Gebaldo
José de Sousa & Jeziel Silva Ramos
> Apometria não convém às Casas Espíritas
Apometria não convém às
Casas Espíritas - Parte 1
Gebaldo José de Sousa e Jeziel Silva
Ramos *
"- Que pensa Emmanuel do espírita diante do sincretismo
religioso?
- Nosso amigo espiritual nos aconselha a respeitar crenças, preconceitos,
pontos de vista e normas de quaisquer criaturas que não pensem
como nós, mas adverte-nos que temos deveres intransferíveis
para com a Doutrina Espírita e que precisamos guardar-lhe a limpidez
e a simplicidade com dedicação sem intransigência
e zelo sem fanatismo (...)
- Cabe-nos, assim, defender a obra de Allan Kardec, em qualquer tempo?
- Sim. Os Espíritos Amigos nos dizem que nos compete a obrigação
de defender os ensinamentos de Allan Kardec, sobretudo, na vivência
dessas benditas lições, através de nossas próprias
vidas. Compreendendo assim, reconheceremos que é necessário
sermos fiéis a Kardec em todas as nossas atividades (...)"
(1)
Há três anos
a Casa de Eurípedes - Hospital Espírita Eurípedes
Barsanulfo, Goiânia (GO) - promoveu a realização
de Seminário sobre apometria.
E permitiu que um grupo estudasse e aplicasse a técnica, em caráter
experimental. Sendo a Casa de Eurípedes instituição
técnico-científico, como deve ser qualquer hospital psiquiátrico
moderno, com filosofia e práticas espíritas, existe espaço
para a discussão e experimentação de novas técnicas,
sem preconceito e espírito de segregação, mas sempre
com supervisão e acompanhamento técnico.
Como veremos, essa postura não
se aplica a experimentações de natureza mediúnica.
Nesse sentido, a técnica apométrica
foi aplicada, principalmente em pacientes internos, associando de alguma
forma o Departamento Doutrinário e Mediúnico dessa Instituição
à apometria. Decorridos três anos e não tendo sido,
ainda, realizada qualquer avaliação mais ampla sobre esse
trabalho, o assunto foi levantado, buscando respostas para as questões:
a) "A teoria e a prática
da técnica conhecida como apometria (e suas leis) estão
em pleno acordo com os princípios doutrinários codificados
por Allan Kardec, nas obras básicas do Espiritismo, ou seja,
a apometria pode ser considerada uma técnica espírita?"
b) "Caso a apometria não
seja uma técnica espírita (como várias técnicas
terapêuticas anímicas e/ou mediúnicas não
o são), é aconselhável incluí-la dentro
do corpo do Departamento Doutrinário e Mediúnico da Casa?"
c) "Sendo ou não uma técnica
espírita, a aplicação da técnica tem resultado
em benefícios terapêuticos reais para os pacientes em tratamento
nesta instituição hospitalar?"
Neste artigo, resumimos parecer
da Comissão formada com o objetivo de oferecer respostas às
questões acima, levando-se em conta que a Instituição
tem se prezado pela fidelidade aos fundamentos da Doutrina Espírita.
- Não se trata de julgar a técnica
dita apométrica, de saber se ela funciona ou não. Nem
de julgar pessoas ou grupos que a praticam.
EXAME DO ASSUNTO, À LUZ DA DOUTRINA
ESPÍRITA:
1.1) Por que Allan Kardec atribuiu
a ela o nome de Doutrina Espírita?
A Doutrina é dos Espíritos. E isso porque foi revelada
por eles, a muitos médiuns, em inúmeros lugares, simultaneamente:
"(...) a Doutrina dos Espíritos
não é de concepção humana. Foi ditada
pelas próprias inteligências que se manifestam, quando
ninguém disso cogitava, quando até a opinião
geral a repelia. (...) Perguntamos ainda mais: por que estranha coincidência
milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo
terráqueo, e que jamais se viram, acordaram em dizer a mesma
coisa?" (2)
Allan Kardec não aceitava tudo
que vinha dos Espíritos - nem recomenda que o façamos
-, submetendo seus ensinos ao crivo da razão, aplicando o preceito
de Jesus:
"Meus bem-amados, não
creiais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos
são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm
levantado no mundo." (3)
(I Jo, 4:1)
Kardec utilizou na Codificação
do Espiritismo o "Controle universal do ensino dos Espíritos",
conforme se lê em "O Evangelho Segundo o Espiritismo"
item "II - AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA".
