André
Luís N. Soares
> Consequências da descrença
na reencarnação e na vida após a morte
Você, caro leitor, crê
na vida depois da morte? Não! Então talvez você
corra realmente um risco de extinção. Nas pesquisas do
dr. Ian Stevenson, alguns padrões do processo reencarnatório
- admitindo a reencarnação como a verdadeira interpretação
para os casos sugestivos de lembranças de vidas passadas - parecem
responder ao perfil psicológico dos membros de uma comunidade;
como local, taxa de intermissão, sexo e contexto familiar, mas
possivelmente não são os únicos. Renascimento e
sobrevivência podem ser opções para a personalidade
humana que deixam de estar - ou talvez ainda não sejam - disponíveis
para aqueles que não acreditam ou, quando menos,
tal descrença inibe a possibilidade de experiências conscientes
durante o intervalo de uma vida a outra. Isso, prima facie,
pode parecer terrorismo - concordo -, mas explico abaixo as proposições
filosóficas que podem ser articuladas de acordo com algumas evidências
provenientes das pesquisas psíquicas.
Nos casos pesquisados por Stevenson as distâncias médias
entre residência prévia e local de renascimento giravam
em torno de 45 km. Nos dados da pesquisadora de vidas passadas, Satwant
Pasricha, a mediana cai para 8 a 10 km (European Journal of Parapsychology,
3, 51-65). Taxa de intermissão ou, se prefirir, intervalo,
é o tempo que o sujeito demorou a reencarnar. É o que
os espíritas chamam de erraticidade. Stevenson
verificou que a média de intermissão na Tailândia
era de apenas 6 meses; no Sri Lanka obteve-se 1
ano e meio; na Birmânia, 1 ano e 9 meses.
Quanto à mudança de sexo, países em que a cultura
diz não ocorrer, não se encontraram resultados. No entanto,
países como Birmânia, Tailândia,
Sri Lanka e Índia, há
registros de 29%, 13%, 9%
e 3%, respectivamente. Quanto ao contexto
familiar, quase todos os casos dos índios tlinguite,
no Alasca, as crianças reencarnam na mesma família, ao
passo que quase todos os índios asiáticos reencarnam fora
dela. Mas o que tem a ver todos esses dados? Bem, o
que se sugere é que o perfil cultural, a crença em determinados
fatores, influencia de modo direto as características
do processo de reencarnação.
Países onde se acredita numa reencarnação rápida,
os casos do tipo reencarnação, em média, trazem
períodos de intervalo menor. A própria
distância entre o local de vida da personalidade prévia
do de seu renascimento parece encontrar uma identidade cultural.
O que acontece então com sujeitos pertencentes a cultura não-reencarnacionistas?
Sugiro que essa questão seja desdobrada em duas partes: a) indivíduos
que acreditam no além-túmulo, mas não
crêem na reencarnação; b) pessoas que não
acreditam na reencarnação e nem na sobrevivência
de sua personalidade após o aniquilamento corporal. Lembro a
você neste momento a advertência que fiz no início,
ou seja, que consideremos que a reencarnação seja realmente
um fato.
Indivíduos que acreditam no além-túmulo, mas não
crêem na reencarnação
Indivíduos que aceitam a continuidade
da vida, mas negam a reencarnação, podem apenas demorar
um tempo maior para reencarnar. Se na Tailândia, onde há
a crença no renascimento de modo quase imediato, o intervalo
de tempo médio é de 6 meses, talvez pessoas que repelem
a reencarnação demorem algumas décadas, ou até
séculos, para renascer. Se existe alguma vantagem em estar do
lado daqui, em termos de progressão do espírito, a descrença
pode acarretar um atraso à evolução pessoal. De
qualquer maneira, como nestes casos, do outro lado, a consciência
está desperta, pode o sujeito mudar de postura.
Pessoas que não acreditam na reencarnação
e nem na sobrevivência de sua personalidade após o aniquilamento
corporal
Colocando a sobrevivência
dentro de um contexto evolucionista, a par da ainda raridade de casos
que sugerem a permanência individual após à morte,
como relatos mediúnicos, casos de reencarnação,
experiências fora do corpo, aparições, parece ainda
a faculdade humana de transcendência estar dando os seus primeiros
passos ao invés de ser uma característica já estabilizada.
