterno.
A prática incessante do
bem, a humildade e a aceitação ativa das provas e expiações
que se lhe impõem, tornam o homem melhor, afastando-o da animalidade,
inerente à vida física, e o aproximam da “angelitude”,
ou seja, espíritos puros. Tanto um autor quanto outro tem uma
abordagem bastante prática, que visa o exercício do cotidiano,
como, por exemplo, a orientação para o autoconhecimento,
de Agostinho. Na obra kardequiana pode-se encontrar influência
de vários filósofos, desde a antiguidade, não só
Santo Agostinho. Um estudo mais aprofundado pode levantar esses paralelos
e enriquecer o estudo da Doutrina Espírita.
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.espiritismo.org/biokardec.htm; acessado em 02/12/2011.
Fonte: BOLETIM GEAE
| ANO 20 | NÚMERO 547 | 31 DE DEZEMBRO DE 2011