Afirmou ser progressiva a Terceira Revelação, mas publicou
- "Revista Espírita", agosto/1861, mensagem "Da
Influência Moral dos Médiuns nas Comunicações",
Espírito Erasto:
"Mais vale repelir dez verdades
que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa."
(4)
Máxima repetida em "O Livro
dos Médiuns", Ed. FEB, cap. XX, item 230, p. 292.
Em muitas partes de sua obra, o Codificador recomenda-nos submeter a
exame severo as comunicações dos Espíritos, como,
por exemplo, nos itens 266 e 267, de "O Livro dos Médiuns".
Desaconselhável, pois, a crença cega no que dizem os mentores.
O ideal é estudar mais e buscar respostas nas obras confiáveis,
já existentes, transmitidas por médiuns de reconhecida
idoneidade.
A Doutrina Espírita não está engessada em verdades
acabadas, absolutas. Não é nem se diz dona da Verdade,
em parte alguma.
1.2) Por que os Espíritos não revelaram aos homens
a técnica dita apométrica, quando tiveram à mão
excelentes médiuns, ao longo do século XX? Se é,
como afirmam os apômetras, mais eficiente que a reunião
de desobsessão, por que o silêncio dos Espíritos
Superiores?
Seu divulgador no Brasil, Dr. José Lacerda de Azevedo adotou-a,
após demonstração, em Porto Alegre - RS, pelo porto-riquenho
Luiz Rodrigues, na década de sessenta do século passado.
A essa época ainda se encontrava entre nós, vigoroso,
nosso irmão Francisco Cândido Xavier. Seria uma falha dos
Espíritos Superiores, embora interessados na regeneração
da humanidade? Hipótese esta absolutamente inadmissível!
1.3) Quanto à desobsessão, utilizada
na prática Espírita, o Espírito André Luiz
transmitiu, ao médium Francisco C. Xavier, instruções
de como realizá-la, em 1964 - coincidentemente na mesma década
da divulgação da apometria entre nós -, na grande
obra intitulada "Desobsessão", editada pela Federação
Espírita Brasileira.
1.4) No que se refere à apometria, o silêncio
dos Espíritos Superiores é sintomático. Que saibamos,
não houve manifestações sobre o tema em várias
partes do mundo, através de médiuns conceituados.
Devemos considerar, portanto, que não houve o controle universal
dos ensinos da técnica, como preconizava Kardec. Também
não se confirmou o que preceitua o seguinte pensamento:
"Estai certos, igualmente, de
que quando uma verdade tem de ser revelada aos homens, é, por
assim dizer, comunicada instantaneamente a todos os grupos sérios,
que dispõem de médiuns também sérios,
e não a tais ou quais, com exclusão dos outros."
ESE, Cap. XXI, item 10, 6º §. (5)
Por outro lado, a Ciência ainda
não comprovou a eficácia da técnica apométrica.
E se é por ela admitida, também desconhecemos.
Por estes fatos, não pode ser admitida como vinculada à
Doutrina dos Espíritos, pois não atende a nenhum dos dois
critérios definidos por Kardec:
"Por sua natureza, a revelação
espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo
da revelação divina e da revelação científica."
(6)
Assim, não deve ser adotada em
Instituições verdadeiramente Espíritas.
* Jeziel
Silva Ramos - Médico e Presidente do Hospital Espírita
Eurípedes Barsanulfo, em Goiânia (GO).
BIBLIOGRAFIA:
1 - BARBOSA, Elias. No Mundo de Chico
Xavier. Edição Calvário, São Paulo, 1968,
p. 78;
2 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. FEB, RJ. Introdução,
p. 44;
3 - Bíblia Sagrada;
4 - KARDEC, Allan. Revista Espírita. Edicel, SP,Tomo IV, 1863,
p. 257;
5 - KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 118ed. FEB,
Rio de Janeiro, 2001, C. XXI, item 10, 6º §;
6 - KARDEC, Allan. A Gênese. 34ed. FEB, Rio de Janeiro, 1991,
Cap. I, item 13.
Apometria não
convém às Casas Espíritas - Parte 2
Inconsistências e manifestações
de respeitável Espírito e de Médiuns
"É necessário
preservar o Espiritismo conforme o herdamos do eminente Codificador,
mantendo-lhe a claridade dos postulados, a limpidez dos seus conteúdos,
não permitindo que se lhe instale adenda perniciosa, que somente
irá confundir os incautos e os menos conhecedores das suas
diretrizes."