Talvez sobreviver à morte seja algo emergente e que ainda não
se sedimentou em nenhuma espécie de vida terrena. O que os metapsiquistas
chamavam de evolução anímica e os parapsicólogos
de hoje chamam PSI, a fim de explicar psicocinesia e modalidades de
percepção extra-sensorial, quem sabe não seja um
sistema sensório transcendente em vias de complementação.
Assim nem todos os seres devem sobreviver. Certo? Talvez, mas não
é o que se sugere. O que pretendo dizer – e acho mais coerente
- é que a sensação de sobrevivência do ego
é emergente, mas que alguma forma de permanência e renascimento
sempre estiveram presentes. Assim, rudimentarmente, a crença
budista na doutrina Anatta (não-eu), na qual a alma é
substituída por uma espécie de eterna energia psicobiofísica,
destituída de personalidade, que migra para um novo corpo, pôde
ter sido verdadeira nos primórdios da evolução,
como pode ainda ser uma realidade para uma vastidão de seres,
inclusive ainda no homem.
Os estados religiosos que algumas pessoas experimentam
espontaneamente, assim como experiências místicas, situações
eventuais de experiências transcendentes, como EQM e, acima de
tudo, uma forte crença na existência do além, podem
favorecer, através de uma indução psicológica,
a exteriorização do ego dentro daquela energia que transmigra
de um corpo a outro. Indivíduos que acreditam no post-mortem
permanecem com sua personalidade ativa; os que não crêem,
ficam com ela em estado de latência, até uma nova oportunidade
em sua próxima existência. Há algumas pesquisas
que concluem que a crença em Deus e na espiritualidade é
um aspecto evolutivo de cunho social que favorece a comunhão
dos seres, facilitando a convivência harmônica. Talvez não
seja essa a única vantagem adaptativa, mas que haja realmente
um lucro de cunho naturalístico: a sensação de
continuidade após à morte.
Últimas Considerações
A grande utilidade de sobreviver é sentir que se continua a viver
após a morte. Morrer e renascer imediatamente, de maneira infindável,
não traz recompensa psicológica nenhuma. E, num sentido
prático, quase não difere do materialismo puro. Embora
nossa personalidade, numa mesma vida, mude com o tempo, nós sabemos
que continuamos a ser quem somos graças a sensação
de continuidade. A natureza do ego é transitória, mas
o precedente sempre influencia no consequente, sendo o atual, aquele
que nos define neste exato momento, influenciado por todos os egos que
já possuímos, inclusive os que experimentamos em vidas
passadas, e sentimos apenas reflexamente nesta vida, através
de nossas inclinações, que não se circunscrevem
apenas por critérios culturais, como a educação
que recebemos. A negação da vida após a morte não
impede que lembremos de vidas passadas, mas obstaculiza termos experiências
durante o período de intervalo. Você pode me perguntar
qual a diferença daquele que tem crença numa reencarnação
imediata para o que não acredita no post-mortem? Eu diria que
seria a possibilidade, quanto ao primeiro, de chegar a ter experiência
consciente durante a intermissão, embora possivelmente curto,
de meses, dias, ou até horas, dependendo do grau de influência
psicológica que sua crença impregna sua psiquê.
Acredito que seja possível, a par das supras evidências
em pesquisa psíquica, inferir que a sensação de
sobrevivência e a possibilidade de ter experiências conscientes
após a morte corporal possam talvez ser situações
emergentes e universais na natureza, mas ainda não plenamente
estabilizadas. Pode acontecer também que o sujeito alterne ciclos
de atividade/inatividade de sua personalidade após a morte, dependendo
do rumo que deu a si quanto à questão da sobrevivência,
durante suas últimas jornadas reencarnatórias. Mas pode
ser também que algumas pessoas ainda não tenham vivenciado
uma experiência consciente, com a permanência de sua personalidade,
após o desencarne, migrando ainda na concepção
pura da Anatta budista. Mais que apenas uma questão cultural
ou de evolução, descrer numa vida após a morte
pode responder àqueles que objetam que Deus não nos deu
livro arbítrio de não querer existir. Se nossas convicções
podem influenciar o nosso destino espiritual, como os dados em pesquisas
de reencarnação sugerem, crer pode ser um “sim”
a pergunta se desejamos viver ou, pelo menos, termos consciência
disto.
Referências
1. DOORE, Gary. Explorações contemporâneas
da vida depois da morte. São Paulo: Cultrix, 1990.
2. MULLER, Karl E. Reencarnação baseada em fatos. São
Paulo: Difusora Cultural, 1978.
3. STEMMAN, Roy. Reencarnação. São Paulo: Butterfly,
2005.
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