Bezerra de Menezes/Divaldo P. Franco - Reformador/Dezembro
2003, p. 446.
Os apômetras adotam terminologias
diversas daquelas utilizadas pela Doutrina Espírita e conceitos
de crenças orientais. Além disso, certas afirmações
deles colidem com a razão:
a) - O perdão quase instantâneo,
por parte de adversários seculares, após serem submetidos
à técnica;
b) - A incorporação
de 'vários corpos', de uma só personalidade, encarnada,
ou não, em vários médiuns, com doutrinação
simultânea, nas 'manifestações desses corpos'!
Para justificar o primeiro item, afirmam
que, pela técnica do desdobramento e o uso de pulsos de energia,
a entidade espiritual sofredora e vingativa é transportada no
tempo, ao passado e ao futuro, perdoando em poucos segundos, esquecendo
o ódio de séculos ou milênios, contrariando a própria
natureza humana e a necessidade de reforma íntima! E preconiza
esse resultado em todos os casos!
Em contraposição a esses conceitos, consultemos algumas
obras de fontes seguras.
Ao final dos livros "Instruções Psicofônicas"
e "Vozes do Grande Além", de mensagens recebidas por
Francisco C. Xavier, em trabalhos de desobsessão, nos anos de
1952 a 1956, em Pedro Leopoldo, há boletins anuais, com estatísticas
dos atendimentos, aos quais remetemos o leitor, onde se vê que
é muito pequeno o percentual de recuperação plena.
E lembrem-se de que estes trabalhos
mediúnicos contavam com a presença do maior médium
da história da Humanidade - Francisco Cândido Xavier!
Manoel P. de Miranda/Divaldo, em "Loucura e Obsessão",
afirma à página 14:
"A cura das obsessões,
conforme ocorre no caso da loucura, é de difícil curso
e nem sempre rápida, estando a depender de múltiplos
fatores, especialmente, da renovação, para melhor, do
paciente (...).
Allan Kardec, em "O Evangelho
Segundo o Espiritismo", Cap. 28, item 84, diz:
"Observação. -
A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança
e devotamento."
Albino Teixeira/Francisco C. Xavier,
em "Paz e Renovação", indaga, no capítulo
48 (Obsessão e Cura), à p. 135:
"Em qualquer progresso ou desenvolvimento
de aquisições do mundo, nada se obtém sem paciência,
amor, educação e serviço; como quereis, meus
irmãos da Terra, que a obsessão - que é freqüentemente
desequilíbrio cronificado da alma -, venha a desaparecer sem
paciência, amor, educação e serviço, de
um dia para o outro?"
Bastam estas citações,
eminentemente doutrinárias, para saber que a cura das obsessões
não se faz com um toque de mágica, de uma hora para outra.
É também o que nos revela a experiência.
Nossa razão não aceita tanta facilidade - eis que não
admite seja possível transformação tão rápida
em Espíritos que cultivam o ódio tão intensamente.
Quanto ao item b, pelo inusitado da proposta e para não nos alongarmos
ainda mais, deixamos que cada um avalie por si mesmo!
2) MANIFESTAÇÕES DE RESPEITÁVEL
ESPÍRITO E DE MÉDIUNS.
2.1) Francisco Cândido Xavier relata orientações
recebidas de Emmanuel, seu mentor:
"Lembro-me de que num dos primeiros
contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado,
por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos
de Jesus e as lições de Allan Kardec e disse mais que,
se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse
de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer
com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo."
(Chico Xavier: Mediunidade e Coração,
de Carlos A. Baccelli, Editora IDEAL, 1985, p. 12/3: Emmanuel e Duas
Orientações para o Resto da Vida).
2.2) Divaldo Pereira Franco, durante uma larga entrevista,
no programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova,
de Guarulhos (SP), em Agosto/2001, a partir de uma pergunta a ele dirigida,
afirma:
"Não irei entrar no mérito
nem no estudo da apometria porque eu não sou apômetra,
eu sou espírita. O que posso dizer é que a apometria,
segundo os apômetras, não é Espiritismo, porquanto
as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações
de "O Livro dos Médiuns".
Não examinaremos aqui o mérito ou demérito porque
eu não pratico a apometria, mas, segundo os livros que têm
sido publicados, a apometria, segundo a presunção de
alguns, é um passo avançado do Movimento Espírita
no qual Allan Kardec estaria ultrapassado.
Allan Kardec foi a proposta para o século XIX e para parte
do século XX e a apometria é o degrau mais evoluído,
no qual Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado.
Tese com a qual, na condição de espírita, eu
não concordo em absoluto.
Na prática e nos métodos de libertação
dos obsessores, a violência que ditos métodos apresentam,
a mim pessoalmente - me parece tão chocante que faz recordar-me
da lei de Talião, que Moisés suavizou com o código
legal e que Jesus sublimou através do amor. (...)
Tenho certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos,
primeiro, não conhecem as bases Kardequianas, e, ao conhecerem-nas,
nunca as vivenciaram para terem certeza.
Então, se alguém prefere a apometria, divorcie-se do
Espiritismo. É um direito! Mas não misture, para não
confundir. (...)
Não temos nada contra a apometria, as correntes mento-magnéticas,
aquelas outras de nomes muito esdrúxulos e pseudocientíficos.
Mas como espíritas, nós deveremos cuidar da proposta
espírita.
(...) Não entrarei no mérito dos métodos, que
são bastante chocantes para a nossa mentalidade espírita,
que não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados
comportamentos, porque a única força é aquela
que vem de dentro - a moral.
"Para esta classe de espíritos são necessários
jejum e oração." - disse Jesus.
Jornal virtual "A Jornada"
(www.ajornada.hpg.ig.com.br/doutrina/mat-0030a.htm)
2.3) - O Dr. Ricardo Di Bernardi - que é
inteiramente favorável à correta utilização
do método apométrico e defende o aprofundamento do estudo
-, admite falhas nessa prática e fala em umbandização
da Doutrina Espírita:
"Com todo respeito aos nossos
"primos" umbandistas, que executam trabalho sério
e útil, faz-se necessário definir algumas fronteiras
que devem ser tão nítidas quanto fraternas. Não
há porque criarmos grupos de umbanda técnico-científica
nas casas espíritas. Ao invés do clássico e necessário
"DIÁLOGO COM AS SOMBRAS" tão preconizado por
Hermínio de Miranda, passamos a ouvir o contínuo estalar
de dedos, seguido, de verdadeiras expulsões dos espíritos
obsessores ou simplesmente sofredores.
O diálogo construtivo e fraterno passou a ser considerado peça
de museu. Ao invés de amor e filosofia, muita sonoridade e
gesticulação espalhafatosa, sob o argumento de que som
serve de veículo para a energia. Então, bater palmas
e gritar alto seria tão útil quanto mais ruidosos forem...
Naturalmente, o impacto energético seria cada vez mais produtivo
quanto mais escandalosa for a sessão... É necessário
que acordemos para que logo não estejamos admitindo outras
atitudes materiais e periféricas totalmente incompatíveis
com nossa filosofia. O trabalho espiritual é, acima de tudo,
mental. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: equilíbrio...
(...)
Obsessores retirados do campo mental do obsediado "a fortiori"
e enviados a "outros planetas" ou a estranhos locais ou
dimensões extra-físicas, talvez merecessem uma atenção
mais adequada.
A ausência de diálogo com espíritos enfermos,
em certos casos, apenas determinará a mudança de endereço
dos obsessores, bem como a admissão de novos inquilinos na
casa mental desocupada do obsediado. (...)
Faz-se necessário recolocarmos a filosofia espírita,
o amor e a seriedade nos trabalhos mediúnicos e não
umbandizarmos a doutrina espírita, nem brincarmos irresponsavelmente
com animadas técnicas."
- Artigo
"Apometria: Nem problema, nem solução"
www.ipepe.com.br/apometria.html
* Jeziel Silva
Ramos - Médico e Presidente do Hospital Espírita Eurípedes
Barsanulfo, em Goiânia (GO).
Apometria não convém
às Casas Espíritas - Parte 3
Considerações finais
e conclusões
Gebaldo José de Sousa
e Jeziel Silva Ramos *
3) TÉCNICAS MEDIÚNICAS EXISTEM
QUE NÃO SÃO PRÁTICAS ESPÍRITAS
A mediunidade não é
patrimônio exclusivo da Doutrina Espírita e muitas práticas
alheias ao Espiritismo a utilizam. É dever de todo espírita
estudar profundamente as obras básicas, para que possamos preservar
a pureza doutrinária. O Codificador, referindo-se ao Espiritismo,
indaga-nos:
"Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência
do Infinito?",
em "O Livro dos Espíritos"
(Introdução ao estudo da Doutrina Espírita, item
XIII, p. 39), edição FEB.
3.1 - Diversos cultos religiosos desenvolvem atividades que favorecem
a renovação espiritual de encarnados e desencarnados.
Merecem nosso respeito, mas nem por isso vamos adotar seus rituais e
práticas exteriores, por considerá-los contrários
aos princípios básicos da Doutrina Espírita.
Concluímos que falta o conhecimento da Doutrina Espírita.
Não basta a freqüência à Casa Espírita.
Indispensável estudá-la, incessante, incansavelmente.
Seu aprendizado exige esforços.
Percebe-se, claramente, que a Doutrina Espírita é uma
ilustre desconhecida de boa parte dos 'espíritas', especialmente
quanto à sua parte teórica.
Reconhecemos haver pessoas sinceras, com elevados sentimentos, que enveredam
por esses outros caminhos; mas sabemos que não bastam os bons
sentimentos, como bem nos recomenda o Espírito da Verdade, em
"O Evangelho Segundo o Espiritismo", Cap. VI, item 5:
"Espíritas, amai-vos,
este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo."
Portanto, urge estudar a Doutrina
Espírita, para melhor aplicá-la. Indispensável
estabelecer critérios mais rigorosos quanto à admissão
de participantes às reuniões mediúnicas. Allan
Kardec era extremamente rigoroso para admitir freqüentadores às
reuniões ditas experimentais.
Há dois meios fundamentais ao aprimoramento das reuniões
mediúnicas: estudo e reforma íntima.
"Não imaginais o
que se pode obter numa reunião séria, de onde se haja
banido todo sentimento de orgulho e de personalismo e onde reine perfeito
o de mútua cordialidade."
4) - CONCLUSÕES.
Do exposto, concluíram os integrantes da Comissão de Trabalhos
Mediúnicos:
4.1) Que o Espiritismo
constitui-se numa doutrina completa, em seus aspectos moral, religioso,
filosófico e científico, com suas raízes no Evangelho
de Jesus Cristo, representando o Cristianismo Redivivo;
4.2) Que não
basta afirmar-se espírita e utilizar a mediunidade para que
uma prática seja considerada espírita;
4.3) Que as orientações
dos Espíritos Superiores que acompanham o Movimento Espírita
no Brasil são muito claras quanto à fidelidade aos princípios
codificados por Allan Kardec;
4.4) Que a orientação,
a experiência e a prática dos médiuns mais amadurecidos
como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, entre
outros, tem demonstrado sempre a necessidade de vigilância com
relação à preservação da pureza
dos princípios básicos da Doutrina Espírita;
4.5) Que esta prática
da técnica apométrica realizada dentro da Casa de Eurípedes
teve caráter experimental, com o objetivo de avaliar sua aplicabilidade,
eficiência e adequação aos princípios espíritas
que aquela Instituição tem preservado com rigor e fidelidade;
4.6) Que ultrapassado esse
período de experimentação e avaliação,
concluíram pela incompatibilidade da apometria com os princípios
que a Casa adota;
4.7) Que o uso de
energia para afastar obsessores sem a necessária transformação
moral (Reforma Íntima), indispensável à libertação
real dos envolvidos nos dramas obsessivos, contradiz os princípios
básicos do Espiritismo, pois, o simples afastamento das entidades
rancorosas não resolve a questão;
4.8) Que a apometria,
especialmente por suas leis e rituais, não é técnica
que se enquadra nos princípios doutrinários espíritas,
codificados por Allan Kardec não sendo, portanto, uma prática
Espírita; (Grifos do original).
4.9) Que a ausência,
nas reuniões da apometria, de atitudes de recolhimento íntimo,
de concentração superior e da manutenção
do ambiente de prece e elevação mental contraria as
orientações doutrinárias espíritas, tanto
do ponto de vista moral como da técnica mediúnica espírita,
propiciando as manifestações anímicas e a mistificação,
com grande risco de se perder o controle e evoluir para processos
obsessivos graves;
4.10) Que a utilização
pela prática apométrica de contagens de pulsos, gestos
especiais, entre outros atos exteriores, abre precedentes graves para
implantação de rituais e maneirismos, totalmente inaceitáveis
na prática espírita, que é doutrina da fé
raciocinada;
4.11) Que o programa
terapêutico do Hospital prevê a abordagem do ser humano
nos seus aspectos bio-psico-sócio-espirituais, oferecendo tratamento
médico, sócio-familiar, psicoterápico e espiritual
de forma integrada e solidária, de acordo com a visão
espírita, não existindo dados que possam garantir superioridade
da técnica apométrica isoladamente sobre quaisquer outras
utilizadas pelo Hospital.
Concluíram, afinal, após longos estudos e, especialmente,
ouvir detalhada exposição do assunto, com uso de datashow,
pela equipe que a praticava em nossa Instituição, que
a apometria não se ajusta à Doutrina Espírita e,
por isso, sua prática não é adequada à Casa
de Eurípides. Nestes três artigos expomos aos interessados
o resultado desses estudos, que justificam nossa posição
contrária à utilização desse método.
Assim, o parecer daquela Comissão
sugeriu que o Conselho Doutrinário e Mediúnico recomendasse,
ao grupo que aplica a técnica apométrica naquele Hospital
Espírita, que a suspendesse, retornando à prática
das reuniões mediúnicas de desobsessão, de acordo
com os princípios doutrinários espíritas.
Aventou, ainda, a possibilidade de o Conselho Doutrinário e Mediúnico
adotar alternativas, para o encaminhamento da relevante questão.
Mas que considerasse sobretudo a responsabilidade que lhe pesa nos ombros,
conforme assinala o digno Dr. Bezerra de Menezes:
"Cumpre-vos transferir às gerações
porvindouras, com a pulcritude que o recebestes, o patrimônio
espírita legado pelos Benfeitores da Humanidade e codificado
pelo ínclito Allan Kardec, preparando as gerações
novas, que vos sucederão na jornada de construção
do mundo novo."
(Bezerra de Menezes/Divaldo P. Franco: Bezerra
de Menezes ontem e hoje, ed. FEB, p. 155)
A recomendação para que
se preserve, naquele Hospital Espírita, a fidelidade ao Espiritismo,
que é doutrina completa, cristalina, dispensando enxertias de
quaisquer natureza, foi aprovada.
Lamentavelmente, não obstante
reiterados apelos de vários integrantes do Conselho, o grupo
não acatou a sugestão de voltar à lídima
prática mediúnica espírita, preferindo afastar-se
da Casa de Eurípedes. Mas lhes foi dito que as portas da Casa
permanecem-lhes abertas, bem assim os nossos corações,
se se dispuserem à fidelidade a Jesus e a Allan Kardec!
* Jeziel Silva Ramos
- Médico e Presidente do Hospital Espírita Eurípedes
Barsanulfo, em Goiânia (GO).
DEPOIMENTO DO DIVALDO FRANCO ABAIXO:
Esclarecimentos sobre a Apometria
O médico carioca residente em
Porto Alegre, doutor José Lacerda, desde os anos 50, espírita
que era então, começou a realizar numa pequena sala do
Hospital Espírita de Porto Alegre chamada “A Casa do Jardim”,
atividades mediúnicas normais. Com o tempo ele recebeu instruções
dos espíritos e realizou investigações pessoais
que desaguaram em um movimento ao qual ele deu o nome de Apometria.
Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria porque
eu não sou apómetra, eu sou espírita o que posso
dizer é que a apometria, segundo os apómetras, não
é espiritismo. Porquanto as suas práticas estão
em total desacordo com as recomendações de 'O Livro dos
Médiuns'. Não examinaremos aqui o mérito ou demérito
porque eu não pratico a apometria, mas segundo os livros que
tem sido publicados, a apometria, segundo a presunção
de alguns, é um passo avançado do movimento Espírita
no qual Allan Kardec estaria ultrapassado. Allan Kardec foi a proposta
para o século XIX e parte do século XX, enquanto a apometria
é o degrau mais evoluído. Tese com a qual, na condição
de espírita, eu não concordo em absoluto. Na prática
e nos métodos de libertação dos obsessores, a violência
que tais métodos apresentam, a mim, a mim pessoalmente, me parecem
tão chocantes que fazem recordar-me da lei de Talião,
que Moisés suavizou com o código legal e que Jesus sublimou
através do amor. Quando as entidades são rebeldes os doutrinadores,
depois de realizarem uma contagem cabalística ou de terem o gestual
muito específico, expulsam pela violência esse espírito
para o magma da Terra, a substância ainda em ebulição
do nosso planeta. O colocam em cápsulas espaciais e disparam
para o mundo da erraticidade.
Não iremos examinar a questão
esdrúxula desse comportamento, mas se eu, na condição
de espírito imperfeito que sou, chegasse desesperado num lugar
pedindo misericórdia e apoio na minha loucura, e outrem, o meu
próximo, me exilasse para o magma da Terra, para eu experimentar
a dureza de um inferno mitológico ou ser desintegrado, eu renegaria
àquele Deus que inspirou esse adversário da compaixão.
Ou se me mandasse numa cápsula espacial para que fosse expulso
da Terra. Com qual autoridade? Quando Jesus disse que o seu reino é
dos miseráveis, na parábola do Festim de Bodas, ele manda
buscar os mendigos, aqueles que estão nos lugares escabrosos
já que os eleitos recusaram e mataram os seus embaixadores. A
Doutrina Espírita centraliza-se no amor e todas essas práticas
novas, das mentalizações, das correntes mento-magnéticas,
psico-telérgicas para nós espíritas merecem todo
respeito, mas não tem nada a ver com Espiritismo. Seria o mesmo
que realizarmos a prática da Terapia de Existências Passadas
dentro da casa espírita ou, ainda, da cromoterapia ou da cristalterapia,
fugindo totalmente da nossa finalidade.
A Casa Espírita não é
uma clínica alternativa, não é lugar onde toda
experiência nova vai colocada em execução. Tenho
certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos, primeiro,
não conhecem as bases Kardequianas e ao conhecerem-nas nunca
vivenciaram para terem certeza. Seria desmentir todo material revelado
pelo mundo espiritual nestes 144 anos de codificação,
no Brasil e no mundo, pela mediunidade incomparável de Chico
Xavier. Seria renegar as informações que vieram por esse
médium ímpar, pela notável Yvone do Amaral Pereira,
por Zilda Gama, por tantos médiuns nobres conhecidos e nobres
desconhecidos no seu trabalho de socorro. Então se alguém
prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito!
Mas não misture para não confundir.
A nossa tarefa é de iluminar,
não é de eliminar. O espírito mau, perverso, cruel
é nosso irmão na ignorância. Poderia haver alguém
mais cruel do que o jovem Saulo de Tarso? Ele havia assassinado Estevão
a pedradas, havia assassinado outros, e foi a Damasco para assassinar
Ananias. Jesus não o colocou numa cápsula espacial e disparou
para o infinito. Não! Apareceu a ele! Conquistou-o pelo amor:
"Saulo, Saulo, por que me persegues?" Pode haver maior ternura
nisso? E ele tomado de espanto perguntou: "Que é isto?"
"-Eu sou Jesus, aquele a quem persegues". E ele então
caiu em sí. Emmanuel usa esta frase: "E caindo em si, quer
dizer aquela capa do ego cedeu lugar ao encontro com o ser profundo,
caindo em si, ele despertou. E graças a ele nós conhecemos
Jesus pela sua palavra, pelas suas lutas, pelo alto preço que
pagou, apedrejado várias vezes até ser considerado morto,
jogado por detrás dos muros nos lugares do lixo, dos dejetos
ele foi resgatado pelos amigos e continuou pregando". Então
os espíritos perversos merecem nossa compaixão e não
nosso repúdio. Coloquemo-nos no lugar deles. Basta que alguém
nos pise no calcanhar ou nos tome aquilo que supomos que é nosso,
para ver como irrompe a nossa tendência violenta e nós
nos transformamos de um para outro momento. Não temos nada contra
a Apometria, as correntes mento-magnéticas, aquelas outras de
nomes muito esdrúxulos e pseudo-científicos. Não
temos nada. Mas como espíritas, nós deveremos cuidar da
proposta Espírita. E da minha condição de Espírita
exercendo a mediunidade há mais de 54 anos, os resultados têm
sido todos colhidos da árvore do amor e da caridade. Não
entrarei no mérito dos métodos, que são bastante
chocantes para a nossa mentalidade espírita, que não admite
ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos, porque a
única força é aquela que vem de dentro. Para esta
classe de espíritos são necessários jejum e oração.
Transcrito do programa “Presença Espírita”
da Rádio Boa Nova, a partir de palestra de Divaldo Pereira Franco
(Agosto/2001). (Sublinhamos) "O Livro dos Médiuns",
cap. XXV, item 282, 15ª ed. FEB.
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